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Estado de Minas MUNDO

�micron: combina��o deixa Brasil e Am�rica do Sul mais protegidos

Apesar de explos�o atual de casos, popula��o tem defesa mais robusta em compara��o com ondas anteriores do coronav�rus; veja pontos fortes e fracos


07/01/2022 22:48 - atualizado 07/01/2022 22:48

Vacinação em São Paulo
Alta ades�o � vacina��o � fator crucial para a relativamente mais alta prote��o do Brasil contra a �micron (foto: Reuters)
Enfermarias e pronto-socorros lotados de pessoas com problemas respirat�rios retratam um momento preocupante da pandemia de covid-19 no Brasil, simultaneamente a uma epidemia de influenza.

 

Mas, em meio ao avan�o global da variante �micron, que demonstra ser muito mais transmiss�vel, faz o mundo bater recorde de novos casos de covid-19 e j� causou mortes por aqui, os dados e os especialistas sinalizam que o Brasil - junto a boa parte da Am�rica do Sul - tem atualmente barreiras de prote��o mais robustas para evitar que a explos�o de infec��es resulte em altos n�meros de casos pacientes graves e �bitos.

 

Em parte, isso se d� tanto por motivos positivos - como a alta ades�o da popula��o brasileira �s vacinas - quanto por raz�es tr�gicas e ao menos parcialmente evit�veis, como a devasta��o causada no pa�s por ondas e variantes pr�vias do coronav�rus.

 

"Fomos a regi�o do mundo que mais sofreu: temos o maior excesso de �bitos (em rela��o �s mortes registradas em anos normais, pr�-pandemia). Mas tamb�m somos a regi�o que mais vacinou at� agora. Esses dois eventos geram algum tipo de prote��o", diz � BBC News Brasil o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

 

A revista brit�nica The Economist combinou dados de duas universidades brit�nicas que est�o monitorando a pandemia pelo mundo: o Imperial College London e a Universidade de Oxford, que produz a plataforma Our World in Data.

 

E, a partir de dados de vacina��o e estimativas de porcentagem de popula��es j� infectadas pela covid-19, colocou Chile, Brasil e Uruguai junto a Israel e Reino Unido (dois pa�ses com alta taxa de vacina��o e rastreio de casos) como os que parecem estar mais protegidos contra a �micron.

 

Isso nem de longe quer dizer dizer que � o momento de relaxar nas medidas preventivas. Nesta sexta-feira, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) advertiu que a �micron n�o deve ser tratada como uma variante branda, porque j� est� provocando mortes e satura��o em sistemas de sa�de pelo mundo - embora estudos indiquem que ela tem menos probabilidade de causar casos graves do que as variantes anteriores do coronav�rus.

 

A OMS disse que o n�mero de casos globais aumentou em 71% na �ltima semana - e, nas Am�ricas, subiu 100%. A entidade afirma que, entre os casos graves em todo o mundo, 90% s�o em pessoas que n�o foram vacinadas.

 

Mas o argumento de Croda e outros especialistas � de que temos, no Brasil, mais ferramentas para nos protegermos desta vez - desde que consigamos ampliar a vacina��o para os p�blicos que ainda n�o a receberam (como as crian�as) e avan�ar com a aplica��o das doses de refor�o.

A alta vacina��o

Os tr�s pa�ses sul-americanos citados pela The Economist t�m altas taxas de vacina��o: no Chile, 86% da popula��o est� plenamente vacinada - um dos maiores �ndices do mundo, segundo o Our World in Data. E o governo chileno anunciou que come�ar� a aplicar uma quarta dose da vacina no m�s que vem, para grupos considerados priorit�rios ou vulner�veis.

 

O Uruguai tem 76% da popula��o com o esquema vacinal completo.

O Brasil, por sua vez, vive o rescaldo de um apag�o de dados oficiais, o que tem deixado no escuro pesquisadores e profissionais da sa�de que tentam monitorar o rumo que a pandemia tem tomado por aqui.


Placa de pronto-socorro hospitalar
Pa�s vive um momento de explos�o de casos, junto a uma epidemia de influenza (foto: Reuters)

Mas, de modo geral, o pa�s tem registrado uma alta ades�o � vacina��o. A estimativa mais recente, provavelmente desatualizada, � de que em torno de 67% da popula��o esteja com o esquema vacinal completo e que 15,4 milh�es de doses de refor�o j� tenham sido aplicadas.

 

Embora o Brasil esteja, em rela��o a outros pa�ses, mais protegido contra a �micron, precisa levar em conta a desigualdade regional na aplica��o de vacinas, explica � BBC News Brasil o microbiologista �tila Iamarino.

 

"Nem todo lugar tem acesso � vacina��o dessa forma: temos regi�es do interior dos Estados do Norte onde a vacina��o n�o chega a 40% da popula��o de alguns munic�pios, e s�o regi�es que est�o enfrentando falta de leitos agora, por causa de ondas de casos causados ainda pela (variante) delta, antes mesmo da �micron. Pela falta de vacina��o, elas est�o suscet�veis a qualquer uma das variantes", diz o especialista.

 

"Pelo menos n�o temos aqui a concentra��o de grupos antivacina, como nos Estados Unidos e Europa, que montam focos onde a doen�a consegue circular muito bem", agrega.

 

No cen�rio mais amplo, a Am�rica do Sul terminou 2021 como o continente com os mais altos �ndices do mundo de vacina��o contra o coronav�rus, com 63,4% de sua popula��o imunizada com duas doses ou vacina de dose �nica, segundo dados divulgados no final de dezembro pela Organiza��o Mundial da Sa�de.

 

Se levarmos em conta quem tomou ao menos uma dose da vacina, esse �ndice sobe para 74,3% dos 434 milh�es de habitantes sul-americanos.

Esse � o lado positivo dessa hist�ria.

 

O lado negativo � que a regi�o chega a esse patamar depois de ter sido o epicentro mundial da covid-19 e acumulado os maiores �ndices de mortes pela pandemia em todo o planeta, a um enorme custo social, econ�mico e de sa�de que deixou cicatrizes irrevers�veis em milh�es de fam�lias.

Imunidade por cont�gio

Enterros de vítimas da covid-19 em Manaus em 2020, no auge do colapso do sistema de saúde amazonense
Enterros de v�timas da covid-19 em Manaus em 2020, no auge do colapso do sistema de sa�de amazonense; Am�rica do Sul foi a regi�o do mundo que mais sofreu com as primeiras ondas do coronav�rus (foto: Reuters)

 

N�o sabemos ao certo o quanto da popula��o brasileira foi em algum momento infectada pelo coronav�rus, j� que o pa�s nunca conseguiu estabelecer um programa amplo de testagem e rastreamento de casos.

 

Mas tudo indica que os n�meros de infec��es s�o bem maiores que os 22,3 milh�es de casos confirmados oficialmente.

 

Julio Croda estima que entre 30 milh�es e 60 milh�es de brasileiros tenham pego covid-19 em algum momento, mesmo que assintom�ticos. Iamarino acha que esse �ndice pode passar de 50% dos brasileiros - ou seja, mais de 100 milh�es de pessoas.

 

� importante destacar que, apesar de infec��es pr�vias oferecerem algum tipo de prote��o contra a �micron, essa prote��o diminui com o tempo. Al�m disso, a nova variante tem se mostrado muito mais capaz de driblar a imunidade pr�via.

Em dezembro, o Imperial College London estimou que o risco de reinfec��o com a �micron � mais de cinco vezes maior do que com a delta.

 

A nova variante tamb�m � mais eficiente em driblar a vacina - o que explica o recente aumento de testes positivos de covid-19 mesmo entre vacinados.

Mas isso n�o significa que a vacina n�o funciona, pelo contr�rio: a imuniza��o faz com que a maior parte dessas infec��es limitem-se a sintomas leves.

 

Apesar da superlota��o no atendimento emergencial em hospitais e UPAs de v�rias cidades, ainda mais pressionada pela epidemia de influenza, "aqui no Brasil, a explos�o da �micron tem sido sem um impacto importante em hospitaliza��es e mortes - o que � efeito dessa combina��o de fatores (de alta infec��o pr�via e alta taxa de vacina��o)", agrega Croda.

 

A aus�ncia de dados oficiais atualizados torna mais dif�cil avaliar o atual cen�rio, mas a m�dia m�vel de �bitos por covid-19 tem se mantido est�vel no pa�s, apesar do aumento de casos.

Doses de refor�o e vacina��o de infectados

O que, ent�o, podemos aprender para tirar proveito dos pontos fortes do Brasil neste momento?

"A li��o � que a vacina � essencial, e talvez com uma dose de refor�o - � natural que a gente precise (de doses extras da vacina) para manter a resposta imune elevada", explica Julio Croda.


Vacinação no Rio
Vacina��o oferece aumento importante na imunidade mesmo de quem j� tenha sido infectado previamente pelo coronav�rus, aponta estudo (foto: Reuters)

"Quanto mais pessoas tiverem exposi��o (ao v�rus) protegidas com a vacina, mais provavelmente teremos formas mais leves da doen�a e menos casos severos, mesmo com novas variantes", diz ele.

 

Por sinal, uma pesquisa feita por Croda (e em processo de revis�o por pares) aponta que, para pessoas que j� haviam contra�do o coronav�rus, as quatro vacinas aplicadas no Brasil (CoronaVac, Janssen, Pfizer e AstraZeneca) propiciam um alto grau de prote��o adicional contra sintomas de covid-19 ou contra formas graves da doen�a.

 

Para essas pessoas previamente infectadas, tomar duas doses de uma dessas vacinas (ou dose �nica, no caso da Janssen) traz uma prote��o semelhante � de quem j� recebeu a dose de refor�o.

 

E, para quem n�o foi previamente exposto ao coronav�rus, tudo indica que as doses de refor�o ser�o cada vez mais importantes, j� que elas recuperam a prote��o perdida com o passar do tempo e com a evolu��o natural do v�rus, em variantes que podem se tornar mais perigosas.

Os pontos fracos do Brasil: grupos vulner�veis

Ao mesmo tempo, o que deixa especialistas em alerta � a vulnerabilidade de alguns grupos diante de variantes mais infecciosas, em particular as crian�as.

"� um grupo que nos preocupa, porque as crian�as n�o t�m acesso � vacina e n�o tiveram muita exposi��o � doen�a, j� as escolas ficaram fechadas. Ent�o � um grupo altamente exposto agora", explica Croda.

 

Em dezembro, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) aprovou a vacina da Pfizer para crian�as de 5 a 11 anos, o que tem enfrentado resist�ncia do governo de Jair Bolsonaro, cr�tico da vacina��o infantil.

 

Na quinta-feira (6/1), o presidente criticou a aprova��o da Anvisa e disse desconhecer casos de mortes por covid-19 nessa faixa et�ria - apesar de os n�meros do pr�prio governo confirmarem que 301 crian�as de 5 a 11 anos j� morreram da doen�a no pa�s.

 

Foi s� no dia 5 que o ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, afirmou que est� prevista a chegada de 20 milh�es de doses da vacina infantil da Pfizer ao Brasil neste primeiro trimestre, e mais 20 milh�es no segundo trimestre.


Criança sendo vacinada na Indonésia
Ainda n�o vacinadas contra a covid-19, crian�as brasileiras s�o um dos grupos mais vulner�veis � �micron (foto: Reuters)

Al�m da vulnerabilidade desse p�blico, �tila Iamarino lista tamb�m outros obst�culos enfrentados pelo Brasil no momento: em meio � nova explos�o de casos de covid-19, ser� mais dif�cil - e impopular - implementar medidas de isolamento social, em um momento em que a crise e o desemprego seguem altos no pa�s.

 

"Vai ser mais dif�cil ter o distanciamento, apesar de haver a demanda. A press�o econ�mica e social � muito maior para as pessoas continuarem na rua, e com isso o v�rus vai circular muito mais e atingir os mais suscet�veis, que s�o principalmente as crian�as", afirma.

 

Outra d�vida, diz ele, � qual ser� o desempenho da principal vacina que deu in�cio ao programa de imuniza��o contra covid-19 no Brasil: a CoronaVac.

Isso porque os pa�ses por onde a �micron passou com mais for�a at� agora, como �frica do Sul, Reino Unido e EUA, usam outro regime vacinal, explica Iamarino. E � desses pa�ses que sa�ram as principais li��es e os principais estudos cient�ficos sobre a �micron at� agora.

 

"Nosso alto �ndice de vacina��o � com a CoronaVac, o que � �timo - ela garantidamente salvou dezenas de milhares de vidas por aqui, quando a vacina��o come�ou. Mas a gente ainda n�o tem um panorama t�o claro de como ela se sai em rela��o � �micron na popula��o. � muito prov�vel que ela previna a maioria das hospitaliza��es como as outras vacinas, mas a gente n�o sabe", prossegue.

 

"� um ponto que eu n�o diria que � inseguro, mas � incerto. E a gente tem algumas popula��es de idosos que receberam s� a CoronaVac, com duas ou tr�s doses. Quem estudou resposta imune recomenda que essas pessoas recebam doses de refor�o de vacina de RNA (no caso, a vacina da Pfizer). Esse � um ponto preocupante que pode fazer diferen�a aqui no Brasil", conclui Iamarino.

 

Croda tamb�m ressalta que, no caso de doses de refor�o, a resposta imune tem se mostrado maior quando se aplica uma vacina diferente daquela que foi aplicada nas doses iniciais.

 

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