O medicamento paracetamol P/500 “cont�m v�rus ‘Machupo’”, dizem publica��es compartilhadas mais de 26,6 mil vezes desde o final do �ltimo m�s de junho.
Segundo especialistas em Virologia consultados pela AFP, existem raz�es log�sticas e biol�gicas que impedem a sobreviv�ncia deste v�rus em um comprimido, ou a sua produ��o em escala industrial.
“Alerta Angola.. -R�dio Nacional de Angola! AVISO URGENTE! Cuidado n�o tome o paracetamol que vem escrito P/500. � um novo paracetamol , muito branco e brilhante, os m�dicos provam que cont�m v�rus ‘Machupo’, considerado um dos v�rus mais perigosos do mundo. E com alta taxa de mortalidade”, indicam as publica��es compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3).
Existem, ainda, vers�es deste texto que circulam desde o m�s de abril deste ano e mencionam Mo�ambique com o mesmo alerta. H� tamb�m postagens semelhantes em franc�s e espanhol que n�o citam uma localidade espec�fica.
O v�rus machupo
O machupo � um dos v�rus que pode causar a chamada febre hemorr�gica, termo geral para uma doen�a grave, �s vezes associada a sangramentos.
Ele faz parte da fam�lia de v�rus Arenaviridae. De acordo com os Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos e a Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (OPAS), os arenav�rus s�o geralmente associados a doen�as transmitidas por roedores a seres humanos, por meio da inala��o de excrementos de exemplares infectados e, inclusive, de pessoa para pessoa.
Rita Cubel, doutora em Microbiologia e professora de Virologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), especificou ao Checamos que o v�rus machupo � “transmitido pelas fezes e excre��es de diferentes esp�cies de roedores silvestres, que vivem em matas, �reas rurais e periurbanas”.
De acordo com um trabalho feito pela comiss�o de pesquisa da febre hemorr�gica na Bol�via da OPAS, o v�rus causador desta doen�a foi detectado pela primeira vez em 1959 nas florestas do departamento boliviano de Beni.
A organiza��o pan-americana assinala que a taxa de mortalidade da febre hemorr�gica boliviana pode variar entre 5% e 30%.
O v�rus machupo apresenta um risco “elevado” para a sociedade por ser “altamente patog�nico, de f�cil propaga��o e n�o existirem medidas profil�ticas ou terap�uticas eficazes at� o momento”, requerendo, assim, um n�vel de biosseguran�a quatro - o m�ximo poss�vel - para lidar com ele.
Um v�rus em um comprimido?
Levando em conta a alta letalidade deste v�rus, Anderson Brito, doutor em Biologia Computacional pelo Imperial College London e pesquisador de p�s-doutorado de epidemiologia gen�mica na Universidade de Yale, explicou ao AFP Checamos que “h� uma barreira log�stica para que essa teoria conspirat�ria possa sequer ser plaus�vel”.
“Produzir v�rus em laborat�rio, especialmente um v�rus t�o letal quanto esse, exigiria uma estrutura de seguran�a que pouqu�ssimos pa�ses t�m. Produzir um v�rus desse numa escala industrial � praticamente imposs�vel. Mataria os pr�prios funcion�rios”, assinalou.
Segundo Brito, os arenav�rus s�o envolvidos por uma camada de gordura essencial, atrav�s da qual eles interagem com as c�lulas, mas que os torna fr�geis. “Ele [o arenav�rus] n�o resiste �s intemp�ries do clima com tanta facilidade. Se ela [a camada de gordura] se rompe, o v�rus perde a capacidade de infectar”.
“Esse v�rus sofre muito com desidrata��o, por exemplo. Para ser vi�vel, ele tem que estar dentro de um ambiente �mido - no caso do v�rus machupo, na urina, nas fezes. Se fosse poss�vel produzi-lo em laborat�rio, seria produzido em ambientes l�quidos, teria que ser hidratado de alguma forma, porque o comprimido � seco”.
Al�m disso, Brito ainda explicou que as etapas de fabrica��o de um comprimido, incluindo “alta temperatura, desidrata��o e press�o desativariam o v�rus”. “Em outras palavras, ele ‘morreria’ no processo”, afirmou.
Vivian Luchsinger, virologista e acad�mica do Programa de Virologia do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Faculdade de Medicina da Universidade do Chile, detalhou que um v�rus sobreviveria pouco tempo em um comprimido “porque necessita da c�lula para se replicar. Ent�o, iria morrendo � medida que fosse exposto �s condi��es do ambiente”.
No mesmo sentido falou a professora Cubel: “Os v�rus s�o parasitas intracelulares obrigat�rios, precisam infectar uma c�lula para haver a forma��o de novos v�rus. Dependendo das caracter�sticas do v�rus eles podem resistir mais ou menos tempo no ambiente ou em secre��es/excre��es eliminadas pelo indiv�duo infectado”.
Segundo a acad�mica da Universidade do Chile, ao necessitar de “um ambiente mais �mido e de baixa temperatura”, a transmiss�o do v�rus machupo “n�o ocorre por um medicamento, ou comprimido”.
A virologista ainda indicou que a falta de resist�ncia do v�rus em condi��es ambientais se mostraria, por exemplo, no contato com “o pH �cido do est�mago. Portanto, os v�rus com capa, como o machupo, n�o ingressam pelo trato digestivo”, como seria no caso da ingest�o de um comprimido.
Brito finalizou: “Supondo, ainda, que fosse poss�vel produzir” o v�rus machupo em laborat�rio, a log�stica de “processamento, embalagem do comprimido, transporte, faria com que o v�rus n�o fosse mais vi�vel para infec��o no final do processo”.

Um “alerta” que circula desde 2015
Por meio de uma busca no Google pelas palavras-chave “paracetamol + v�rus machupo” foi poss�vel encontrar uma s�rie de artigos de verifica��o (1, 2, 3) feitos ao longo dos anos em que esse boato circulou nas redes.
Existem varia��es, de janeiro de 2015, que citam o mesmo medicamento - paracetamol P/500 -, mas dizendo que ele estaria contaminado com o v�rus do Ebola.
J� em fevereiro de 2017, o diretor-geral do Minist�rio da Sa�de da Mal�sia, o doutor Noor Hisham Abdullah, desmentiu o boato de que os comprimidos de paracetamol P/500 estivessem infectados com o v�rus machupo. O mesmo foi feito pela Autoridade de Ci�ncias da Sa�de de Cingapura.
Em outubro de 2018, o Minist�rio da Sa�de brasileiro desmentiu igualmente em sua se��o de combate � desinforma��o, citando a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa).
O Checamos entrou em contato com a Anvisa para saber se, desde ent�o, houve qualquer registro do v�rus machupo em rem�dios.
Segundo a ag�ncia, o paracetamol P/500 “tem registro no Brasil” e “� no momento do registro que � verificado se o medicamento � fabricado e controlado dentro dos padr�es de qualidade esperados pelos regulamentos t�cnicos e que os dados de seguran�a e efic�cia s�o avaliados. O registro de um medicamento � condi��o para a disponibilidade deste produto no mercado nacional”.
A Anvisa ainda relatou que n�o tem “qualquer relato de queixa t�cnica”, ou “notifica��o de outras autoridades sanit�rias”.
Em resumo, � falso que o rem�dio paracetamol P/500 esteja contaminado pelo v�rus machupo, como indicam as publica��es viralizadas. Al�m deste boato circular h� mais de cinco anos e ter sido desmentido por diferentes governos, especialistas em Virologia consultados pelo Checamos indicam que seria invi�vel produzir um v�rus como o machupo em laborat�rio n�o s� pela sua alta taxa de letalidade, como pelas condi��es que ele necessita para se manter vivo.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
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Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
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- Falta de ar e dificuldade para respirar
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- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.
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Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
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