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Dia da Mulher: brasileira pioneira usa supercomputador para estudar COVID

Bi�loga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos coordena equipe do Laborat�rio Nacional de Computa��o Cient�fica, que identificou variante P.2 do Sars-CoV-2


08/03/2021 13:48 - atualizado 08/03/2021 14:06

Bióloga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos coordena equipe do Laboratório Nacional de Computação Científica, que identificou variante P.2 do Sars-CoV-2(foto: Divulgação)
Bi�loga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos coordena equipe do Laborat�rio Nacional de Computa��o Cient�fica, que identificou variante P.2 do Sars-CoV-2 (foto: Divulga��o)

O Brasil tem tr�s supercomputadores entre os 500 mais potentes do mundo. Dois s�o da Petrobras — Atlas e F�nix. O terceiro, o Santos Dumont, localizado no Laborat�rio Nacional de Computa��o Cient�fica (LNCC), em Petr�polis (RJ), desde o ano passado tem sido usado nos esfor�os para combater a pandemia de COVID-19 no Brasil.

 

 

 

Entre outras atribui��es, ele � utilizado no sequenciamento gen�tico de amostras do v�rus que chegam de diferentes regi�es do pa�s.

Foi com a ajuda dele que a equipe coordenada pela bi�loga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, respons�vel pelo Laborat�rio de Bioinform�tica do LNCC, identificou em dezembro uma variante nova do coronav�rus no Rio de Janeiro, posteriormente batizada de P.2.

A cientista trabalha no laborat�rio h� quase 40 anos. Ela � uma das pioneiras no pa�s da bioinform�tica — ci�ncia que usa computa��o, matem�tica e estat�stica para processar e interpretar dados da biologia e responder quest�es em aberto na Ci�ncia.

Essa � uma �rea muito recente do conhecimento, ampliada exponencialmente nas �ltimas d�cadas gra�as ao avan�o da tecnologia.

Isso porque, quando se fala em gen�tica — um dos campos que t�m se beneficiado da bioinform�tica e a especialidade de Ana Tereza —, existe a necessidade de processamento de um oceano de dados. O DNA, apesar de microsc�pico, guarda um volume imenso de informa��o.

No caso do genoma humano, o "receitu�rio" de todas as nossas caracter�sticas f�sicas est� descrito em tr�s bilh�es de pares de bases nitrogenadas, estas representadas por quatro letras — C (citosina), G (guanina), A (adenina) e T (timina), os blocos que comp�em a fita do DNA.

Entender o genoma e a fun��o dos genes (uma sequ�ncia espec�fica do DNA que cont�m a informa��o para fabrica��o de uma prote�na ou uma mol�cula de RNA — o que os bi�logos chamam de "produto funcional espec�fico") pode auxiliar na preven��o de doen�as, no desenvolvimento de medicamentos e terapias.

Tamb�m tem uma larga aplica��o na agricultura e pecu�ria, no melhoramento gen�tico de plantas e animais, e tem se mostrado um ingrediente fundamental no combate � pandemia. O "retrato" do v�rus obtido pelo sequenciamento gen�tico permite entender como ele funciona e como se propaga — informa��es fundamentais para subsidiarem a tomada de decis�o das autoridades de sa�de.


Supercomputador foi adquirido em 2015 e tem uso compartilhado pela comunidade científica(foto: Divulgação/LNCC)
Supercomputador foi adquirido em 2015 e tem uso compartilhado pela comunidade cient�fica (foto: Divulga��o/LNCC)

'Ci�ncia do s�culo 21'

Ana Tereza come�ou a trabalhar no LNCC em 1984, um ano depois de se formar em Ci�ncias Biol�gicas, para atuar com modelagem matem�tica. Nessa �poca, o laborat�rio ainda estava na cidade do Rio — desde 1998 ele funciona em Petr�polis (RJ).

O trabalho naquela �poca era completamente diferente, j� que a Ci�ncia nem havia codificado o primeiro genoma completo ainda, apenas fragmentos sequenciais de DNA.

O primeiro genoma completo viria em1995, o da bact�ria Haemophilus influenzae, sequenciado nos Estados Unidos. Relativamente pequeno, tinha pouco mais de 5% do tamanho do genoma humano, que seria decodificado cinco anos mais tarde, no ano 2000, pelo geneticista americano Craig Venter.

A bi�loga entrou nesse mundo pouco depois de ingressar no LNCC, quando seu caminho se cruzou com o do cientista Darcy Fontoura de Almeida, precursor na �rea de gen�tica no pa�s e �quela altura um nome conhecido na comunidade cient�fica brasileira.

Formado em Medicina, ele fora orientado por Carlos Chagas Filho, fundador do Instituto de Biof�sica da UFRJ (� �poca, Universidade do Brasil) e um dos que contribu�ram para institucionalizar a pesquisa cient�fica no pa�s.

Em uma entrevista em 2009 � revista Ci�ncia Hoje, Almeida, falecido em 2014, explica como foi parar no LNCC:

"Por volta de 1989, conclu� que a an�lise de DNA ia evoluir e explodir. Era l�gico, �bvio. No IB [Instituto de Biof�sica] n�o poder�amos fazer isso, pois precisar�amos de uma computa��o poderosa. Lembrei-me ent�o do LNCC e fui falar com o Ant�nio Olinto, que � �poca era o diretor. Expliquei o que estava acontecendo na biologia e disse que achava um absurdo n�o haver ali uma �nica linha de pesquisa em biologia, 'a ci�ncia do s�culo 21'. Ele quis saber ent�o o que poderia ser feito. Disse que queria conversar com o pessoal jovem do LNCC."

O "pessoal jovem" era Ana Tereza. Ela e Darcy passaram ent�o a trabalhar juntos. O cientista foi seu orientador no mestrado em biof�sica e no doutorado em gen�tica.

Naquela �poca, a internet n�o havia chegado ainda ao Brasil. O computador que a dupla usava era um mainframe, uma m�quina de grande porte, e as informa��es eram compartilhadas entre os cientistas por meio de disquetes.

"O professor Darcy tinha assinatura do GenBank [banco de dados p�blico de sequ�ncias criado em 1982 nos EUA] e, como n�o tinha internet, a gente recebia tudo pelo correio, naqueles disquetes grandes. E o arquivo n�o vinha em texto, tinha que programar pra extrair as informa��es."

Por volta de 1998, ela conta, come�aram a chegar ao pa�s sequenciadores gen�ticos mais potentes, capazes de sequenciar fragmentos maiores de genoma.

Foi a� que teve in�cio o primeiro projeto nacional de sequenciamento de genoma de um organismo, em que Ana Tereza organizou a forma��o de uma "rede do genoma nacional", com a capacita��o de 25 laborat�rios em 15 Estados.

O primeiro organismo sequenciado foi a Chromobacterium violaceum, bact�ria encontrada em regi�es tropicais e subtropicais e que vive nas �guas �cidas do rio Negro, no Amazonas. Ela � at� hoje estudada no Brasil e l� fora por seu potencial biotecnol�gico, com poss�veis aplica��es em medicamentos e cosm�ticos.

O projeto genoma nacional ajudou a capacitar grupos em diferentes regi�es do pa�s e a formar recursos humanos que contribuiriam para descentralizar a pesquisa em bioinform�tica no pa�s.

A primeira p�s-gradua��o na �rea foi criada pela Capes em 2003. Hoje h� cursos em institui��es como Fiocruz, Universidade de S�o Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paran� (UFPR) e, mais recentemente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).


'Tem picos em que há investimentos em laboratório, mas depois não tem material de consumo, de bancada. Ou não tem aluno porque as bolsas estão cortadas. Quem sobrevive na pesquisa no Brasil são heróis, estão ali por uma causa em que acreditam'(foto: Arquivo pessoal)
'Tem picos em que h� investimentos em laborat�rio, mas depois n�o tem material de consumo, de bancada. Ou n�o tem aluno porque as bolsas est�o cortadas. Quem sobrevive na pesquisa no Brasil s�o her�is, est�o ali por uma causa em que acreditam' (foto: Arquivo pessoal)

For�a-tarefa contra o Sars-CoV-2

Desde ent�o, os cientistas trabalham em rede e compartilham informa��es entre si, o que tem ajudado na atual crise sanit�ria. Um estudo publicado em setembro do ano passado na revista Science analisando a evolu��o da pandemia de COVID-19 no Brasil � assinado por pesquisadores das mais diversas institui��es, inclusive do LNCC.

A bioinform�tica e a gen�tica t�m tido papel importante nos esfor�os contra o novo coronav�rus.

Gra�as aos avan�os nessas �reas, cientistas de todo o mundo j� compartilharam mais de 700 mil genomas do Sars-Cov-2, dispon�veis na plataforma p�blica Gisaid.

Essa escala sem precedentes tem permitido ao planeta entender a dissemina��o do v�rus e acompanhar as muta��es que ele tem acumulado � medida que se espalha pelo globo. � quase como assistir � evolu��o em tempo real.

Algumas dessas variantes, como a encontrada em janeiro em Manaus e batizada de P.1, preocupam porque podem estar ligadas a um aumento da transmissibilidade do v�rus. A cepa identificada no Amazonas tem duas muta��es — a N501Y e E484K — localizadas em genes que codificam a esp�cula, a prote�na respons�vel por interagir com a c�lula do hospedeiro, e que, na pr�tica, facilita a entrada do coronav�rus nas c�lulas humanas.

A P.2, encontrada no Rio de Janeiro pela equipe coordenada por Ana Tereza, que conta com cerca de 25 pessoas, tamb�m apresenta a muta��o E484K — estudos t�m apontado que ela pode driblar a a��o de anticorpos.


Cientistas de todo o mundo já compartilharam centenas de milhares de sequenciamentos de genoma do Sars-CoV-2(foto: Getty Images)
Cientistas de todo o mundo j� compartilharam centenas de milhares de sequenciamentos de genoma do Sars-CoV-2 (foto: Getty Images)

Antes de ser aplicado nos esfor�os contra a COVID-19, o supercomputador Santos Dumont j� foi usado para estudar os v�rus que causam a dengue e a zika. Ele � utilizado n�o apenas pelo laborat�rio de bioinform�tica, mas tamb�m por outras especialidades — e est� aberto a toda a comunidade cient�fica brasileira.

Ana Tereza diz que seu laborat�rio tem hoje entre 15 e 20 projetos simult�neos em andamento. Um deles, mais recente, visa entender porque algumas pessoas t�m manifesta��es mais graves da COVID-19. Para isso, a equipe vai come�ar a sequenciar DNA de pacientes, e n�o apenas o material gen�tico do v�rus.

"Precisamos entender a resposta imune do hospedeiro, a carga gen�tica do paciente."

"A gente v� casos em que um casal vive junto, mas apenas um desenvolve a doen�a", exemplifica.

Fazer Ci�ncia no Brasil

Ana Tereza participou da cria��o e foi a primeira presidente da Associa��o Brasileira de Bioinform�tica e Biologia Computacional (AB3C) e foi membro do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia entre 2015 e 2019.

Para ela, um dos aspectos mais dif�ceis de ser pesquisador no Brasil s�o os repentinos e frequentes cortes no financiamento da Ci�ncia no pa�s.

"� um horror a gente n�o ter continuidade de trabalho, n�o saber se no pr�ximo ano vai ter o mesmo edital para pedir financiamento para a pesquisa. As coisas s�o muito inst�veis", afirma.

"Tem picos em que h� investimentos em laborat�rio, mas depois n�o tem material de consumo, de bancada. Ou n�o tem aluno porque as bolsas est�o cortadas. Quem sobrevive na pesquisa no Brasil s�o her�is, est�o ali por uma causa em que acreditam."

Desde 2016, segundo ela, a �rea de gen�mica vem sofrendo sucessivas restri��es de recursos. E os cortes recentes no or�amento da Ci�ncia e Tecnologia s� agravaram o problema.

Como o Brasil n�o produz os insumos usados na pesquisa (os reagentes usados no sequenciamento gen�tico, por exemplo, s�o todos importados), fica ref�m das flutua��es cambiais — em um momento como o atual, em que o d�lar custa cerca de R$ 5,60, fazer ci�ncia custa ainda mais caro.

O quadro � agravado pela redu��o de bolsas de pesquisa, de mestrado e doutorado, de concursos para novos professores, o que tem cada vez mais estimulado cientistas brasileiros a buscarem melhores condi��es de trabalho em outros pa�ses, a famosa "fuga de c�rebros".

"O Brasil investe muito na forma��o, tem uma forma��o de recursos humanos muito boa, e depois n�o cria condi��es prop�cias para que os alunos fiquem aqui."


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