
“A vacina Antitet�nica em dose �NICA, tem dura��o de efeito de aproximadamente 10 ANOS, assim como a vacina da Febre Amarela. J� a vacina do Covid-19, tem a dura��o de dois meses. Ser� que n�o tem alguma coisa errada?”, questiona uma das publica��es compartilhadas no Twitter e no Facebook (1, 2).
A virologista Lorena Chaves, pesquisadora da Emory University, em Atlanta, Estados Unidos, disse ao AFP Checamos que “essa compara��o n�o faz sentido algum”.
“As respostas imunol�gicas contra diferentes pat�genos (agentes causadores de doen�a) s�o �nicas. Cada pat�geno desencadeia um tipo de resposta imunol�gica e isso depende de muitos fatores”, explicou.
"Existem alguns pat�genos que desencadeiam uma resposta imunol�gica t�o forte que o nosso sistema imune consegue lembrar deles por muito tempo ap�s a doen�a, ou at� mesmo para sempre, como no caso do sarampo. Ou seja, nesse caso, h� um grande est�mulo para a produ��o de c�lulas de mem�ria, gerando anticorpos espec�ficos de longa vida, o que impede a reinfec��o”, complementou.
“J� outros pat�genos n�o s�o t�o capazes de estimular uma resposta imunol�gica t�o robusta e por isso conseguem nos infectar de tempos em tempos, como o Influenza (gripe). As vacinas s�o sempre baseadas no pat�geno que visam combater. E por isso tamb�m t�m efic�cias diferentes. Al�m disso, h� v�rias formas de fazer vacina, o que tamb�m influencia na resposta imunol�gica que ser� gerada”, disse Chaves.
Em uma verifica��o da AFP sobre uma alega��o semelhante, que comparava os imunizantes anticovid com as vacinas contra poliomielite, sarampo e rub�ola, Alexandre Naime, chefe do departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), indicou que “as vacinas t�m diferentes objetivos de sucesso a depender do pat�geno”.
Consultado pelo Checamos, Marcos Freire, assessor cient�fico de Bio-Manguinhos, a unidade da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) respons�vel pela produ��o de vacinas, concordou. Para ele, comparar imunizantes contra t�tano e febre amarela com os que protegem contra a covid-19 “n�o faz sentido”. “S�o vacinas completamente diferentes”, disse.
Febre amarela
A febre amarela � uma doen�a infecciosa aguda, causada por um v�rus transmitido por mosquitos vetores, sem que haja possibilidade de cont�gio direto de pessoa a pessoa. A maior parte dos casos da doen�a � registrada no Brasil entre os meses de dezembro e maio e em geral se concentra na regi�o amaz�nica, embora j� tenha havido casos de surtos no Centro-Oeste e no Sudeste.
O Minist�rio da Sa�de recomenda a vacina contra a febre amarela a todos que residem nas �reas de transmiss�o e aos que pretendem viajar para esses locais. O imunizante � administrado em dose �nica, sem dose de refor�o.
“No caso da vacina febre amarela ocorre uma replica��o do v�rus vacinal (v�rus da febre amarela atenuado) conferindo uma boa resposta humoral (anticorpos neutralizantes) e celular. Esta resposta imunol�gica confere uma prote��o duradoura com a manuten��o dos anticorpos neutralizantes e uma boa mem�ria”, disse Freire.
“O segredo dessa vacina ser super eficaz � a combina��o dessa tecnologia de v�rus atenuado e do pat�geno (o v�rus da febre amarela), que � muito ‘memor�vel’ pelo sistema imune, ou seja, gera uma resposta imunol�gica muito robusta e eficaz, protegendo contra novas infec��es”, afirmou Chaves, lembrando, contudo, que a produ��o de vacinas com v�rus atenuado “est� caindo em desuso”, porque “n�o � t�o segura para pessoas imunocomprometidas quanto as tecnologias mais atuais”.
Freire ressaltou a diferen�a entre os pat�genos da febre amarela e da covid-19: “� importante dizer que o v�rus da febre amarela � muito mais est�vel geneticamente que os coronav�rus e, desta forma, n�o gera mutantes com capacidade de escapar da prote��o induzida pela vacina em prazos relativamente curtos. O v�rus atenuado da febre amarela foi desenvolvido h� mais de 80 anos e ainda � capaz de proteger contra os v�rus da febre amarela que circulam no mundo. Da mesma forma que as vacinas antitet�nicas produzidas por diferentes fabricantes protegem contra as toxinas produzidas por diferentes cepas de ‘Clostridium tetani’”.

T�tano
O t�tano � uma infec��o aguda e grave, causada pela toxina do bacilo tet�nico, que entra no organismo atrav�s de ferimentos ou les�es de pele. A doen�a n�o � transmitida de um indiv�duo para o outro, e mesmo aqueles que j� contra�ram a doen�a n�o adquirem anticorpos para evit�-la novamente. A vacina��o � a �nica forma de prote��o.Diferentemente do que alegam as publica��es viralizadas, a vacina antitet�nica n�o � administrada em dose �nica. No Brasil, o Minist�rio da Sa�de estabelece que o esquema vacinal completo da antitet�nica � de tr�s doses administradas no primeiro ano de vida, com doses de refor�o aos 15 meses e aos 4 anos. A partir dessa idade, recomenda-se um novo refor�o a cada dez anos ap�s a �ltima dose administrada.
“No caso da vacina antitet�nica, a toxina tet�nica inativada (tox�ide tet�nico) � extremamente imunog�nica e confere uma prote��o duradoura a partir de implementa��o de esquemas de vacina��o”, apontou Freire.
E as vacinas contra a covid-19?
Segundo os especialistas ouvidos pela AFP, as vacinas podem ter diferentes objetivos. As de covid-19, transmitida por um v�rus altamente mut�vel, t�m como objetivo evitar hospitaliza��es e mortes.“No caso das vacinas dispon�veis (licenciadas) at� o momento contra a covid-19, foram desenvolvidas e formuladas em diferentes plataformas com o objetivo principal de proteger contra casos graves da doen�a e a consequente redu��o das hospitaliza��es”, comparou Freire, acrescentando que “tem se observado que a chamada imunidade est�ril (bloqueio da infec��o) n�o � atingida na maioria dos vacinados”. No entanto, “a efetividade destas vacinas foi avaliada e comprovada na redu��o de formas sintom�ticas e graves da doen�a, reduzindo, desta forma, as interna��es e mortalidade provocadas pelo SARS-CoV-2”.
Um estudo publicado em 10 de dezembro de 2021 pela Fiocruz sobre a efetividade das vacinas no Brasil mostrou que todas conferem grande redu��o do risco de infec��o, interna��es e �bito por covid-19. Considerando os desfechos graves (interna��o ou �bito) em indiv�duos com idade entre 20 e 80 anos, a prote��o variou entre 83% e 99% para todos os imunizantes. “Na popula��o abaixo de 60 anos, todas as vacinas apresentam prote��o acima de 85% contra risco de hospitaliza��o e acima de 89% para risco de �bito”, indica o estudo.
Sobre a alega��o das publica��es virais de que as vacinas anticovid-19 t�m “dura��o de dois meses”, Chaves explicou que, em geral, “ap�s seis meses da vacina��o h� uma diminui��o de anticorpos circulantes no sangue do vacinado”, mas que “isso n�o � surpresa e n�o � algo incomum”.
“Com o tempo, normalmente acontece a diminui��o de anticorpos circulantes e ocorre o que chamamos de matura��o da afinidade. A matura��o da afinidade � a diminui��o de anticorpos circulantes, mas com a produ��o de anticorpos mais espec�ficos e eficazes. Ent�o, n�o ter anticorpos bombando no sangue n�o significa falta de prote��o, mas o curso da resposta imunol�gica comum. Al�m disso, sempre � bom lembrar que n�o � somente de anticorpos que o nosso sistema imunol�gico � feito. Tem toda uma resposta imunol�gica celular que tamb�m tem seu papel na prote��o”, complementou Chaves.
“Ent�o, as pessoas que dizem que a vacina contra a covid-19 tem efic�cia (ou dura��o) de dois meses, n�o est�o olhando a resposta imunol�gica de uma forma geral e se baseando em pequenos recortes dessa resposta”.
Para Freire, “n�o � poss�vel generalizar a dura��o da imunidade dessas vacinas” e “ainda � cedo para afirmarmos qual � a dura��o da imunidade desta ou daquela vacina, assim como dos diferentes esquemas de imuniza��es e refor�os”.
“Assim como a efetividade, a dura��o da imunidade varia com a abordagem vacinal, formula��o, adjuvantes e esquema vacinal”, acrescentou, citando que os estudos de acompanhamento de vacinados com imunizantes da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca apontaram a sua efetividade por per�odos que variam de seis meses a um ano quando os esquemas vacinais s�o implementados de forma correta, reduzindo os casos de doen�as sintom�ticas, interna��es e mortes causadas pelo SARS-CoV-2.
Al�m da quest�o imunol�gica, Chaves atribuiu a necessidade da dose de refor�o a um cen�rio epidemiol�gico: “Estamos em uma pandemia, com alta circula��o viral. Na verdade, com a [variante] �micron, vivemos o pior momento da pandemia em rela��o ao n�meros de casos no mundo. Nesse momento, manter os anticorpos circulantes faz toda a diferen�a na tentativa de prevenir a infec��o, principalmente nos grupos de risco”.
“Pode ser que l� na frente, quando a pandemia estiver mais controlada, que o esquema vacinal contra a covid-19 seja diferente e n�o exija doses de refor�o com um intervalo t�o curto”, acrescentou.
A AFP j� verificou outras desinforma��es sobre a efic�cia das vacinas contra a covid-19 (1, 2, 3).
*Esta verifica��o foi realizada com base em informa��es cient�ficas e oficiais sobre o novo coronav�rus dispon�veis na data desta publica��o.