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Estado de Minas BRASIL

Pegar COVID de prop�sito � p�ssima ideia, alerta Nat�lia Pasternak

A microbiologista diz que, mesmo se a �micron for mais leve, a ideia de se infectar para ficar imune est� baseada em falsas premissas e traz riscos � sa�de tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo.


18/01/2022 20:18 - atualizado 18/01/2022 20:18

Homem com máscara passa diante de mural ilustrado com um coronavírus
Pegar covid de prop�sito n�o � uma ideia nova e pode trazer s�rios problemas (foto: Getty Images)
As informa��es preliminares de que a variante �micron causaria uma covid mais leve e com menor risco de complica��es serviram para dar for�as a argumentos do tipo: "melhor se infectar logo, ou de prop�sito, para se livrar da doen�a e seguir a vida com menos restri��es".

 

Na vis�o da microbiologista Nat�lia Pasternak, presidente do Instituto Quest�o de Ci�ncia, a ideia � "p�ssima", est� baseada em "falsas premissas" e pode colocar em risco a sa�de individual e coletiva.

A especialista n�o est� sozinha nessa avalia��o. Nenhuma entidade de sa�de nacional ou internacional recomenda essa pr�tica — a vacina��o continua sendo a forma mais segura e efetiva de obter uma imunidade contra o coronav�rus, especialmente contra as formas mais graves da infec��o, que levam � hospitaliza��o e morte.

 

O m�dico Drauzio Varella tamb�m abordou o assunto e fez um alerta parecido numa coluna da revista Carta Capital intitulada "Fuja da �micron".

 

"Alguns se perguntam se n�o seria melhor pegarmos de uma vez essa variante menos agressiva. N�o � melhor, n�o", escreveu.

 

J� no Twitter, o cofundador da Microsoft Bill Gates e a especialista em sa�de p�blica Devi Sridhar, da Universidade de Edimburgo, na Esc�cia, promoveram um debate e alertaram para o desafio que a onda de �micron pode significar para v�rios pa�ses — mais um fator que pesa contra uma tentativa de "infec��o proposital".

 

"Enquanto os pa�ses atravessam a atual onda de �micron, os sistemas de sa�de ser�o desafiados. A maioria dos casos severos ser�o em pessoas n�o vacinadas", escreveu Gates.

 

Ambos concordaram que, quando a onda da �micron terminar, pode at� ser que a covid-19 fique mais parecida com a gripe sazonal, mas ainda n�o chegamos nesse est�gio.

 

Confira a seguir os argumentos contr�rios � ideia de pegar a �micron por vontade pr�pria.

1. Essa n�o � uma ideia nova — e n�o funcionou no passado

Pasternak lembra que, h� algumas d�cadas, quando n�o existiam vacinas, os pais costumavam promover as chamadas "festas" do sarampo, da catapora ou da rub�ola.

 

Em resumo, a ideia era que uma crian�a infectada transmitisse o v�rus para as demais. Como essas doen�as costumam ser mais leves na inf�ncia, a pr�tica poderia criar, em tese, uma imunidade e evitar problemas maiores na adolesc�ncia ou na vida adulta.

 

"Essas festas eram extremamente arriscadas, porque n�o d� pra saber qual crian�a que pegar sarampo e vau ter um quadro mais leve ou morrer", explica.

 

"Mortes por sarampo nos primeiros anos de vida s�o raras, mas tamb�m acontecem", aponta.

 

E esse mesmo racioc�nio pode se aplicar � covid, como voc� confere no pr�ximo t�pico.

2. A covid n�o � sempre mais branda

A microbiologista entende que os ind�cios de que a �micron causa uma infec��o mais leve ainda s�o muito iniciais.

 

"Esses estudos foram feitos em animais e n�o podemos transpor essas informa��es para seres humanos", diz.

 

"O que vemos na pr�tica at� agora � que, numa popula��o de pessoas vacinadas, a �micron causa uma doen�a menos grave. J� em n�o vacinados, a variante est� internando e matando", diferencia.


Ilustração de uma seringa com representações do coronavírus no fundo
Mesmo com �micron, vacinas seguem contra principal barreira para conter as formas graves de covid (foto: Getty Images)

Ou seja, mesmo que passemos a observar menos hospitaliza��es, pelo avan�o da vacina��o e pelo espalhamento da �micron, a covid ainda est� bem longe de ser comparada a um resfriado simples.

3. Mesmo quadros amenos podem causar transtornos

Pra come�ar, mesmo a infec��o aguda leve, que se arrasta por dias, tem consequ�ncias imediatas na vida das pessoas, como o afastamento do trabalho pelo per�odo de recupera��o.

 

Mas h� efeitos de m�dio e longo prazo que tamb�m precisam ser colocados na balan�a.

 

Pasternak usa a pr�pria experi�ncia para mostrar como os efeitos dessa doen�a s�o complicados.

 

"Eu peguei covid h� um m�s, muito provavelmente foi pela variante �micron. E at� hoje n�o recuperei meu olfato", relata.

 

"� �bvio que ficar sem sentir cheiros � bem melhor do que ser internada e intubada, mas eu preferiria que isso n�o tivesse acontecido", complementa.

A microbiologista lembra que muitos pacientes apresentam queixas por tempo prolongado ap�s a infec��o.

 

"Tem gente que fica com dor nas articula��es ou na cabe�a por meses. S�o sequelas desagrad�veis, mesmo que n�o causem hospitaliza��o", conta.


Natalia Pasternak sorri para foto
A microbiologista Nat�lia Pasternak avalia que mesmo sintomas menores podem ser inc�modos no dia a dia (foto: Divulga��o)

4. Ningu�m sabe o que vai acontecer com o passar dos anos

Os efeitos de longo prazo da covid-19, ali�s, ainda s�o um grande mist�rio para a ci�ncia.

 

Os trabalhos publicados at� agora calculam que entre 10 e 30% dos acometidos pela doen�a sentem inc�modos que perduram por v�rios meses.

 

E ningu�m sabe como isso pode repercutir na sa�de daqui h� anos, ou d�cadas.

Para ilustrar essa incerteza e os riscos para o futuro, Pasternak cita outra enfermidade causada por um v�rus: a catapora.

 

"Ela sempre foi vista como uma doen�a benigna. Afinal, todo mundo tinha catapora", se recorda.

 

"Hoje sabemos que esse v�rus fica no corpo mesmo ap�s a infec��o e pode ser ativado depois de v�rios anos. Quando isso acontece, a pessoa tem herpes-z�ster, um quadro que causa muita dor e sofrimento", descreve.

 

Ser� que o coronav�rus respons�vel pela pandemia atual pode ter algum efeito de longo prazo? N�o se sabe.

 

Na d�vida, portanto, melhor n�o se expor ao risco de forma proposital, orienta a microbiologista.

5. Voc� pode transmitir para pessoas vulner�veis

A covid chega a demorar dias para dar os primeiros sintomas — e alguns infectados sequer sentem algum inc�modo.

 

Mesmo assim, esses indiv�duos t�m a capacidade de transmitir o v�rus adiante se n�o tomarem alguns cuidados, como fazer isolamento, manter distanciamento f�sico e usar m�scaras de qualidade, como a PFF2.

 

Ou seja: se voc� est� vacinado, � mais jovem e n�o tem nenhuma comorbidade, o risco de complica��es da covid � at� mais baixo, mas nada impede de voc� passar a doen�a para algu�m que vai desenvolver problemas mais s�rios.


Homem de perfil espirra
Indiv�duos sem sintomas, ou com inc�modos muito leves, tamb�m transmitem o coronav�rus para contatos pr�ximos (foto: Getty Images)

"Existe uma parcela da popula��o que � mais vulner�vel, como os idosos e as pessoas n�o vacinadas", exemplifica Pasternak.

 

A especialista tamb�m destaca o cuidado com as crian�as, uma das faixas et�rias que, segundo alguns registros internacionais, est�o sendo internadas com mais frequ�ncia agora nessa nova onda.

 

A vacina��o para quem tem entre 5 a 11 anos come�ou em janeiro no Brasil. Para aqueles que s�o ainda mais jovens, n�o existem imunizantes aprovados no pa�s por enquanto.

 

"S�o grupos que n�o t�m a mesma prote��o e que podem desenvolver quadros s�rios", informa.

6. Voc� pode sobrecarregar o sistema de sa�de

O avan�o da variante �micron est� por tr�s de recordes de novos casos de covid-19 registrados nesses �ltimos tempos.

 

Para ter ideia, na segunda semana de janeiro, o mundo superou a marca de 18 milh�es de infectados — o n�mero mais alto registrado anteriormente havia sido o de 5 milh�es de pacientes, num per�odo de sete dias no m�s de abril de 2021.

 

No Brasil, ap�s um segundo semestre de 2021 marcado por quedas nas estat�sticas da covid, os n�meros de casos voltaram a crescer e j� se aproximam aos dos piores momentos da pandemia.

 

Na pr�tica, isso representa um desafio enorme: mais gente com covid � sin�nimo de aumento na demanda para todo o sistema de sa�de.

 

"Ao pegar covid de prop�sito, voc� pode contribuir para sobrecarregar ainda mais esse sistema", adverte Pasternak.

 

"Mesmo uma doen�a mais leve significa aumento na procura por testagem, pronto-socorros, ambulat�rios, leitos de atendimento e necessidade de profissionais de sa�de", lista.


Criança sendo vacinada
As crian�as, que acabaram de ser inclu�das na campanha de vacina��o, s�o um dos grupos vulner�veis na atual onda provocada pela variante �micron (foto: Getty Images)

7. N�o h� certeza de imunidade duradoura

Por fim, a microbiologista alerta: n�o existe nada que garanta que a imunidade contra a covid dure por toda a vida.

 

Inclusive, o pr�prio espalhamento da �micron mostra que � poss�vel ter a doen�a mais de uma vez: a taxa de reinfec��o em locais como �frica do Sul e Reino Unido nunca foi t�o alta como agora.

 

"Quem � que disse que, ao pegar covid de prop�sito, voc� vai se livrar dela para sempre? A gente n�o tem como garantir isso", explica.

 

"Pode ser que voc� pegue a �micron agora e se infecte com outra variante que consegue escapar da imunidade pr�via no futuro", completa a microbiologista.

Por isso, � importante que todo mundo continue se cuidado e evite ao m�ximo a covid-19.

 

De acordo com as principais autoridades em sa�de do mundo, as melhores maneiras de prevenir a doen�a e suas formas mais graves s�o tomar as duas ou as tr�s doses de vacina, usar m�scaras de boa qualidade (como a PFF2), manter um distanciamento f�sico de pessoas que n�o fazem parte do seu conv�vio di�rio, evitar aglomera��es, procurar marcar encontros e reuni�es em locais abertos e cuidar da circula��o de ar nos lugares fechados.

 

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