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Estado de Minas

CPI da Covid: poss�vel inger�ncia pol�tica de Bolsonaro � alvo em depoimento do chefe da Anvisa

Senadores querem saber se presidente interferiu em processos de autoriza��o de vacinas


11/05/2021 05:02 - atualizado 11/05/2021 08:25


Presidente da Anvisa falará à CPI da Covid sobre vacinas na terça-feira(foto: Agência Senado)
Presidente da Anvisa falar� � CPI da Covid sobre vacinas na ter�a-feira (foto: Ag�ncia Senado)

A Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Covid recebe nesta ter�a-feira (11/05) o presidente da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), Antonio Barra Torres, para depor como testemunha. A poss�vel inger�ncia pol�tica de Bolsonaro sobre a Anvisa dever� ser o foco do depoimento.

A ag�ncia, respons�vel por autorizar o uso de vacinas no pa�s, esteve algumas vezes no centro de pol�micas ao analisar os imunizantes contra covid-19, sofrendo acusa��es de poss�vel inger�ncia pol�tica por parte do presidente Jair Bolsonaro.

No in�cio da pandemia, em 15 de mar�o do ano passado, Barra Torres chegou a participar de ato a favor do governo no Pal�cio do Planalto, ao lado de Bolsonaro. Ambos sem m�scara interagiram com apoiadores do presidente, atitude que contribuiu para arranhar a imagem de independ�ncia da Anvisa.

Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a autonomia da ag�ncia ser� o principal tema abordado pela CPI.

"Seguramente, o foco ser� esclarecer a informa��o sobre interfer�ncia pol�tica ou n�o na Anvisa. E as dificuldades que eles est�o enfrentando no tocante � (autoriza��o da) vacina Sputnik e que enfrentaram no passado na rela��o com o Butantan (para autoriza��o da CoronaVac). S�o os tr�s pontos mais relevantes", ressaltou ele � BBC News Brasil.

A Sputnik V � uma vacina desenvolvida pelo instituto russo Gamaleya que teve recentemente sua autoriza��o para importa��o rejeitada pela Anvisa. O �rg�o vem sendo pressionado a rever essa decis�o por governos estaduais que t�m contrato para compra de 66 milh�es de doses.

J� a Coronavac � a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan (�rg�o estadual paulista) em parceria com o laborat�rio chin�s Sinovac. Seu uso foi autorizado ap�s muita controv�rsia devido a sucessivas declara��es de Bolsonaro contra a vacina.

Isso porque o imunizante era visto como um trunfo pol�tico para o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria, advers�rio do presidente.


Sem máscara, ao lado de Bolsonaro, presidente da Anvisa participa de ato a favor do governo em março de 2020(foto: Reprodução/Facebook)
Sem m�scara, ao lado de Bolsonaro, presidente da Anvisa participa de ato a favor do governo em mar�o de 2020 (foto: Reprodu��o/Facebook)

Em outubro de 2020, o presidente chegou a desautorizar o ent�o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, ap�s ele anunciar que iria fechar contrato para compra de 46 milh�es de doses da CoronaVac.

"A vacina chinesa de Jo�o Doria, qualquer vacina antes de ser disponibilizada � popula��o, deve ser comprovada cientificamente pelo Minist�rio da Sa�de e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro n�o ser� cobaia de ningu�m. Minha decis�o � a de n�o adquirir a referida vacina", disse Bolsonaro na ocasi�o.

Pouco depois, em novembro, a Anvisa foi alvo de cr�ticas ao suspender a fase tr�s dos testes da CoronaVac ap�s a morte de um dos volunt�rios. O Butantan disse que isso n�o era necess�rio porque a causa do �bito n�o tinha qualquer rela��o com a vacina (tratava-se de um suic�dio).

A ag�ncia, por sua vez, argumentou que o instituto paulista n�o disponibilizou todas as informa��es necess�rias para que fosse descartada qualquer liga��o entre a morte e o uso da CoronaVac. A retomada do estudo cl�nico foi liberada um dia depois.

Quando houve a paralisa��o, por�m, Bolsonaro chegou a comemorar a decis�o.

"Morte, invalidez, anomalia. Esta � a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tom�-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigat�ria. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu o presidente em sua p�gina no Facebook.


João Doria é vacinado com CoronaVac: vacina do Butantan virou trunfo político do governador(foto: Governo de São Paulo)
Jo�o Doria � vacinado com CoronaVac: vacina do Butantan virou trunfo pol�tico do governador (foto: Governo de S�o Paulo)

Diante da press�o pela vacina��o no pa�s, o contrato entre Minist�rio da Sa�de e Butantan acabou sendo firmado em 7 de janeiro — dez dias depois a Anvisa autorizou o uso da CoronaVac. A vacina do Butantan hoje responde por cerca de 80% das aplica��es contra covid-19 no Brasil.

"O mais importante (no depoimento do Barra Torres) � o fato de que em v�rios momentos o presidente da Rep�blica tomou posi��es contra a aprova��o da vacina CoronaVac, questionando sua qualidade", afirmou � reportagem o senador Humberto Costa (PT-PE).

"Houve momentos que ele disse que n�o iria comprar essa 'vacina chinesa'. Ent�o, n�s queremos saber se de alguma forma essa vis�o dele resultou em algum tipo de press�o sobre a Anvisa. Se ele tentou de alguma maneira interferir nas a��es da Anvisa", refor�a.

Anvisa diz que decis�es s�o t�cnicas

Diante das cr�ticas, Barra Torres tem respondido que as decis�es da Anvisa s�o t�cnicas. A recente recusa � importa��o da Sputnik V foi inclusive defendida por especialistas independentes nas redes sociais.

"Infelizmente, n�o h� condi��es para a Anvisa autorizar a importa��o da vacina Sputnik V da R�ssia no momento. Faltam muitos dados. � totalmente compreens�vel a pressa de governadores, mas a Anvisa tem obriga��o de garantir a qualidade da vacina e n�o h� como fazer isso hoje", escreveu no Twitter, ap�s a decis�o da ag�ncia, o m�dico e advogado sanitarista Daniel Dourado, pesquisador do Centro de Pesquisa em Direito Sanit�rio da USP.

Segundo o �rg�o, a autoriza��o foi negada porque os documentos submetidos � Anvisa sobre a Sputnik indicavam "aus�ncia ou insufici�ncia de dados de controle de qualidade, seguran�a e efic�cia".

No centro da pol�mica est� a presen�a ou n�o de v�rus capazes de se replicar na vacina russa. Os respons�veis pelo imunizante negam que ela tenha esse problema, mas foi um dos principais motivos de a ag�ncia negar a importa��o, porque isso poderia trazer riscos � sa�de.

"Uma das informa��es preocupantes com rela��o � avalia��o dos dados dispon�veis at� o momento � que as c�lulas onde os adenov�rus s�o produzidos para o desenvolvimento da vacina permitem sua replica��o. Isso pode acarretar infec��es em seres humanos, podendo causar danos e �bitos, especialmente em pessoas com baixa imunidade e problemas respirat�rios, entre outros problemas de sa�de", diz comunicado do governo federal sobre a decis�o da Anvisa.


Governadores de nove Estados querem importar 66 milhões de doses da Sputnik V(foto: Reuters)
Governadores de nove Estados querem importar 66 milh�es de doses da Sputnik V (foto: Reuters)

A recusa � importa��o ocorreu em 26 de abril, quando a Anvisa analisou pedido para compra de 66 milh�es de doses da Sputnik V feito por nove Estados (Bahia, Acre, Rio Grande do Norte, Maranh�o, Mato Grosso, Piau�, Cear�, Sergipe, Pernambuco e Rond�nia).

Na sexta-feira (07/05), a Comiss�o Tempor�ria da Covid-19 do Senado (�rg�o paralelo � CPI) realizou uma audi�ncia com a participa��o de representantes da Anvisa, dos Estados e da Uni�o Qu�mica, laborat�rio brasileiro que fechou parceria com o instituto russo Gamaleya.

Segundo o representante da Uni�o Qu�mica, Fernando Marques, um novo pedido para libera��o da Sputnik V no Brasil vai ser apresentado � ag�ncia.

"Eu tenho muita confian�a na qualidade t�cnica do corpo funcional da Anvisa, confio muito nas decis�es deles. Agora, eu acho que tem que ser levado em considera��o o momento que a gente est� vivendo, a inexist�ncia de vacina (suficiente contra covid-19). Temos que trabalhar para construir um consenso t�cnico m�nimo", defende o senador Humberto Costa.


O que � uma CPI?

As comiss�es parlamentares de inqu�rito (CPIs) s�o instrumentos usados por integrantes do Poder Legislativo (vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores) para investigar fato determinado de grande relev�ncia ligado � vida econ�mica, social ou legal do pa�s, de um estado ou de um munic�pio. Embora tenham poderes de Justi�a e uma s�rie de prerrogativas, comit�s do tipo n�o podem estabelecer condena��es a pessoas.

Para ser instalado no Senado Federal, uma CPI precisa do aval de, ao menos, 27 senadores; um ter�o dos 81 parlamentares. Na C�mara dos Deputados, tamb�m � preciso aval de ao menos uma terceira parte dos componentes (171 deputados).

H� a possibilidade de criar comiss�es parlamentares mistas de inqu�rito (CPMIs), compostas por senadores e deputados. Nesses casos, � preciso obter assinaturas de um ter�o dos integrantes das duas casas legislativas que comp�em o Congresso Nacional.

O que a CPI da COVID investiga?


O presidente do colegiado � Omar Aziz (PSD-AM). O alagoano Renan Calheiros (MDB) � o relator. O prazo inicial de trabalho s�o 90 dias, podendo esse per�odo ser prorrogado por mais 90 dias.



Saiba como funciona uma CPI

Ap�s a coleta de assinaturas, o pedido de CPI � apresentado ao presidente da respectiva casa Legislativa. O grupo � oficialmente criado ap�s a leitura em sess�o plen�ria do requerimento que justifica a abertura de inqu�rito. Os integrantes da comiss�o s�o definidos levando em considera��o a proporcionalidade partid�ria — as legendas ou blocos parlamentares com mais representantes arrebatam mais assentos. As lideran�as de cada agremia��o s�o respons�veis por indicar os componentes.

Na primeira reuni�o do colegiado, os componentes elegem presidente e vice. Cabe ao presidente a tarefa de escolher o relator da CPI. O ocupante do posto � respons�vel por conduzir as investiga��es e apresentar o cronograma de trabalho. Ele precisa escrever o relat�rio final do inqu�rito, contendo as conclus�es obtidas ao longo dos trabalhos. 

Em determinados casos, o texto pode ter recomenda��es para evitar que as ilicitudes apuradas n�o voltem a ocorrer, como projetos de lei. O documento deve ser encaminhado a �rg�os como o Minist�rio P�blico e a Advocacia-Geral da Uni�o (AGE), na esfera federal.

Conforme as investiga��es avan�am, o relator come�a a aprimorar a linha de investiga��o a ser seguida. No Congresso, sub-relatores podem ser designados para agilizar o processo.

As CPIs precisam terminar em prazo pr�-fixado, embora possam ser prorrogadas por mais um per�odo, se houver aval de parte dos parlamentares

O que a CPI pode fazer?

  • chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
  • convocar suspeitos para prestar depoimentos (h� direito ao sil�ncio)
  • executar pris�es em caso de flagrante
  • solicitar documentos e informa��es a �rg�os ligados � administra��o p�blica
  • convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secret�rios, no caso de CPIs estaduais — para depor
  • ir a qualquer ponto do pa�s — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audi�ncias e dilig�ncias
  • quebrar sigilos fiscais, banc�rios e de dados se houver fundamenta��o
  • solicitar a colabora��o de servidores de outros poderes
  • elaborar relat�rio final contendo conclus�es obtidas pela investiga��o e recomenda��es para evitar novas ocorr�ncias como a apurada
  • pedir buscas e apreens�es (exceto a domic�lios)
  • solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados

O que a CPI n�o pode fazer?

Embora tenham poderes de Justi�a, as CPIs n�o podem:

  • julgar ou punir investigados
  • autorizar grampos telef�nicos
  • solicitar pris�es preventivas ou outras medidas cautelares
  • declarar a indisponibilidade de bens
  • autorizar buscas e apreens�es em domic�lios
  • impedir que advogados de depoentes compare�am �s oitivas e acessem
  • documentos relativos � CPI
  • determinar a apreens�o de passaportes

A hist�ria das CPIs no Brasil

A primeira Constitui��o Federal a prever a possibilidade de CPI foi editada em 1934, mas dava tal prerrogativa apenas � C�mara dos Deputados. Treze anos depois, o Senado tamb�m passou a poder instaurar investiga��es. Em 1967, as CPMIs passaram a ser previstas.

Segundo a C�mara dos Deputados, a primeira CPI instalada pelo Legislativo federal brasileiro come�ou a funcionar em 1935, para investigar as condi��es de vida dos trabalhadores do campo e das cidades. No Senado, comit� similar foi criado em 1952, quando a preocupa��o era a situa��o da ind�stria de com�rcio e cimento.

As CPIs ganharam estofo e passaram a ser recorrentes a partir de 1988, quando nova Constitui��o foi redigida. O texto m�ximo da na��o passou a atribuir poderes de Justi�a a grupos investigativos formados por parlamentares.

CPIs famosas no Brasil

1975: CPI do Mobral (Senado) - investigar a atua��o do sistema de alfabetiza��o adotado pelo governo militar

1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor

1993: CPI dos An�es do Or�amento (C�mara) - apurou desvios do Or�amento da Uni�o

2000: CPIs do Futebol - (Senado e C�mara, separadamente) - rela��es entre CBF, clubes e patrocinadores

2001: CPI do Pre�o do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formula��o dos valores

2005: CPMI dos Correios - investigar den�ncias de corrup��o na empresa estatal

2005: CPMI do Mensal�o - apurar poss�veis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo

2006: CPI dos Bingos (C�mara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro

2006: CPI dos Sanguessugas (C�mara) - apurou poss�vel desvio de verbas destinadas � Sa�de

2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar poss�vel corrup��o na estatal de petr�leo

2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comit� organizador da Copa do Mundo de 2014

2019: CPMI das Fake News - dissemina��o de not�cias falsas na disputa eleitoral de 2018

2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do C�rrego do Feij�o


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