Publica��es compartilhadas mais de 10 mil vezes nas redes sociais ao menos desde 19 de junho de 2022 apontam supostas altas taxas de absten��o como decisivas para a vit�ria da esquerda na Col�mbia, com Gustavo Petro, e no Chile, com Gabriel Boric.
� AFP, analistas locais apontaram esse como um dos fatores que impactaram nos resultados, ao contr�rio da absten��o.
'Em outubro n�o deixe de ir votar. A absten��o de votos fez a esquerda vencer no Chile e na Col�mbia', dizem as mensagens, compartilhadas no Facebook, Twitter e Instagram. 'Muito estranho ser� que a fraude est� nessas ABSTEN��ES!', indagam outros usu�rios.

Mas os n�meros mostram que as taxas de absten��o nos pleitos presidenciais de junho de 2022, na Col�mbia, e de dezembro de 2021, no Chile, foram mais baixas nos dois pa�ses se comparadas com as elei��es anteriores.
'Em nenhum desses dois pa�ses o resultado da elei��o vem da absten��o', comenta Marta Lagos, cientista pol�tica chilena e fundadora do �rg�o de medi��o da opini�o p�blica Latinobar�metro. Ela acrescenta que, na verdade, ocorreu o contr�rio:
'O resultado da elei��o em ambos os pa�ses vem do aumento da participa��o eleitoral, ou seja, da diminui��o da absten��o nos dois pa�ses. H� uma participa��o eleitoral extraordin�ria nos �ltimos 10 anos, portanto, � a diminui��o da absten��o que produz a diferen�a'.
Col�mbia
Mais de 22 milh�es de colombianos votaram no segundo turno da disputa presidencial entre Gustavo Petro, senador e ex-prefeito de Bogot�, e Rodolfo Hern�ndez, ex-governante de Bucaramanga, em 19 de junho de 2022. O n�mero corresponde a 58,09% de participa��o, um aumento se comparado �s elei��es de 2018, quando 53,11% sa�ram para votar no pa�s onde n�o h� essa obriga��o.

A elei��o de Petro, portanto, aconteceu em um contexto de maior participa��o, e n�o o oposto.
O �rg�o eleitoral colombiano ressaltou um marco hist�rico: 'No segundo turno presidencial de 2022, foi registrada a menor absten��o dos �ltimos 24 anos'.
Mauricio Jaramillo, professor da Faculdade de Estudos Internacionais Pol�ticos e Urbanos da Universidade do Ros�rio, na Col�mbia, afirmou � AFP que a absten��o � um fator importante na cultura pol�tica colombiana, e que em algumas elei��es ela foi relevante, mas n�o determinante. Ele disse que o resultado das �ltimas elei��es n�o pode ser atribu�do a isso 'de forma alguma'.
'Devemos lembrar que quase 58-59% da participa��o foi alcan�ada, e para a tend�ncia colombiana � um resultado not�vel, superado apenas pela elei��o de 1998, que teve um recorde hist�rico de participa��o', acrescentou Jaramillo.
Yann Basset, que leciona na mesma faculdade, concorda: 'Realmente, mais que a absten��o, � a participa��o e como se participou que explica o resultado'.
De acordo com Jaramillo, houve um engajamento de eleitores da esquerda para eleger um presidente desse espectro pela primeira vez na hist�ria do pa�s, aumentando a participa��o.
Isso se explica pelo fato de que, em geral, trata-se de um p�blico mais dif�cil de ser mobilizado em uma elei��o, comentou Basset.
'S�o os mais pobres nas periferias, s�o �reas mais distantes do centro do pa�s, no Pac�fico, no Caribe e no sul do pa�s. E s�o os jovens, que em geral votam menos', e que participaram mais nessa ocasi�o, disse o professor.
No entanto, de acordo com o �rg�o eleitoral, a taxa de absten��o geral teve uma redu��o de 4,24 pontos 'em rela��o ao segundo turno das elei��es presidenciais de 2018'. Portanto, n�o foi decisiva, como lembram os especialistas consultados pela AFP.
Chile
O caso do Chile, onde o voto passou a ser volunt�rio em 2012, foi similar. Nas elei��es presidenciais de 2021, encabe�adas pelo atual presidente, Gabriel Boric, e por Jos� Antonio Kast, mais de 8 milh�es de pessoas sa�ram para votar no segundo turno, n�mero equivalente a 55,64% dos eleitores habilitados.
Um movimento parecido com o que aconteceu na Col�mbia levou os chilenos a votarem em maior peso. 'Boric ganha porque consegue aumentar o n�vel de participa��o eleitoral. Em ambos os casos [Boric e Petro], mobiliza-se uma parcela do eleitorado que estava adormecida, que � o que produz a mudan�a na balan�a no segundo turno', explicou a chilena Marta Lagos.

Em 2017, mais de 7 milh�es de chilenos, 49,01% das pessoas habilitadas, votaram na disputa presidencial de segundo turno, o que equivale a cerca de 6 pontos percentuais a menos de participa��o em compara��o com o pleito de 2021.
'Boric foi o presidente com a maior quantidade de votos na hist�ria do pa�s e o segundo turno foi o pleito com maior participa��o desde o voto volunt�rio', destacou Gonzalo Espinoza, cientista pol�tico chileno e coordenador do Observat�rio Pol�tico Eleitoral da Universidade Diego Portales (UDP).
Ele citou algumas raz�es que explicariam por que a absten��o em elei��es chilenas recentes n�o favoreceu candidatos de determinado espectro pol�tico: 'Por um lado, se poderia supor que a quantidade de votos foi t�o grande que representou as prefer�ncias dos que se abstiveram. Portanto, n�o teria alterado o resultado. Por outro lado, as elei��es p�s-outubro de 2019 foram marcadas por campanhas que se polarizaram. Esse tipo de elei��o desperta o interesse dos cidad�os, levando as pessoas a se tornarem ativas e participarem politicamente'.
Assim, completou, quem n�o votou n�o o fez porque definitivamente n�o tem interesse em quest�es de pol�tica institucional, ou porque se absteve conscientemente.
A AFP j� verificou diversos conte�dos a respeito dos pleitos eleitorais na Col�mbia (1, 2, 3) e no Chile (1, 2, 3).
