"Na �ustria, at� mesmo um copo de Coca-cola resulta positivo para o teste r�pido de coronav�rus", afirmam publica��es nas redes sociais com um v�deo em que um parlamentar austr�aco faz uma esperi�ncia que d� resultado positivo.
Assim, o protagonista da cena e milhares de usu�rios que a compartilham em v�rios idiomas garantem que os testes usados em todo o mundo durante a pandemia s�o in�teis.
Na realidade, os fabricantes do kit de diagn�stico e v�rios especialistas explicaram � AFP que o experimento apenas reflete que os resultados de tais exames s�o inv�lidos se n�o forem usados nas condi��es corretas.O v�deo, com dura��o de aproximadamente 3 minutos e meio, foi compartilhado mais de 6.000 vezes no Facebook (1, 2 e 3), no Instagram, no YouTube (1, 2) e no Twitter (1 e 2) desde o �ltimo dia 11 de dezembro. Tamb�m foi difundido em artigos (1, 2) compartilhados centenas de vezes, segundo a ferramenta CrowdTangle.
Nele se observa o parlamentar austr�aco Michael Schnedlitz, que realizou o experimento com um teste de ant�genos e uma bebida � base de cola durante seu discurso no dia 10 de dezembro. “No final da minha fala voc�s ver�o como esse teste � in�til e enganoso”, disse o pol�tico, que mostrou um copo com a bebida e o teste de diagn�stico depositado no l�quido. Poucos minutos depois, Schnedlitz garantiu que o resultado do teste era positivo e acusou o governo de torrar os impostos dos cidad�os com a compra desses testes.
O mesmo v�deo circula em publica��es em italiano, alem�o, ingl�s e espanhol.
A equipe de checagem da AFP j� verificou v�deos semelhantes: os que testaram suco, checado em espanhol, e pur� de ma�� como amostra tamb�m tiveram resultados positivos.
Em todos os casos, tanto os fabricantes dos kits como os diversos especialistas consultados indicam que as experi�ncias foram realizadas em condi��es incorretas, fazendo que os resultados obtidos sejam inv�lidos.
Testes com ant�genos
Os testes para covid-19 dispon�veis em todo o mundo podem ser divididos em tr�s categorias. A primeira inclui testes de PCR (sigla em ing�s para Polymerase Chain Reaction, “rea��o em cadeia da polimerase”), feito por um processo bioqu�mico, em que se analisa se uma parte muito espec�fica do novo genoma do coronav�rus est� presente na amostra utilizada (resultado positivo). O Instituto Robert Koch (RKI) chama esse teste, usado por laborat�rios de todo o mundo, de "padr�o ouro" para diagn�stico.
A segunda � a dos testes sorol�gicos, que verificam se uma pessoa tem anticorpos contra o SARS-CoV-2 no sangue. Os cientistas usam esse m�todo para estimar quantas pessoas j� tiveram uma infec��o.
Por �ltimo, os testes de ant�geno, como o usado no v�deo, s�o menos precisos do que os testes de PCR, mas fornecem resultados mais r�pidos. Eles tamb�m s�o menos sens�veis do que os PCR, exigindo uma carga viral maior para mostrar um resultado positivo. Isso significa que, especialmente se a infec��o for recente, o teste do ant�geno pode dar falsos negativos.

O PCR detecta o material gen�tico do novo coronav�rus, enquanto os testes de ant�geno s�o projetados para identificarem as mol�culas que envolvem o v�rus.
Em setembro a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deu seu aval aos testes com ant�genos, demonstrando que eles seriam uma alternativa aos PCR e que poderiam contribuir para conter o avan�o da pandemia. No entanto, em seu guia atualizado em dezembro, os Centros para o Controle de Enfermidades (CDC) dos Estados Unidos advertiram que os testes de ant�genos s�o menos sens�veis que os PCR.
Consultado sobre o v�deo em que o suco de ma�� foi usado como amostra para um teste de ant�geno, Juan Sabatt�, m�dico, doutor em Microbiologia e pesquisador do Conselho Nacional Argentino de Pesquisas Cient�ficas e T�cnicas (Conicet) disse � AFP que “esses testes geralmente detectam componentes do v�rus SARS-COV-2 atrav�s do uso de anticorpos espec�ficos”. Ao serem detectados, gera-se uma rea��o que � visualizada com cores e "na forma de uma faixa (a linha que aparece se for positiva)".
A explica��o do fabricante
O teste que foi utilizado por Schnedlitz � produzido pelo Dialab GmbH. Ap�s a viraliza��o do v�deo, a empresa publicou uma explica��o em sua conta no Facebook, na qual destacou que o legislador fez o teste de maneira incorreta.
Em primeiro lugar, destaca-se que o parlamentar n�o preparou a amostra da bebida de cola no buffer (solu��o tamp�o), o que permite estabilizar os valores de pH da subst�ncia. Ao n�o fazer isso, explica a empresa, provoca-se a destrui��o dos anticorpos contidos no teste, que s�o aqueles que reagem ao v�rus. Esse procedimento, indica a empresa, “torna vis�vel a marca positiva”.
“Se o teste tivesse sido realizado de maneira correta, conforme indicado no folheto do produto, teria sido negativo”, garantiu o comunicado. Como evid�ncia, a publica��o inclui um v�deo no qual uma pessoa realiza o mesmo experimento, mas misturando a bebida de cola com a solu��o tamp�o. O resultado obtido ap�s alguns minutos � negativo.
“Esses exames devem ser sempre realizados por profissionais de sa�de ou treinados, para evitar esse tipo de resultado”, acrescentou o texto.
O manual de uso destes kits indica que 10 gotas da amostra devem ser misturadas � solu��o tamp�o para posteriormente serem utilizadas no teste de detec��o.

Consultado sobre a experi�ncia de Schnedlitz, um porta-voz da Dialab GmbH disse ao grupo de imprensa alem�o Welt que “qualquer teste de gravidez teria dado positivo. Antes de fazer essas declara��es p�blicas vergonhosas, voc� deveria saber um pouco de qu�mica”.
Nas condi��es corretas
Especialistas em imunologia e bioqu�mica consultados pela AFP tamb�m destacaram que as condi��es em que s�o realizados os testes de ant�geno, em particular o n�vel de acidez, s�o cruciais para um resultado v�lido. Al�m disso, ressaltaram que os testes s�o fabricados apenas para serem realizados com as amostras para as quais foram avaliados.
"N�o � uma conquista distorcer as condi��es do teste a ponto de darem resultados falsos", disse Thomas Decker, professor de Imunobiologia da Universidade de Viena, � AFP. "O teste foi desenvolvido para permitir a liga��o de um anticorpo a ant�genos, e n�o para rea��es a certos alimentos", esclareceu.
O especialista foi contundente e comparou o experimento viralizado nas redes com a afirma��o de que "um carro n�o funciona mais se voc� colocar pur� de ma�� no tanque [de gasolina]".
Na mesma linha, Anette Beck-Sickinger, professora de Bioqu�mica da Universidade de Leipzig, na Alemanha, afirmou que esse teste, como qualquer processo bioqu�mico, "s� pode funcionar se for realizado nas condi��es corretas".
Modificar as condi��es do teste, como pH ou temperatura, pode "causar uma rea��o inespec�fica dos anticorpos", causando um falso positivo, explicou a especialista. Em outras palavras, uma aplica��o incorreta do teste mostra resultados incorretos.
Em conclus�o, a experi�ncia com uma bebida � base de cola feita pelo legislador austr�aco n�o prova que o teste do ant�geno seja in�til na detec��o de covid-19. Tanto o fabricante do kit quanto os especialistas consultados indicaram que os resultados s�o inv�lidos porque o teste foi realizado incorretamente.