(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SA�DE

Plano para prevenir novas pandemias custaria 2% dos gastos globais com COVID-19

Em artigo na Science, universidades prop�em estrat�gia para minimizar o contato entre humanos e animais silvestres que podem propagar v�rus com potencial pand�mico; coautora da pesquisa explica o papel crucial do Brasil nesse processo


12/08/2020 05:58 - atualizado 12/08/2020 08:23

Gorilas em parque nacional na Ruanda: prevenção do desmatamento, da caça e do tráfico de animais previne contato de humanos com animais silvestres, diminuindo consideravelmente a chance de epidemias(foto: PA Media)
Gorilas em parque nacional na Ruanda: preven��o do desmatamento, da ca�a e do tr�fico de animais previne contato de humanos com animais silvestres, diminuindo consideravelmente a chance de epidemias (foto: PA Media)

A cada ano do �ltimo s�culo, ao menos dois v�rus foram transmitidos de animais que eram seus hospedeiros originais para popula��es humanas. Entre eles est�o o HIV, o H1N1, o ebola e, � claro, o novo coronav�rus.

E com 2% do dinheiro que o mundo est� gastando com a pandemia de covid-19, seria poss�vel criar um programa de preven��o, ao longo de dez anos, para que outros v�rus de perigo semelhante ao Sars-CoV-2 n�o tenham a chance de passar de seus hospedeiros originais para humanos.

Esses s�o dois argumentos centrais de um artigo cient�fico publicado recentemente na revista Science e assinado por integrantes de diversos centros acad�micos e de pesquisa, entre eles as universidades americanas Harvard e Duke e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Citando evid�ncias de que o desmatamento e o contato cada vez mais pr�ximo entre humanos e animais silvestres (seja pelo tr�fico, ca�a ou por necessidade alimentar) � o que causa o "salto" do v�rus de seu hospedeiro para humanos, os autores dizem que medidas para diminuir essa proximidade s�o cruciais - e relativamente baratas - para evitar pandemias futuras.

"Os riscos (de infec��es) s�o maiores do que nunca, � medida que associa��es cada vez mais �ntimas entre humanos e reservat�rios de doen�as na vida selvagem aceleram o potencial de v�rus se espalharem globalmente", diz o artigo.

Propostas

Os cientistas delinearam uma s�rie de estrat�gias para limitar essas cadeias de transmiss�o, com investimentos de US$ 22 bilh�es a US$ 31 bilh�es por ano por uma d�cada, "para monitorar e policiar o com�rcio de animais selvagens e impedir o desmatamento tropical" e assim "ajudar a prevenir futuras pandemias", segundo a Universidade de Harvard.

O custo seria uma fra��o dos gastos trilion�rios em perdas de vida e econ�micas da atual pandemia - que podem chegar a US$ 20 trilh�es, segundo algumas estimativas. � tamb�m um valor insignificante para as na��es mais ricas do mundo, argumenta � BBC News Brasil Mariana Vale, professora-adjunta no Departamento de Ecologia da UFRJ e coautora do estudo publicado na Science.


Pesquisadores coletam amostra de sangue de morcego na Tailândia; animal, muito presente na Amazônia, é um dos principais transmissores de vírus a humanos - e suspeito de nos passar o Sars-CoV-2(foto: Reuters)
Pesquisadores coletam amostra de sangue de morcego na Tail�ndia; animal, muito presente na Amaz�nia, � um dos principais transmissores de v�rus a humanos - e suspeito de nos passar o Sars-CoV-2 (foto: Reuters)

"Nossa proposta, que n�o est� dita explicitamente no artigo (da Science) mas � consenso entre os autores — e estamos produzindo um estudo mais detalhado a respeito —, � de que quem tem que pagar a maior parte dessa conta s�o os pa�ses desenvolvidos, que t�m muito a perder", diz a brasileira.

"As perdas dos EUA e da Europa s�o enormes, e o custo dessa preven��o � muito pequeno, at� US$ 30 bilh�es. S� em 2019, os EUA gastaram cerca de US$ 700 bilh�es no setor militar."

O dinheiro alimentaria um fundo internacional de financiamento de a��es de controle de desmatamento, tr�fico de animais, biosseguran�a e vigil�ncia sanit�ria.

O grande por�m � a vontade pol�tica de acessar esse dinheiro, aponta Vale, lembrando que o atual governo brasileiro abdicou dos recursos internacionais do Fundo Amaz�nia - um dinheiro vindo de pa�ses ricos e cujo desenho inspirou a estrat�gia dos cientistas agora — porque n�o quis se ater �s metas de preserva��o da floresta.

Bordas de floresta

Na pr�tica, desmatamento, tr�fico de animais e at� mesmo guerras criam o ambiente prop�cio a pandemias porque todas essas a��es aumentam o contato dos humanos com animais silvestres, os quais podem hospedar v�rus com potencial pand�mico, diz Mariana Vale.

"Geralmente o desmatamento ocorre em fases, come�ando pelo corte da madeira e pela ca�a, que j� aumentam o contato (das pessoas que entram na floresta) com animais", explica a cientista.

Quanto mais �reas desmatadas, maiores ser�o as chamadas bordas da floresta: �reas em que comunidades de pessoas passam a viver e a se alimentar perto de animais silvestres, que podem transmitir v�rus diretamente para humanos ou para animais de cria��o desses humanos, como porcos e aves.


Desmatamento da Amazônia (acima, em foto de julho da ONG WWF) é um dos mais temidos gatilhos para novas pandemias no futuro(foto: PA Media)
Desmatamento da Amaz�nia (acima, em foto de julho da ONG WWF) � um dos mais temidos gatilhos para novas pandemias no futuro (foto: PA Media)

Essa din�mica � especialmente forte em florestas tropicais, pela quantidade de animais selvagens que elas abrigam, explica Vale.

"� batata: voc� tem desmatamento, tem epidemia (nas popula��es pr�ximas) logo depois. H� centenas de artigos cient�ficos mostrando isso", diz ela. "A mal�ria de fronteira, por exemplo, � caracter�stica de �reas de fronteira agr�cola quando ocorrem desmatamentos. (A doen�a) vem do contato com a floresta."

Outro grande risco pand�mico vem do tr�fico de animais silvestres e selvagens, porque toda a sua cadeia — desde a coleta, o transporte, o com�rcio e o uso desses animais, para consumo ou para estima��o — cria poss�veis momentos de cont�gio.

Os Estados Unidos s�o, hoje, o maior destino de animais silvestres traficados no mundo, principalmente para o mercado de "pets ex�ticos", diz a pesquisadora. "Uma quantidade gigantesca de animais chega por essa via (ao pa�s), e tem potencial de cont�gio. Ent�o a redu��o desse com�rcio � muito importante."

Guerras e migra��o for�ada tamb�m podem criar momentos de cont�gio, ao for�arem que pessoas fujam para florestas para se proteger e precisem recorrer a animais silvestres para se alimentar, acrescenta Vale.

Morcegos transmissores de v�rus - e o papel do Brasil

Um dos artigos acad�micos citados pelo estudo da Science foi feito em mar�o deste ano e aponta o potencial dos morcegos em causar pandemias.

Seu poss�vel papel em ter sido o hospedeiro original do v�rus da Sars-CoV-2 ainda � investigado pela ci�ncia, mas n�o para por a�. O v�rus do ebola e da S�ndrome Respirat�ria do Oriente M�dio (Mers) provavelmente tamb�m chegaram a humanos por interm�dio de morcegos.

"Os morcegos s�o tidos como uma reserva natural para esses v�rus, especialmente coronav�rus, que constituem cerca de 31% de seu viroma (v�rus presentes em seus corpos)", diz o artigo, feito por pesquisadores de universidades chinesas.

E morcegos t�m maior probabilidade de se alimentar em regi�es onde vivem humanos quando seus habitats naturais forem destru�dos ou degradados, o que nos leva a um perigo que ronda a Floresta Amaz�nica.

"A Amaz�nia tem um n�mero enorme de reservat�rios (de v�rus), por ter uma enorme diversidade: �, por exemplo, a floresta com a maior diversidade de morcegos de todo o mundo", explica Mariana Vale. "E as �reas de contato com humanos t�m aumentado enormemente com o avan�o do desmatamento."


Patas de elefante e outros itens de caça ilegal de animais silvestres nos EUA; tráfico animal é fonte preocupante de transmissão de vírus a humanos(foto: BBC)
Patas de elefante e outros itens de ca�a ilegal de animais silvestres nos EUA; tr�fico animal � fonte preocupante de transmiss�o de v�rus a humanos (foto: BBC)

Florestas tropicais s�o um foco de cont�gio justamente porque t�m a maior biodiversidade, ou seja, t�m muitos mam�feros que podem abrigar v�rus perigosos.

"Mas n�o tem problema se a floresta tiver em bom estado, porque da� a taxa de contato (com humanos) � muito baixa e a possibilidade de transmiss�o se torna muito pequena", diz Vale.

Justamente por abrigar a maior floresta tropical do mundo, o Brasil "tem um papel muito importante na preven��o de novas pandemias", prossegue a pesquisadora.

"A Amaz�nia � um local de alto risco — talvez n�o alt�ssimo, pelo fato de a popula��o humana ser relativamente pequena ali. Mas, ao mesmo tempo em que o Brasil tem essa responsabilidade, tem tamb�m a capacidade de fazer um programa exemplar de preven��o de pandemia a partir da a��o ambiental. A gente sabe fazer e tem a capacidade institucional para isso, desde sat�lites para fiscaliza��o at� capacidade de vigil�ncia sanit�ria."

O artigo coassinado por Vale lembra que o Brasil promoveu "o maior exemplo de redu��o do desmatamento, entre 2005 e 2012, (quando) o desmatamento da Amaz�nia caiu 70%, ao mesmo tempo em que a produ��o da soja, dominante ali, aumentou."


Amostra de sangue de morcego sendo analisada na Tailândia; em todos os anos do último século, ao menos dois vírus passaram de animais para humanos no mundo(foto: Reuters)
Amostra de sangue de morcego sendo analisada na Tail�ndia; em todos os anos do �ltimo s�culo, ao menos dois v�rus passaram de animais para humanos no mundo (foto: Reuters)

Al�m disso, essa din�mica de transmiss�o favorecida pelo desmatamento se aplica tamb�m aos arbov�rus, cujo hospedeiro � o mosquito, e que s�o t�o comuns no Brasil — da febre amarela ao zika.

Medidas de conten��o

No artigo da Science, os pesquisadores defendem a remo��o de subs�dios que favore�am o desmatamento e mais apoio aos direitos ind�genas, para conter o desmatamento.

E tamb�m a proibi��o internacional do com�rcio de esp�cies de alto risco de transmiss�o de v�rus, como primatas, morcegos e roedores. Nesse aspecto, o artigo defende que se invistam US$ 19 bilh�es por ano em programas para erradicar o consumo de carne silvestre na China.

Outros quase US$ 300 milh�es seriam aplicados na cria��o de uma biblioteca da gen�tica de v�rus, que ajude no mapeamento de locais de onde possam surgir novos pat�genos de alto risco.

A estrat�gia prev� tamb�m investimentos em vigil�ncia sanit�ria e bioseguran�a na cria��o de animais de consumo, que s�o potenciais intermedi�rios de v�rus que atingem humanos, principalmente em �reas pr�ximas a florestas.

"Se tem algo positivo que possa sair desta cat�strofe que tem sido a pandemia, espero que seja o entendimento de que a sa�de do ser humano depende da sa�de do planeta", conclui Mariana Vale. "S�o camadas e camadas de evid�ncia disso. E mesmo assim a gente n�o consegue resolver esse problema. A perda de biodiversidade tem consequ�ncias enormes."


  • J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

O que � o coronav�rus

Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)