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Estado de Minas CHECAMOS

A Pfizer n�o "admitiu" que vacinas anticovid salvam duas crian�as e 179 podem ter miocardite

Na verdade, artigo se refere a dados vistos em an�lise da FDA, nos Estados Unidos, e mistura informa��es contidas no documento


11/01/2022 17:15 - atualizado 12/01/2022 09:16

Publica��es compartilhando a captura de tela do t�tulo de uma mat�ria datada de 27 de dezembro de 2021 indicam que a Pfizer teria admitido que a cada um milh�o de crian�as vacinadas com seu imunizante contra a covid-19 apenas duas seriam salvas e 179 teriam chance de ter miocardite.

Mas, na verdade, o artigo faz refer�ncia a dados vistos em uma an�lise da ag�ncia de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) e mistura as informa��es contidas no documento. A FDA, por sua vez, considera que os benef�cios da vacina superam os riscos para crian�as de 5 a 11 anos.
“Pfizer admite: a cada 1 milh�o de crian�as vacinadas, s� 2 ser�o salvas e 179 podem ter miocardite”, assinala o t�tulo do artigo publicado pelo site Brasil Sem Medo em 27 de dezembro de 2021, agora j� apagado.

No subt�tulo era assinalado: “Apesar do baixo custo benef�cio e dos constantes alertas, o experimento em crian�as com a vacina da Pfizer foi autorizado no Brasil pela Anvisa, que tem minimizado os riscos”.

O link e a captura de tela da mat�ria foram circularam amplamente no Facebook (1, 2), Instagram (1), Twitter (1) e Telegram (1).
Captura de tela feita em 10 de janeiro de 2022 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 10 de janeiro de 2022 de uma publica��o no Facebook ( . / )

Anteriormente j� havia sido compartilhado nas redes sociais uma tabela, ou um link, com a alega��o de que um “estudo da Pfizer, submetido ao FDA, estima q p/cada 1 milh�o de doses aplicadas,em crian�as de 05 a 11 anos,ser� evitado 01 morte. Neste mesmo universo,a cada milh�o de doses da Pfizer aplicadas, teremos 179 casos miocardites”.

O arquivo de onde os dados foram retirados � um documento informativo da FDA sobre o pedido de autoriza��o da Pfizer-BioNTech para administrar sua vacina contra a covid-19 em crian�as de 5 a 11 anos nos Estados Unidos.

Com data de 26 de outubro de 2021, ele re�ne os dados de seguran�a e efic�cia da vacina apresentados pela farmac�utica e as principais exig�ncias do �rg�o para aprovar o pedido - o que ocorreu em 29 de outubro.

A partir da p�gina 32 do documento, � detalhada uma an�lise de risco-benef�cio conduzida pela FDA ao avaliar a solicita��o da Pfizer. Nessa se��o, constam os n�meros citados nas redes em seu contexto original.

A an�lise da FDA


A FDA montou um modelo de previs�es para estimar quantas infec��es, hospitaliza��es, interna��es em UTI e mortes por covid-19 seriam evitadas a cada um milh�o de crian�as de 5 a 11 anos totalmente vacinadas contra o coronav�rus nos Estados Unidos.

O modelo tamb�m tinha como objetivo prever quantos casos de miocardite, hospitaliza��es, interna��es em UTI e �bitos atribu�dos � condi��o card�aca poderiam ser gerados ap�s a vacina��o, considerando a mesma quantidade de crian�as imunizadas.

O risco de miocardite foi avaliado uma vez que casos muito raros dessa inflama��o do m�sculo card�aco t�m sido reportados ap�s a segunda dose de vacinas de RNA mensageiro, como � o caso do imunizante da Pfizer. At� janeiro de 2022, as autoridades de sa�de seguiam investigando a poss�vel rela��o entre esse efeito e a vacina��o.

Para calcular a probabilidade desses riscos e benef�cios, a FDA estipulou seis cen�rios, com diferentes taxas de incid�ncia de covid-19 na popula��o, diferentes taxas de efic�cia da vacina, diferentes taxas de mortalidade e de casos de miocardite entre crian�as de 5 a 11 anos.

Para cada um desses cen�rios, foram estimadas quantas infec��es, hospitaliza��es, interna��es em UTI e mortes por covid-19 poderiam ser evitadas e quantos casos, hospitaliza��es, interna��es em UTI e mortes atribu�das � miocardite poderiam ser gerados. Os resultados foram reunidos nesta tabela:
Captura de tela feita em 11 de janeiro de 2022 da tabela elaborada pela FDA
Captura de tela feita em 11 de janeiro de 2022 da tabela elaborada pela FDA

Nas redes sociais, indica-se que apenas duas crian�as seriam “salvas” pela vacina da Pfizer. Esse n�mero pode ser visto na tabela 14 nos cen�rios 2 e 4, quando considerada apenas a imuniza��o de meninas. Em rela��o aos 179 casos de miocardite, essa cifra consta nos cen�rios de 1 a 5, ao levar em conta somente a vacina��o de meninos - g�nero mais afetado por essa condi��o card�aca.

As publica��es n�o mencionam, no entanto, que os dois cen�rios de imuniza��o de um milh�o meninas de 5 a 11 anos evitaria entre 54.345 e 57.938 novas infec��es por covid-19, enquanto a incid�ncia de miocardite seria de 32 casos.

Nas circunst�ncias que levam em considera��o a vacina��o de um milh�o de meninos de 5 a 11 anos, a vacina��o evitaria entre 44.790 e 57.857 novas infec��es por covid-19 - n�mero mais de 250 vezes superior aos 179 casos de miocardite previstos.

Ou seja, as postagens viralizadas comparam dados diferentes dentro de um mesmo estudo, j� que a preven��o de duas mortes em decorr�ncia do coronav�rus � vista no g�nero feminino, e os 179 casos de miocardite, no masculino.

Al�m disso, levando em considera��o os dois g�neros, o n�mero de hospitaliza��es por covid-19 que poderiam ser evitadas (entre 21 e 254) � consideravelmente maior do que o n�mero de hospitaliza��es por miocardite que poderiam ser geradas (9 e 98). De maneira semelhante, o modelo da FDA previu mais interna��es em UTI por covid-19 evitadas (entre 7 e 83) do que geradas por miocardite (5 e 57).

A FDA n�o previu, por fim, nenhuma morte por miocardite associada � vacina��o desta faixa et�ria em qualquer um dos cen�rios avaliados.

A ag�ncia norte-americana concluiu que, “no geral, os benef�cios da vacina superam seus riscos em crian�as de 5 a 11 anos de idade”.

Vacina��o no Brasil


No Brasil, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) autorizou em 16 de dezembro de 2021 a vacina��o com o imunizante da Pfizer para crian�as entre 5 e 11 anos com “dosagem e composi��o diferentes daquela utilizada para os maiores de 12 anos”.

Dados divulgados pela imprensa, pelo Minist�rio da Sa�de e por organismos de sa�de (1, 2, 3) mostram que as crian�as, de fato, t�m sido afetadas pelo novo coronav�rus.

A Organiza��o Mundial da Sa�de constatou em um comunicado de 24 de novembro de 2021 que, “no geral, h� proporcionalmente menos infec��es sintom�ticas e casos com doen�a grave e mortes por covid-19 em crian�as e adolescentes, em compara��o com grupos de idade mais avan�ada”. Contudo, esse grupo pode apresentar sintomas prolongados e at� mesmo sequelas agudas ap�s a infec��o, e que tais condi��es ainda est�o sob investiga��o.

Para o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Cient�fico de Imuniza��es da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), “os dados americanos, que s�o mais conservadores que os nossos - porque aqui se hospitaliza e se morre muito mais -, apontam para uma rela��o muito favor�vel de risco-benef�cio. Um benef�cio muito grande”, indicou � AFP.

“Quando se introduz uma vacina, n�o se introduz somente para prevenir morte. Muitas das vacinas do calend�rio infantil - catapora, caxumba, rub�ola, febre amarela, gripe - s�o [para] doen�as que matavam muito menos antes da introdu��o da vacina do que a covid-19 mata. E nem por isso a gente deixou de introduzir a vacina ou deixa de recomendar”, continuou o especialista.

“Voc� vacina para prevenir hospitaliza��o, sequela, sofrimento, dor, transmiss�o, uso de antibi�tico, ocupa��o de leito hospitalar. A carga da doen�a � muito grande”, acrescentou.
Um frasco da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19 visto em Madri, em 15 de dezembro de 2021
Um frasco da vacina da Pfizer-BioNTech contra a covid-19 visto em Madri, em 15 de dezembro de 2021 (foto: AFP / Oscar Del Pozo)

Estimativa “pr�-vida real”


Os 179 casos de miocardite citados nas redes s�o, al�m disso, uma “estimativa pr�-vida real”, destacou � AFP o pediatra e infectologista Marcio Nehab, do Instituto Nacional de Sa�de da Mulher, da Crian�a e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

“A FDA, quando aprovou, fez uma estimativa que n�o foi o que aconteceu na vida real. Esses dados n�o se comprovaram”, disse Nehab, encaminhando um documento dos Centros para o Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos de 13 de dezembro de 2021.

O arquivo re�ne os efeitos adversos reportados em crian�as de 5 a 11 anos desde o in�cio da vacina��o desta faixa et�ria nos Estados Unidos. Com mais de 7 milh�es de doses pedi�tricas aplicadas (5.126.642 primeiras doses e 2.014.786 segundas), foram reportados 14 casos de miocardite.

Desses, somente oito atenderam � defini��o de “caso de miocardite” dos CDC. Em seis dos casos com desfecho monitorado, cinco j� se recuperaram dos sintomas.

“A maior parte dos pacientes com miocardite ou pericardite que recebeu tratamento respondeu bem aos rem�dios e ao repouso e se recuperou rapidamente”, resumiram os CDC na se��o de seu site sobre esse poss�vel efeito adverso raro da vacina.

Mesmo que esses n�meros tivessem se confirmado, destacou Marcio Nehab, isso n�o quer dizer que eles seriam compat�veis com o cen�rio brasileiro.

“Para dizer isso voc� tem que fazer uma an�lise multifatorial. Ver como � o acesso � sa�de naquele pa�s - que � o maior problema nesse pa�s que a gente mora, diferente do deles -, quais s�o as condi��es sociais, raciais, de mobilidade urbana, de utiliza��o de medidas n�o farmacol�gicas - como utiliza��o de m�scaras, de lockdown, de distanciamento social -, ajuda econ�mica que voc� vai dar para a popula��o. Ent�o existem dezenas de fatores que enviesam a an�lise da FDA, nos Estados Unidos, para o Brasil”, explicou o pediatra e infectologista.

Os especialistas apontaram, ainda, que a chance de desenvolver miocardite � maior se a crian�a contrair a covid-19. “Lembrando que com a covid-19, o risco de miocardite � muito maior do que com a vacina”, comentou Renato Kfouri.

“Ent�o todos os pa�ses do mundo, mesmo conhecendo o risco desse evento rar�ssimo, mant�m a vacina��o entendendo que o n�mero de casos, hospitaliza��es, transmiss�o, s�ndrome inflamat�ria evitadas com a vacina��o supera de longe esse rar�ssimo evento adverso. [...] Sem d�vida, nenhum pa�s do mundo estaria vacinando suas crian�as se o risco fosse maior que o benef�cio”, concluiu.

O Checamos j� verificou outras alega��es (1, 2) sobre a vacina��o em crian�as contra a covid-19.


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