
Balne�rio Cambori� � chamada de "Dubai brasileira" — e � f�cil perceber por qu�.
Apesar de ser bem menor do que megacidades como S�o Paulo ou Rio de Janeiro, a cidade de pouco mais de 145 mil habitantes, em Santa Catarina, ostenta um recorde surpreendente: abriga seis dos dez edif�cios residenciais mais altos da Am�rica do Sul, de acordo com dados compilados pelo Council on Tall Buildings and Urban Hab, uma ONG internacional.
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Mas essa fama tem — literalmente — um lado sombrio.

A maioria dos pr�dios altos fica ao longo da Praia Central, a mais famosa da cidade. Essa concentra��o de gigantes fez com que a orla "perdesse" o sol.
"Depois das 14h, os arranha-c�us bloqueiam a luz do sol e deixam a praia na sombra. Simples assim", conta a moradora Sabrina Silva � BBC.
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Nascida e criada em Balne�rio Cambori�, Silva diz que n�o vai � Praia Central h� mais de 15 anos. A ex-funcion�ria p�blica afirma que os arranha-c�us deixam tudo mais frio e escuro.
As redes sociais est�o repletas de postagens sobre como as sombras dos edif�cios tomam conta da areia, como este abaixo:
"O pior � que as pessoas t�m que se aglomerar nos espa�os estreitos ensolarados deixados pela brecha entre os pr�dios para tomar sol. � um inferno", acrescenta Silva.
"Ent�o, eu simplesmente n�o vou mais l�."
Popularidade duradoura
Ainda assim, a Praia Central � a mais popular da cidade. Mesmo em tempos de covid-19, fica lotada, com banhistas desafiando as restri��es impostas por causa da pandemia.Alguns moradores, como Silva, afirmam que a Praia Central se tornou nada mais do que uma armadilha para turistas com um horizonte deslumbrante.
Outros, como Isaque Borba, historiador que se especializou no passado de Balne�rio Cambori�, acreditam que est�o fazendo muito barulho por nada.

"Os tempos mudaram. Muita gente n�o quer torrar no sol porque pode ser perigoso para a sa�de. As sombras permitem que as pessoas se exercitem no cal�ad�o sem suar muito", disse Borba � BBC.
"Se os arranha-c�us fossem realmente um grande problema, por que as pessoas continuariam a frequentar? Talvez elas realmente gostem da Praia Central do jeito que � agora."
Ponto tur�stico
Balne�rio Cambori� ainda �, de fato, um destino popular. Quase 1 milh�o de pessoas visitaram a cidade em 2019, segundo as autoridades de turismo, o que faz dela um dos lugares mais visitados de todo o Brasil.
A cidade tamb�m � um dos destinos favoritos de ricos e famosos, como o jogador de futebol Neymar, que no in�cio deste ano teria comprado uma cobertura avaliada em R$ 30 milh�es em um dos mais novos empreendimentos de luxo do balne�rio.

Os visitantes — nacionais e internacionais — tamb�m s�o atra�dos por uma vasta infraestrutura de entretenimento, repleta de bares, restaurantes e casas noturnas.
Tem at� uma roda gigante panor�mica. Como era de se esperar, � uma das mais altas do continente.
Al�m disso, em compara��o com cidades litor�neas como o Rio de Janeiro, Balne�rio Cambori� tamb�m � muito mais segura.
A cidade aparece na quarta posi��o da lista dos melhores lugares do Brasil para se morar, divulgada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
Amplia��o da faixa de areia
Em 2001, um referendo sobre a praia mostrou que 71% dos eleitores apoiavam medidas que inclu�am o alargamento de sua faixa de areia.

Duas d�cadas depois, a situa��o parece preocupar as autoridades locais em Balne�rio Cambori� o suficiente para tomarem provid�ncias.
Em dezembro, o prefeito Fabr�cio Oliveira (Podemos) anunciou um plano de reestrutura��o da Praia Central focado em uma obra para recupera��o da faixa de areia, que vai quase dobrar os atuais 25 metros de largura da praia.
"N�o estamos fazendo isso por causa da sombra, mas � �bvio que com uma praia mais larga teremos mais luz solar", disse Oliveira � BBC.
Quanto tempo a mais de sol, no entanto, � incerto — o prefeito diz que n�o pode dar uma estimativa de quantas horas os banhistas v�o ganhar com a amplia��o da praia.
Os cr�ticos da medida afirmam que a revitaliza��o acabar� incentivando a chegada de mais arranha-c�us. Na verdade, dois novos j� estavam em constru��o antes mesmo de os planos serem aprovados e devem ficar prontos em 2024.

"A Praia Central � o cora��o da nossa cidade, e queremos que todos aproveitem — do banho de sol � pr�tica de esportes e bons restaurantes. Temos outras praias em que a constru��o n�o � permitida por quest�es ambientais", argumenta o prefeito.
"Afinal, ser a 'Dubai brasileira' � bom para os neg�cios, e isso nos tornou famosos internacionalmente."
"Levamos a s�rio o nosso planejamento urbano e nunca iremos comprometer o meio ambiente, t�o importante para a nossa economia", acrescenta Oliveira.
Quando o c�u � o limite
Mas o desenvolvimento vertical � a maneira preferida da ind�stria da constru��o prosperar em Balne�rio Cambori�.
Com sua populariza��o como destino de f�rias nas �ltimas quatro d�cadas, a procura por im�veis aumentou vertiginosamente.
Com menos terrenos para construir e uma legisla��o local que n�o imp�e limites � altura dos edif�cios, as empresas come�aram a erguer pr�dios maiores e mais r�pido do que nunca.
Um exemplo? Em 2013, as torres g�meas do Villa Serena, ambas com 49 andares e 159 metros de altura, se tornaram os edif�cios residenciais mais altos de Balne�rio Cambori� e do Brasil.

No final de 2020, elas n�o estavam nem entre os dez primeiros edif�cios mais altos de uma lista dominada pelos arranha-c�us da cidade.
Al�m da sombra
Mas h� outras preocupa��es em rela��o a essa "verticaliza��o". O cientista ambiental e professor universit�rio Marcus Polette � um dos autores de um estudo publicado em 2018 que alerta que Balne�rio Cambori� pode enfrentar uma grave escassez de �gua at� 2028 devido ao crescimento e densidade populacional.
O prefeito diz que seu governo j� apresentou planos para a constru��o de um reservat�rio que vai aumentar o abastecimento, mas a obra depende da aprova��o do Minist�rio do Meio Ambiente — e, enquanto isso, os problemas est�o se acumulando.

"A popula��o da cidade j� aumenta quase 3% ao ano, e isso s� vai piorar quando a reestrutura��o da Praia Central a tornar mais atrativa", acredita Polette.
Aconteceram crises de abastecimento nos �ltimos anos, principalmente no pico das f�rias de ver�o.
"Nesse per�odo, a popula��o local fica altamente inflada com a chegada de turistas e veranistas — pode facilmente alcan�ar mais de 800 mil pessoas", acrescenta.
"Comparado a isso, a sombra da Praia Central � meramente um problema est�tico."
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