
“Aumento da lubrifica��o, e vasculariza��o do local; - aumento da fertilidade; - Reduz de c�licas e dores do pr� e p�s menstrual; - Ameniza os sintomas da menopausa; - � coadjuvante no tratamento de mioma, cistos de ov�rio, endometriose, entre outros problemas dessa regi�o”, diz uma das publica��es compartilhadas no Facebook, em refer�ncia aos supostos benef�cios da vaporiza��o do �tero.
A lista continua: “Limpa o desconforto e mem�rias vividas, como abortos ou traumas sexuais, j� que � no �tero e o canal vaginal guardam essas mem�rias; - reconecta a mulher com sua criatividade e a receptividade do yin (energia feminina); -aumenta a sensibilidade, ajudando no potencial org�stico”.
Conte�do similar foi difundido na mesma rede (1, 2) e no Instagram (1, 2, 3).
De acordo com as publica��es, a vaporiza��o do �tero consiste em sentar-se sem roupa �ntima sobre um banco com um buraco, abaixo do qual coloca-se um recipiente com �gua quente misturada com ervas arom�ticas. As mensagens afirmam que o vapor liberado entra no �tero e traz v�rios benef�cios.
No TikTok, v�deos somando mais de 400 mil visualiza��es mostram como preparar o banho, como se sentar corretamente, qual recipiente usar e quais ervas colocar na �gua (1, 2, 3).

V�rios portais tamb�m promoveram essa pr�tica (1, 2, 3), que ganhou popularidade e gerou cr�ticas ap�s ter sido impulsionada pela atriz norte-americana Gwyneth Paltrow no seu blog Goop em 2015.
A vaporiza��o do �tero � apresentada como “sabedoria ancestral” e “antigo tratamento”, e promovida regularmente nas redes sociais para “limpar” e “curar” o �tero e o colo uterino.
O conte�do tamb�m circulou em ingl�s (1, 2), espanhol (1, 2), franc�s e italiano.
Sem comprova��o e sem resultados
“As vaporiza��es vaginais [ou do �tero] n�o s�o um m�todo que se usa na ginecologia cl�ssica”, disse � AFP a ginecologista argentina Mar�a Elisa Moltoni, descartando que teriam algum benef�cio cientificamente comprovado para a sa�de.
“N�o h� nada na literatura cient�fica que diga que s�o boas ou ruins”, endossou o ginecologista Geoffroy Robin, secret�rio geral do Col�gio Nacional de Ginecologistas e Obstetras da Fran�a (CNGOF). No entanto, recomendou aplicar o “princ�pio da precau��o” � pr�tica.
Sobre seus supostos benef�cios, a presidente da Federa��o Nacional de Col�gios M�dicos de Ginecologia da Fran�a (FNCGM), Isabelle H�ron, foi enf�tica: “Fazer uma mulher jovem acreditar que ter� maior possibilidade de engravidar gra�as a um banho de vapor � mentiroso”.
“� imposs�vel”, concordou Geoffroy, acrescentando que o vapor tamb�m n�o causa efeito sobre a menstrua��o. “A regularidade dos ciclos depende da comunica��o hormonal entre o c�rebro e os ov�rios. Um banho de vapor n�o ter� nenhum efeito sobre isso”, disse.
No mesmo sentido, Moltoni afirmou: “N�o existe evid�ncia cient�fica de que essas vaporiza��es sirvam para potenciar a fertilidade ou acelerar a recupera��o depois do parto, ou que influenciem em fibromas, cistos no ov�rio, fraqueza da parede uterina, prolapso uterino e endometriose. Tampouco h� evid�ncias sobre seu efeito nas dores menstruais”, disse � AFP. E detalhou: “Existe evid�ncia de que o calor pode aliviar as dores menstruais, mas o aconselhado � aplic�-lo sobre a parte baixa do abd�men com uma bolsa de �gua quente, por exemplo”.
Uma busca por estudos que abordassem as vaporiza��es do �tero dentro da base de dados de ci�ncias da sa�de PubMed n�o gerou resultados sobre seus supostos benef�cios. Ao contr�rio, conduziu a um artigo publicado em 2017 na revista Culture, Health and Sexualtiy, chamado “Basicamente, � feiti�aria para a sua vagina: desfazendo as representa��es ocidentais sobre a vaporiza��o do �tero”, em que se conclui que os relatos que circulam online sobre a pr�tica “parecem se enquadrar tanto nas constru��es hist�rico-contempor�neas dos corpos das mulheres como deficientes e repugnantes, como no discurso neoliberal e sanitarista contempor�neo em torno do sujeito em melhora constante”.
Tamb�m h� um artigo acerca de uma mulher que sofreu queimaduras de segundo grau durante a pr�tica de vaporiza��o do �tero.
Risco de infec��es
Os tr�s especialistas concordaram que, mais do que evitar ou curar infec��es, essas vaporiza��es podem aumentar o risco de contra�-las.
As bact�rias na vagina, que formam uma microbiota que protege contra infec��es, “s�o o resultado de um equil�brio muito sutil de temperatura e pH”, disse Robin � AFP. “Quando conhecemos esse ecossistema, podemos pensar que a exposi��o prolongada ao vapor de alta temperatura pode alterar esse equil�brio”.
H�ron comparou o banho de vapor com as desaconselhadas duchas vaginais, que consistem em lavar o interior da vagina. Com uma mudan�a de temperatura, “corre-se o risco de eliminar a flora vaginal e aumentar o risco de infec��es”, disse a ginecologista.
“Est� demonstrado que essas duchas n�o s� n�o higienizam, mas predisp�em a altera��es na microbiota vaginal, que produz um maior risco de infec��es e fluxo patol�gico”, completou Moltoni.
O AFP Checamos j� verificou outras alega��es que abordam a menstrua��o (1, 2).