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Estado de Minas FACT-CHECKING

Checamos: v�rus machupo n�o sobreviveria dentro de um comprimido

Informa��o de que esse tipo de v�rus, considerado muito perigoso, poderia vir em comprimidos de paracetamol foi compartilhada milhares de vezes e � falsa


26/08/2020 19:19 - atualizado 27/08/2020 07:57

O medicamento paracetamol P/500 “cont�m v�rus ‘Machupo’”, dizem publica��es compartilhadas mais de 26,6 mil vezes desde o final do �ltimo m�s de junho.

Essa afirma��o, que circula desde 2015 em diferentes idiomas, � falsa.

Segundo especialistas em Virologia consultados pela AFP, existem raz�es log�sticas e biol�gicas que impedem a sobreviv�ncia deste v�rus em um comprimido, ou a sua produ��o em escala industrial.

“Alerta Angola.. -R�dio Nacional de Angola! AVISO URGENTE! Cuidado n�o tome o paracetamol que vem escrito P/500. � um novo paracetamol , muito branco e brilhante, os m�dicos provam que cont�m v�rus ‘Machupo’, considerado um dos v�rus mais perigosos do mundo. E com alta taxa de mortalidade”, indicam as publica��es compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3).

Existem, ainda, vers�es deste texto que circulam desde o m�s de abril deste ano e mencionam Mo�ambique com o mesmo alerta. H� tamb�m postagens semelhantes em franc�s e espanhol que n�o citam uma localidade espec�fica.

O v�rus machupo


O machupo � um dos v�rus que pode causar a chamada febre hemorr�gica, termo geral para uma doen�a grave, �s vezes associada a sangramentos.

Ele faz parte da fam�lia de v�rus Arenaviridae. De acordo com os Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos e a Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (OPAS), os arenav�rus s�o geralmente associados a doen�as transmitidas por roedores a seres humanos, por meio da inala��o de excrementos de exemplares infectados e, inclusive, de pessoa para pessoa.

Rita Cubel, doutora em Microbiologia e professora de Virologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), especificou ao Checamos que o v�rus machupo � “transmitido pelas fezes e excre��es de diferentes esp�cies de roedores silvestres, que vivem em matas, �reas rurais e periurbanas”.

De acordo com um trabalho feito pela comiss�o de pesquisa da febre hemorr�gica na Bol�via da OPAS, o v�rus causador desta doen�a foi detectado pela primeira vez em 1959 nas florestas do departamento boliviano de Beni.

A organiza��o pan-americana assinala que a taxa de mortalidade da febre hemorr�gica boliviana pode variar entre 5% e 30%.

O v�rus machupo apresenta um risco “elevado” para a sociedade por ser altamente patog�nico, de f�cil propaga��o e n�o existirem medidas profil�ticas ou terap�uticas eficazes at� o momento”, requerendo, assim, um n�vel de biosseguran�a quatro - o m�ximo poss�vel - para lidar com ele.

Um v�rus em um comprimido?


Levando em conta a alta letalidade deste v�rus, Anderson Brito, doutor em Biologia Computacional pelo Imperial College London e pesquisador de p�s-doutorado de epidemiologia gen�mica na Universidade de Yale, explicou ao AFP Checamos que “h� uma barreira log�stica para que essa teoria conspirat�ria possa sequer ser plaus�vel”.

“Produzir v�rus em laborat�rio, especialmente um v�rus t�o letal quanto esse, exigiria uma estrutura de seguran�a que pouqu�ssimos pa�ses t�m. Produzir um v�rus desse numa escala industrial � praticamente imposs�vel. Mataria os pr�prios funcion�rios”, assinalou.

Segundo Brito, os arenav�rus s�o envolvidos por uma camada de gordura essencial, atrav�s da qual eles interagem com as c�lulas, mas que os torna fr�geis. “Ele [o arenav�rus] n�o resiste �s intemp�ries do clima com tanta facilidade. Se ela [a camada de gordura] se rompe, o v�rus perde a capacidade de infectar”.

“Esse v�rus sofre muito com desidrata��o, por exemplo. Para ser vi�vel, ele tem que estar dentro de um ambiente �mido - no caso do v�rus machupo, na urina, nas fezes. Se fosse poss�vel produzi-lo em laborat�rio, seria produzido em ambientes l�quidos, teria que ser hidratado de alguma forma, porque o comprimido � seco”.

Al�m disso, Brito ainda explicou que as etapas de fabrica��o de um comprimido, incluindo “alta temperatura, desidrata��o e press�o desativariam o v�rus”. “Em outras palavras, ele ‘morreria’ no processo”, afirmou.

Vivian Luchsinger, virologista e acad�mica do Programa de Virologia do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile, detalhou que um v�rus sobreviveria pouco tempo em um comprimido “porque necessita da c�lula para se replicar. Ent�o, iria morrendo � medida que fosse exposto �s condi��es do ambiente”.

No mesmo sentido falou a professora Cubel: “Os v�rus s�o parasitas intracelulares obrigat�rios, precisam infectar uma c�lula para haver a forma��o de novos v�rus. Dependendo das caracter�sticas do v�rus eles podem resistir mais ou menos tempo no ambiente ou em secre��es/excre��es eliminadas pelo indiv�duo infectado”.

Segundo a acad�mica da Universidade do Chile, ao necessitar de “um ambiente mais �mido e de baixa temperatura”, a transmiss�o do v�rus machupo “n�o ocorre por um medicamento, ou comprimido”.

A virologista ainda indicou que a falta de resist�ncia do v�rus em condi��es ambientais se mostraria, por exemplo, no contato com “o pH �cido do est�mago. Portanto, os v�rus com capa, como o machupo, n�o ingressam pelo trato digestivo”, como seria no caso da ingest�o de um comprimido.

Brito finalizou: “Supondo, ainda, que fosse poss�vel produzir” o v�rus machupo em laborat�rio, a log�stica de “processamento, embalagem do comprimido, transporte, faria com que o v�rus n�o fosse mais vi�vel para infec��o no final do processo”.
Captura de tela feita em 20 de agosto de 2020 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 20 de agosto de 2020 de uma publica��o no Facebook

Um “alerta” que circula desde 2015


Por meio de uma busca no Google pelas palavras-chave “paracetamol + v�rus machupo” foi poss�vel encontrar uma s�rie de artigos de verifica��o (1, 2, 3) feitos ao longo dos anos em que esse boato circulou nas redes.

Existem varia��es, de janeiro de 2015, que citam o mesmo medicamento - paracetamol P/500 -, mas dizendo que ele estaria contaminado com o v�rus do Ebola.

J� em fevereiro de 2017, o diretor-geral do Minist�rio da Sa�de da Mal�sia, o doutor Noor Hisham Abdullah, desmentiu o boato de que os comprimidos de paracetamol P/500 estivessem infectados com o v�rus machupo. O mesmo foi feito pela Autoridade de Ci�ncias da Sa�de de Cingapura.

Em outubro de 2018, o Minist�rio da Sa�de brasileiro desmentiu igualmente em sua se��o de combate � desinforma��o, citando a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).

O Checamos entrou em contato com a Anvisa para saber se, desde ent�o, houve qualquer registro do v�rus machupo em rem�dios.

Segundo a ag�ncia, o paracetamol P/500 “tem registro no Brasil” e “� no momento do registro que � verificado se o medicamento � fabricado e controlado dentro dos padr�es de qualidade esperados pelos regulamentos t�cnicos e que os dados de seguran�a e efic�cia s�o avaliados. O registro de um medicamento � condi��o para a disponibilidade deste produto no mercado nacional”.

A Anvisa ainda relatou que n�o tem “qualquer relato de queixa t�cnica”, ou “notifica��o de outras autoridades sanit�rias”.

Em resumo, � falso que o rem�dio paracetamol P/500 esteja contaminado pelo v�rus machupo, como indicam as publica��es viralizadas. Al�m deste boato circular h� mais de cinco anos e ter sido desmentido por diferentes governos, especialistas em Virologia consultados pelo Checamos indicam que seria invi�vel produzir um v�rus como o machupo em laborat�rio n�o s� pela sua alta taxa de letalidade, como pelas condi��es que ele necessita para se manter vivo.

O que � o coronav�rus

Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.

V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 � transmitida? 

A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?


Como se prevenir?

A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Quais os sintomas do coronav�rus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas g�stricos
  • Diarreia

Em casos graves, as v�timas apresentam:

  • Pneumonia
  • S�ndrome respirat�ria aguda severa
  • Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus. 

V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o v�rus

Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 ï¿½ transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.

Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia

Para saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:

 


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