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Estado de Minas V�rus ou bact�ria?

Por que uma nova pandemia nos pr�ximos anos � praticamente inevit�vel

� apenas uma quest�o de 'quando' e n�o de 'se' a pr�xima vai surgir. S� n�o se sabe qual ser� o agente causador


12/08/2020 15:17 - atualizado 12/08/2020 15:52

"� apenas uma quest�o de 'quando' e n�o de 'se' a pr�xima vai surgir", diz virologista Camila Malta Romano (foto: Reuters)

Se h� alguma coisa quase certa em rela��o � atual pandemia � que ela n�o ser� a �ltima que a humanidade vai enfrentar. S� n�o se sabe quando e de onde vir� a pr�xima e qual seu agente causador, se um v�rus, bact�ria ou outro micro-organismo.


A julgar pelas �ltimas que ocorreram, h� chances significativas de ela ser causada por algum tipo de v�rus influenza, como foram os casos, por exemplo, das gripes russa, em 1889-90, e asi�tica, em 1957-58, ambas causadas pelo H2N2, com 1,5 milh�o e 2 milh�es de mortos, respectivamente.


Depois houve outras epidemias de longo alcance, como a gripe de Hong Kong, em 1968-69, causada pelo v�rus influenza H3N2 (3 milh�es de mortes).


Houve outras, como a da gripe espanhola, que, apesar do nome, surgiu primeiro nos Estados Unidos, e, segundo estimativas, matou entre 50 e 100 milh�es de pessoas em todo o mundo.


O mais recente surto causado por este tipo de v�rus foi o da gripe su�na, em 2009-10, que teve como agente o H1N1, respons�vel pela morte de 17 mil pessoas no planeta.

Para a virologista Camila Malta Romano, do Instituto de Medicina Tropical de S�o Paulo, da Universidade de S�o Paulo (USP), a pandemia de COVID-19 est� longe de ser a �ltima do planeta.


"� apenas uma quest�o de 'quando' e n�o de 'se' a pr�xima vai surgir", diz. "Esses surtos, embora menos comuns do que epidemias, ocorrem de vez em quando e temos exemplos passados de situa��es espor�dicas como a peste bub�nica e mais de uma de influenza (gripe espanhola, asi�tica, su�na)."


Mas, segundo ela, parece que ultimamente a emerg�ncia de agentes potencialmente pand�micos tem sido mais frequente. "Veja as pr�prias pandemias de influenza, de 1918, 1957-58, 1968-69 e 2009-10", explica.


"Antes teve a da Sars, causada por um v�rus bastante similar ao atual Sars-Cov-2, causador da COVID-19, a primeira epidemia do s�culo 21 (em 2003). J� naquele momento, sab�amos que n�o seria a �ltima. Portanto, a epidemia do Sars-Cov-2 certamente tamb�m n�o ser�."

Degrada��o ambiental

O m�dico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Sa�de P�blica (FSP) da USP, tamb�m afirma que o mundo ainda enfrentar� muitas pandemias.

"Haver� outros v�rus ou micro-organismos tentando colonizar o homem, nos usando como reservat�rio e produzindo doen�a", diz ele, que foi fundador e presidente da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).


Seu colega m�dico, Jair Ferreira, do Hospital das Cl�nicas de Porto Alegre (HCPA), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) igualmente acredita que "quase" certamente a atual n�o ser� a �ltima, porque de tempos em tempo a humanidade sempre enfrenta pandemias. "N�o h� raz�o para supor que esta venha a ser a �ltima", diz.


Não se sabe quando e de onde virá a próxima e qual seu agente causador, se um vírus, bactéria ou outro micro-organismo - mas sim se sabe que haverá outra pandemia(foto: Reuters)
N�o se sabe quando e de onde vir� a pr�xima e qual seu agente causador, se um v�rus, bact�ria ou outro micro-organismo - mas sim se sabe que haver� outra pandemia (foto: Reuters)

Mas, afinal, por que elas s�o inevit�veis, muita gente se pergunta? "Isso acontece porque estamos destruindo o meio ambiente", resume Vecina.


"Esses v�rus e outros micro-organismos vivem na natureza. Quando acabamos com ela, diminu�mos o espa�o vital deles. Ent�o, eles buscam alternativas para continuarem existindo. E por isso, saltam de um hospedeiro para outro. N�o � � toa que tivemos gripe avi�ria, su�na e outras."


H� um outro problema. "N�o s� estamos invadindo o espa�o desses micro-organismos, como, em contrapartida, estamos proporcionando, ao mesmo tempo, muitos outros lugares para eles, com a cria��o intensiva de gado, de porco, de frango, dando oportunidade deles aumentarem outros espa�os para prosperar", explica Vecina.


Em seu livro Inimigo Mortal - Nossa guerra contra os germes assassinos, os autores, Michael Osterholm e Mark Olshaker, v�o um pouco mais al�m.


Eles dizem que a pr�xima pandemia encontrar� "um mundo em equil�brio prec�rio em pa�ses em desenvolvimento, invas�o de habitats naturais que trouxeram reservat�rios de doen�as de animais � porta de nossas casas, centenas de milh�es de seres humanos e animais hospedeiros vivendo colados uns nos outros e uma cadeia de suprimentos planet�ria que fornece de tudo, de eletr�nicos e autope�as a rem�dios sem os quais at� hospitais avan�ados deixam de funcionar". 

Criando riscos

Para Fernando Aith, professor titular do Departamento de Pol�tica, Gest�o e Sa�de da FSP-USP, esse � um cen�rio bastante realista.


"Para al�m de ampliar os riscos naturais (temporais, ciclones, secas), o homem est� criando riscos que sequer sabemos o potencial de dano para a sociedade", diz. "Seja nas novas tecnologias (reprodu��o assistida, clonagem, engenharia gen�tica, intelig�ncia artificial) seja na ocupa��o urbana, que, no padr�o brasileiro, j� gera a dengue, a zika, a chikungunya, a hansen�ase e a tuberculose, por exemplo."


Autores dizem que a próxima pandemia encontrará
Autores dizem que a pr�xima pandemia encontrar� "um mundo em equil�brio prec�rio em pa�ses em desenvolvimento, invas�o de h�bitats naturais que trouxeram reservat�rios de doen�as de animais � porta de nossas casas, centenas de milh�es de seres humanos e animais hospedeiros vivendo colados uns nos outros e uma cadeia de suprimentos planet�ria que fornece de tudo, de eletr�nicos e autope�as a rem�dios sem os quais at� hospitais avan�ados deixam de funcionar" (foto: EPA)

Segundo Aith, para contornar isso e diminuir os riscos ou os danos de uma nova pandemia, a humanidade deve mudar radicalmente o seu conceito de "desenvolvimento".


"Deve deixar de produzir tanto lixo e passar a viver em harmonia com a natureza", defende.


"Al�m de mudar a matriz industrial e econ�mica, para que se passe a considerar a necessidade de preserv�-la. Respeitar os limites do ambiente e o seu tempo de recupera��o. Parar imediatamente de degradar e desmatar florestas. Observar mais rigidamente a �tica em pesquisa e a do cuidado. Fortalecer os sistemas de vigil�ncia em sa�de dos pa�ses e da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Reduzir iniquidades entre na��es e no interior delas."


A m�dica Cristina Brandt Friedrich Martin Gurgel, da Faculdade de Medicina da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Campinas, lembra que o ser humano, inserido na natureza, est� sujeito �s suas leis.


"Uma delas � a conviv�ncia com demais seres vivos e esta pode ser extremamente ben�fica ou justamente o contr�rio", diz. "Em rela��o a micro-organismos, com especial refer�ncia a v�rus, a taxa de multiplica��o deles � naturalmente muito alta. Consequentemente, a possibilidade de ocorrerem muta��es gen�ticas � elevada. As mudan�as advindas podem significar a n�o identifica��o ou inadequa��o de nossa resposta imune ao entrarmos em contato com eles, o que pode causar doen�a."


''A taxa de multiplicação de vírus é naturalmente muito alta. Consequentemente, a possibilidade de ocorrerem mutações genéticas são elevadas
''A taxa de multiplica��o de v�rus � naturalmente muito alta. Consequentemente, a possibilidade de ocorrerem muta��es gen�ticas s�o elevadas" (foto: Reuters)

De acordo com ela, as possibilidades para que isso ocorra s�o infinitas e, portanto, "estamos sim sujeitos" a novas pandemias.


"Entretanto, a eclos�o de uma epidemia, sua extens�o e a gravidade n�o s�o facilmente previs�veis, pois dependem de outras vari�veis", explica.


"Dentre alguns exemplos, h� a capacidade imune, determinada geneticamente em certa popula��o e certas caracter�sticas dela, como a sua densidade e o estado nutricional daquele grupo. Enfim, a simples presen�a de um micro-organismo n�o significa necessariamente que ele provocar� doen�as."


Por essa e outras raz�es, Camila diz que � dif�cil prever se a pr�xima pandemia ser� mais ou menos mortal do que a atual. "Isso depende das caracter�sticas do agente biol�gico (v�rus, fungo ou bact�ria), letalidade e transmissibilidade", diz.


"A de Sars em 2003, por exemplo, se espalhou rapidamente e tinha uma mortalidade muito maior do que a COVID-19, mas infectou apenas cerca de 8.000 pessoas no mundo e matou cerca de 10% delas. Portanto, s� sabemos que sim, haver� outras pandemias, mas se mais ou menos mortais, � imposs�vel dizer."


Se n�o d� para evitar uma nova pandemia, pelo menos � poss�vel amenizar seus efeitos e o n�mero de mortes que pode causar.


"Uma popula��o bem informada quanto aos riscos certamente seria de grande valia", diz Cristina, que integra o Grupo de Estudos da Hist�ria das Ci�ncias da Sa�de, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "N�o somos imortais e, infelizmente, perdas de vidas ocorrem e ainda ocorrer�o nesta e nas pr�ximas."


Segundo ela, a despeito de existirem vari�veis inevit�veis para o desenvolvimento de um surto epid�mico, saber lidar com ele, com dados confi�veis, concebidos pela experi�ncia e pela ci�ncia geraria orienta��es imprescind�veis no comportamento da popula��o.


"Deve-se alertar sem apavorar", recomenda. "Explicar como proceder e a raz�o desse procedimento, sem imposi��es. Unir a popula��o em torno do inimigo maior - o v�rus e suas implica��es na sa�de, na economia e na sociedade em geral - e n�o dividi-la e confundi-la absurdamente."


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