(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas EFEITOS POR TEMPO MAIOR

O que a Ci�ncia j� sabe da COVID-19 longa, que afeta 1 em cada 10 pacientes

Muitos meses ap�s infec��o inicial por covid-19, alguns pacientes ainda sofrem com variedade desconcertante de sintomas %u2014 e cientistas est�o come�ando a desvendar o que est� por tr�s disso.


06/07/2021 07:59 - atualizado 06/07/2021 10:59

(foto: PHILIPPE LOPEZ/AFP/GETTY IMAGES)
(foto: PHILIPPE LOPEZ/AFP/GETTY IMAGES)


Quando Melissa Heightman criou a primeira cl�nica de reabilita��o p�s-covid-19 do Reino Unido no Hospital da Universidade College London (UCLH), no Reino Unido, em maio de 2020, ela esperava que a maior parte de seu tempo seria preenchida ajudando os pacientes a se recuperarem dos efeitos colaterais de passar v�rias semanas em um respirador.

Para a maioria destes pacientes, ela esperava que o caminho para a recupera��o completa fosse r�pido.

"No in�cio da pandemia, n�o sab�amos quais seriam as sequelas de longo prazo de uma infec��o por covid", diz Heightman, especialista em aparelho respirat�rio.

"N�s pensamos que seria como uma gripe, que tudo iria embora e ficaria bem."

O que ela n�o podia imaginar � que, um ano depois, um ter�o dos pacientes da cl�nica ainda estaria mal e, em grande parte, incapaz de trabalhar. Mais da metade nunca deu entrada em hospitais por causa da covid-19.

Quase t�o logo a cl�nica foi aberta, Heightman come�ou a receber liga��es de m�dicos locais intrigados, confusos com um fluxo repentino de pacientes — muitas vezes relativamente jovens e sem problemas de sa�de subjacentes — que apresentavam sintomas cr�nicos.

Todas as hist�rias seguiam um padr�o recorrente, come�ando com uma infec��o aparentemente branda, at� que uma estranha constela��o de doen�as come�ava a aparecer. Em vez de diminuir, esses sintomas continuavam a persistir por semanas e at� meses depois que o v�rus supostamente havia deixado seus corpos.

Era um enigma que a comunidade m�dica n�o esperava.

"Estes pacientes foram inicialmente deixados para tr�s", diz Heightman.

"A maioria dos hospitais n�o conseguia v�-los facilmente, porque n�o tinha or�amento para abrir uma cl�nica p�s-covid dedicada a isso. Mas agora eles s�o nosso foco principal."

O sintoma mais comum, que Heightman diz ter sido observado em mais de 80% dos pacientes em sua cl�nica, � uma fadiga sufocante que atrapalha suas vidas, tornando dif�cil completar as tarefas di�rias mais simples.

Pesquisas mostraram que a fadiga persistente est� presente em pelo menos 62% dos pacientes com covid longa.

Estes casos s�o conhecidos agora como "covid longa", "covid-19 p�s-aguda" ou "s�ndrome p�s-covid", uma doen�a p�s-viral que provou ser mais prevalente do que se imaginava inicialmente.

O consenso cient�fico geral � que cerca de um em cada 10 pacientes com covid-19 ainda apresentar� sintomas 12 semanas depois.

Mas para compreender totalmente as sutilezas dessa condi��o complexa, � necess�rio considerar que a covid longa engloba dois grupos de pacientes muito d�spares — aqueles que foram hospitalizados e aqueles que n�o foram — cada um com diferentes causas subjacentes.

O primeiro grupo se revelou muito mais simples para os m�dicos administrarem.

Normalmente, seus pulm�es ou cora��o foram danificados pela infec��o viral aguda ou pela tempestade de citocinas resultante — a resposta inflamat�ria severa que pode fazer com que o sistema imunol�gico de um paciente ataque seus pr�prios tecidos.

A tomografia computadorizada e a resson�ncia magn�tica revelam rapidamente a extens�o do dano, enquanto medicamentos como a colchicina podem ser usados %u200B%u200Bpara atenuar qualquer inflama��o persistente nos �rg�os internos.

Heightman diz que dois ter�os dos pacientes da cl�nica com covid longa que foram hospitalizados est�o se recuperando bem, enquanto o ter�o restante apresentou melhora em seus exames ap�s seis meses.

"Esperamos que a grande maioria desses pacientes melhore a ponto de n�o ficar com problemas que limitem suas vidas", diz ela.

"Esperamos que menos de 10% dos que ficaram na UTI por muito tempo, fiquem com alguma anormalidade card�aca ou pulmonar permanente."

Mas os pacientes com sintomas de longo prazo que n�o foram hospitalizados se mostraram muito mais complicados.

De acordo com Heightman, o pico de idade tende a ser entre 35 e 49 anos, e eles relatam uma variedade misteriosa de sintomas. Algumas pesquisas com pacientes identificaram at� 98 sintomas diferentes.

Os mais comuns incluem fadiga, n�voa cerebral, dores musculares e nas articula��es, dist�rbios do sono, enxaquecas, dor no peito, erup��es cut�neas, nova sensibilidade a cheiros e sabores e disautonomia, condi��o normalmente rara que causa um aumento r�pido e desconfort�vel dos batimentos card�acos quando a pessoa tenta desempenhar qualquer forma de atividade.

Heightman diz que enquanto 50% dos pacientes da cl�nica com covid longa que n�o foram hospitalizados melhoraram ao longo de um ano a ponto de serem capazes de gerenciar seus sintomas sozinhos, a metade restante ainda n�o est� bem.

Muitas das informa��es que temos sobre o progn�stico e os sintomas de longo prazo apresentados por este grupo de pacientes vieram de um punhado de cl�nicas especializadas, como a de Heightman, em todo o mundo, juntamente aos esfor�os de comunidades virtuais de covid longa, como a Patient-Led Research Collaborative (PLRC).

Enquanto metade dos pacientes de Heightman teve uma boa recupera��o, outros n�o tiveram tanta sorte. Uma pesquisa recente da PLRC pintou um quadro mais sombrio.

De 3.762 pacientes com covid longa, 77% ainda apresentavam fadiga ap�s seis meses, 72% sentiam mal-estar ap�s esfor�o, 55% sofriam de disfun��o cognitiva, enquanto 36% das pacientes do sexo feminino tinham problemas com o ciclo menstrual.

"Meu pr�prio ciclo desapareceu por tr�s meses", diz Hannah Wei, parte da equipe de lideran�a da PLRC, que tamb�m sofreu com a covid longa no ano passado.

A pesquisa identificou que, para muitos pacientes com covid longa que n�o foram hospitalizados, os sintomas v�m e v�o em tr�s ondas distintas.

Esse padr�o come�a com tosse seca e febre, seguidas rapidamente por uma segunda onda de novos sintomas, como disautonomia, que atinge o pico ap�s dois meses e, em seguida, diminui gradualmente.

Um m�s ap�s a infec��o inicial, uma terceira onda de sintomas aparece, incluindo erup��es cut�neas, dores musculares, novas alergias e n�voa cerebral.

"Isso � o mais preocupante, porque essa onda de sintomas s� continua a piorar gradualmente, atingindo o pico por volta dos quatro meses, e depois continua", diz Wei.

Mas por que a covid-19 impacta esses pacientes dessa forma, e como � que algumas pessoas que foram infectadas h� um ano ainda n�o se recuperaram?

Um dos maiores desafios para os m�dicos que tentam tratar a covid longa � que provavelmente haja uma variedade de gatilhos ou causas subjacentes, dependendo do paciente.

Epidemias recentes t�m servido como uma forma de obter pistas cruciais sobre quais podem ser essas causas subjacentes.

Alguns cientistas acreditam que quase todos os surtos infecciosos deixam para tr�s uma propor��o de pacientes que permanecem cronicamente doentes com padr�es de sintomas semelhantes � covid longa.

Isso � conhecido como a "cauda longa" das epidemias. Ao estudar sobreviventes do surto de Sars (s�ndrome respirat�ria aguda grave) no in�cio dos anos 2000 e da crise de ebola na �frica Ocidental na d�cada passada, um grupo de cientistas acredita que sabe por que isso acontece.

A cauda longa

Em 2004, Harvey Moldofsky, neurocientista da Universidade de Toronto, no Canad�, recebeu um telefonema de um velho amigo. Um ano antes, a Sars havia sa�do da �sia e se espalhado brevemente pelo Canad�, infectando 251 pessoas, sobretudo profissionais de sa�de na �rea de Toronto.

Por�m, mais de 12 meses depois, 50 ainda n�o estavam bem, e John Patcai, m�dico do Toronto General Hospital, queria tentar descobrir o motivo.

"Era um mist�rio porque, embora n�o parecesse haver nenhuma evid�ncia de inflama��o pulmonar persistente, ou do v�rus da Sars, eles apresentavam todos esses sintomas", diz Moldofsky.

"Eles se sentiam fracos, extremamente fatigados, tinham dores por todo o corpo e eram completamente incapazes de trabalhar. Chamamos isso de s�ndrome p�s-Sars e, como eu tinha um hist�rico de estudos de fadiga, John me pediu para dar uma olhada neles."

Moldofsky logo identificou que os pacientes que sofriam dessa condi��o dormiam muito mal.

Ele suspeitava que isso, junto a outros sintomas, era um sinal de inflama��o generalizada no c�rebro, mas n�o tinha financiamento para investigar a fundo.

At� que veio uma luz. Cientistas na China relataram a descoberta de fragmentos do material gen�tico do v�rus em v�rias c�lulas cerebrais de pacientes com s�ndrome p�s-Sars.

Para Moldofsky, essa descoberta explicava grande parte do mal-estar que sentiam.

"Sabemos que h� uma conex�o direta do nosso nariz com o c�rebro, chamada nervo olfat�rio, e � provavelmente assim que o v�rus entrou diretamente na circula��o cerebral", diz ele.

"Acredito que esses fragmentos virais estavam interferindo no funcionamento de seus c�rebros, o que explicaria a m� qualidade do sono e outros problemas."

Amy Proal, microbi�loga que dirige a PolyBio Research Foundation, que estuda as causas das doen�as inflamat�rias cr�nicas, acredita que pequenas quantidades de pat�genos que permanecem al�m do alcance do sistema imunol�gico em compartimentos remotos do corpo, conhecidos como reservat�rios ou santu�rios anat�micos, s�o pelo menos parcialmente respons�veis %u200B%u200Bpor uma s�rie de s�ndromes p�s-infecciosas.

Isso inclui a covid longa, mas tamb�m uma s�rie de doen�as misteriosas que intrigam os cientistas h� d�cadas, como a doen�a de Lyme cr�nica e a s�ndrome da fadiga cr�nica (SFC), condi��o que h� muito tempo se especula ter origens infecciosas, embora alguns cientistas acreditem que pode haver uma variedade de causas potenciais, e apresenta uma s�rie de semelhan�as com a covid longa.

"O fen�meno de pessoas que desenvolvem sintomas cr�nicos ap�s um surto infeccioso n�o � novo", diz ela.

"Se o v�rus Sars-CoV-2 n�o fizesse isso, seria praticamente a �nica vez documentada em que um pat�geno importante n�o resultou em casos cr�nicos. H� uma grande quantidade de estudos, que foram negligenciados pela principal corrente da comunidade m�dica, mostrando como os organismos infecciosos podem persistir nos tecidos e contribuir para os processos de doen�as. Alguns v�rus s�o altamente neurotr�ficos, o que significa que podem penetrar nos nervos e se esconder l�, e h� evid�ncias de que o Sars-CoV-2 (causador da covid-19) � capaz disso."

Proal diz que, no passado, muitos m�dicos foram r�pidos em atribuir as s�ndromes p�s-infecciosas a fatores psicol�gicos, em vez de a efeitos latentes de um pat�geno que ainda causava danos em algum lugar do corpo.

No entanto, na �ltima d�cada, os surtos de ebola, zika e agora de covid-19 resultaram em doen�as cr�nicas de longo prazo em uma parte dos sobreviventes, gerando uma maior abertura a essa ideia.

Em particular, o ebola j� ensinou muito aos cientistas sobre a capacidade de os v�rus permanecerem no corpo por meses e, �s vezes, at� anos.

Desde 2013, Georgios Pollakis, microbi�logo da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, tem trabalhado com hospitais em toda a �frica Ocidental, monitorando casos registrados de ebola longo, em que os sobreviventes relatam dor, fadiga e uma s�rie de sintomas neurol�gicos, incluindo dor de cabe�a e tontura.

Intrigados com pesquisas que indicam que uma alta propor��o de sobreviventes do ebola apresentam uma ressurg�ncia dos n�veis de anticorpos do v�rus at� um ano ap�s a infec��o, Pollakis e outros pesquisadores detectaram a presen�a de seu material gen�tico em reservat�rios por todo o corpo, do olho aos linfonodos, e at� mesmo nos fluidos corporais, como leite materno e s�men.

Embora os cientistas pensassem anteriormente que esses tra�os virais poderiam ser relativamente benignos, o ebola longo mostrou que um v�rus pode permanecer ativo nesses reservat�rios por meses ou at� anos.

No in�cio deste ano, uma nova an�lise gen�tica, publicada como preprint (sem revis�o de pares), sugeriu que um surto recente na Guin� se originou a partir de um sobrevivente do ebola que contraiu a infec��o inicialmente entre 2014 e 2016.

O homem espalhou o v�rus ao infectar uma parceira sexual, depois de o mesmo ter ficado dormente em seus test�culos por pelo menos cinco anos.

Pollakis acredita que os sintomas do ebola longo e da covid longa ocorrem porque o corpo n�o consegue eliminar completamente o v�rus.

Em vez disso, os restos do material gen�tico do v�rus se escondem em reservat�rios onde induzem inflama��o local.

Periodicamente, o v�rus volta para a corrente sangu�nea e desencadeia uma rea��o imunol�gica, junto a outros sintomas.

Ele ressalta que o Sars-CoV-2 demonstrou ser capaz de infectar uma ampla variedade de tecidos do corpo, do c�rebro aos test�culos.

"Com a covid-19, foi mostrado que o v�rus pode ser medido no s�men por longos per�odos de tempo", diz ele.

"Portanto, j� temos suspeitas de que ele pode permanecer nesses locais imunoprivilegiados."

Mas fragmentos intrusos do v�rus Sars-CoV-2 provavelmente n�o s�o a �nica causa da covid longa.

O aparecimento s�bito de alergias que antes n�o existiam, assim como as dores musculares e na articula��o de alguns pacientes, sugerem que o v�rus pode desencadear uma rea��o autoimune em alguns casos.

"Achamos que, em alguns pacientes, algo na covid estimula o sistema imunol�gico a atacar o pr�prio tecido do corpo, de maneira semelhante a doen�as autoimunes como l�pus, artrite reumatoide e esclerose m�ltipla", afirma Heightman.

Isso pode ajudar a explicar a propor��o relativamente alta de mulheres que sofrem de covid longa.

Heightman diz que 66% dos pacientes da cl�nica s�o mulheres, e distor��es de g�nero semelhantes foram relatadas em quem sofre SFC.

As mulheres tamb�m s�o mais vulner�veis %u200B%u200Bao desenvolvimento de doen�as autoimunes.

A PLRC est� trabalhando atualmente com uma s�rie de grupos de pesquisa para identificar pacientes com covid longa com autoanticorpos — anticorpos que atacam suas pr�prias prote�nas — que podem estar causando alguns de seus sintomas.

Uma resposta autoimune � infec��o viral inicial tamb�m pode estar ligada a outra teoria dominante, que pode explicar alguns dos sintomas mais estranhos da covid longa, como disautonomia e co�gulos sangu�neos.

Alguns cientistas veem a covid-19 como uma doen�a endotelial, em que a inflama��o gerada contra o v�rus acaba danificando o endot�lio vascular, uma camada fr�gil que atua como uma interface entre o sangue e os tecidos do corpo.

No in�cio deste ano, cientistas da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, propuseram que, em alguns pacientes com covid longa, o corpo poderia acabar atacando suas pr�prias estruturas vasculares.

Mas em outro subgrupo de pacientes, algo ainda mais estranho pode estar acontecendo.

V�rios estudos relataram a reativa��o do v�rus herpes zoster — mais comumente conhecido como causador da catapora —, assim como do v�rus Epstein-Barr e do citomegalov�rus em pacientes com covid-19 aguda.

Todos esses s�o v�rus que sabemos que s�o retidos no corpo por toda a vida, uma vez que podem permanecer inativos dentro das c�lulas.

Alguns pesquisadores especularam que a covid-19 poderia estar desencadeando a reativa��o de v�rus que permaneceram latentes no corpo por anos ou at� mesmo d�cadas, levando ao desenvolvimento de sintomas cr�nicos.

"Uma das coisas que o v�rus Sars-CoV-2 faz � neutralizar a sinaliza��o do interferon, e os interferons fazem parte do sistema imunol�gico que mant�m os v�rus sob controle", diz Proal.

"Ent�o, se voc� j� tinha o v�rus Epstein-Barr adormecido em seu corpo, ele poderia ser reativado e infectar um novo nervo ou novo tecido, talvez entrar no sistema nervoso central, e isso poderia resultar nesses sintomas cr�nicos."

Essa complexidade da covid longa, com seus in�meros sintomas e m�ltiplas causas poss�veis, gera um grande desafio para os m�dicos que tentam descobrir como tratar os pacientes.

Embora os governos tenham se esfor�ado para destinar fundos para aprofundar nossa compreens�o da doen�a — em fevereiro, o Instituto Nacional de Pesquisa em Sa�de e a Ag�ncia de Pesquisa e Inova��o do Reino Unido concederam a cientistas da Universidade de Birmingham £ 2,2 milh�es para estudar a covid longa —, ensaios cl�nicos analisando a possibilidade de diferentes tratamentos ainda est�o por come�ar.

Para m�dicos e pacientes, essa demora est� se revelando dif�cil de aceitar.

"Voc� se sente um pouco desamparado porque, tanto para os m�dicos quanto para os pacientes com covid longa, n�o h� tempo, precisamos de respostas agora", diz Heightman.

"Voc� tem pacientes l� fora que est�o tentando todos os tipos de coisas em desespero."

Entre os medicamentos alternativos que est�o sendo experimentados, est�o a quercetina, um pigmento vegetal encontrado no ch� verde, na cebola e em v�rias frutas silvestres, e a niacina, uma forma de vitamina B com propriedades antioxidantes.

A base de evid�ncias para qualquer uma dessas terapias permanece insignificante, mas, como observa Heightman, os pacientes est�o recorrendo a elas porque os m�dicos podem oferecer poucas op��es.

Por causa disso, alguns especialistas acreditam que os pacientes devem ser tratados com base no que sabemos sobre outras doen�as semelhantes.

A busca do tratamento

Para a covid longa e outras s�ndromes p�s-infecciosas, a fadiga, a dor e a n�voa cerebral s�o alguns dos sintomas mais persistentes e preocupantes.

"Quando eu estava realmente lutando contra a covid longa no ver�o passado, havia dias em que eu simplesmente n�o sabia o que estava fazendo", lembra Wei.

"Tinha dificuldade de pensar com clareza, e teve um momento em setembro em que percebi que n�o conseguia me lembrar de muita coisa do ver�o. Para mim, isso foi bastante assustador, porque normalmente tenho mem�rias muito vivas."

Esse tipo de perda de mem�ria e confus�o � frequentemente visto na SFC, e nos �ltimos oito anos os cientistas que pesquisaram a doen�a chegaram � conclus�o de que uma das principais causas subjacentes � a neuroinflama��o, impulsionada por c�lulas imunol�gicas no c�rebro chamadas micr�glias.

Em indiv�duos saud�veis, as micr�glias desempenham um papel fundamental em manter os neur�nios do c�rebro funcionando normalmente, mas elas s�o vulner�veis %u200B%u200Ba dist�rbios.

Picos de inflama��o na corrente sangu�nea, seja por uma rea��o autoimune desencadeada por uma infec��o ou pela presen�a prolongada de um v�rus, podem fazer com que essas c�lulas bombeiem para fora suas pr�prias mol�culas inflamat�rias, que ent�o se dispersam rapidamente pelo c�rebro.

Estudos de imagem conduzidos por cientistas japoneses revelaram uma neuroinflama��o cr�nica em v�rios pacientes com SFC, enquanto um dist�rbio microglial semelhante ocorre em v�rios transtornos psiqui�tricos, como depress�o e esquizofrenia.

Como resultado, Valeria Mondelli, imunologista do Kings College London, no Reino Unido, est� defendendo a realiza��o de testes de medicamentos anti-inflamat�rios para pacientes com covid longa.

"Tanto anti-inflamat�rios quanto a minociclina — um antibi�tico que parece funcionar para pacientes com n�veis mais elevados de inflama��o no sangue — ou inibidores de citocinas, podem ser op��es de tratamento em potencial", diz ela.

David Kaufman, m�dico especialista em SFC que tratou cerca de 1 mil pacientes em Mountain View, na Calif�rnia, nos �ltimos oito anos, acredita que os m�dicos dedicados � covid longa tamb�m deveriam procurar evid�ncias de disfun��o no microbioma, o que poderia estar deixando esses pacientes mais vulner�veis a sofrer problemas de longo prazo com o v�rus SARS-CoV-2.

Embora a SFC seja frequentemente considerada uma doen�a em que os pacientes raramente melhoram, Kaufman tem uma taxa de sucesso incomumente alta. Segundo ele, de 15% a 20% de seus pacientes tiveram uma recupera��o completa, embora esta afirma��o seja puramente baseada no relato dele.

Ele diz que isso se deve em parte � sua persist�ncia em procurar e tratar sinais de um intestino gotejante — uma maior permeabilidade do revestimento intestinal, que deixa as pessoas geneticamente suscet�veis mais propensas a desenvolver doen�as autoimunes em resposta a um gatilho externo, como uma infec��o viral.

Isso acontece porque o intestino est� permitindo que toxinas e bact�rias entrem na corrente sangu�nea, causando uma s�rie de problemas subjacentes, desde a inflama��o cr�nica at� a s�ndrome de ativa��o dos mast�citos — condi��o que normalmente ocorre durante uma rea��o al�rgica.

Isso pode ser agravado ainda mais por uma infec��o subsequente.

"80% dos pacientes com SFC que testei t�m um pequeno supercrescimento de bact�rias intestinais", diz Kaufman.

"Como o intestino � um importante �rg�o imunol�gico, isso os leva a um caminho para problemas autoimunes."

Alguns estudos preliminares j� sugeriram que desequil�brios no microbioma de pacientes com covid longa podem estar contribuindo para seus sintomas inflamat�rios persistentes.

Mas embora provavelmente mais pesquisas sejam necess�rias para que medicamentos como prebi�ticos ou anti-inflamat�rios sejam recomendados para pacientes com covid longa, alguns sintomas individuais j� est�o se mostrando mais trat�veis %u200B%u200Bdo que outros.

Heightman conta que os pacientes com covid longa que apresentam rea��es do tipo al�rgica tendem a responder bem aos anti-histam�nicos.

Amy Kontorovich, cardiologista do Hospital Monte Sinai que se especializou no tratamento de disautonomia, desenvolveu um novo programa de fisioterapia conhecido como Terapia de Condicionamento Aut�nomo (ACT, na sigla em ingl�s) que demonstrou ser capaz de reduzir os sintomas de fadiga em alguns pacientes com covid longa e, desde ent�o, foi adotado por 53 centros de fisioterapia em toda a �rea de Nova York.

Kontorovich explica que o ACT come�a com exerc�cios de amplitude de movimento, antes de progredir para diferentes exerc�cios aer�bicos que aumentam lentamente de intensidade, mas nunca permitem que o paciente ultrapasse 85% de sua frequ�ncia card�aca m�xima.

A t�cnica � inspirada em um programa de recondicionamento semelhante, que se mostrou eficaz no tratamento de uma forma de disautonomia, conhecida como POTS.

"Parece programar o sistema nervoso aut�nomo para reconectar as coisas", diz ela.

"Uma das tend�ncias interessantes que vi em muitos dos pacientes com covid longa que tratei � que eles eram anteriormente muito ativos e, durante o per�odo de sua doen�a aguda, ficavam deitados na cama ou principalmente sedent�rios. Esse per�odo de inatividade pode ser um fator que contribui para o padr�o de disautonomia p�s-covid, pois sabemos que isso pode acontecer com o descondicionamento."

Mas a ACT n�o � uma solu��o milagrosa — Kontorovich afirma que alguns pacientes com disautonomia particularmente severa muitas vezes n�o conseguem completar o programa porque se sentem muito mal — mas seus primeiros resultados mostram que pode beneficiar os pacientes que conseguem complet�-lo.

Heightman acrescenta que muitos pacientes com covid longa tamb�m simplesmente melhoram com o passar do tempo, conforme seus corpos se recuperam e se curam.

Como o v�rus SARS-CoV-2 existe h� pouco mais de um ano e meio, ainda � muito cedo para dizer por quanto tempo os sintomas cr�nicos podem durar.

"N�o quero que ningu�m com sintomas de covid longa tenha medo de que nunca vai passar, porque uma propor��o muito significativa de pessoas melhora no primeiro ano", diz ela.

Para aqueles que continuam a lutar, no entanto, a esperan�a � que os milh�es de d�lares em bolsas de pesquisa que est�o sendo distribu�dos gerem algumas possibilidades de tratamento vi�veis, caso contr�rio, a covid longa pode deixar consequ�ncias sociais e econ�micas profundas na sociedade.

"Se n�o encontrarmos respostas, podemos estar falando de milh�es de pessoas que n�o conseguir�o trabalhar da mesma maneira", diz Kaufman.

"Uma parcela muito significativa dos pacientes com covid longa s�o profissionais da sa�de. S�o pessoas qualificadas, ativas e altamente produtivas que agora n�o podem funcionar. O impacto disso ser� enorme."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)