(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas BBC

COVID longa: 'Ainda tenho que escolher entre andar ou falar'

Jasmine Hayer recebeu mensagens de centenas de pacientes ap�s iniciar um blog para aumentar a conscientiza��o sobre a covid longa


27/12/2021 19:55 - atualizado 27/12/2021 19:55

Mulher deitada
Jasmine Hayer recebeu mensagens de centenas de pacientes ap�s iniciar um blog para aumentar a conscientiza��o sobre a covid longa (foto: JASMINE HAYER)
A Covid-19 pode causar problemas de sa�de persistentes. Cerca de um quarto das pessoas que tiveram o v�rus apresentam sintomas que continuam por pelo menos um m�s, segundo dados divulgados pela OMS - e uma em cada 10 ainda n�o se sente bem ap�s 12 semanas.

 

Muitos pacientes relatam que tiveram apenas uma infec��o inicial leve, mas que acabou prejudicando sua sa�de, vida social e finan�as.

 

Jasmine Hayer, de 32 anos, estava morando em Londres e se preparando para ser professora de ioga quando pegou o coronav�rus em mar�o de 2021.

�s vezes parece que era uma pessoa diferente, diz ela, falando devagar e com cuidado, da casa de seus pais em Biggleswade, na Inglaterra.

 

Ela voltou para l� no ver�o passado quando percebeu que n�o conseguia nem fazer a cama sem ficar sem f�lego.

 

"Esta doen�a � t�o desconcertante e ningu�m sabe realmente como trat�-la. Sinceramente, n�o sei se algum dia voltarei � sa�de plena, mas nunca vou parar de tentar", diz ela.

 

Atualmente recebendo aux�lio-doen�a, ela diz que est� desesperada para trabalhar novamente.

 

"Minha vida inteira foi arrancada de mim - como aconteceu com tantos outros com covid longa. Tivemos uma grande crise de identidade", diz ela. "Preciso me reinventar. N�o consigo nem levantar o bra�o esquerdo, muito menos ser professora de ioga, o que � de partir o cora��o."

 

Por nove meses, os m�dicos disseram que a ansiedade era a causa de seus sintomas, que inclu�am aperto no peito, dores no cora��o, falta de ar, fadiga e palpita��es.

 

Ela sabia que eles estavam errados e desenvolveu seu pr�prio rastreador de sintomas, o que ajudou a identificar impactos em seus pulm�es.

 

Sua sa�de s� come�ou a melhorar quando ela iniciou o tratamento em uma cl�nica para 130 pacientes com grave covid longa, no Royal Brompton Hospital, em Londres.

 

Os m�dicos encontraram v�rios problemas de sa�de. Um teste de transfer�ncia de g�s mostrou que os n�veis de oxig�nio em seus pulm�es eram 53%, o mesmo de um paciente com doen�a pulmonar, e ela foi diagnosticada com inflama��o card�aca p�s-covid, que eles disseram que n�o tinham visto antes.

 

Eles tamb�m encontraram pequenos co�gulos de sangue em seus pulm�es, que s� apareceram em uma varredura especializada chamada varredura de ventila��o-perfus�o.

 

Desde o in�cio da medica��o para afinar o sangue, os co�gulos desapareceram, mas ela ainda apresenta fluxo anormal de sangue e oxig�nio nos pulm�es.

 

"Um antiinflamat�rio chamado colchicina mudou significativamente minha recupera��o, mas infelizmente tive uma reca�da novamente. Agora posso andar lentamente por cinco minutos uma vez por semana se tiver sorte, mas sinto dor no peito depois. Tenho que escolher entre usar minha voz e mover meu corpo. N�o posso fazer as duas coisas em um dia."

 

"Os m�dicos n�o sabem por que tenho bons n�veis gerais de oxig�nio em meu corpo, mas ele n�o chega aos meus pulm�es, o que pode ser um problema com meus vasos sangu�neos, mas minhas varreduras mostram que eles est�o normais - eles nunca viram isso antes."

 

Desde que come�ou um blog sobre sua hist�ria, ela recebeu mensagens de centenas de pessoas com covid longa desesperadas por ajuda.

 

"Muitos pacientes est�o sendo liberados porque seus m�dicos e especialistas n�o receberam orienta��o suficiente. Eles n�o sabem que os pacientes podem ter micro co�gulos de sangue, mas apresentam resultados de exames de sangue normais, como eu", diz ela.

 

Jasmine est� acompanhando de perto um estudo em andamento na Alemanha que encontrou co�gulos sangu�neos microsc�picos em pacientes com covid longa, privando seus tecidos de oxig�nio. Uma t�cnica que limpa o sangue, removendo prote�nas que causam doen�as, ajudou alguns pacientes l�.

 

Ela tamb�m � conselheira de pacientes no maior estudo de covid longa at� hoje no mundo, que visa melhorar o diagn�stico e o tratamento da doen�a.

 

O professor Amitava Banerjee, da University College London, est� liderando o estudo STIMULATE-ICP de dois anos que recrutar� 4.500 pacientes de seis cl�nicas de covid longa.

 

Medicamentos existentes ser�o testados para avaliar sua efic�cia, incluindo anti-histam�nicos, como a loratadina, usada para tratar alergias. Tamb�m ser�o testados anticoagulantes como a rivaroxabana e o antiinflamat�rio colchicina.

 

O cardiologista Banerjee est� preocupado com o fato de que o n�mero atual de infec��es no Reino Unido resultar� em mais pessoas sofrendo de covid longa.

 

Muitos pacientes desenvolveram ap�s uma infec��o leve, diz ele, ent�o ele n�o est� certo de que a variante �micron pode produzir uma doen�a menos grave.

"Sabemos que pessoas que n�o foram hospitalizadas com covid ficaram mais debilitadas e devemos nos preocupar com isso", diz ele.

 

Muitos jovens com covid longa n�o conseguiram retornar ao trabalho, acrescenta, e isso teve um grande impacto em sua sa�de, bem-estar e economia.

 

Ele acredita que a melhor maneira de prevenir � "evitar ser infectado em primeiro lugar e manter a taxa de infec��o baixa", o que n�o ser� alcan�ado com uma abordagem apenas de vacina, diz ele.

 

"Eu adoraria ver mais considera��o, debate e reconhecimento da covid longa por parte de nossos formuladores de pol�ticas", diz ele. "Se voc� apenas mede as mortes, voc� perde o impacto na vida das pessoas. Dev�amos fazer melhor do que isso."

 

O Departamento de Sa�de e Assist�ncia Social do Reino Unido foi procurado para responder aos coment�rios de Banerjee.As vacinas t�m ajudado, sem d�vidas, a prevenir mortes e doen�as graves, mas os cientistas ainda n�o sabem se elas protegem contra a covid longa, diz ele.

O que � covid longa?

  • Cobre uma ampla gama de sintomas, incluindo fadiga, tosse, dores de cabe�a e musculares
  • A maioria das pessoas que contraem o coronav�rus se sentem melhor em alguns dias ou semanas, mas os sintomas podem durar mais tempo para algumas pessoas, mesmo ap�s uma infec��o leve
  • Pode afetar qualquer pessoa, mas as mulheres e os profissionais de sa�de parecem estar em maior risco

Fonte: Escrit�rio de Estat�sticas Nacionais/NHS/OMS

 

Para Emily Miller, a covid longa continua a ser uma experi�ncia assustadora e solit�ria, sem a ajuda de especialistas m�dicos de apoio.

 

A jovem de 21 anos tinha acabado de voltar a estudar comercializa��o da m�sica em Brighton (Inglaterra) em outubro passado, quando adoeceu com coronav�rus.

 

Ela cresceu em Oxford - onde caminhava por toda parte e frequentava o teatro. Agora ela s� sai de casa para consultas m�dicas e aulas.

 

"No final das minhas aulas, sinto-me b�bada e n�o me lembro do que foi dito", disse. "N�o vejo meus amigos, nem tenho vida social. Minha vida mudou completamente, assim como minha trajet�ria profissional."

 

Ap�s uma infec��o inicial leve, ela come�ou a sentir enxaquecas, zumbido, dorm�ncia, falta de ar, tontura, sangramento nasal, dor no peito e n�usea.

Um exame de sangue mostrou que ela tinha uma contagem baixa de gl�bulos brancos e ela foi encaminhada para uma cl�nica de covid longa, que ajudou no controle da fadiga. Ela foi ent�o encaminhada a um neurologista.

 

Enquanto isso, Emily disse que um cl�nico geral disse que os sintomas se resumiam a ansiedade e que ela deveria "ir para casa e se curar".

 

Emily ainda toma analg�sicos e sofre de fadiga, espasmos musculares e problemas gastrointestinais. Seu m�dico sugeriu recentemente que era s�ndrome do intestino irrit�vel relacionada � ansiedade.

 

"Eu adoraria fazer mais alguns testes e investiga��es para ver o que est� causando isso, mas continuo batendo em uma parede de tijolos", diz ela.

 

Al�m da sa�de, suas maiores preocupa��es s�o financeiras e ela se preocupa em pagar o aluguel todo m�s.

 

"Eu solicitei um subs�dio para alunos com defici�ncia, mas eles n�o reconhecem a covid longa como uma defici�ncia. Eu realmente espero que um dia isso seja considerado", diz ela.

 

Ela sente que suas perspectivas de emprego quando ela se formar no ano que vem s�o sombrias, e seu sonho de trabalhar para uma gravadora est� suspenso.

Ela decidiu criar uma p�gina de arrecada��o de fundos para ajudar a se sustentar e tentar finalmente encontrar uma cura pagando por tratamentos experimentais como terapia de oxig�nio.

 

"Odeio pedir a outras pessoas que me apoiem, mas senti que estava ficando sem op��es", diz ela.

 

� uma situa��o semelhante para Antony Loveless, que recentemente teve que pedir a sua m�e um empr�stimo de mil libras (R$ 7,6 mil) para pagar sua hipoteca.

 

O homem de 54 anos, que mora em Southend (Inglaterra), pegou covid em janeiro enquanto ele trabalhava em um porto.

 

Sua parceira Claire Hooper, de 52 anos, que trabalhava como enfermeira, tamb�m contraiu e tamb�m sofre de covid longa.

 

Eles passaram a maior parte deste ano na cama, com dores e fadiga paralisantes, ambos fora de seus empregos.

 

Antony agora anda com ajuda de uma bengala e dirige um carro com selo de deficiente. Ele foi diagnosticado com perda de gl�bulos brancos e uma disfun��o auton�mica chamada s�ndrome de taquicardia ortost�tica postural, que afeta sua capacidade de regular a press�o arterial. Claire agora tem diabetes e hipertens�o.

 

Ambos receberam alta de uma cl�nica de covid longa, ap�s serem informados de que estavam muito doentes para iniciar a reabilita��o.

 

Eles gastaram 10 mil libras (mais de R$ 70 mil) em economias apenas para pagar a hipoteca e as contas, antes de se qualificarem para os benef�cios.

 

"T�nhamos um estilo de vida agrad�vel de classe m�dia", diz Antony. "Deixamos de ganhar cerca de £ 4.500 (cerca de R$ 33.750) por m�s para viver com o m�nimo."

 

O ex-fot�grafo de guerra e autor precisa definir lembretes em seu telefone para ir � cozinha comer, mas depois n�o consegue se lembrar por que est� l�.

 

"Eu n�o fumava h� 37 anos e esqueci que n�o fumava mais. Comprei um ma�o de cigarros outro dia", diz ele.

 

Ele se sente frustrado porque as estat�sticas s�o coletadas sobre pessoas com covid que sobrevivem e morrem, mas "n�o as pessoas do meio".

"O governo nunca fala sobre covid longa - ou voc� morre ou se recupera. Mas e n�s?"

 

Ele diz que as coisas ficaram t�o ruins h� alguns meses que ele e Claire consideraram terminar com suas vidas.

 

"Chegamos a um ponto em que n�o pod�amos continuar com a dor e sem qualidade de vida. Ficamos sem dinheiro e sem op��es e est�vamos deitados na cama, sem conseguir nem acompanhar uma trama na TV."

 

Antony diz que eles sentem que foram deixados ao l�u.

 

"Vamos apenas continuar vivendo e esperando melhorar, � tudo o que podemos fazer", diz ele.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)