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Estado de Minas FACT-CHECKING

Checamos: Usada desde 1996 no Brasil, urna eletr�nica nunca teve comprova��o de fraude

Redes sociais t�m visto publica��es contestando a seguran�a da urna eletr�nica; mas n�o h� provas de que sistema tenha sido burlado em mais de 20 anos


02/10/2020 19:31 - atualizado 07/10/2020 08:00

Publica��es compartilhadas mais de 30 mil vezes desde outubro de 2017 s�o ilustradas com a fotografia de um homem vestido com a camisa do Brasil e segurando um cartaz com a frase “Urna eletr�nica n�o � tecnologia, � malandragem”.

Contudo, desde que come�ou a ser usada, h� mais 20 anos, n�o houve nenhuma confirma��o de fraude em elei��o com urnas eletr�nicas, al�m da possibilidade do equipamento ser audit�vel.

“Quero meu voto impresso. RATAIADA UNIDA ROUBANDO O BRASIL E O BRASILEIRO #QueroMeuVotoImpresso #VotoImpressoJa”, “QUEREMOS O VOTO IMPRESSO” e “Interessante, as urnas s�o confi�veis, mas o voto impresso n�o?”, s�o algumas das legendas das postagens compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3).

Com a aproxima��o das elei��es municipais de 15 de novembro, nas quais ser�o eleitos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, a imagem, que circula desde 4 de outubro de 2017 no Instagram, voltou a ganhar espa�o nas redes sociais.

Uma busca pelo registro mais antigo desta foto levou a uma publica��o no Twitter com data de 28 de setembro de 2016, a poucos dias do primeiro turno das elei��es municipais daquele ano.

Mas a acusa��o feita nas postagens n�o tem fundamento.

A urna eletr�nica, usada pela primeira vez nas elei��es municipais de 1996, foi criada para minimizar os problemas identificados pela vota��o em c�dula: lentid�o na apura��o, falhas n�o intencionais e falhas intencionais.

Para a cria��o da urna eletr�nica, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) montou uma comiss�o t�cnica com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro T�cnico Aeroespacial (CTA) de S�o Jos� dos Campos, a fim de definir requisitos funcionais.

De acordo com o secret�rio de Tecnologia de Elei��es do TSE, Giuseppe Janino, a urna eletr�nica n�o � adquirida no mercado: “Desenvolvemos internamente o projeto. Essa solu��o tem o diferencial de servir exatamente para as nossas necessidades e se encaixar exatamente na nossa realidade”.

Segundo a se��o de desmentidos do site do TSE, a urna eletr�nica foi projetada para ser um aparelho isolado, ou seja, “funcionar sem estar conectada a qualquer dispositivo de rede, seja por cabo, wi-fi ou bluetooth. [...] O que preserva um dos requisitos b�sicos de seguran�a do sistema”.

Outro procedimento realizado para garantir a transpar�ncia do processo � fato das urnas eletr�nicas realizarem automaticamente a apura��o e emitirem o boletim de urna, contabilizando o total de votos por partido, por candidato, em branco, total de comparecimento em voto e de nulos, identifica��o da se��o e zona eleitoral, hor�rio do encerramento da elei��o, c�digo interno da urna eletr�nica e sequ�ncia de caracteres para valida��o deste relat�rio.

Como indica um manual preparado pelo pr�prio TSE, esse boletim � um documento p�blico, cuja c�pia � afixada no local de vota��o para que qualquer pessoa possa conferi-lo. Ele tamb�m � entregue aos fiscais de partido e a quem mais tiver interesse e estiver presente no momento. Nos dias posteriores, esse mesmo relat�rio pode ser conferido na Internet.

Em conversa com o Checamos, o professor M�rio Gazziro, doutor em F�sica Computacional, confirmou que os boletins de urna colocados nas se��es s�o “facilmente fiscalizados pelos eleitores de hoje com celulares” e citou o projeto “Voc� Fiscal”, idealizado por Diego Aranha, do Instituto de Computa��o (IC) da Unicamp. Com atua��o durante as elei��es de 2014 e 2016, os eleitores fotografavam os boletins de urna e os resultados eram conferidos com os oficiais divulgados pelo TSE.

“O projeto foi inativado justamente porque a Justi�a Eleitoral se mostrou extremamente confi�vel. Mas nada impede que retomemos a iniciativa se come�armos a suspeitar de algo irregular, ou de n�mero estranhos”, afirmou Gazziro.

Para a apura��o total dos votos, as informa��es contidas no boletim de urna s�o gravadas em uma m�dia remov�vel e criptografada, que � levada a um ponto de transmiss�o ligado � rede privativa do Tribunal Superior Eleitoral.

As urnas eletr�nicas, inclusive, j� passaram por diversos procedimentos de auditoria e, apesar de den�ncias terem sido feitas, o TSE fez uma investiga��o e nenhuma fraude foi constatada.

Sobre isso, Gazziro explica: “N�o basta copiar o software da urna e adulterar. Tem que ter em posse a chave de codifica��o correta para poder enviar os dados adulterados da elei��o ao TSE. Mais uma vez, essas den�ncias configuram uma possibilidade remotamente plaus�vel”.

H� uma s�rie de formas para realizar a auditoria deste equipamento, como indica o TSE: registro digital do voto, log da urna eletr�nica, auditorias pr� e p�s-elei��o, auditoria dos c�digos-fonte, lacra��o dos sistemas, tabela de correspond�ncia, lacre f�sico, auditoria da vota��o (vota��o paralela), e oficializa��o dos sistemas. Os sistemas tamb�m podem ser requisitados para an�lise e verifica��o a qualquer momento.

Para garantir isto, existe a resolu��o nº 23.603/2019 que, em seu cap�tulo IV, trata especificamente da auditoria de funcionamento da urna eletr�nica. O artigo 52 diz: “Os trabalhos de auditoria de funcionamento das urnas eletr�nicas, previstos nos cap�tulos V e VI desta Resolu��o, s�o p�blicos e poder�o ser acompanhados por qualquer interessado”.
Captura de tela feita em 30 de setembro de 2020 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 30 de setembro de 2020 de uma publica��o no Facebook

Nas elei��es de 2018, a Organiza��o dos Estados Americanos (OEA) enviou uma Miss�o de Observa��o Eleitoral ao Brasil pela primeira vez para observar o processo eleitoral. A partir dessa visita foi elaborado um relat�rio que menciona, entre outros pontos, a possibilidade de fiscaliza��o pelos partidos das etapas da elei��o, incluindo a auditoria das urnas.

Naquele ano, um especialista em tecnologia eleitoral da miss�o da OEA participou das auditorias ap�s o primeiro turno das elei��es gerais. Em algumas cidades foram feitas den�ncias, mas os resultados mostraram que os equipamentos tiveram comportamento normal.

As urnas tamb�m s�o fisicamente lacradas, explica o TSE, com lacres especiais produzidos pela Casa Moeda, “cujas propriedades qu�micas impedem qualquer tentativa de viola��o: ao ser retirado, aparece imediatamente a inscri��o de que foi violado”.

A fim de garantir a seguran�a t�cnica das urnas eletr�nicas, a Justi�a Eleitoral realiza um Teste P�blico de Seguran�a (TPS) do sistema de vota��o para aumentar a confiabilidade no processo eleitoral, pois ela abre seus sistemas para que investigadores tentem ultrapassar as 30 barreiras de seguran�a do sistema eletr�nico de vota��o.

Sobre a viabilidade de uma fraude nas urnas eletr�nicas, o tamb�m professor na Universidade Federal do ABC assinalou: “Seria poss�vel, mas muito improv�vel na forma como � realizada hoje”. “O ideal seria partir para o voto impresso, que deve ser depositado na urna local”.

Com a chegada da urna eletr�nica em 1996, havia desconfian�a (1) sobre a transpar�ncia do processo. Assim, em 2002, o voto impresso foi sugerido como forma de fazer a recontagem nas urnas e para que o eleitor pudesse ter certeza de sua escolha.

Em 2009, o voto impresso foi aprovado pelo Congresso Nacional. De acordo com o artigo 5º da lei nº 12.034/2009, a urna eletr�nica exibiria na tela os votos digitais e, ap�s a confirma��o, imprimiria um n�mero �nico de identifica��o do voto associado � sua pr�pria assinatura digital.

Anos mais tarde, em 2013, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como inconstitucional o artigo em quest�o, pois este tornava vulner�vel o segredo do voto, garantido no artigo 14 da Constitui��o Federal.

Em 2015, a minirreforma eleitoral previa a emiss�o de um comprovante de vota��o pelas urnas. Em setembro deste ano, o STF decidiu o voto impresso como inconstitucional por amea�ar a inviolabilidade do sigilo da vota��o e ainda favorecer fraudes eleitorais.

Para fins de confer�ncia, h� o registro digital do voto, que recupera os votos para recontagem eletr�nica a qualquer momento.

Gazziro afirmou que dentre in�meras dificuldades para fraudar um equipamento de vota��o “seria o acesso ao software da urna” que “pode ser auditado pelos representantes dos partidos e tamb�m da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] meses antes da elei��o”.

Esta auditoria � feita em uma sala-cofre onde nada eletr�nico pode entrar e “o software [das urnas] tem milh�es de linhas de c�digo. Isso torna quase imposs�vel algu�m entrar e conseguir sair com informa��es apenas de mem�ria para elaborar sua pr�pria vers�o clone do software, que ainda teria que ser instalado na urna. E, al�m disso, seria necess�rio obter as chaves de seguran�a da elei��o. Estamos falando de muitos ‘se’”, continuou.

Em diferentes ocasi�es, o presidente Jair Bolsonaro questionou a confiabilidade das urnas (1, 2, 3), citando a possibilidade de fazer um projeto de lei para auditar os resultados das elei��es no pa�s.

Um levantamento feito pelo International Institute for Democracy and Electoral Assistance (IDEA) com 178 pa�ses mostra que, al�m do Brasil, outros 25 Estados usam o sistema eletr�nico de vota��o em vota��es nacionais.

Em resumo, � enganoso afirmar que as urnas eletr�nicas s�o “malandragem” e facilmente fraud�veis. Al�m de existirem in�meros mecanismos t�cnicos e f�sicos de prote��o das urnas eletr�nicas, um especialista consultado pela AFP aponta que “� muito improv�vel” ocorrer uma fraude na forma como as elei��es acontecem atualmente.


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