
Trabalhar menos ganhando a mesma coisa. Fins de semana de tr�s dias.
A Espanha busca volunt�rios em centenas de empresas para um experimento que pode jogar luz sobre como ser� o futuro das rela��es de trabalho - especialmente ap�s a pandemia de covid-19.
A proposta, feita pelo partido de esquerda M�s Pa�s, � testar em pequena escala o que acontece com a produtividade das empresas quando seus funcion�rios trabalham apenas 32 horas por semana, em vez das 40 habituais.
"O fato de que essa ideia seja desenvolvida como um experimento piloto j� � algo positivo. Esse � o padr�o-ouro para avaliar o sucesso de pol�ticas p�blicas", explica Carlos Victoria, economista e pesquisador do Centro de Pol�ticas Econ�micas da Esade, escola de neg�cios com sede na Espanha.
� primeira vista, poderia-se supor que o funcion�rio que trabalha menos horas vai produzir menos pelo simples fato de que sua jornada fica mais curta.
Experi�ncias anteriores, contudo, apontaram que, ap�s um per�odo de transi��o, o bem-estar dos trabalhadores aumenta e tem in�cio uma cadeia de efeitos positivos com reflexos sobre a produtividade, diz Victoria.
"O que est� acontecendo nas empresas que j� tentaram reduzir a jornada de trabalho � que isso se torna um mecanismo de atra��o de talentos. Os trabalhadores preferem ir para empresas com melhores condi��es para trabalhar", diz H�ctor Tejero, coordenador do projeto M�s Pa�s, enumerando outro dos efeitos secund�rios observados.

Entre as empresas que j� est�o testando a semana de 4 dias est� a DELSOL software - que reportou uma queda de 30% no absente�smo involunt�rio no primeiro m�s, na compara��o com igual per�odo do ano anterior.
"H� um envolvimento maior com a empresa, e os trabalhadores produzem mais porque est�o mais descansados. S�o mais criativos. Eles tamb�m est�o vendo uma menor rotatividade. Menos gente sai", acrescenta Tejero.
Para o pol�tico, a pandemia fez com que muitas pessoas parassem para refletir e passassem a buscar mais tempo para ficar com a fam�lia.
"A quest�o da sa�de mental e do equil�brio entre vida pessoal e profissional tamb�m entra nesse contexto", diz ele.
Desafio maior nos servi�os

Carlos Victoria, economista do Esade, lista entre os desafios do experimento estabelecer a signific�ncia dos resultados, que determinar� em que medida ele poderia ser replicado para a economia como um todo.
Para ele, ainda que haja aumento da produtividade em certas empresas, isso n�o significaria necessariamente que a consequ�ncia seria "uma revolu��o nas rela��es de trabalho".
"Esse � um experimento pequeno. Tamb�m temos que levar em conta que em alguns setores ser� mais dif�cil de implementar do que em outros."
Entre esses setores estariam principalmente servi�os como de bares e restaurantes, sal�es de beleza ou consult�rios m�dicos.
"N�o existe, por defini��o, capacidade para fazer o mesmo trabalho em menos tempo", afirma o economista.

A pr�pria Espanha tem, contudo, um exemplo bem-sucedido no segmento de hospitalidade, em que as jornadas s�o tradicionalmente de 6 dias por semana.
H� alguns meses a rede de restaurantes La Francachela reduziu a semana de trabalho de seus funcion�rios para 4 dias, mantendo a remunera��o da equipe, que conta com 60 pessoas. As mudan�as come�aram com o fechamento dos restaurantes por conta da pandemia.
"N�s duas s�cias somos tamb�m m�es de duas crian�as pequenas. Com o confinamento, nos vimos em uma situa��o muito prec�ria, desesperadora. Quando os restaurantes reabriram, em maio, n�o quer�amos que os funcion�rios vivessem o que aconteceu conosco", conta Mar�a �lvarez, cofundadora da empresa.

A partir da�, a gest�o passou a analisar o que poderia ser implementado e adaptado para permitir que os funcion�rios conciliassem trabalho e fam�lia.
"Tamb�m quer�amos que tudo o que aprendemos com covid-19 servisse como uma alavanca para produzir uma transforma��o nos neg�cios que nos permitisse enfrentar o que viria depois com mais agilidade."
"O que viria depois" seriam as medidas implementadas pelo governo para permitir a abertura do setor, mas protegendo trabalhadores e clientes do coronav�rus - a abertura gradual dos restaurantes, a separa��o das mesas e dos clientes, a limpeza exaustiva de todo o mobili�rio entre um servi�o e outro.
"Muitas coisas mudaram, precis�vamos repensar toda a empresa."
No momento, por conta da crise sanit�ria, a rede tem apenas dois restaurantes abertos, mas h� um terceiro preparado para voltar a funcionar logo que seja poss�vel.
Pedidos por WhatsApp
Implementar a semana de 4 dias, diz �lvarez, permitiu � rede remodelar a escala de plant�es, com a divis�o do time em dois grupos, que teriam contato m�nimo um com o outro.
"Outra coisa que nos permitiu foi ser mais �gil no atendimento."

O WhatsApp tamb�m foi um fator decisivo na melhora da produtividade.
"N�o temos mais gar�ons circulando. O cliente pede pelo WhatsApp da mesa e a partir da� o gar�om � acionado. Com isso acabamos com muitas horas improdutivas em que os funcion�rios transitavam pelo sal�o. Como atendemos mais pessoas, faturamos mais. Funcionamos das 10h da manh� �s 11h da noite."
"Depois reformulamos o card�pio, eliminamos pratos que davam muito trabalho. Tamb�m compramos maquin�rios novos para a cozinha, como fatiador de legumes, e aprimoramos todos os processos internos", explica.

Experimento subsidiado
Inicialmente, o governo espanhol vai financiar o projeto-piloto em curso no pa�s, subsidiando o custo das empresas com a redu��o da jornada semanal.
O valor aprovado � de 50 milh�es de euros (cerca de R$ 325 milh�es), que ser�o distribu�dos entre um grupo que deve contar com algo entre 200 e 400 empresas por um per�odo de at� tr�s anos.
"Recebemos propostas ainda antes de divulgarmos o projeto", diz Tejero.
O interesse despertado n�o � pequeno.
O projeto, entretanto, levar� algum tempo at� que seja implantado nos diferentes setores.
"Tem que ser algo gradativo, que ande de m�os dadas com as empresas e outros agentes sociais", diz Tejero.
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