
� o que aponta estudo feito pelos pesquisadores do Insper Naercio Menezes Filho e Bruno Komatsu, antecipado � BBC News Brasil, que simulou o comportamento dos dados de pobreza e desigualdade com o novo aux�lio emergencial.
A conclus�o � que o impacto vai ser pequeno: caso n�o houvesse mudan�a de comportamento das pessoas com as transfer�ncias - se a restri��o de renda n�o levasse algumas pessoas a procurarem emprego, por exemplo -, a pobreza e a desigualdade de renda com o aux�lio em 2021 seria pr�xima �quela de um cen�rio sem nenhum benef�cio.
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A pesquisa divide os cen�rios entre a extrema pobreza, que mede a renda m�nima para que o indiv�duo fa�a ingest�o necess�ria de calorias em um dia, e pobreza, que inclui o atendimento de necessidades b�sicas al�m da alimenta��o, como higiene.
Nos Estados em que a linha de pobreza � mais baixa - ou seja, em que o custo para comprar alimentos e itens b�sicos � menor -, o valor m�nimo foi calculado em R$ 154 por pessoa. � o caso da zona rural de Rond�nia, Amazonas, Roraima, Par�, Amap� e Tocantins.
Ou seja, uma fam�lia de quatro pessoas com rendimento de um sal�rio m�nimo (o equivalente a R$ 275 por pessoa) nesses locais estaria acima da linha de pobreza.
Em �reas urbanas nesses mesmos Estados, contudo, o valor praticamente dobra, para pouco mais de R$ 300. Nesse caso, usando o mesmo exemplo, uma fam�lia de quatro pessoas com rendimento de um sal�rio m�nimo vive abaixo da linha de pobreza.
O valor mais alto foi identificado em Goi�s, tanto em �rea rural (R$ 231) quanto urbana (R$ 402). S�o Paulo tem a linha de pobreza mais alta entre as 11 regi�es metropolitanas pesquisadas: o n�vel de renda m�nimo para que uma fam�lia fique acima dela � de R$ 592 por pessoa.

Insuficiente para suprir necessidades b�sicas
Tr�s meses ap�s o pagamento da �ltima parcela do aux�lio, o governo anunciou, em 18 de mar�o, os valores da prorroga��o do benef�cio nos pr�ximos quatro meses. Ser�o de R$ 250 para as fam�lias com mais de uma pessoa ou R$ 375 para aquelas em que s� as mulheres s�o as provedoras. Apenas um benef�cio ser� pago por fam�lia e, no caso das que contam com uma pessoa, o valor cai para R$ 150.
O programa do aux�lio emergencial vai pagar menos e a um volume menor de brasileiros. Em 2020, ele custou R$ 290,9 bilh�es, montante reduzido para R$ 44 bilh�es em 2021, conforme o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) aprovado pelo Congresso em 15 de mar�o.
A justificativa para redu��o do escopo � a restri��o de gasto do setor p�blico, que viu as despesas crescerem no ano passado com as a��es para tentar amortecer o impacto da pandemia.
Na maior parte dos casos, contudo, o recurso n�o � suficiente nem para garantir que a fam�lia viver� acima da linha de pobreza extrema. As menores linhas de pobreza extrema no pa�s, de acordo com o estudo dos pesquisadores, � de R$ 87, nas zonas rurais de Rond�nia, Amazonas, Roraima, Par�, Amap� e Tocantins.

No exemplo dado pelos pr�prios economistas, o valor mensal de R$ 250 do benef�cio representa R$ 62,50 per capita em uma fam�lia de quatro pessoas - n�vel que j� a coloca abaixo da linha de extrema pobreza em todos os Estados.
Em algumas poucas situa��es o aux�lio mant�m o benefici�rio acima da linha de pobreza extrema - � o caso dos R$ 150 pagos a fam�lias com apenas uma pessoa ou de R$ 250 para uma fam�lia de duas pessoas em �reas rurais e em algumas �reas urbanas do pa�s.
'Perdemos tempo'
Para calcular os diferentes patamares para cada Estado (veja lista abaixo), os economistas usaram como par�metro as linhas de pobreza e de pobreza extrema por unidade da federa��o e tipo de �rea (urbana e rural) estimadas pelos economistas Sonia Rocha e Samuel Franco anos atr�s com os dados da Pnad 2014.
Eles atualizaram os dados para incluir os efeitos da infla��o at� novembro de 2020. Assim, � poss�vel ver o estrago feito pelo aumento de pre�os dos �ltimos meses, especialmente nos supermercados, no poder de compra das fam�lias.
Os pre�os de alimentos e bebidas est�o em m�dia 15% mais altos nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2021, quase tr�s vezes a infla��o oficial, que atingiu 5,2%, conforme o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os 15% de aumento m�dio na categoria alimentos e bebidas, j� elevado, esconde altas ainda maiores, como a do arroz, que ficou quase 70% mais caro nos �ltimos 12 meses, do feij�o preto (50%), da batata inglesa (47%), da cebola (69%), do lim�o (79%).
O aumento da infla��o de alimentos tem impacto especialmente sobre as fam�lias mais pobres, que t�m um percentual maior da renda comprometida com itens b�sicos.
Naercio avalia que parte do problema seria resolvido se o novo aux�lio tivesse sido melhor desenhado. Em vez de englobar fam�lias com renda domiciliar de at� tr�s sal�rios m�nimos (R$ 3.300), poderia ter colocado um limite menor, focando apenas nas fam�lias mais pobres, com um valor maior do benef�cio.
Os R$ 600 mensais pagos nos cinco primeiros meses (o pagamento foi reduzido � metade entre outubro e dezembro) s�o um bom valor para cobrir a pobreza extrema no pa�s, diz o economista. Assim como os R$ 1,2 mil pagos a fam�lias com crian�as com idade entre 0 e 6 anos ou com gestantes.
O adicional � importante para tentar romper com o ciclo de pobreza, para que ele n�o se perpetue pelas gera��es seguintes, diz o estudioso da desigualdade social.
Para o economista, o governo perdeu a oportunidade de pensar em um programa estrutural contra a pobreza, que vem crescendo desde 2014 e teve uma queda moment�nea em 2020 por causa da transfer�ncia massiva de renda para fam�lias mais pobres.
"A gente deveria ter feito isso h� bastante tempo. Tem que 'turbinar' o Bolsa Fam�lia, que hoje � insuficiente para tirar as pessoas da pobreza", diz ele.
O governo poderia ter aproveitado o grande volume de informa��es reunidas pelo cadastro do aux�lio emergencial para localizar essas fam�lias, pagar um valor mais alto nesta fase mais aguda da pandemia e, posteriormente, ir calibrando os valores - inclusive levando em considera��o as diferen�as regionais.
"Perdemos todo esse tempo e acabamos com um programa que n�o vai resolver o problema."
Os economistas fizeram tr�s simula��es que tamb�m sinalizam a pot�ncia bastante reduzida do aux�lio aprovado para 2021. Eles colocam o cen�rio que de fato ocorreu e estimam dois cen�rios alternativos - um em que excluem os rendimentos do aux�lio emergencial de 2020 e outros em que excluem a renda do aux�lio em 2020, mas acrescentam o de 2021. Todas as proje��es tomam como par�metro maio de 2020.
Olhando para a pobreza, em 2020, a pobreza caiu no pa�s de um patamar de 14,2% (observado em 2019) da popula��o para 7,9%. Sem o aux�lio, esse percentual seria de 18,4% - pr�ximo do que seria registrado no cen�rio sem aux�lio em 2020, mas com aux�lio em 2021, 18%.
No caso da pobreza extrema, o indicador despencou de 5% em 2019 para 1,8%. O n�vel seria de 8,6% sem o pagamento do aux�lio no ano passado e de 7,9% sem o pagamento do aux�lio em 2020, mas com o benef�cio em 2021.
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