
No dia mais letal da pandemia no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro escolheu questionar mais uma vez o uso de m�scaras e o isolamento social, dois m�todos considerados eficazes para conter a dissemina��o do coronav�rus.
Nesta quinta (25/2), o Brasil registrou ao menos 1.541 novas mortes por COVID-19, segundo o Conass, Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (nas contas do cons�rcio de ve�culos de imprensa, o n�mero foi ainda maior: 1.582, fazendo, segundo esse dado, o dia o mais letal da pandemia at� agora). Bolsonaro, enquanto isso, citou em sua live semanal um suposto estudo de uma universidade n�o especificada na Alemanha que teria conclu�do que m�scaras s�o "prejudiciais" �s crian�as, causando irritabilidade, dor de cabe�a, dificuldade de concentra��o, entre outros.
O presidente disse que n�o entraria em detalhes porque "tudo des�gua em cr�tica" sobre ele. "Eu tenho minha opini�o sobre m�scaras, cada um tem a sua", disse o presidente. "A gente aguarda um estudo mais aprofundado sobre isso por parte de pessoas competentes."
Estudo na Alemanha
H� um estudo preliminar feito na Alemanha sobre o efeito de uso de m�scaras em crian�as que foi publicado em dezembro que menciona os problemas comentados por Bolsonaro. N�o est� claro se foi este o estudo a que Bolsonaro se referiu.
A pesquisa, de m�dicos da Universidade de Witten/Herdecke, � preliminar e n�o foi revisada por pares, ou seja, n�o foi submetida ao escrut�nio de um ou mais especialistas do mesmo escal�o que os autores. Uma das observa��es na plataforma de publica��o da pesquisa diz que ela "n�o deve ser considerada conclusiva, usada como base de pr�ticas cl�nicas ou considerada uma informa��o v�lida pela imprensa".
O estudo preliminar foi feito a partir de uma enquete online preenchida por pais ou respons�veis de cerca de 25 mil crian�as e adolescentes. � uma an�lise do custo-benef�cio do uso de m�scaras para esse grupo espec�fico, e n�o uma nega��o da efic�cia das m�scaras como prote��o contra a dissemina��o do coronav�rus, como fez parecer Bolsonaro.

Al�m disso, o pr�prio estudo traz observa��es importantes, como esta: "Pais cujos filhos n�o apresentam efeitos colaterais t�m menos probabilidade de participar desta pesquisa. Assim, h� uma sobrepeso sistem�tico daqueles que relatam reclama��es".
Diz, tamb�m, que o link para a pesquisa alcan�ou f�runs de redes sociais que criticavam as medidas de prote��o contra o coronav�rus do governo. Isso pode ter influenciado o resultado da pesquisa.
Destaca que os efeitos expressado pelos pais s�o "suspeitas de efeitos colaterais", e n�o necessariamente efeitos colaterais. Ou seja, "eventos que podem ser observado pelos pais, mas que n�o s�o necessariamente relacionados ou causados pelas m�scaras". "S�o, portanto, inicialmente conjecturas cuja rela��o causal deve ser verificada." A irritabilidade, dor de cabe�a, dificuldade de concentra��o, entre outros problemas descritos pelos pais "s�o sintomas que podem refletir a situa��o geral das crian�as e n�o s�o necessariamente causados apenas pela m�scara".
A organiza��o sem fins lucrativos Health Feedback, que convida cientistas para verificar informa��es que afirmam ser baseadas na ci�ncia, analisou o estudo.
Entre as cr�ticas e observa��es feitas sobre a pesquisa, est� a de que n�o � poss�vel demonstrar uma rela��o causal entre os efeitos observados e o uso de m�scaras. Al�m disso, o estudo n�o tem controles, ou seja, um grupo de crian�as que n�o usou m�scaras, para comparar resultados. "Por causa disso, � imposs�vel determinar se os efeitos negativos relatados foram devido ao uso da m�scara ou se teriam ocorrido mesmo se as crian�as n�o usassem m�scaras."
Outro problema da pesquisa, segundo a an�lise do Health Feedback, � que os autores n�o avaliaram potenciais fatores de confus�o, como doen�as ou condi��es pr�-existentes nas crian�as cujos pais responderam � pesquisa. Essas condi��es podem causar alguns dos efeitos relatados, como dores de cabe�a e inquieta��o, mas n�o foram contabilizados no estudo.
Por fim, a popula��o pesquisada no estudo pode n�o ser representativa da popula��o em geral. Na popula��o pesquisada, 41,7% eram a favor de medidas mais brandas para conter a dissemina��o do v�rus. � um resultado bastante diferente de uma pesquisa de agosto de 2020 com 1.303 pessoas selecionadas aleatoriamente na Alemanha, conduzida pela emissora p�blica alem� ZDF.
Segundo os resultados da pesquisa, a maioria dos alem�es era a favor de medidas mais r�gidas e apenas 10% consideravam os regulamentos atuais excessivos. "Essas caracter�sticas sugerem que os resultados da pesquisa tendem a ser tendenciosos com base nas cren�as dos participantes sobre os efeitos do uso de m�scaras faciais", diz a an�lise do Health Feedback.

Recomenda��o da OMS
N�o � a primeira vez que Bolsonaro, apesar de recomenda��es das mais altas autoridades sanit�rias do mundo, critica o uso de m�scaras.
Desde junho, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) preconiza o uso de m�scaras de tecido para todo mundo que precisa sair de casa.
O Centro de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC), dos Estados Unidos, fez a mesma indica��o um pouco antes, a partir do m�s de abril.
No Brasil, o Minist�rio da Sa�de reconhece que cobrir nariz e boca com tecido � uma das a��es preventivas mais importantes — em seu site, a pasta at� disponibiliza um guia para a confec��o dessas pe�as em casa.
O pr�prio Bolsonaro, inclusive, sancionou a lei 14.019/2020, publicada no Di�rio Oficial da Uni�o no dia 2 de julho, que fala sobre "a obrigatoriedade do uso de m�scaras de prote��o individual para circula��o em espa�os p�blicos e privados acess�veis ao p�blico, em vias p�blicas e em transportes p�blicos".Por que m�scaras com v�lvula n�o s�o recomendadas contra COVID-19?
Prote��o das m�scaras
Estudos observacionais e epidemiol�gicos indicam que as m�scaras podem diminuir a possibilidade de infec��o por coronav�rus.

N�o h� testes rigorosos, com o mais elevado grau de evid�ncia, porque seria impratic�vel e at� anti�tico pedir que milhares de pessoas fiquem semanas sem usar m�scaras, se expondo ao risco de contrair um v�rus mortal, como grupo de controle.
O que se sabe � que as m�scaras protegem quem usa e quem est� por perto de um indiv�duo infectado porque seu tecido funciona como uma barreira contra got�culas de saliva que saem da boca ou nariz de uma pessoa em tosses, espirros ou conversas.
Alguns pa�ses europeus, como a Fran�a, �ustria e a Alemanha, passaram a exigir o uso de m�scaras cir�rgicas ou profissionais, com o argumento de que as m�scaras de tecido n�o oferecem tanta prote��o.
� porque essas m�scaras profissionais s�o bem vedadas ao rosto, t�m melhor qualidade e boa capacidade de filtra��o. Assim, protegem contra aeross�is, got�culas que ficam suspensas no ar por mais tempo, uma das formas de transmiss�o do coronav�rus. No Brasil, a nomenclatura dessa m�scara � PFF2. A nomenclatura nos Estados Unidos � N95. Na Europa, FFP2. A recomenda��o � usar os modelos sem v�lvulas, j� que elas permitem sa�da de ar sem filtragem. Antes da compra, � importante verificar se as m�scaras PFF2 t�m o selo do Inmetro.
Mudan�a de orienta��o
No come�o de 2020 (e da dissemina��o do coronav�rus), a orienta��o das autoridades era para que a popula��o geral, sem sintomas de COVID-19, n�o usasse m�scaras. O medo era que faltassem equipamentos de prote��o para profissionais de sa�de e pacientes, que s�o os grupos que mais precisam deles.
Foi s� em junho de 2020 que a OMS mudou suas orienta��es sobre uso de m�scaras e disse que elas devem ser usadas em p�blico para ajudar a impedir a propaga��o do coronav�rus. �quela altura, j� havia em diversos pa�ses recomenda��o ou exig�ncia de que as pessoas usem m�scaras para cobrir boca e nariz em p�blico.
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