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Estado de Minas EFEITOS DA PANDEMIA

Outubro Rosa: as pacientes que sofrem com atrasos em exames e tratamento do c�ncer na pandemia

Tumores diagnosticados em est�gio avan�ado levam a tratamentos mais agressivos e menores chances de cura


30/09/2020 15:51 - atualizado 30/09/2020 16:39

Atraso nos exames pode ter consequências graves para as pacientes(foto: Getty Images)
Atraso nos exames pode ter consequ�ncias graves para as pacientes (foto: Getty Images)

Quando a t�cnica de contabilidade Ana Cl�udia Concei��o, de 49 anos, conseguiu, com muito esfor�o, fazer um plano de sa�de familiar, achou que as dificuldades que passava no acesso ao atendimento de sa�de seriam coisa do passado.


No entanto, mesmo tendo plano h� anos, Ana Cl�udia tenta h� dois meses fazer uma mamografia sem sucesso. "Achava que com o plano n�o ia mais ter esse tipo de problema (de atraso na realiza��o de exames)", conta ela.

Moradora do bairro do Jurunas, em Bel�m (PA), Ana Cl�udia tinha o procedimento pedido pelo m�dico marcado para 28 de julho. Mas quando chegou no hospital do plano Hapvida, informaram que o �nico aparelho de mamografia estava quebrado e que ela teria de voltar outro dia.

Quando tentou remarcar, no entanto, disseram que a senha estava vencida e que ela precisaria ir pessoalmente pegar uma senha nova, conta ela. "Estou muito triste e frustrada, porque j� voltei a trabalhar pessoalmente e � muito dif�cil ir buscar a senha pessoalmente, ainda mais durante a pandemia. Para ir ao m�dico eu tive que pegar folga com atestado", conta ela.

Depois de a reportagem entrar em contato com a Hapvida, em menos de uma hora o plano ligou para Ana Cl�udia — e depois de uma espera de dois meses — seu exame foi marcado para primeiro de outubro.

Ana Cl�udia � uma das muitas mulheres que tiveram os exames diagn�sticos de c�ncer de mama e procedimentos relativos � doen�a atrasados durante a pandemia de coronav�rus.

Queda acentuada

Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) nos meses de abril e maio mostram que nos grandes centros hospitalares de oncologia — p�blicos e privados — houve uma queda de 75% no movimento cir�rgico em compara��o ao mesmo per�odo de 2019.

J� a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncol�gica (SBCO) indica que 70% dos procedimentos para retirada de tumores malignos em geral deixaram de acontecer em abril.

Dados do DataSus mostram que houve redu��o de procedimentos em pacientes oncol�gicos neste ano. Entre janeiro e julho, foram realizadas 80.235 cirurgias em oncologia. No mesmo per�odo do ano passado, foram 91.153 registros.

"� muito grave que exames e procedimentos tenham atrasado ainda mais, principalmente porque a gente j� tinha uma situa��o complicada pr�via � pandemia; os casos de c�ncer no Brasil j� s�o descobertos em fase mais avan�ada", afirma Holtz, do Instituto Oncoguia.


Ana Cláudia esperou dois meses para conseguir remarcar uma mamografia(foto: Arquivo Pessoal)
Ana Cl�udia esperou dois meses para conseguir remarcar uma mamografia (foto: Arquivo Pessoal)

Uma auditoria do Tribunal de Contas da Uni�o mostrou que mesmo antes da pandemia, em 2019, j� havia espera no SUS de at� 200 dias para o diagn�stico de c�ncer.

Consequ�ncias do atraso

A carioca Miriam*, de 31 anos, conta que vive momentos de apreens�o. Moradora da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, ela aguarda na fila para fazer uma bi�psia pelo SUS (Sistema �nico de Sa�de) desde julho, quando um exame de ultrassom veio inconclusivo e o m�dico pediu a bi�psia do n�dulo que ela encontrou no seio.

"Ainda nem tive coragem de contar para o meu marido que encontrei (o n�dulo) e que existe essa possibilidade (de ser um tumor maligno)", diz ela.


Médicos alertam que as consequências do atraso em exames diagnósticos são muito graves(foto: PA Media)
M�dicos alertam que as consequ�ncias do atraso em exames diagn�sticos s�o muito graves (foto: PA Media)

Mesmo jovem e sem hist�rico de c�ncer de mama na fam�lia, Miriam diz que ter que esperar pelo diagn�stico � "praticamente uma tortura". "Estou morrendo de medo. N�o tenho conseguido dormir, fico imaginando o que vai ser da minha fam�lia se eu morrer", diz ela, que tem duas filhas.

Ela diz que est� tentando juntar o dinheiro para pagar uma bi�psia particular, mas est� com dificuldades financeiras. Miriam � aut�noma e ficou meses sem receber trabalhos por causa da pandemia.

Prestes a iniciar as campanhas do outubro rosa — de conscientiza��o sobre c�ncer de mama — m�dicos alertam que as consequ�ncias do atraso na realiza��o de exames diagn�sticos e procedimentos oncol�gicos s�o muito graves.

Uma delas � o agravamento da doen�a e consequentemente o aumento da agressividade do tratamento.

Quanto mais cedo um c�ncer de mama � descoberto, menos agressivo � o tratamento, explica a mastologista Maira Caleffi, presidente volunt�ria da Federa��o Brasileira de Institui��es Filantr�picas de Apoio � Sa�de da Mama (Femama).

"Se o tumor � descoberto pequenininho atrav�s da mamografia, voc� consegue evitar a mastectomia total, consegue evitar a quimioterapia, consegue fazer um tratamento muito mais conservador", explica a m�dica.


A ocorrência de câncer de mama no Brasil é de cerca de 66 casos por cada 100 mil(foto: Science Photo Library)
A ocorr�ncia de c�ncer de mama no Brasil � de cerca de 66 casos por cada 100 mil (foto: Science Photo Library)

No entanto, se o tumor � diagnosticado j� em est�gios avan�ados, muitas vezes o tratamento � mais agressivo. "Pode ser mais agressivo na mama, na axila, pode precisar de quimio, que vai gerar queda de cabelo", afirma Caleffi.

"Mil�metros fazem diferen�a entre indicar ou n�o quimio, (o crescimento) pode acontecer em meses", afirma o m�dico Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administra��o do Grupo Oncocl�nicas.

E n�o s� isso: as chances de sobreviv�ncia tamb�m s�o menores, diz Ferrari. "(O atraso em exames por causa da pandemia) vai impactar na sobrevida dos pacientes e isso � pior que a pr�pria pandemia."

"Alguns tumores t�m uma agressividade celular muito grande mesmo 30 dias ap�s a cirurgia. Se retardar o in�cio do tratamento, j� � delet�rio em termos de sobrevida, imagina a mulher que nem operou. � muito maior a chance de disseminar micromet�stase (quando as c�lulas de c�ncer se espalham) e diminui as taxas de cura", diz ele.

H� tamb�m uma consequ�ncia em termos de sa�de p�blica, explica Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia. Com mais diagn�sticos sendo feito tardiamente e ao mesmo tempo, "na pr�tica que o que vai acontecer � que a gente vai enfrentar filas e mais filas (para o tratamento)", afirma Holtz.

Al�m disso, o diagn�stico e tratamento precoce s�o mais baratos — o que � ben�fico tanto para o SUS quanto para os planos.

A ocorr�ncia de c�ncer de mama no Brasil � de cerca de 66 casos a cada 100 mil mulheres, segundo o Inca (Instituto Nacional do C�ncer), uma das cinco maior taxas do mundo, com uma mortalidade de cerca de 16,4%.

Medo da pandemia

Al�m dos casos de mulheres que n�o conseguiram fazer os exames nas redes p�blicas e particulares, tamb�m h� casos de pessoas que adiaram por vontade pr�pria por causa da pandemia.

"Hoje a gente tem visto um grande n�mero de pacientes que nos procuram porque sentiram um n�dulo. Quando j� d� para sentir, j� est� maior, o ideal � descobrir antes com a mamografia", afirma Bruno Ferrari.


A maioria das mulheres diagnosticadas com a doença no país palpa o próprio nódulo(foto: Getty Images)
A maioria das mulheres diagnosticadas com a doen�a no pa�s palpa o pr�prio n�dulo (foto: Getty Images)

A mamografia � um exame de raio-x onde a mama � comprimida. � o principal exame feito para diagnosticar c�ncer de mama e pode detectar tumores que n�o seriam percept�veis com o autoexame.

� indicado pelo Inca como exame de rotina a cada dois anos em mulheres entre 50 e 69 anos, e em casos de suspeita ou hist�rico de c�ncer em outras faixas et�rias.

Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, diz que as mulheres que t�m acesso a exames devem faz�-lo, porque as cl�nicas est�o tomando todas as precau��es contra o coronav�rus e o risco de n�o ter um tumor diagnosticado � maior do que o representado pela COVID-19.

"E quem est� tendo dificuldade precisa exigir seus direitos, procurar entidades ou at� mesmo a defensoria p�blica", diz Caleffi, da Femama, que inicia a partir da quinta-feira (01/09) uma campanha para conscientizar al�m das pr�prias mulheres, amigos e familiares, sobre o c�ncer de mama.

Miriam n�o sabia, at� conversar com a reportagem, da exist�ncia da Lei dos 30 Dias — que determina que os exames necess�rios para a confirma��o do diagn�stico de c�ncer aconte�am em at� 30 dias no SUS.

A lei entrou em vigor em abril de 2020, em meio � pandemia, e foi uma complementa��o da Lei dos 60 Dias (Lei nº 12.732/2012), que estabelece prazo de 60 dias para in�cio do tratamento de c�ncer no SUS.

Exames como a mamografia tamb�m s�o de cobertura obrigat�ria dos planos pelas regras da ANS (Ag�ncia Nacional de Sa�de), e caso n�o estejam dispon�veis na rede prestadora de servi�os, o plano tem a obriga��o de disponibiliz�-lo na localidade mais pr�xima.

*O nome da paciente foi trocado nesta reportagem para preservar a privacidade


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