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Estado de Minas CHECAMOS

Documentos judiciais indicam que Maria da Penha foi baleada pelo ex-marido, n�o por assaltante

Entrevista de um psicanalista, compartilhada em redes sociais, afirma que Maria da Penha ficou na condi��o de cadeirante por causa de um assalto


01/07/2022 18:56 - atualizado 04/07/2022 09:00

'Foi um assalto na casa', disse um psicanalista sobre Maria da Penha, brasileira que deu nome � lei contra viol�ncia dom�stica. No v�deo da entrevista, compartilhado centenas de vezes nas redes sociais desde 5 de junho de 2022, ele explica que ela teria ficado parapl�gica ap�s uma tentativa de roubo. No entanto, nos autos do processo e na senten�a, o ent�o marido de Maria da Penha foi reconhecido como o autor dos disparos.

'Sabe por que ela [Maria da Penha] ficou cadeirante? Foi um assalto na casa. Os dois estavam l�. Ele levanta para saber o que estava acontecendo, o barulho, o marido. Um assaltante vai e d� um tiro na mulher e o outro ainda tenta esfaquear ele. Quem deu o tiro n�o foi ele [o marido], foi o assaltante, cara. Ela fica parapl�gica por conta de um assalto', diz Ricardo Ventura, convidado do '+1 Podcast', transmitido pela R�dio Jovem Pan. 

'Quantos de n�s sab�amos disto? A Maria da Penha ficou na cadeira de rodas devido a um assalto, n�o por culpa do marido', escreveu um usu�rio no Twitter (1, 2) ao compartilhar a sequ�ncia. 

Conte�do semelhante tamb�m circula no Facebook (1, 2, 3), Instagram (1, 2, 3), Kwai (1, 2), TikTok e YouTube.
Captura de tela feita em 29 de junho de 2022 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 29 de junho de 2022 de uma publica��o no Twitter ( . / )

No fragmento viralizado nas redes sociais, Ventura questiona o caso emblem�tico que deu origem � Lei 11.340/06, promulgada em 2006 e que 'cria mecanismos para coibir a viol�ncia dom�stica e familiar contra a mulher'

A vers�o sustentada por Ventura � a mesma da tese de defesa do acusado pelo crime e ex-marido de Maria da Penha, Marco Antonio Her�dia Viveros. 

A 1ª Vara do J�ri da Comarca de Fortaleza, no Cear�, unidade onde tramitou o processo � �poca, enviou ao AFP Checamos os documentos referentes � senten�a condenat�ria e � senten�a de pron�ncia, no qual o juiz admite e reconhece a acusa��o como sendo um crime contra a vida e encaminhando o julgamento para o Tribunal do J�ri.

Nos documentos judiciais estabelece-se que n�o havia ind�cios de assalto. A tese da defesa foi refutada pelo juiz na decis�o de pron�ncia do caso. 
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 do trecho da decisão de pronúncia pelo juiz, que encaminhou Viveros ao julgamento perante o Tribunal do Júri
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 do trecho da decis�o de pron�ncia pelo juiz, que encaminhou Viveros ao julgamento perante o Tribunal do J�ri ( . / )

O caso Maria da Penha


Em 1983, Maria da Penha Maia Fernandes foi baleada nas costas, enquanto dormia, pelo seu ent�o marido, Marco Antonio Her�dia Viveros, ficando parapl�gica devido a les�es irrevers�veis. 

Na �poca, o agressor declarou � pol�cia que o casal tinha sido v�tima de uma tentativa de assalto e que o tiro foi disparado por assaltantes que invadiram a resid�ncia do casal. Essa vers�o foi desmentida pela per�cia.
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 de trecho dos autos do processo
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 de trecho dos autos do processo ( . / )

Ao voltar para casa, Maria da Penha foi novamente v�tima de tentativa de feminic�dio por parte de Viveros. O ex-marido a manteve em c�rcere privado por duas semanas, per�odo em que tentou eletrocut�-la durante o banho. Ap�s essa segunda tentativa, ela levou o caso � Justi�a.

Maria da Penha esperou por oito anos at� o primeiro julgamento, que aconteceu em 1991, — na ocasi�o, seu ex-marido foi sentenciado a 15 anos de pris�o, mas a defesa recorreu da decis�o e Viveros foi colocado em liberdade. 

Em 1996, houve o segundo julgamento e Viveros foi condenado a 10 anos e 6 meses de pris�o, contudo, novamente, n�o cumpriu a pena. Entre 1997 e 2001, o recurso ficou estagnado no Tribunal de Justi�a do Cear� (TJ-CE) � espera de julgamento. O agressor de Maria da Penha foi preso em 2002, 19 anos ap�s o crime.
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 de trecho do acórdão que não deu provimento ao recurso de apelação do ex-marido de Maria da Penha
Captura de tela feita pelo Checamos em 23 de junho de 2022 de trecho do ac�rd�o que n�o deu provimento ao recurso de apela��o do ex-marido de Maria da Penha ( . / )

Legisla��o sobre viol�ncia dom�stica


Na �poca do caso de Maria da Penha, o Brasil n�o tinha uma legisla��o espec�fica para viol�ncia dom�stica ou feminic�dio.

O Brasil foi denunciado na Comiss�o Interamericana de Direitos Humanos por omiss�o em rela��o � viol�ncia dom�stica em um documento publicado em 4 de abril de 2001. 

'A Comiss�o considera que as decis�es judiciais internas neste caso apresentam uma inefic�cia, neglig�ncia ou omiss�o por parte das autoridades judiciais brasileira e uma demora injustificada no julgamento de um acusado, bem como p�em em risco definitivo a possibilidade de punir o acusado e indenizar a v�tima', diz um trecho do relat�rio.

O pa�s foi responsabilizado pela toler�ncia e omiss�o estatal sistem�ticas no tratamento de casos de viol�ncia contra a mulher. A Organiza��o dos Estados Americanos (OEA) recomendou ao governo brasileiro a ado��o de uma lei espec�fica que pudesse prevenir a viol�ncia dom�stica e proteger a mulher.

Em 2006, foi sancionada a Lei 11.340/06, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha, e criou mecanismos de combate e puni��o para agress�es contra mulheres.

O conte�do tamb�m foi checado pelo Aos Fatos, Estad�o Verifica e UOL.


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