Bras�lia – Joana de Souza Schmitz, 29 anos, engravidou da primeira filha em 2008. A gesta��o, segundo a jornalista, foi planejada e chegou mais r�pido que o esperado. Mas a surpresa maior veio quando se completaram as 12 semanas de gravidez – o feto foi diagnosticado com anencefalia, um tipo de malforma��o rara do tubo neural.
A menina nasceu com 1,775 quilo e 38 cent�metros. Aos quatro meses, enfrentou uma cirurgia de fechamento do cr�nio, na tentativa de reduzir os riscos de infec��o. “Desde que veio para casa, surgiram outros desafios. � uma crian�a com uma defici�ncia neurol�gica grande, mas ningu�m a trata como caso perdido”. Atualmente, Vit�ria faz fisioterapia, fonoterapia, come alimentos s�lidos e reage a est�mulos por meio do uso de m�sica e brinquedos.
“A conclus�o a que a gente chega � que ela tem muita vontade de viver. Ela sente esse amor e � uma alegria ver que ela quer ficar com a gente. N�o obrigamos Vit�ria a nascer e a viver. Foram cuidados paliativos que tomamos e ela sempre respondeu muito bem”, disse Joana. “Durante a gravidez, senti que era melhor continuar. J� a am�vamos antes do diagn�stico e esse amor n�o podia mais diminuir.”
Patr�cia Oliveira*, 32 anos, tamb�m precisou tomar uma decis�o depois de receber a not�cia de que o beb� que carregava na primeira gesta��o n�o sobreviveria. Na �poca, com 29 anos, a executiva de eventos esperava saber o sexo do beb� quando recebeu o diagn�stico de anencefalia do feto. “Naquele momento, eu desabei. O ch�o se abriu”, contou. Poucos dias depois, aos tr�s meses de gesta��o, ela optou por interromper a gravidez.
Os pais de Patr�cia vieram de S�o Paulo para acompanhar todos os procedimentos m�dicos a que a filha seria submetida. Ela precisou tomar medicamentos para induzir o nascimento do feto. Ao todo, foram 24 horas de trabalho de parto. O obstetra que cuidou do caso n�o permitiu que uma cesariana fosse feita para que a cicatriz f�sica n�o existisse.
“Me perguntaram se eu queria ver o beb�, mas eu estava com o rosto virado. Senti apenas o contato com a pele. Pedi que n�o fosse feita bi�psia e que ele fosse despachado junto com o lixo hospitalar.”
Depois do parto, como a placenta n�o havia sido expulsa, Patr�cia passou por uma curetagem. Ao final, ela teve de amarrar uma faixa para que os seios n�o crescessem e tomou rem�dio para secar o leite. Passados quase tr�s anos, Patr�cia hoje se arrepende de ter feito o aborto. “Enfrentaria os nove meses para ficar com ele por uma hora ou por alguns minutos. Mas a mulher tem que ser muito corajosa, muito autossuficiente para isso. N�o seria f�cil, seria uma luta di�ria, uma barra, como quem tem filho com paralisia infantil”, disse.
J� a microempres�ria C�tia Corr�a, 42 anos, defende com firmeza a decis�o que tomou h� 20 anos, quando interrompeu a gesta��o do filho que esperava, diagnosticado com anencefalia. Um ultrassom, feito no quinto m�s de gravidez, identificou a malforma��o, al�m de deforma��es na coluna vertebral, nas pernas e nos bra�os do beb�.
“Meu mundo parou. Os m�dicos falavam, mas eu j� n�o ouvia nada. Eles diziam que ou morreria na barriga ou nasceria e morreria no parto”, contou. C�tia foi a primeira mulher no estado de S�o Paulo a conseguir uma autoriza��o judicial para abortar um feto com anencefalia. “� uma sensa��o muito ruim a de querer o seu filho e saber que ele vai nascer morto. Entrar na Justi�a foi minha melhor decis�o”, completou.
Passados quatro anos, ela decidiu engravidar novamente. Atenta a todas as precau��es, a empres�ria tomou �cido f�lico durante os tr�s meses que antecederam a gesta��o e nos quatro meses seguintes.
Montou o quarto do beb�, fez enxoval e se preparou para a chegada da filha. No oitavo m�s, um ultrassom que n�o havia sido feito anteriormente por falta de plano de sa�de identificou anencefalia no feto.“Morri mais um pouco naquele dia. Sa� de l� e n�o via nada, s� chorava. N�o tinha o que fazer, tinha que esperar nascer. Passados alguns dias, entrei em trabalho de parto”, relatou. A crian�a morreu em seguida. C�tia engravidou uma terceira vez, mas sofreu um aborto espont�neo. Hoje, vive com o marido e os quatro filhos que adotou – dois meninos de 9 e 10 anos e g�meas que completam 5 anos em maio.“Faria tudo de novo. Ainda sou contra o aborto quando a m�e n�o quer o beb�. Acho um absurdo porque muitas mulheres querem e n�o podem. Mas digo, sim, para o aborto de anenc�falo, pelas minhas pr�prias dores.”