
Devido � pandemia, estamos todos falando sobre imunidade - mas o quanto realmente entendemos? O escritor de ci�ncia Philipp Dettmer ajuda a esclarecer um dos mitos mais comuns sobre o sistema imunol�gico.
Enquanto micro-organismos intrusos atacam centenas de milhares de c�lulas do corpo, seu sistema imunol�gico est� organizando uma defesa complexa, se comunicando atrav�s de vastas dist�ncias e gerando uma morte r�pida para milh�es, ou bilh�es, desses invasores. Tudo isso enquanto voc� est� tomando uma ducha, levemente irritado por estar doente. Os sintomas que voc� est� tendo - coriza, febre, dor de garganta, o mal estar geral - na verdade s�o o efeito dessa batalha que est� acontecendo dentro do seu corpo.
O sistema imunol�gico � o sistema biol�gico mais complexo do corpo humano, com exce��o do c�rebro. E est� sendo assunto agora mais do que nunca.
A pandemia introduziu um novo vocabul�rio em nossas vidas. Falamos sobre imunidade natural em pessoas que se recuperaram de covid, em imunidade gerada por vacinas, em doses, efeitos colaterais... De repente, esses assuntos se tornaram t�o comuns em uma conversa quanto falar sobre o clima.
Mas o fato de a imunidade estar presente com mais frequ�ncia em conversa n�o significa necessariamente que as pessoas saibam mais sobre ela. Vamos dar um exemplo. Talvez o maior equ�voco seja a preocupa��o em obter um sistema imunol�gico "fortalecido".
A internet est� cheia de produtos que prometem fazer exatamente isso: de caf� misturados com prote�na em p�, de ra�zes m�sticas da floresta amaz�nica a p�lulas de vitaminas, a lista � intermin�vel.
Mas o que muitas pessoas n�o entendem � que o sistema imunol�gico pode ser perigoso. N�o � uma coisa que queremos que seja desencadeada dentro de n�s sem limites.
Em um mundo onde a autoajuda � um grande neg�cio, a ideia de "fortalecer" seu sistema imunol�gico � muito atraente. Mas n�o � um sistema imunol�gico forte que queremos, e sim um sistema imunol�gico equilibrado, que mant�m todos os diferentes sistemas sob controle.
Estamos falando de uma cole��o complexa e interconectada de centenas de bases e centros de recrutamento em todo o seu corpo. Eles est�o conectados por uma superestrada, uma rede de vasos, t�o vasta e onipresente quanto seu sistema cardiovascular.
Al�m de �rg�os e infraestrutura, bilh�es de c�lulas de defesa patrulham essas superestradas, ou sua corrente sangu�nea, e est�o prontas para enfrentar seus inimigos quando chamadas. Outras bilh�es ficam de guarda no tecido do seu corpo que faz fronteira com o exterior, esperando que os invasores passem por elas. H� tamb�m trilh�es de prote�nas que voc� pode pensar que s�o como minas terrestres.
Seu sistema imunol�gico tamb�m tem universidades onde as c�lulas aprendem contra quem e como lutar, com a maior biblioteca biol�gica do universo, capaz de identificar e lembrar todos os poss�veis invasores que voc� pode encontrar em sua vida.
O sistema imunol�gico � essencialmente uma ferramenta para distinguir "o outro", o estranho, do "eu". N�o importa se o outro vai prejudicar o seu corpo ou n�o. Se o estranho n�o estiver em uma lista de convidados muito exclusiva que concede entrada gratuita, ele deve ser atacado e destru�do - porque existe a possibilidade de prejudic�-lo. O que as vacinas fazem, por exemplo, � ajudar no reconhecimento desse inimigo.

Voc� provavelmente j� entendeu a met�fora - � um sistema altamente complexo composto de muitos componentes diferentes. Um sistema imunol�gico que funciona bem � capaz de dosar a quantidade certa de for�a necess�ria para atacar qualquer infec��o. Ent�o a ideia de "fortalecer" esse sistema para ele ser mais agressivo � absurda.
Voc� n�o quer que o sistema imunol�gico seja como um jogador de r�gbi batendo nas coisas indiscriminadamente, voc� precisa que ele seja mais como um dan�arino de bal�: altamente treinado, preciso, capaz de agir rapidamente, mas dan�ando em harmonia com a m�sica (o resto do corpo).
H� uma antiga palavra grega - homeostase, o equil�brio de todas as coisas - que � o que devemos buscar.
� um sistema t�o intrincado que muitas coisas podem dar errado se ele for forte demais, se estiver desregulado. Ele pode reagir exageradamente a uma infec��o menor.
Esse mal-entendido � em parte resultado de uma imagem mental errada do que o termo significa. As pessoas pensam no sistema como um escudo de energia que voc� pode carregar. Mas ele n�o � isso, ele � uma infinidade de coisas ao mesmo tempo.
Na realidade, ningu�m sabe quantas c�lulas de quais tipos e em que n�vel de atividade s�o necess�rias para que seu sistema imunol�gico funcione de maneira ideal. Qualquer um que diga que sabe o que � necess�rio provavelmente est� tentando lhe vender alguma coisa.
Pelo menos por enquanto, n�o h� maneiras cientificamente comprovadas de tornar seu sistema imunol�gico mais agressivo por meio de um superalimento ou p�lula. E, se houvesse, seria muito perigoso us�-los sem supervis�o m�dica.
As pessoas preferem solu��es f�ceis e r�pidas, mas a sa�de depende de coisas muito chatas que as pessoas n�o querem ouvir. Exerc�cio, uma dieta equilibrada e estresse reduzido. Todos sabemos que essas coisas s�o boas para n�s, mas n�o queremos faz�-las.
O mais importante � ter uma dieta que forne�a todas as vitaminas e nutrientes que seu corpo precisa, ingerindo frutas e legumes. Seu sistema imunol�gico constantemente produz muitos bilh�es de novas c�lulas e elas precisam ser alimentadas.
Os efeitos positivos do exerc�cio regular moderado para a sa�de s�o conhecidos h� muito tempo. A boa circula��o permite que suas c�lulas e prote�nas imunol�gicas se movam com mais efici�ncia e liberdade, o que as faz fazer seu trabalho melhor. O exerc�cio tamb�m pode retardar seu decl�nio na velhice.
Levar uma vida menos estressante traz benef�cios tang�veis � nossa sa�de de v�rias maneiras, e uma delas � o sistema imunol�gico. Sem entrar em muitos detalhes, o estresse pode desencadear s�rie de eventos que atrapalham o trabalho e o equil�brio desse sistema.
Ent�o, por que algumas pessoas parecem ter resfriados e gripes mais do que outras? H� tr�s raz�es para isso.
A realidade � que n�o somos iguais. As escolhas de estilo de vida importam. Talvez voc� fume ou n�o coma t�o bem quanto os outros. Talvez voc� tenha um trabalho muito estressante ou um trabalho que o exponha mais aos v�rus, ou talvez voc� simplesmente seja sedent�rio.
E h� gen�tica. Todo mundo � um pouco diferente. Uma pessoa pode ser melhor no combate a v�rus e outra no combate �s bact�rias.
E, em terceiro lugar, h� a percep��o. Todo mundo afirma conhecer algu�m que diz que nunca fica doente, mas isso n�o � verdade.
Ent�o, talvez da pr�xima vez que voc� acordar com o nariz escorrendo ou um pouco suado, pense no ex�rcito de ajudantes que o mant�m vivo. E em vez de se sentir azarado, sinta-se agradecido.
*Philipp Dettmer � autor do novo livro IMMUNE (imune, sem edi��o em portugu�s) e criador do canal Kurzgesagt, um dos canais de ci�ncia mais populares do YouTube.
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