(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PANDEMIA

Covid longa em crian�as: como identificar sintomas e sequelas da doen�a nos mais jovens

Ainda h� muitas d�vidas sobre a chamada covid longa em crian�as e adolescentes, faixa et�ria que acabou em segundo plano por ser proporcionalmente menos atingida pela doen�a.


24/04/2021 06:52 - atualizado 24/04/2021 08:37


Ainda há muitas dúvidas sobre a chamada covid longa em crianças e adolescentes(foto: Getty Images)
Ainda h� muitas d�vidas sobre a chamada covid longa em crian�as e adolescentes (foto: Getty Images)

Jo�o*, de cinco anos, acorda rouco todos os dias desde que contraiu covid-19, um m�s atr�s. Ele n�o chegou a ser internado, mas desde ent�o tosse sem parar, tem uma coceira irritante e incessante no nariz, passou a salivar muito mais, sente cansa�o nos bra�os e uma dor que vem e vai no p� esquerdo. "� uma montanha-russa. Ele reclama e pergunta quando vai ficar bom", conta sua m�e, moradora de Duque de Caxias (RJ).

A resposta para essa pergunta, que ela ainda n�o encontrou, vem sendo buscada por cada vez mais pais, pesquisadores e profissionais de sa�de ao redor do mundo, � medida que avan�a a pandemia de coronav�rus. Mas ainda h� muitas d�vidas sobre a chamada covid longa em crian�as e adolescentes, uma vez que essa faixa et�ria acabou ficando em segundo plano por ser proporcionalmente menos atingida pela doen�a, menos ainda com sintomas persistentes.

Dos mais de 370 mil mortos por covid-19 no Brasil, cerca de 2 mil t�m menos de nove anos, segundo pesquisadores brasileiros.

E se os sintomas persistentes em adultos foram tema de centenas de estudos, por outro lado h� at� agora poucos estudos que investigam a covid longa em crian�as e adolescentes, incluindo pa�ses como Su�cia, It�lia e Reino Unido.


Poucos estudos que investigam a covid longa em crianças e adolescentes(foto: Getty Images)
Poucos estudos que investigam a covid longa em crian�as e adolescentes (foto: Getty Images)

A maioria dos pacientes dessa faixa et�ria que participaram do estudo enfrentou por meses sintomas como ins�nia, congest�o nasal, fadiga, dificuldade de concentra��o e dores.

Cientistas, profissionais de sa�de e l�deres de grupo de apoio ouvidos pela reportagem costumam apontar um obst�culo em comum para estudos mais amplos e a��es direcionadas: muita gente ainda acredita que menores de idade n�o s�o atingidos pela covid-19.

"A maioria das pessoas, inclusive m�dicos, preferem dizer que esses sintomas s�o mais psicol�gicos e est�o relacionados �s restri��es da pandemia", diz � BBC News Brasil o pediatra italiano Danilo Buonsenso, da Universidade Agostino Gemelli, que coassinou dezenas de artigos cient�ficos sobre covid em crian�as na pandemia.

Para Frances Simpson, professora de psicologia da Universidade de Coventry (Reino Unido) e cofundadora do grupo de apoio Long Covid Kids, que reuniu 2.650 casos at� agora, "demorou muito para convencer as pessoas do contr�rio, de que as crian�as podem ser afetadas, e ainda parece haver resist�ncia a isso". Na opini�o dela, as pessoas n�o querem acreditar que as crian�as podem ficar doentes porque isso poderia gerar p�nico.

Renato Kfouri, presidente do Departamento Cient�fico de Imuniza��es da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz � reportagem que as crian�as na pandemia n�o s�o prioridade "nem para tratamento, nem para avalia��o de sequelas, nem para drogas".

A BBC News Brasil detalha abaixo o que se sabe sobre os sintomas de covid longa que atingem crian�as, as diferen�as em rela��o aos adultos, qual � o perfil das crian�as e adolescentes mais atingidos e o que tem sido feito at� agora em torno do tratamento delas.

Sintomas da covid longa em crian�as

A descri��o com adultos � conhecida por muitos. A fase aguda da covid passa, mas o paciente enfrenta sintomas novos e antigos por meses (alguns inclusive os sentem mais de um ano depois). Os testes j� n�o detectam a presen�a do v�rus, mas quem � acometido sente como se a doen�a n�o tivesse acabado, e sim entrado em uma nova fase.

Em algumas pessoas, a chamada covid longa (ou prolongada, persistente) se revela ainda mais penosa ou debilitante do que a fase aguda, marcada em geral pela falta de ar.


Parte dos pacientes dessa faixa etária enfrentou por meses sintomas como insônia, congestão nasal, fadiga, dificuldade de concentração e dores(foto: Getty Images)
Parte dos pacientes dessa faixa et�ria enfrentou por meses sintomas como ins�nia, congest�o nasal, fadiga, dificuldade de concentra��o e dores (foto: Getty Images)

Os cinco sintomas mais comuns da covid longa em centenas de milhares de adultos s�o fadiga (58%), dor de cabe�a (44%), dificuldade de aten��o (27%), perda de cabelo (25%) e falta de ar (24%), segundo pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, do M�xico e da Su�cia que analisaram dezenas de estudos sobre o tema com 48 mil pacientes ao todo.

As causas dessa condi��o em parte dos pacientes n�o est� clara, e pesquisadores investigam hip�teses como uma resposta inflamat�ria do corpo a vest�gios do coronav�rus, por exemplo.

Como dito acima, h� muito menos pesquisas, dados e testes de crian�as com covid, longa ou n�o. Segundo Kfouri, da Sociedade Brasileira de Pediatria, isso se deve ao fato de que elas s�o "pouco infectadas, raramente internam e muito raramente hospitalizam. Quando isso acontece, mais da metade dos casos de formas graves e �bitos s�o em crian�as que j� tinham patologias de risco".

No Brasil, todos os dias cinco crian�as de at� nove anos morrem em decorr�ncia da covid-19, em m�dia. Ao todo, mais de 2 mil crian�as morreram no pa�s, das quais 1,3 mil beb�s.

H� algumas diferen�as nos sintomas mais apresentados por crian�as e adultos. Os mais comuns s�o febre persistente, dificuldade de respirar, press�o sangu�nea baixa, conjuntivite, erup��es na pele, com grande preval�ncia de dores abdominais e altera��es gastrointestinais (que ocorrem com bem menos frequ�ncia nos adultos).


No Brasil, todos os dias cinco crianças de até nove anos morrem em decorrência da covid-19, em média(foto: Getty Images)
No Brasil, todos os dias cinco crian�as de at� nove anos morrem em decorr�ncia da covid-19, em m�dia (foto: Getty Images)

Kfouri explica que uma das poss�veis raz�es est� ligada � quantidade diferente de receptores usados pelo coronav�rus para invadir as c�lulas humanas em crian�as. H� menos nas vias respirat�rias dessa faixa et�ria, mas mais em outros aparelhos, como o urin�rio e o digestivo, o que explica "esses quadros de dores abdominais, diarreia, sangue na urina".

No caso da covid longa, os sintomas mais comuns em crian�as tamb�m n�o s�o exatamente os mesmos relatados acima em adultos, segundo o que se sabe at� agora a partir de alguns estudos que tentaram mapear essa condi��o.

Uma pesquisa do hospital da Universidade Agostino Gemelli a partir de entrevistas com 123 jovens de at� 18 anos infectados com covid foi publicada recentemente com alguns dos primeiros resultados sobre o tema.

Danilo Buonsenso e outros seis colegas apontam que a maior parte delas (74,4%) apresentou sintomas, poucas (4,7%) foram hospitalizadas e uma pequena quantidade evoluiu para quadros mais graves como s�ndrome inflamat�ria multissist�mica (2,3%) e miocardite (1,6%).

Dos efeitos observados, os mais frequentemente relatados dois meses depois tanto em crian�as sintom�ticas, quanto assintom�ticas � �poca da detec��o do v�rus no corpo s�o: ins�nia (18,6%), sintomas respirat�rios, incluindo dor e aperto no peito (14,7%), congest�o nasal (12,4%), fadiga (10,8%), dores musculares (10,1%), e dificuldades de concentra��o (10,1%) e dores nas articula��es (6,9%).

Das 30 crian�as avaliadas entre 60 e 120 dias ap�s o diagn�stico inicial, 13 tinham pelo menos um sintoma e 7, tr�s ou mais.

Um outro estudo cient�fico de pesquisadores da It�lia, da R�ssia e do Reino Unido se debru�ou sobre 510 casos relatados por pais americanos e brit�nicos. Entre os sinais mais comuns estavam fadiga e cansa�o (87%), dor de cabe�a (79%), dor abdominal (76%), dores musculares ou nas articula��es (61%), n�usea (46%) e diarreia ou v�mito (42%).

Por fim, um dos estudos pioneiros do tema foi produzido por um pesquisador do Instituto Karolinska, na Su�cia, a partir de casos envolvendo cinco menores de idade.


Estudos apontam que a faixa etária mais atingida pela covid longa gira em torno de 10 a 12 anos em crianças(foto: Getty Images)
Estudos apontam que a faixa et�ria mais atingida pela covid longa gira em torno de 10 a 12 anos em crian�as (foto: Getty Images)

Nenhum deles chegou a ser hospitalizado na fase aguda da doen�a. Todos manifestaram fadiga, falta de ar, dor no peito, e a maioria delas reportou dor de cabe�a, dificuldade de concentra��o, tontura, fraqueza muscular e dor de garganta. Nenhuma das crian�as havia conseguido retornar completamente �s aulas ao longo desses meses.

Em resumo, os estudos acima apontam que a faixa et�ria mais atingida pela covid longa gira em torno de 10 a 12 anos, os sintomas costumam durar oito meses, 20% melhorou antes de piorar de novo e menos de 5% das crian�as acometidas foram hospitalizadas durante a fase aguda da infec��o.

Mas como dito antes, os n�meros podem estar distorcidos em raz�o da quantidade limitada de casos estudados e, por extens�o, da impossibilidade de adotar metodologias mais rigorosas.

'N�o se trata s� de condi��es psicossom�ticas'

Buonsenso, da Universidade Agostino Gemelli, critica o ceticismo e a falta de interesse de autoridades e pesquisadores no tema.

"A baixa preval�ncia da covid entre menores de idade pode ser explicada por uma s�rie de quest�es imunol�gicas e virais ainda sob estudo. Mas, na minha opini�o, h� barreiras em aceitar que as crian�as possam ter covid longa. A maioria das pessoas, incluindo m�dicos, prefere afirmar que esses sintomas s�o mais psicol�gicos e ligados �s restri��es (como lockdowns)."

Para a professora Frances Simpson, do grupo Long Covid Kids, "o fato de muitos m�dicos n�o poderem ajudar ou n�o acreditar que a crian�a est� doente aumenta enormemente as dificuldades enfrentadas por esses pais".

Nisreen Alwan, epidemiologista e professora na Universidade de Southampton (Reino Unido), acredita que a compreens�o da covid persistente caminha em ritmo lento porque n�o � medida ou quantificada adequadamente.

Como ocorre com adultos, a variedade de sintomas e desdobramentos da covid pioram essa mensura��o. O que dizer quando se trata de crian�as que, a depender da idade, mal conseguem identificar e relatar sintomas? Soma-se a isso a baixa taxa de testes para detectar o v�rus em crian�as.

Em linhas gerais, elas podem ser assintom�ticas (65% delas, segundo pesquisa da Prefeitura de S�o Paulo) ou apresentar quadros leves de covid-19, ou n�o. Podem manifestar um quadro t�pico da doen�a, se recuperar rapidamente e depois piorar com outros sintomas. Ou mesmo continuar com os mesmos sintomas desde a fase aguda.


Covid longa não tem um tratamento específico, tanto em crianças quanto em adultos(foto: Getty Images)
Covid longa n�o tem um tratamento espec�fico, tanto em crian�as quanto em adultos (foto: Getty Images)

Por meio de question�rio aplicado aos familiares que integram o grupo "Long Covid Kids", foram reportados mais de 100 manifesta��es, como sintomas gastrointestinais (diarreia, dor abdominal, v�mito), dor de cabe�a, no t�rax, fadiga, manifesta��es dermatol�gicas, dores nas articula��es, dor de garganta e varia��es de humor.

Kfouri, da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma que esse quadro fica ainda mais complicado ao lembrarmos de outras doen�as que acometem crian�as.

"� bom lembrar que, na maior parte das vezes, esses quadros na pediatria ficam sem sintomas porque se confundem com outras doen�as respirat�rias, ou outras viroses das crian�as. Corpo mole, mal-estar, enjoo, febre baixa. Ent�o, �s vezes em qualquer um desses quadros pode se suspeitar de covid-19 porque os sintomas podem realmente ser muito inespec�ficos, muito variados, mais do que nos adultos."

Poss�veis tratamentos

A covid longa n�o tem um tratamento espec�fico, tanto em crian�as quanto em adultos. Como a variedade de manifesta��es e sintomas � enorme, em geral as condi��es s�o tratadas ou acompanhadas por especialistas a partir de abordagens j� conhecidas.

Dermatologistas podem avaliar erup��es na pele enquanto neurologistas investigam dificuldade de concentra��o e problemas de mem�ria, por exemplo.

Simpson, do grupo Long Covid Kids e da Universidade de Coventry, recomenda aos pais que busquem grupos de apoio, compartilhem relatos e experi�ncias e encontrem m�dicos simp�ticos � condi��o de sa�de dos pequenos pacientes.

"Muitas dessas crian�as n�o recuperaram a sa�de que tinham. Apenas 10%, segundo nosso levantamento. Muitas crian�as est�o sofrendo f�sica e mentalmente."

Ela defende que os pais n�o sobrecarreguem as crian�as em busca de uma melhora e que elas devem ser tratadas caso a caso. Algumas delas podem passar a precisar de acompanhamento psicol�gico, ensino remoto, mudan�as na rotina, suporte da escola e aux�lio em atividades f�sicas. N�o haver� uma solu��o �nica para todas elas, diz Simpson.

H� dados promissores sobre eventuais efeitos positivos da vacina��o em adultos diagnosticados com covid longa, mas isso ainda est� sob estudo. Vale lembrar que as pesquisas de vacinas para crian�as ainda est�o na fase de estudos cl�nicos, e nenhuma delas foi autorizada para uso em larga escala at� agora, embora os resultados sejam promissores.

O Sistema de Sa�de Brit�nico (o NHS, parecido com o SUS brasileiro) montou uma rede de mais de 40 cl�nicas especializadas e multidisciplinares para pacientes que se recuperam da covid longa.


Como forma de prevenção, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças
Como forma de preven��o, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crian�as "com mais de 2 anos usem m�scara e mantenham distanciamento" (foto: Getty Images)

Al�m das abordagens elencadas acima, o NHS faz outras recomenda��es, como descansar o corpo e a mente, manter atividades rotineiras em um ritmo mais lento, fazer exerc�cios de respira��o, evitar interrup��es no sono e fazer uma alimenta��o mais saud�vel.

Como forma de preven��o, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crian�as "com mais de 2 anos usem m�scara e mantenham distanciamento". E a volta �s aulas deve ocorrer atendendo aos protocolos de seguran�a, com higieniza��o das m�os, distanciamento, salas arejadas e mais vazias.

"A �nica forma de evitar a covid longa � evitar a covid-19", resume Sammie Mcfarland, cofundadora do grupo Long Covid Kids.

*O nome foi trocado para preservar a identidade da crian�a.


J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


Leia mais sobre a COVID-19

Confira outras informa��es relevantes sobre a pandemia provocada pelo v�rus Sars-CoV-2 no Brasil e no mundo. Textos, infogr�ficos e v�deos falam sobre sintomaspreven��opesquisa vacina��o.
 

Confira respostas a 15 d�vidas mais comuns

Guia r�pido explica com o que se sabe at� agora sobre temas como risco de infec��o ap�s a vacina��o, efic�cia dos imunizantes, efeitos colaterais e o p�s-vacina. Depois de vacinado, preciso continuar a usar m�scara? Posso pegar COVID-19 mesmo ap�s receber as duas doses da vacina? Confira esta e outras perguntas e respostas sobre a COVID-19.


Quais os sintomas do coronav�rus?

Desde a identifica��o do v�rus Sars-CoV2, no come�o de 2020, a lista de sintomas da COVID-19 sofreu v�rias altera��es. Como o v�rus se comporta de forma diferente de outros tipos de coronav�rus, pessoas infectadas apresentam sintomas diferentes. E, durante o avan�o da pesquisa da doen�a, muitas manifesta��es foram identificadas pelos cientistas. Confira a rela��o de sintomas de COVID-19 atualizada.

O que � a COVID-19?

A COVID-19 � uma doen�a provocada pelo v�rus Sars-CoV2, com os primeiros casos registrados na China no fim de 2019, mas identificada como um novo tipo de coronav�rus pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) em janeiro de 2020. Em 11 de mar�o de 2020, a OMS declarou a COVID-19 como pandemia.


Veja v�deos explicativos sobre este e outros tema em nosso canal


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)