
“Laborat�rio Merck afirma que � mais eficaz pegar o v�rus e se recuperar do que tomar vacina”, diz o t�tulo de um artigo compartilhado centenas de vezes em redes sociais desde o �ltimo dia 26 de janeiro, segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle.
A alega��o aparece em outros artigos, publica��es no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3), assim como no aplicativo de mensagens Telegram, onde foi visualizada quase 15 mil vezes. Conte�do semelhante tamb�m circula em ingl�s, franc�s e espanhol.
As publica��es se referem a um comunicado emitido em 25 de janeiro, no qual a Merck anunciou que iria interromper o desenvolvimento de suas candidatas vacinais contra a covid-19 ap�s a fase 1 dos ensaios cl�nicos.
A farmac�utica informou: “Nestes estudos, tanto a V590 quanto a V591 foram geralmente bem toleradas, mas as respostas imunes foram inferiores �s observadas ap�s a infec��o natural e �s relatadas para outras vacinas contra SARS-CoV-2/COVID-19”.
No dia, a AFP escreveu que as candidatas vacinais - um esfor�o conjunto entre a Merck e o Instituto Pasteur, da Fran�a - haviam sido abandonadas “ap�s os resultados decepcionantes dos primeiros testes cl�nicos”. O projeto se baseava em uma vacina contra o sarampo.
O Instituto Pasteur tamb�m publicou um comunicado informando que “as respostas imunol�gicas induzidas pela vacina foram inferiores �s observadas em indiv�duos que se recuperaram da infec��o natural e �s observadas com as vacinas atualmente autorizadas para SARS-CoV-2/COVID-19”.
A Merck disse que continuaria trabalhando em “dois candidatos terap�uticos em investiga��o”, incluindo um agente antiviral oral, enquanto o Instituto Pasteur enfatizou que ainda est� trabalhando “em dois outros candidatos vacinais baseados em metodologias diferentes”.
Em nenhuma parte dos dois comunicados, a Merck ou o Instituto Pasteur afirmaram que as vacinas em geral deveriam ser substitu�das pela imunidade natural gerada pela exposi��o ao novo coronav�rus.
O que dizem especialistas e a Merck
Um porta-voz da Merck disse � AFP por e-mail que a informa��o viralizada � “falsa”. “Estamos animados com o progresso recente de outros candidatos vacinais aprovados ou em est�gio avan�ado que estabeleceram um alto padr�o para efic�cia e seguran�a. Essa � uma boa not�cia para a nossa ind�stria e para a sociedade”.
Para especialistas, a Merck escolheu n�o seguir em frente porque sua vacina parecia estar aqu�m das oferecidas por outras companhias - como a Pfizer-BioNTech e a Moderna, que anunciaram efic�cia de entre 90 e 95% para seus imunizantes.

A informa��o compartilhada nas redes � “uma distor��o da decis�o tomada pela Merck”, disse Julian Leibowitz, professor da Faculdade de Medicina da Texas A&M University.
“A decis�o da Merck foi em grande parte impulsionada por quest�es comerciais. Eles estavam consideravelmente atr�s de ao menos sete outros fabricantes de vacinas que haviam conclu�do ou quase conclu�do grandes testes de fase 3 e recebido autoriza��es de uso emergencial em um pa�s ou outro”, acrescentou em e-mail � AFP.
Amine A. Kamen, professor do Departamento de Bioengenharia e chefe de pesquisa para o Canad� de Bioprocessamento de Vacinas Virais da Universidade McGill, concordou.
“Os testes foram interrompidos porque os dados n�o estavam mostrando prote��o suficiente (comparados com os de outros candidatos vacinais)”, disse em e-mail.
Scott Halperin, professor da Divis�o de Doen�as Infecciosas da Universidade Dalhousie, localizada em Nova Esc�cia, Canad�, enfatizou que a decis�o da Merck n�o significa que as vacinas contra a covid-19 s�o menos eficazes do que se recuperar da doen�a, mas que “a candidata deles n�o atingiu a expectativa para amparar a continuidade do desenvolvimento”.
Emily Smith, professora assistente da Escola de Sa�de P�blica do Instituto Milken, da Universidade George Washington, explicou que � assim que deve funcionar o processo de desenvolvimento de vacinas com seguran�a e efici�ncia. “� uma parte completamente normal do processo que muitos candidatos vacinais falhem, enquanto apenas um punhado de candidatos vacinais sejam bem-sucedidos”.
J� a infec��o natural realmente oferece alguma imunidade contra o coronav�rus, “embora n�s n�o saibamos por quanto tempo essa imunidade vai durar”, disse Smith.
“O problema da imunidade natural � que ela vem com muitas complica��es! N�s n�o temos como prever quem vai ter um caso leve de covid e quem vai parar no hospital e at� morrer… Ent�o, embora n�o saibamos ainda qual vai fornecer uma imunidade mais duradoura, n�s sabemos que a imunidade adquirida pela vacina ser� mais segura que a imunidade natural”, disse.
Leibowitz, da Universidade Texas A&M, considerou “rid�culo” afirmar que a infec��o natural � mais segura do que a vacina��o, levando em conta “os n�meros de mortes e hospitaliza��es pela infec��o natural, em compara��o com zero mortes e hospitaliza��es nos ensaios das vacinas”.
Em resumo, a farmac�utica Merck n�o disse que � “mais eficaz” contrair a covid-19 e se recuperar do que receber uma vacina contra a doen�a. A companhia afirmou que suas candidatas vacinais produziram uma resposta imunol�gica “inferior” � imunidade natural, mas n�o falou contra a efic�cia de outras vacinas para a doen�a.