(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DESFAZENDO FAKE NEWS

N�o mexe no DNA nem causa c�ncer: entenda como a vacina da Pfizer age no corpo

Nas redes sociais, boatos de que esse produto altera o c�digo gen�tico ou pode ter efeitos de longo prazo ganharam for�a nas �ltimas semanas. Veja o que a ci�ncia sabe sobre o assunto


30/06/2021 07:41 - atualizado 30/06/2021 08:29

(foto: NURPHOTO/GETTY IMAGES)
(foto: NURPHOTO/GETTY IMAGES)


Apesar de serem pesquisadas h� d�cadas, as vacinas de mRNA fizeram sua "estreia" em larga escala entre o final de 2020 e o in�cio de 2021, como uma das op��es para prevenir a covid-19 e ajudar a acabar com a pandemia.

Mas a chegada de produtos novos baseados em informa��es gen�ticas, como os imunizantes desenvolvidos pelas farmac�uticas Pfizer/BioNTech e Moderna, deixou algumas pessoas com a pulga atr�s da orelha: ser� que eles n�o podem mexer no nosso DNA ou causar efeitos colaterais de longo prazo, como o surgimento de um c�ncer?

Embora essas perguntas sejam leg�timas e a ci�ncia j� tenha respostas bastante satisfat�rias para elas, esse cen�rio de incertezas serviu de pretexto para o surgimento de boatos, que chegam at� a desencorajar algumas pessoas a tomarem essas doses.

"N�o adianta: quem � contra as vacinas sempre vai achar algum argumento ou teoria da conspira��o para lan�ar d�vidas na cabe�a das pessoas", lamenta a imunologista Cristina Bonorino, da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre.

Mas n�o precisa ficar preocupado: essas vacinas n�o chegam nem perto do nosso DNA e os estudos demonstram que elas s�o bastante seguras, afirmam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Mas para entender como os cientistas conseguem fazer afirma��es do tipo, � preciso dar alguns passos para tr�s e explicar um aspecto bem interessante sobre o funcionamento de nosso corpo.

A receita da vida

Todas as nossas caracter�sticas f�sicas (e at� algumas psicol�gicas) s�o determinadas pelo DNA, um conjunto de bilh�es e bilh�es de bases nitrogenadas organizadas em 46 cromossomos, que est�o guardados no n�cleo de todas as c�lulas que comp�em nosso corpo.

E nosso genoma � dotado de uma simplicidade fascinante: ele � composto de apenas quatro tipos diferentes de bases nitrogenadas (conhecidas pelas letras A, T, C, G), que geram sequ�ncias intermin�veis e determinam a cor do cabelo, a altura, o funcionamento do intestino grosso e at� a propens�o a desenvolver um tumor ou uma doen�a neurodegenerativa.

O funcionamento do nosso corpo � basicamente regido pelo c�digo gen�tico: quando uma c�lula do est�mago precisa secretar uma subst�ncia �cida, que vai ajudar na digest�o de um alimento, por exemplo, a sequ�ncia de genes respons�vel por essa fun��o se manifesta no local e dita o que deve ser feito.

Para que isso ocorra dentro do esperado, esse pequeno trecho do c�digo gen�tico respons�vel por essa "tarefa" cria uma fita de RNA mensageiro, que sai do n�cleo da c�lula e se dirige para uma estrutura chamada ribossomo.

� justamente ali que esse tal de RNA mensageiro (ou mRNA para os �ntimos) � interpretado e gera uma rea��o em cadeia para chegar a uma resposta adequada — seguindo no nosso exemplo anterior, ser� a partir daqui que a c�lula g�strica vai produzir o �cido digestivo.

Mas o que isso tem a ver com as vacinas? Bem, voc� se lembra que os imunizantes de Pfizer/BioNTech e Moderna se baseiam justamente na tecnologia de mRNA?

� isso mesmo: esses produtos s�o feitos a partir de uma fita de RNA mensageiro criada em laborat�rio.

Os especialistas montaram uma sequ�ncia gen�tica com instru��es detalhadas para que as nossas pr�prias c�lulas, a partir do contato com esse mRNA espec�fico, sejam capazes de fabricar a prote�na S, que est� presente na esp�cula do coronav�rus.

Essa esp�cula (ou spike, em ingl�s, de onde deriva o "S") � uma estrutura que fica na superf�cie do v�rus e permite que ele se conecte com receptores das nossas c�lulas e d� in�cio � infec��o.

O que acontece na vacina��o?

Quando tomamos as doses dessas vacinas, portanto, esse mRNA entra nas c�lulas e vai at� o ribossomo, que l� aqueles comandos e desencadeia a produ��o da prote�na S.

"� como se essas vacinas trouxessem uma receita, que ensina nossas c�lulas a preparar um determinado produto", compara o imunologista Carlos Z�rate-Blad�s, pesquisador do Laborat�rio de Imunorregula��o da Universidade Federal de Santa Catarina.

Quando est� pronta, essa prote�na S sai das c�lulas e � detectada pelo sistema imunol�gico, que vai gerar anticorpos contra ela.

Assim, o organismo fica "treinado" e sabe como reagir numa situa��o real: caso um coronav�rus de verdade apare�a, as c�lulas de defesa j� conhecem a esp�cula e sabem como lidar com ela antes que a invas�o seja consumada.

E isso, por sua vez, vai prevenir o surgimento dos sintomas ou a evolu��o do quadro para est�gios mais complicados da covid-19, que exigem interna��o e intuba��o.

Toda essa explica��o nos sinaliza uma coisa muito importante: o RNA mensageiro da vacina de Pfizer/BioNTech ou Moderna n�o chega nem perto do n�cleo de nossas c�lulas, onde est� guardado nosso DNA.

"Depois de usadas, essas mol�culas [o mRNA] acabam degradadas e n�o s�o mais encontradas no organismo ap�s dois a sete dias", estima Z�rate-Blad�s

"E n�o h� risco nenhum de intera��o entre esse mRNA e nosso DNA, pois o genoma est� protegido no n�cleo das c�lulas", refor�a Bonorino, que tamb�m integra a Sociedade Brasileira de Imunologia.

Considerando ent�o que essas vacinas n�o interagem diretamente no nosso c�digo gen�tico, tamb�m n�o h� perigo de elas provocarem o surgimento de um c�ncer, como acusam algumas das teorias da conspira��o divulgadas por a�.

Tecnologia nova?

Outro argumento comum em correntes de WhatsApp e conte�dos falsos nas redes sociais � o de que esses produtos s�o muito novos e a ci�ncia n�o possui experi�ncia suficiente para justificar seu uso em bilh�es de seres humanos.

Sim, � verdade que essa � a primeira vez que as vacinas de mRNA s�o aprovadas para uso em larga escala e seu processo de desenvolvimento e aprova��o aconteceu em tempo recorde.

Mas pouca gente sabe que essa tecnologia � estudada h� muitas d�cadas.

"Nos anos 1950, quando se descobriu a estrutura do DNA, alguns grupos de pesquisa j� avaliavam a possibilidade de manipular material gen�tico e, a partir disso, obter tratamentos, imunizantes e maneiras de consertar muta��es", recapitula Z�rate-Blad�s.

As vacinas de mRNA se tornaram uma realidade palp�vel ainda na d�cada de 1990 e diversos prot�tipos j� foram desenvolvidos para fazer frente a outras doen�as, como gripe, zika, raiva, catapora e herpes.

O grande desafio, explica Bonorino, era desenvolver uma f�rmula est�vel e com capacidade de gerar uma resposta imune forte e duradoura.

Isso s� foi obtido mais recentemente, gra�as aos esfor�os de in�meros cientistas e aos investimentos em pesquisa.

Mas a infectologia n�o � a �nica �rea a se beneficiar dessa ferramenta: desde 2010, especialistas em oncologia est�o criando terapias baseadas no RNA mensageiro para tratar alguns tipos de c�ncer.

Os especialistas, portanto, possuem muita experi�ncia nessa �rea.

Outro ponto que traz al�vio � o fato de diferentes ag�ncias regulat�rias, como a Anvisa do Brasil, terem aprovado as vacinas e se mostrado bastante confiantes sobre seu uso nas campanhas.

Apesar de todas essas informa��es, os envolvidos nesse processo seguem atentos e acompanham dezenas milhares de pessoas j� vacinadas.

Essa � a chamada fase 4 da pesquisa cl�nica e acontece depois da libera��o para uso em diferentes pa�ses.

Caso qualquer efeito colateral seja notado, os especialistas e os �rg�os de controle e fiscaliza��o ser�o os primeiros a saber e notificar para toda a sociedade.

Mas tudo indica que um cen�rio desses � bastante improv�vel diante de todas as evid�ncias dispon�veis at� o momento.

Rea��es esperadas

Um �ltimo ponto importante para entender as vacinas de mRNA � saber os efeitos colaterais que ela pode causar no nosso corpo.

No geral, as rea��es mais comuns s�o dor no local da aplica��o e um pouco de febre. Algumas pessoas tamb�m podem sentir calafrios, dor de cabe�a e inc�modos musculares.

Mas a boa not�cia � que essas sensa��es costumam durar no m�ximo dois ou tr�s dias e logo se resolvem.

Vale notar, inclusive, que um cen�rio muito parecido se repete com outros tipos de imunizantes, como aqueles de v�rus inativados, caso da CoronaVac, e os de vetor viral n�o replicante, como a AZD1222, de AstraZeneca e Universidade de Oxford.

Por isso, nem adianta escolher ou preferir algum tipo de vacina: quando chegar a sua vez, tome a dose que estiver dispon�vel na hora, � o que recomendam especialistas da sa�de. Todas as op��es tiveram a efic�cia e a seguran�a comprovadas e foram liberadas pela Anvisa.

Essas rea��es p�s-vacina��o podem at� n�o ser muito agrad�veis, mas elas representam um sinal de que o sistema imune est� reagindo e gerando uma resposta satisfat�ria.

� por isso que os m�dicos s� sugerem o uso de rem�dios, como anti-inflamat�rios e antit�rmicos, quando os sintomas est�o muito fortes mesmo — uma febre baixa n�o justifica o uso de dipirona, por exemplo.

"E aquelas pessoas que foram imunizadas e n�o sentem nenhum inc�modo tamb�m n�o precisam ficar preocupadas. Isso n�o significa que a vacina n�o funcionou nelas, pois cada sistema imune reage de uma maneira diferente", esclarece Bonorino.

E, claro, aquela cl�ssica recomenda��o do final das propagandas de medicamentos continua a valer: se persistirem os sintomas, o m�dico dever� ser consultado.

Ou seja, caso os inc�modos n�o melhorem ap�s dois ou tr�s dias, ou se surgirem outras manifesta��es, vale procurar um especialista ou o posto de sa�de onde voc� tomou a dose para uma investiga��o mais detalhada e para receber orienta��es personalizadas.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)