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Estado de Minas LENTID�O

Por que a COVID-19 pode se tornar end�mica no Brasil, como dengue e gripe

Vacina��o lenta e pouco uso de m�scaras e distanciamento social contribuem para a perman�ncia do novo coronav�rus no Brasil de forma end�mica


22/02/2021 16:12 - atualizado 22/02/2021 18:02

Com controle precário e vacinação lenta, é possível que país conviva com o coronavírus por muito tempo ainda(foto: Getty Images)
Com controle prec�rio e vacina��o lenta, � poss�vel que pa�s conviva com o coronav�rus por muito tempo ainda (foto: Getty Images)

Mais de um ano depois de ter come�ado, a pandemia de COVID-19 ainda n�o d� sinais de que v� acabar em pouco tempo. Menos ainda no Brasil, onde seu controle � prec�rio, com vacina��o lenta, queda da ades�o �s medidas preventivas e omiss�o de agentes p�blicos em implementar, estimular, controlar e fiscalizar o cumprimento de normas de distanciamento social. Al�m disso, para piorar a situa��o, novas variantes do novo coronav�rus v�m surgindo e se espalhando pelo pa�s. Por isso, embora seja dif�cil prever, muitos especialistas acreditam que ela se estender� pelo menos at� 2022.




Mas n�o � s� isso. H� grandes chance de a doen�a se tornar end�mica, como a dengue e a gripe (influenza), por exemplo.

Para o m�dico epidemiologista Guilherme Werneck, vice-presidente da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco) e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), as condi��es para o controle da epidemia no Brasil est�o muito prec�rias, por isso ela n�o dever� acabar logo.

"Faltam vacina, organiza��o e lideran�a e sobra irresponsabilidade dos agentes p�blicos", critica. "Come�ando pelas a��es de contrainforma��o do governo federal, questionando a efetividade de m�scaras, vacinas e do distanciamento social, e estimulando o uso de medicamentos ineficazes para preven��o e tratamento da COVID-19. � poss�vel, embora ainda num horizonte distante, que a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) declare o fim da pandemia, mas o Brasil continue tendo que lidar com n�veis inaceit�veis de transmiss�o."

O m�dico Pl�nio Trabasso, da Faculdade de Ci�ncias M�dicas (FCM) da Unicamp, tamb�m prev� que a epidemia de COVID-19 no Brasil vai longe, principalmente porque a vacina��o n�o est� sendo feita de maneira maci�a, ampla e simult�nea.

Desse modo, ainda h� um grande contingente de pessoas suscet�veis � doen�a em circula��o. "Para um controle mais r�pido, � necess�rio que mais pessoas (idealmente todos os acima de 18 anos) sejam vacinadas logo", diz. "Isso cria uma barreira imunol�gica � dissemina��o do v�rus."


O mosquito Aedes aegypti é o principal transmissor de dengue, zika e chikungunya em regiões urbanas do Brasil(foto: Joao Paulo Burini/Getty Images)
O mosquito Aedes aegypti � o principal transmissor de dengue, zika e chikungunya em regi�es urbanas do Brasil (foto: Joao Paulo Burini/Getty Images)

De acordo com Trabasso, al�m da vacina��o, � preciso testagem em massa, para identificar os potenciais transmissores e coloc�-los em quarentena, e mais distanciamento social. "S�o as maneiras mais eficazes de conter a propaga��o da COVID-19", explica. "Claro que a higiene das m�os e o uso de m�scara tamb�m s�o importantes, mas s�o medidas individuais, enquanto que a imuniza��o e aplica��o dos testes s�o a��es de Estado."

A aus�ncia de uma vigil�ncia epidemiol�gica efetiva � outro aspecto problem�tico e preocupante da pandemia no pa�s. "O Brasil tem recursos financeiros e profissionais capacitados para desenvolver um processo eficiente de identifica��o de casos, por meio de testagem e busca ativa, e quarentena para todos os infectados, com apoio financeiro que garanta que a popula��o n�o perca renda", diz a m�dica sanitarista Maria de F�tima Siliansky de Andreazzi, professora de Economia Pol�tica da Sa�de da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ela diz que na Europa, caso algu�m seja identificado com COVID-19 num avi�o, por exemplo, vai-se atr�s dos que estavam pr�ximos, testam-se e isolam-se todos os passageiros. "No Brasil, no caso de Manaus, com a nova cepa identificada, n�o se interromperam os voos e mais, o Minist�rio da Sa�de levou doentes infectados para outros Estados", critica.


De acordo com Fredi Alexander Diaz Quijano, da USP, efeito que vacinas terão na redução da transmissão é incerto, mas evidências indiretas sugerem que não eliminará totalmente covid-19(foto: Arquivo pessoal)
De acordo com Fredi Alexander Diaz Quijano, da USP, efeito que vacinas ter�o na redu��o da transmiss�o � incerto, mas evid�ncias indiretas sugerem que n�o eliminar� totalmente covid-19 (foto: Arquivo pessoal)

O problema � que mesmo com a vacina��o, o novo coronav�rus n�o dever� desaparecer, ao contr�rio do que ocorreu o Sars-Cov-1, que causou a epidemia de Sars. "Algumas vacinas est�o mostrando uma excelente prote��o para prevenir formas graves de COVID-19 (a maioria, mais de 90%). No entanto, em algumas pessoas elas n�o conseguem impedir a infe��o e, em muitos casos, a apari��o de sintomas", explica o m�dico Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamento de Epidemiologia, Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (FSP-USP).

De acordo com ele, o efeito que as vacinas ter�o na redu��o da transmiss�o � incerto, mas evid�ncias indiretas sugerem que n�o eliminar� totalmente a COVID-19. Um dos motivos disso � que novas variantes podem eventualmente conseguir escapar das vacinas - e talvez precisemos nos imunizar contra o coronav�rus com a mesma frequ�ncia com que nos imunizamos contra a gripe, por exemplo.

Por tudo isso, � muito prov�vel que o v�rus continue circulando. "N�o causar� doen�a grave na grande maioria das pessoas vacinadas, mas existindo grupos suscet�veis que n�o tenham sido imunizados (por qualquer motivo), ainda haver� risco de surtos de casos graves e mortes."

Em outras palavras, a COVID-19 poder� ser tornar end�mica, como a aids, dengue, gripe, mal�ria e tuberculose, por exemplo. "Endemias correspondem a situa��es em que a incid�ncia da doen�a n�o � t�o elevada, mas que dura muito tempo, podendo sofrer varia��es sazonais, relacionadas �s esta��es do ano, por exemplo", explica o m�dico Marcelo de Carvalho Ramos, professor titular de Infectologia da FCM da Unicamp.


Para entrar na célula, o vírus SARS-CoV-2 se liga a uma molécula presente na superfície da célula (seu receptor)(foto: Science Photo Library)
Para entrar na c�lula, o v�rus SARS-CoV-2 se liga a uma mol�cula presente na superf�cie da c�lula (seu receptor) (foto: Science Photo Library)

Mas por que algumas doen�as se tornam end�micas e outras, n�o?

"Uma enfermidade infecciosa end�mica � aquela que conseguiu um certo equil�brio na sua taxa de reprodu��o", responde Quijano. "Isto �, quando cada pessoa contaminada passa essa condi��o para (em m�dia) uma outra. � o que se conhece como n�mero reprodutivo efetivo (R), que � a m�dia de novos infectados que algu�m com o v�rus produz diretamente. Em outras palavras, no caso das endemias o valor de R permanece pr�ximo de 1."

Quando esse n�mero � superior a 1, ent�o a doen�a progride rapidamente e causa surtos (ou at� grandes epidemias), como � o caso da COVID-9, cuja estimativa do R, no in�cio da pandemia, era 3. "Se esse valor � muito superior a 1 (por exemplo, maior que 10) ela se espalha depressa, �s vezes t�o r�pido que se acabam rapidamente as pessoas suscet�veis a ela", explica. " Por outra parte, valores de R inferiores a 1 conduzem a que o n�mero de casos progressivamente diminua, levando eventualmente � elimina��o da doen�a numa comunidade."

Foi o que aconteceu com a Sars: o v�rus Sars-Cov-1 n�o adquiriu essa capacidade de se perpetuar. O novo coronav�rus j� obteve esse salto evolutivo, no entanto. � por isso, que os especialistas acham que a COVID-19 se tornar� end�mica.

"O Sars-Cov-2 j� se mostrou capaz de sofrer muta��es, como demonstram as variante do Reino Unido, da �frica do Sul e do Amazonas", diz Trabasso. "Algumas delas, ou outras que surgir�o, podem fazer com que haja escape do v�rus � imunidade adquirida, seja pelo contato com a variante 'selvagem' seja por meio da vacina��o."

Segundo ele, esses mutantes poder�o causar microssurtos, at� que nova vacina surja e novo contingente populacional desenvolva imunidade suficiente, para criar uma nova barreira imunol�gica. E assim por diante.

"� o que ocorre com a influenza, por exemplo", explica Trabasso. "Todos os anos, a popula��o tem que ser vacinada, porque podem ocorrer muta��es no v�rus e a imunidade adquirida pela infec��o ou vacina��o de anos anteriores n�o garante prote��o contra a variante presente naquele ano. Assim deve se comportar o novo coronav�rus daqui por diante."


Sem ações de prevenção coletiva, como o uso de máscaras, distanciamento social e higiene pessoal, somente a vacina não será capaz de interromper a transmissão(foto: Getty Images)
Sem a��es de preven��o coletiva, como o uso de m�scaras, distanciamento social e higiene pessoal, somente a vacina n�o ser� capaz de interromper a transmiss�o (foto: Getty Images)

Werneck acrescenta outros aspectos que podem levar a COVID-19 a permanecer ainda por muito tempo entre os humanos. De acordo com ele, circula��o do v�rus s� poderia ser interrompida com n�veis altos de imunidade na popula��o.

"Ocorre que nosso conhecimento sobre imunidade ao novo coronav�rus � ainda prec�rio, particularmente sobre a dura��o dela conferida pela infec��o ou pela vacina", explica. "Ao mesmo tempo, o que se sabe sobre a efic�cia das vacinas dispon�veis, at� o momento, � que elas n�o fornecem prote��o efetiva contra a infec��o, mas sim para o desenvolvimento de formas clinicas e graves da doen�a."

Ou seja, s�o imunizantes que protegem as pessoas, porque evitam que elas desenvolvam sintomas e formas severas da COVID-19, mas n�o impedem que se infectem e, eventualmente transmitam a infec��o.

"Al�m disso, as vacinas utilizadas no Brasil (at� o momento, a de Oxford-AstraZeneca e CoronaVac) t�m efetividade da ordem de cerca de 70% mais ou menos, ou seja, t�m boa efic�cia, mas n�o nos n�veis ideais", diz Werneck. "Assim, mesmo com cobertura vacinal alta, ainda poderemos ter transmiss�o."

Isso significa que, sem a��es de preven��o coletiva, como o uso de m�scaras, distanciamento social e higiene pessoal, somente a vacina n�o ser� capaz de interromper a transmiss�o. "Junte todos esses problemas num contexto em que faltam vacinas e que uma alta cobertura vacinal da popula��o ainda vai demorar", acrescenta Werneck.

"Estamos, ent�o, em condi��es prop�cias para permitir a circula��o do v�rus e o aparecimento de novas variantes, tudo contribuindo para a perman�ncia da infec��o entre n�s de forma end�mica."


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