(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CHECAMOS

Comparar as vacinas contra a covid-19 com pesquisas sobre a aids e o c�ncer � enganoso

Postagens compartilhadas milhares de vezes questionam vacinas fabricadas "em apenas 6 meses", enquanto ainda n�o h� imunizantes contra aids ou c�ncer


27/10/2021 21:42 - atualizado 28/10/2021 12:21

Publica��es compartilhadas mais de 73 mil vezes nas redes sociais desde ao menos setembro de 2020 e que voltaram a circular em outubro de 2021 questionam as vacinas contra a covid-19, fabricadas “em apenas 6 meses”, enquanto ainda n�o h� imunizantes contra aids ou c�ncer, apesar de d�cadas de pesquisa.

Mas estabelecer um paralelo entre o desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 e os tratamentos do c�ncer e da aids � enganoso, j� que se tratam de doen�as muito diferentes. As mensagens tamb�m alegam que a vacina contra a influenza n�o existe, embora ela seja aplicada no Brasil h� anos.

“AP�S 40 ANOS DE PESQUISA, N�O H� VACINA CONTRA AIDS. AP�S 76 ANOS DE PESQUISA, N�O H� VACINA CONTRA INFLUENZA. AP�S 100 ANOS DE PESQUISA, N�O H� VACINA CONTRA O C�NCER”, l�-se nas publica��es compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) desde o �ltimo dia 11 de outubro.

O texto continua: “MAS DEPOIS DE APENAS 6 MESES EXISTE UMA VACINA CONTRA UM ‘V�RUS’ QUE APARECEU ‘DE REPENTE’ E AQUELES QUE QUESTIONAM ESSA VACINA S�O CONSPIRADORES SEM C�REBRO”.

O texto, na maioria das vezes sobreposto a uma imagem que mostra um corpo com rosto de caveira mexendo em um caldeir�o onde se l� “vacina”, em ingl�s, e se v� uma marca parecida com o logo da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), tamb�m foi difundido no Instagram (1, 2, 3), no Twitter (1, 2, 3) e no Telegram.

Um conte�do similar circulou em outros idiomas, como em franc�s e em espanhol, com a alega��o de que as vacinas teriam sido fabricadas em tr�s meses.
Postagem em rede social contesta vacina contra COVID-19
Captura de tela feita em 26 de outubro de 2021 de uma publica��o no Facebook ( . / )

As publica��es viralizadas destacam uma realidade: a corrida pela vacina contra a covid-19 tem se dado em uma velocidade sem precedentes, mas n�o em seis meses, como afirmam algumas postagens. Ap�s a sequencia��o gen�tica do novo coronav�rus em janeiro de 2020, as pesquisas para criar uma vacina come�aram em fevereiro de 2020. At� a aprova��o da primeira vacina, a da Pfizer/BioNTech, passaram-se dez meses.

“Nunca na hist�ria a pesquisa de vacinas progrediu t�o rapidamente”, declarou o diretor-geral da Organiza��o Mundial da Sa�de, Tedros Adhanom, no final de novembro de 2020.

A vacina russa Sputnik V come�ou a ser aplicada em Moscou no dia 5 de dezembro, enquanto a da Pfizer/BioNTech teve o in�cio da aplica��o no Reino Unido em 8 de dezembro.

O painel de farmacovigil�ncia da Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (Opas) mostra que, em outubro de 2021, h� oito vacinas com uso emergencial aprovado. Quatro delas est�o em uso no Brasil, de acordo com a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa): Comirnaty (Pfizer/Wyeth), Oxford/Covishield (Fiocruz e Astrazeneca), Coronavac (Butantan) e Janssen Vaccine (Janssen-Cilag).

Tabela mostra progresso da vacina contra COVID-19
( . / )

As publica��es viralizadas, que demonstram desconfian�a nas vacinas para prevenir a covid-19 ao afirmar que n�o existem at� o momento vacinas contra a aids e o c�ncer, prop�em, contudo, uma falsa dicotomia.

J� a alega��o de que n�o h� vacina contra a influenza � falsa. Ela existe e foi licenciada para uso na popula��o em 1945. No Brasil, foi incorporada ao Programa Nacional de Imuniza��es (PNI) em 1999, “com o prop�sito de reduzir interna��es, complica��es e �bitos na popula��o-alvo, na �poca, idosos acima de 65 anos”, informou o Minist�rio da Sa�de ao Checamos.

Em 2021, a 23ª Campanha Nacional de Vacina��o contra a influenza contemplou grupos priorit�rios como “crian�as de 6 meses a menores de 6 anos de idade (5 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes, pu�rperas, povos ind�genas, trabalhadores da sa�de, idosos com 60 anos e mais”, disse a pasta.

Covid-19 e aids: uma compara��o falaciosa

As publica��es tamb�m questionam por que a pesquisa da vacina contra a covid-19 progrediu t�o rapidamente, quando quase quatro d�cadas de estudo n�o foram suficientes para encontrar uma vacina eficaz contra o HIV.

Comparar “doen�as t�o diferentes” dessa maneira � “est�pido”, assinalou � AFP o professor Jean-Daniel Leli�vre, chefe do departamento de Imunologia Cl�nica do Hospital Universit�rio Henri Mondor e respons�vel pela pesquisa cl�nica no Instituto de Pesquisa de Vacinas da Fran�a.

“� bastante simples: basicamente temos vacinas para doen�as cur�veis, ou seja, para enfermidades contra as quais o corpo cria uma resposta imune. Com o sarampo, a influenza, a hepatite B, cria-se uma imunidade natural. No caso do SARS-CoV-2, a cura sugere a gera��o de anticorpos contra o SARS-CoV-2. Assim, com a vacina, reproduzimos o que a natureza faz, j� que sabemos exatamente como o organismo humano se defende diante deste v�rus”, explicou o professor Leli�vre.

“Agora, no caso de doen�as infecciosas complexas, como a causada pelo HIV, a pessoa n�o se cura. A resposta imune ao HIV n�o ocorre, � incompleta. O HIV destr�i o sistema imunol�gico. Por isso n�o � poss�vel fazer um paralelo entre o HIV e o SARS-CoV-2”, acrescentou.

“O v�rus da aids � muito inst�vel, sofre v�rias muta��es, e esse n�o � o caso do SARS-CoV-2”, afirmou � AFP Serawit Bruck-Landais, diretora do Centro de Pesquisa e Qualidade de Sa�de do Sidaction, que assinalou que “existem v�rios subtipos de HIV circulando, muito diferentes entre si, enquanto para o SARS-CoV-2 existem, por enquanto, no m�ximo dois subtipos n�o muito diferentes um do outro”.

Vacinas contra o c�ncer?

As postagens viralizadas asseguram que n�o existem vacinas contra o c�ncer, mas isso � impreciso. H� tipos de c�ncer para os quais j� foram desenvolvidas vacinas, como indica o site da American Cancer Society.

Como explicado nesta se��o, existem vacinas que ajudam a prevenir o c�ncer causado por v�rus, como o papilomav�rus humano (HPV). A American Cancer Society indica que “vacinar as crian�as e jovens adultos contra o HPV ajuda a proteger contra o c�ncer de colo de �tero e outros cinco tipos de c�ncer”.

Outra vacina preventiva � a da hepatite B (HBV). “As pessoas que t�m infec��es cr�nicas (em longo prazo) por esse v�rus t�m um risco maior de ter c�ncer de f�gado. Receber a vacina para ajudar a prevenir a infec��o pelo HBV pode reduzir o risco de que algumas pessoas tenham c�ncer de f�gado”.

No entanto, “nem todos os tumores est�o relacionados com uma infec��o viral, motivo pelo qual uma vacina n�o pode preveni-los”, afirmou � equipe de checagem da AFP o oncologista cl�nico argentino Tom�s Soul�.

“O melanoma, por exemplo, tem uma clara rela��o com a exposi��o solar e n�o existe uma vacina que o previna. A preven��o consiste em evitar a exposi��o ao sol. O c�ncer de pulm�o e o de bexiga est�o relacionados com o tabaco e uma vacina tampouco pode preveni-los”, continuou.

Como � poss�vel ler no site do Cancer Treatment Centers of America, “dezenas de c�nceres s�o causados por uma infinidade de muta��es gen�ticas, pelo que � prov�vel que seja imposs�vel desenvolver uma vacina para atacar todas as muta��es poss�veis”.

E, considerando que as c�lulas cancer�genas “s�o c�lulas do pr�prio corpo que se tornaram rebeldes, muitas c�lulas cancer�genas podem se esconder � simples vista do sistema imunol�gico. � por isso que, inclusive, quando o sistema imunol�gico � estimulado por certos medicamentos, nem sempre sabe quais alvos deve atacar”, acrescenta o site.

Soul� concorda: “O c�ncer n�o � uma s� doen�a, � um conjunto de enfermidades”. “Toda doen�a oncol�gica � uma doen�a gen�tica na qual h� uma muta��o, um erro no DNA, que faz com que uma c�lula cres�a mais do que o normal, ou morra menos do que o normal. Essa altera��o molecular poucas vezes � �nica. Isso significa que n�o existe um mecanismo �nico para desenvolver um tumor, mas m�ltiplos mecanismos gen�ticos, e n�o existe uma ‘chave’ que solucione todo o problema”.

Rapidez no desenvolvimento de vacinas contra a covid-19

Algumas vacinas, como a Coronavac, foram produzidas com v�rus inativados do novo coronav�rus, e por isso n�o oferecem risco de infec��o pela doen�a. “O v�rus � cultivado para se multiplicar e, depois, � inativado por meio de calor ou produto qu�mico”, afirma o Instituto Butantan, que desenvolve a vacina.

Outras vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas mediante engenharia gen�tica. S�o vacinas que, para conseguir que o corpo humano elabore uma resposta de defesa contra o v�rus, necessitam apenas reproduzir e inocular material gen�tico do v�rus, e n�o o v�rus em si, como acontece com as vacinas cl�ssicas feitas � base de v�rus inativos ou atenuados.

Tanto as vacinas feitas � base de RNA mensageiro (Moderna e Pfizer/BioNTech) como as feitas � base de vetores de adenov�rus (Gamale�a e AstraZeneca/Universidade de Oxford) t�m o objetivo de conseguir que o nosso corpo fabrique uma prote�na de SARS-CoV-2.

“Essa nova prote�na estranha ser� reconhecida pelo nosso sistema imunol�gico, que ‘montar�’ o que � chamado de resposta imune de mem�ria”, explicou � AFP a m�dica Mar�a Victoria S�nchez, pesquisadora do Laborat�rio de Imunologia e Desenvolvimento de Vacinas do Imbecu-CCT-Conicet da Argentina. “Quando existir um novo encontro com o pat�geno, essa resposta imune ser� capaz de reconhec�-lo e o atacar� de forma mais eficaz”, continuou.

Pela sua natureza, essas vacinas facilitam a sua fabrica��o r�pida e em larga escala. Al�m disso, o SARS-CoV-2 “n�o � muito diferente do MERS-CoV e do SARS-CoV-1”, que provocaram uma epidemia no sudeste asi�tico em 2003, assinalou o professor Leli�vre.

“T�nhamos levado adiante toda uma investiga��o para a vacina do SARS-CoV-1. Chegou at� os testes da fase I, mas a doen�a se deteve, por isso n�o chegamos aos testes da fase III. Do ponto de vista das vacinas, est�vamos em um mundo ideal, porque � um v�rus novo, mas muito pr�ximo do outro, sobre o qual t�nhamos todo o conhecimento”, assinalou.

Se o SARS-CoV-2 tivesse surgido no in�cio da d�cada de 1980, como o HIV, a pesquisa de vacinas “teria levado muito mais tempo”, disse.

Em resumo, comparar o desenvolvimento das vacinas para prevenir a covid-19 com as pesquisas para prevenir a aids e o c�ncer � enganoso, pois tratam-se de doen�as muito diferentes. Diferentemente do SARS-CoV-2, o HIV � altamente inst�vel e ataca o pr�prio sistema imunol�gico, tornando a sua resposta � doen�a incompleta. No caso do c�ncer, existem vacinas para prevenir alguns tipos de enfermidades causadas por v�rus, mas outros tipos n�o admitem o tratamento preventivo com vacinas.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)