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Estado de Minas

Trabalhadores est�o entre as v�timas da onda de viol�ncia em S�o Paulo


postado em 24/11/2012 09:02

Os tr�s vizinhos mortos durante a chacina da �ltima quarta-feira em um bar do Jardim Boa Vista, zona sul da capital paulista, t�m em comum hist�rias de pessoas trabalhadoras que tinham muitos sonhos. A mais jovem entre eles, a promotora de eventos Luciene Luzia Neves, de 24 anos, era integrante de um grupo de jovens da Igreja Cat�lica que ajudava a recuperar ex-presidi�rios e viciados em drogas.

Entre os amigos, conhecidos e parentes que participaram do enterro de Luciene hoje (23) pela manh�, no Cemit�rio Memorial Parque das Cerejeiras, zona sul, estava Kelly Vaz Nogueira, de 27 anos. A amiga, que trabalha como auxiliar administrativo, frequentava a mesma igreja, no bairro de Piraporinha.

Kelly tinha um motivo especial para estar presente na �ltima homenagem � colega. Naquele mesma sala em que a amiga era velada, h� um m�s e meio, a auxiliar administrativo chorava a morte do seu irm�o, Leonardo Vaz Nogueira, 28 anos. “� dif�cil estar aqui, porque aqui o Leonardo tamb�m foi enterrado e velado. Mas n�s estamos aqui para nos unir, todas as fam�lias que perderam [pessoas] dessa forma tr�gica, para a gente fazer justi�a”, disse.

Assim como Luciene, Leonardo foi morto a tiros por ocupantes de uma moto. Segundo a m�e do rapaz, a professora Adais Vaz Nogueira, 55 anos, ele foi executado � noite, enquanto deixava a namorada na casa dele, na zona sul da capital. “O passageiro da moto passou atirando e a moto caiu por cima dele e da namorada. Ela se levantou, eles viram. Da� os [assassinos] voltaram, ela pediu para n�o atirar, mas atiraram contra ela, que foi atingida de rasp�o. Meu filho morreu no local”, disse. Leonardo trabalhava como gar�om e cursava o �ltimo semestre de radiologia

O pai de Leonardo, Jos� Luis Vaz Nogueira, 58 anos, aposentado, n�o se conforma com o fim tr�gico do filho. “Meu filho era trabalhador, estudante, estava quase para se formar. Era um menino do bem. Na periferia tem trabalhadores, pessoas honestas. N�o tem s� vagabundo e bandido”, disse. Jos� relatou que a rotina da fam�lia e de toda a vizinhan�a mudou. “Estamos atentos, com medo. Tenho outros tr�s filhos. Quando eles saem da faculdade, eu ligo para saber se est�o saindo. N�o durmo enquanto eles n�o chegam”.

Segundo o �ltimo balan�o da Secretaria de Estado de Seguran�a P�blica, 176 pessoas foram assassinadas em outubro de 2012, um aumento de 114% em rela��o ao mesmo m�s de 2011. A vizinhan�a, que antes das execu��es era calma, agora est� assustada.

A reportagem da Ag�ncia Brasil conversou com moradores da Rua Albino Correia de Campos, onde ocorreu a chacina. Donos de bares, que antes encerravam o expediente depois da meia-noite, dizem agora que ir�o fechar as portas antes das 19 horas. � noite, o medo predomina.

Para o mec�nico Amaro Assun��o, 62 anos, considerado por Luciene como um segundo pai, a vizinhan�a n�o ser� mais a mesma. A promotora de eventos ia � casa de Amaro com frequ�ncia. “Ela era uma pessoa maravilhosa, alegre, feliz, contente com tudo. Muito divertida, sincera. Uma pessoa excelente”, disse. Na �ltima vez em que a viu, no �ltimo s�bado, Luciene estava feliz. “Ela era muito carinhosa comigo”.

Outro amigo, Robson Rodrigues, 27 anos, analista de redes, lamenta a morte de Luciene antes de se casar. “Ela ia ser madrinha do meu casamento, que ser� em maio de 2013”. Robson participa h� cinco anos do mesmo grupo de jovens que luta contra a viol�ncia com Luciene. “L� ela n�o tinha uma fun��o espec�fica, ela se doava ao grupo”, disse. Nos encontros, os membros buscavam como principais objetivos a dissemina��o da paz.

Robson declarou que, ap�s a morte da amiga que conhecia h� seis anos, vai estudar direito para trabalhar na �rea criminal. “Quero fazer justi�a em casos como esse. Eu n�o vou ficar indiferente a isso. N�o quero me aliar � guerra, mas quero tomar consci�ncia da paz. Eu resolvi encarar essa paz de frente, sem que haja viol�ncia”.

O analista de redes tem boas recorda��es de Luciene. “Ela sempre foi uma pessoa muito extrovertida, muito brincalhona, muito amiga de todo mundo. D� para perceber pelo tanto de gente que est� aqui [no vel�rio]”, disse.

A amiga Juliana Martins, 21 anos, designer, trabalhava na mesma empresa que Luciene, uma gravadora musical voltada para o p�blico cat�lico. No trabalho, Luciene cuidava da parte comercial e das produ��es de shows e eventos. “Ela era uma pessoa totalmente �nica, alegre, feliz, simp�tica, muito bem humorada. Eu acho que justi�a � uma coisa que precisa acontecer porque ela n�o merecia nada disso”.

No dia da morte da promotora de eventos, elas haviam passado a data toda praticamente juntas e foram ao shopping passear, antes de Luciene voltar para casa. “Nesse dia, � impressionante dizer, mas ela estava muito feliz. Eu nunca vi a Luciene triste. Ela � o tipo de pessoa que a gente n�o v� chorando, reclamando da vida”, disse.

Luciene adorava ir �s missas do padre Marcelo Rossi. “�amos juntas todas as quintas-feiras”, disse a amiga administradora Talita Macedo, 25 anos. Segundo Talita, os planos para o futuro da amiga envolviam fazer curso superior. “Ela pretendia voltar a fazer faculdade, ela chegou a come�ar dois cursos, mas trancou”, disse.

No momento em que Luciene era sepultada, os outros dois mortos na chacina tamb�m era velados, no mesmo cemit�rio. Um deles, Marcos Faustino Quaresma, 31 anos, era eletricista de autom�veis e tinha uma oficina mec�nica. “Ele sonhava ampliar a oficina dele. Estava animado para crescer o neg�cio”, disse o irm�o da v�tima, Elias Faustino, 34 anos. “Ele era uma pessoa tranquila, n�o era envolvido com nada errado. Uma pessoa que trabalhava, tinha fam�lia, uma filha de 7 anos”.

De acordo com o irm�o, Marcos havia parado no bar para tomar uma cerveja depois do trabalho. No estabelecimento, haveria um show de m�sica sertaneja.

O vendedor Edson Alves dos Santos, 55 anos, conhecia a outra v�tima, Alexandre Figueiredo, 38 anos, desde crian�a. Pai de duas filhas, Alexandre estava noivo e planejava se casar em breve. Ele dividia-se entre o trabalho e os cuidados com a m�e idosa, que precisava constantemente ser levada ao m�dico.“Ele era fora de s�rie. Um cara de fazia festas na sua casa, brincalh�o com todo mundo. O cara era dez”, disse o amigo, emocionado.


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