
Ap�s quase sete meses ininterruptos fechados por conta da pandemia de covid-19, um dos per�odos de lockdown mais longos do mundo, restaurantes, bares, museus, cinemas e teatros retomam progressivamente as atividades nesta quarta-feira (19/05) na Fran�a, ainda com uma s�rie de limita��es de funcionamento.
O mesmo ocorre com lojas de produtos n�o essenciais proibidas de abrir h� quase dois meses. O fim progressivo do terceiro lockdown no pa�s � um teste para a economia francesa a menos de um ano das elei��es presidenciais.Milhares de empresas, al�m de estabelecimentos culturais, puderam sobreviver at� o momento gra�as � pol�tica do "custe o que custar", nas palavras do presidente franc�s, Emmanuel Macron, para manter o distanciamento social e tentar garantir, ao mesmo tempo, os empregos na Fran�a.
As ajudas do governo v�o desde o pagamento de sal�rios (84% do montante l�quido) e de parte de outros custos fixos, exonera��o de encargos, al�m de um "fundo de solidariedade" para todas as empresas e aut�nomos proibidos de funcionar ou que registram perdas de receita. Eles podem optar entre receber at� 10 mil euros por m�s (cerca de R$ 64,3 mil) ou 20% do faturamento, dentro de um limite.
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Isso j� custou ao governo franc�s 168 bilh�es de euros (mais de R$ 1 trilh�o) apenas em 2020, valor que inclui ainda a perda de receitas do Estado com impostos e encargos em raz�o do fechamento das atividades.
No total, o custo da crise da covid-19 na Fran�a dever� ser astron�mico, estimado em 424 bilh�es de euros (R$ 2,7 trilh�es), o equivalente a 20% do PIB franc�s no ano passado. Isso inclui ajudas �s empresas e empr�stimos a grandes grupos, impostos e taxas que deixaram de ser recolhidos, despesas de sa�de (hospitaliza��es, al�m de testes gratuitos e ilimitados) e 100 bilh�es de euros do plano de investimentos para a retomada da economia que se estender� por dois anos.
Para o ministro da Economia, Bruno Le Maire, a estrat�gia do "custe o que custar" permitiu dividir quase pela metade o n�mero previsto de demiss�es em 2020, marcado por dois lockdowns. Mesmo assim, a Fran�a perdeu 360 mil postos de trabalho no ano passado.
Segundo ele, a prote��o do governo �s empresas e aos trabalhadores � o que permitir� que a economia seja relan�ada rapidamente. "Se tiv�ssemos de recriar qualifica��es profissionais nas f�bricas e nas companhias, estar�amos em uma situa��o econ�mica calamitosa", afirma Le Maire.
Com a crise da covid-19, o d�ficit p�blico da Fran�a atingiu 9,2% do PIB, o n�vel mais alto desde 1949. O total da d�vida p�blica passou de 97,6% para 115,7% do PIB. Neste ano, o governo prev� que o d�ficit dever� cair para 8,5% do PIB, mas o estoque da d�vida dever� aumentar e se situar em cerca de 118% do PIB.

Com a reabertura progressiva das atividades a partir de quarta-feira e o avan�o recente da campanha de vacina��o, que passou a deslanchar, o governo franc�s espera uma forte retomada econ�mica neste ano. "A partir de 19 de maio, as etapas sucessivas (do fim do lockdown) v�o nos levar a definir um novo modelo de crescimento e prosperidade", declarou o presidente Macron.
"A retomada econ�mica j� est� ocorrendo", garante o ministro da Economia, Bruno Le Maire, acrescentando que a expans�o j� � observada em alguns setores, como o da constru��o.
"Minha convic��o profunda � que a partir do fim das restri��es sanit�rias a Fran�a surpreender� pelo vigor de seu crescimento" disse Le Marie, reiterando a previs�o de aumento de 5% do PIB franc�s neste ano, ap�s uma queda de 8,3% em 2020, jamais vista fora de per�odos de guerras.
A Comiss�o Europeia � mais otimista do que o governo franc�s e prev� um crescimento de 5,7% do PIB da Fran�a neste ano, acima da m�dia da zona do euro, de 4%. A Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) estima, por sua vez, expans�o de 5,9% da economia francesa em 2021.
No primeiro trimestre deste ano, ainda marcado pelas restri��es por conta da pandemia, houve um leve crescimento do PIB franc�s, de 0,4% em rela��o ao trimestre anterior.
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Poupan�a gigantesca
Um dos elementos fundamentais para a retomada econ�mica � o n�vel de consumo. O poder de compra foi praticamente preservado durante a crise devido �s medidas de ajuda, como o pagamento de sal�rios.
Sem restaurantes, viagens e teatros, muitos franceses, sobretudo de classes mais altas, contribu�ram para que o n�vel de poupan�a acumulada aumentasse em cerca de 160 bilh�es de euros.
A quest�o agora � saber se esse dinheiro ser� injetado na economia e em qual propor��o. "Se 20% dessa soma for gasta at� 2022, isso representar� uma alta de 1,7% do PIB e quase um ponto a menos no �ndice de desemprego, ou seja, � por si s� um plano de retomada econ�mica", afirma Xavier Ragot, presidente do Observat�rio Franc�s de Conjuntura Econ�mica (OFCE).
O presidente Macron recebeu cr�ticas por ter demorado a decretar um novo confinamento para enfrentar a terceira onda de covid-19, anunciado em algumas regi�es em mar�o e estendido todo o pa�s no come�o de abril, embora a situa��o j� estivesse se agravando desde meados de janeiro. Al�m de quest�es econ�micas, tamb�m pesou na decis�o do governo um poss�vel descontentamento popular.
M�dicos e alguns especialistas estimam que a reabertura das atividades a partir desta quarta seria precipitada, j� que a situa��o sanit�ria continua preocupante. Os n�meros de novos casos di�rios, com uma m�dia de cerca de 14 mil, e hospitaliza��es v�m recuando nas �ltimas semanas, mas ainda permanecem em patamares mais elevados do que os anteriormente fixados por Macron no final do ano passado como necess�rios para a reabertura das atividades.
A campanha de vacina��o, que permaneceu em ritmo lento no primeiro trimestre do ano, ganhou impulso e deve acelerar nas pr�ximas semanas, nas previs�es do governo. Atualmente, cerca de 31% dos franceses receberam a primeira dose e mais de 14% a segunda.

A pandemia de covid-19 n�o afetou todos os setores da mesma forma. Os mais penalizados s�o os bares e restaurantes, que desde outubro do ano passado podem apenas funcionar nos sistemas "para viagem" ou de entrega em domic�lio e, por isso, muitos preferiram n�o abrir, al�m do turismo, academias de gin�stica, organizadores de eventos e estabelecimentos culturais.
Grandes lojas, como as famosas Galeries Lafayette e a Printemps, foram fechadas no final de janeiro passado, antes do in�cio da terceira onda.
A reabertura dos com�rcios e lugares culturais nesta quarta-feira ainda ter� uma s�rie de restri��es: os bares e restaurantes poder�o, por enquanto, abrir apenas terra�os nas ruas, com 50% da capacidade. Nas lojas e museus, � poss�vel apenas uma pessoa a cada 8 m2. Os cinemas poder�o receber 35% do p�blico normal. O toque de recolher, atualmente �s 19h, passar� para 21h.
Uma nova etapa de flexibiliza��o ocorrer� em 9 de junho, mas ser� necess�rio aguardar at� 30 de junho para o fim das limita��es e do toque de recolher.
Por esse motivo, as companhias poder�o continuar recebendo ajudas do governo mesmo ap�s a reabertura progressiva, garante o minist�rio da Economia. "N�o vamos deixar ningu�m no ch�o. Seria totalmente incoerente desligar o apoio �s empresas nesse per�odo de convalescen�a", afirma Le Maire.
Especialistas afirmam que h� o risco, no entanto, de uma onda de fal�ncias ap�s o fim gradativo dos aux�lios do governo, o que representaria um problema para Macron nas elei��es presidenciais de abril do pr�ximo ano.
Tamb�m h� a quest�o de quem ir� reembolsar essa d�vida gigantesca provocada pelos gastos com a pandemia e se haver� um eventual aumento de impostos.
O governo estabeleceu um plano para reembolsar essas despesas baseado na retomada da atividade econ�mica, na melhor gest�o das finan�as p�blicas e na continuidade de reformas ap�s a crise, como a da aposentadoria. Resta saber se haver� clima social para isso em um per�odo pr�-eleitoral.
H� um consenso em rela��o ao cen�rio de expans�o econ�mica: a necessidade de controlar a epidemia gra�as � vacina��o em massa e evitar um novo lockdown, o que poderia comprometer a credibilidade do governo, al�m, claro, de n�o surgir uma nova variante do v�rus resistente �s vacinas.
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