COVID persistente: os sintomas e sequelas mais comuns e que duram semanas, segundo 60 mil pacientes

A COVID-19 desaparece em duas semanas para a grande maioria dos infectados pela doen�a, que afetou pelo menos 27 milh�es de pessoas at� agora ao redor do mundo.

As estat�sticas oficiais apontam que 18 milh�es se recuperaram da COVID-19, mas esses n�meros ocultam uma grave e intrigante situa��o que tem piorado com diversos "recuperados": a COVID-19 persistente.

Tim Spector, professor de epidemiologia gen�tica do King's College de Londres e l�der de um estudo baseado em sintomas relatados no aplicativo Covid Symptom Study, afirmou que mais de 300 mil pessoas no Reino Unido relataram sinais que duraram mais de um m�s e cerca de 60 mil delas, por mais de tr�s meses.

H� diversos relatos de pacientes que n�o conseguem mais realizar tarefas do dia a dia, praticar exerc�cios ou mesmo se alimentar direito — neste caso, porque o paladar foi completamente alterado. H� outras condi��es mais graves, como inflama��o card�aca, depress�o, fibrose pulmonar e dificuldade cognitiva.

L�der de uma campanha por mais estudos sobre a COVID-19 persistente, Nisreen Alwan, professora de sa�de p�blica da Universidade de Southampton, defende que as autoridades:

• deem apoio e reconhecimento a quem tem a doen�a prolongada
• preparem os sistemas de sa�de ap�s dimensionar o problema
• fa�am com que as pessoas, ao tomarem decis�es de risco, saibam que a morte n�o � a �nica consequ�ncia ruim da doen�a

"A COVID-19 persistente n�o � uma hist�ria derivada da pandemia. Ela � A hist�ria, porque a maioria das pessoas que acham que v�o ficar bem se pegarem o v�rus, ou que s� devem se preocupar em n�o infectar os outros, precisa saber dos riscos da doen�a prolongada", escreveu Alwan em seu perfil no Twitter.

Quais s�o os sintomas mais comuns?

Tim Spector apresentou alguns resultados preliminares sobre a COVID-19 prolongada em um semin�rio online promovido pelo renomado peri�dico cient�fico British Medical Journal.

"Se voc� tem tosse persistente, rouquid�o, dor de cabe�a, diarreia, perda de apetite e falta de ar na primeira semana, voc� tem duas a tr�s vezes mais chances de desenvolver sintomas por um longo tempo."

Dados coletados por meio do aplicativo Covid Symptom Study, que conta com mais de 4 milh�es de usu�rios, apontam os sintomas mais comuns ligados a essa condi��o.

Os dois sinais mais relatados s�o fadiga cr�nica (98%) e dor de cabe�a (91%).

A s�ndrome de fadiga cr�nica � uma condi��o debilitante de longo prazo no qual a pessoa afetada sente uma s�rie de sintomas. O mais importante deles � um esgotamento que n�o melhora com repouso ou sono e que afeta os pacientes em todos os aspectos da sua rotina.

Em segundo lugar, o grupo de sintomas mais comuns em pacientes com COVID-19 prolongada inclui tosse persistente, falta de ar e perda de olfato (que afeta tamb�m o paladar). Veja mais abaixo a lista completa de sintomas ligados a esse quadro de sa�de.

Spector afirmou tamb�m que a COVID-19 persistente � duas vezes mais comum em mulheres, e elas geralmente t�m em torno de 40 anos. E 80% das pessoas com sintomas por mais de tr�s semanas relatam que a vida passou a alternar dias bons e dias ruins.

H� outros fatores que parecem ligados a esse quadro de sa�de, como a resposta imunol�gica de cada pessoa. Nesse caso, a presen�a de febre alta, um sinal de que o sistema imunol�gico est� reagindo a um invasor, geralmente indica que o paciente infectado n�o desenvolver� uma COVID-19 prolongada, segundo Spector.

Mas os dados ainda s�o preliminares e demandam mais an�lises para conclus�es definitivas.

De acordo com um comunicado divulgado pelo governo brit�nico no in�cio de setembro, 10% pessoas com a forma mais moderada da COVID-19 apresentaram sintomas por mais de um m�s, e 2%, por mais de tr�s meses.

"Mesmo que voc� tenha um risco mais baixo de morrer de COVID-19, com menos de 25 anos, voc� ainda pode ter sintomas e consequ�ncias graves. H� pessoas que est�o h� seis meses com a COVID-19 persistente, e � predominante entre os jovens e ainda pode infectar outras pessoas", afirmou o ministro de sa�de brit�nico, Matt Hancock.

Ainda n�o est� claro para muitos pacientes se esses sintomas ser�o permanentes.

E vale lembrar que esse n�o � um quadro exclusivo da COVID-19. H� registro de sintomas persistentes em pacientes de outras doen�as infecciosas, como dengue, chikungunya e mononucleose.

Ainda assim, Spector, do King's College de Londres, disse ao jornal brit�nico The Guardian que j� estudou "mais de 100 doen�as, e a covid-19 � a mais estranha que eu vi em toda a minha carreira".

Lista completa de sintomas persistentes

Em geral, quanto mais invasivo (e duradouro) for o tratamento recebido contra a COVID-19, mais tempo costuma levar o processo de recupera��o da COVID-19.

Segundo o estudo brit�nico que utiliza o aplicativo, a maioria das pessoas que tem a forma branda da doen�a se recupera em at� duas semanas. Entre aquelas com a vers�o mais grave, o per�odo chega a tr�s semanas.

Um estudo realizado na It�lia com 143 pacientes que deixaram a interna��o hospitalar por coronav�rus apontou que 87% delas ainda tinham pelo menos um sintoma at� 60 dias depois. Para 44,1%, houve uma piora na qualidade de vida.

A lista publicada pelo sistema de sa�de brit�nico em 07/09 sobre pacientes com sintomas persistentes associados � COVID-19 inclui:

• sinais ou condi��es respirat�rios como tosse persistente, falta de ar, inflama��o do pulm�o e fibrose pulmonar, e doen�a vascular pulmonar
• doen�as ou sinais cardiovasculares, como aperto no peito, miocardite aguda e insufici�ncia card�aca
• perda prolongada ou mudan�a no paladar e no olfato
• problemas de sa�de mental como depress�o, ansiedade e dificuldades cognitivas
• dist�rbios inflamat�rios como mialgia, s�ndrome inflamat�ria sist�mica, s�ndrome de Guillain-Barr� e amiotrofia nevr�lgica
• dist�rbios gastrointestinais como diarreia
• dor de cabe�a persistente
• fadiga, fraqueza e ins�nia
• disfun��o renal ou hep�tica
• dist�rbios de coagula��o e trombose
• linfadenopatia
• erup��es na pele

Os dados foram coletados a partir de relatos de centenas de milhares de usu�rios do aplicativo de registro de sintomas ligados � COVID-19 mencionado acima.

As pessoas continuam infecciosas por meses? E se o teste deu negativo?

Um dos problemas ligados a essa condi��o de sa�de prolongada � a falta de reconhecimento da doen�a. Muitos n�o chegaram a fazer testes para confirmar o diagn�stico porque apresentaram somente sintomas mais brandos ou n�o havia exames dispon�veis no in�cio da pandemia. Depois, acabaram num certo limbo de diagn�stico.

Elly MacDonald, 37, estava treinando para a maratona de Londres quando come�ou a sentir os primeiros sintomas associados � COVID-19, em meados de mar�o.

Mais de cinco meses depois, ela ainda sente falta de ar e fadiga extrema, mas n�o recebeu nenhum resultado positivo sobre a doen�a porque os testes s� foram disponibilizados pelo governo bem depois do in�cio dos sintomas.

Por se sentir desassistida, decidiu mudar de m�dico. "Agora eu sei que h� pessoas que realmente me levam a s�rio, e isso � muito importante para minha recupera��o. Eu s� quero minha vida de volta."

Monique Jackson, que produz um di�rio sobre seus seis meses de sintomas persistentes, tampouco teve um resultado positivo em seu teste. Ao longo do processo, "uma pessoa me disse que eu estava ficando obcecada em ter COVID-19."

Para al�m dos testes, que podem falhar nos resultados, h� ainda outra lacuna importante: pessoas com sintomas prolongados continuam transmitindo a doen�a ao longo desse per�odo?

Autoridades e especialistas afirmam que a grande maioria dos pacientes deixa de passar o v�rus at� duas semanas depois dos primeiros sintomas.

Mas h� casos extremos, como o de um paciente chin�s que ainda transmitia a doen�a 49 dias depois.

Segundo Tim Spector, do King's College de Londres, dados coletados pelo aplicativo Covid Symptom Study e testes realizados apontam que 9% das pessoas com sintomas por mais de seis semanas ainda poderiam transmitir o novo coronav�rus.

Mas virologistas ligados �s an�lises apontaram que havia uma carga viral muito baixa nesses pacientes, e dificilmente eles seriam capazes de infectar de fato outras pessoas.

Seis 'tipos' de COVID-19 e seus sintomas

Uma an�lise feita por pesquisadores do King's College, em Londres, identificou 6 "tipos" de COVID-19, cada um caracterizado por um conjunto espec�fico de sintomas.

H� pelo menos seis grandes "quadros" da doen�a, segundo an�lise nos dados feita por meio de algoritmos de aprendizado de m�quina (machine learning).

1. Quadro semelhante a uma gripe sem febre: dor de cabe�a, perda de olfato, dor muscular, tosse, dor de garganta, dor no peito.

2. Quadro semelhante a uma gripe com febre: dor de cabe�a, perda de olfato, tosse, dor de garganta, rouquid�o, febre, perda de apetite.

3. Quadro gastrointestinal: dor de cabe�a, perda de olfato, perda de apetite, diarreia, dor de garganta, dor no peito, sem tosse.

4. Quadro grave n�vel 1 (fadiga): dor de cabe�a, perda de olfato, tosse, febre, rouquid�o, dor no peito, fadiga.

5. Quadro grave n�vel 2 (confus�o mental): dor de cabe�a, perda de olfato, perda de apetite, tosse, febre, rouquid�o, dor de garganta, dor no peito, fadiga, confus�o mental, dor muscular.

6. Quadro grave n�vel 3 (abdominal e respirat�rio): dor de cabe�a, perda de olfato, perda de apetite, tosse, febre, rouquid�o, dor de garganta, dor no peito, fadiga, confus�o mental, dor muscular, falta de ar, diarreia, dor abdominal.

Os cientistas ent�o investigaram se as pessoas que experimentavam um conjunto espec�fico de sintomas tinham maior probabilidade de precisar de assist�ncia respirat�ria por meio de um respirador ou oxig�nio adicional.

Eles descobriram que uma porcentagem muito baixa — entre 1,5% e 3,3% — de pessoas com grupos 1, 2 e 3 necessitava de assist�ncia respirat�ria.

Mas a porcentagem daqueles que manifestaram sintomas dos grupos 3, 4 e 5 foi de 8,6%, 9,9% e 19,8%, respectivamente.

Al�m disso, quase metade dos pacientes do grupo 6 foi parar no hospital, em compara��o com apenas 16% no grupo 1.

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