Na semana passada, dois casos de viol�ncia policial em S�o Paulo, bem parecidos, tiveram respostas e press�o sobre as autoridades bem diferentes. E refor�am o desafio de que as for�as de seguran�a e a imprensa est�o enfrentando para lidar com a “viol�ncia espetacular”, que vem se consolidando como a forma mais eficiente de fazer reverberar os protestos que passariam em branco se ocorressem pacificamente.
Passou pelos estudantes em junho, ganhou for�a com os atos black blocs a partir de julho e culminou em sequestros de cachorros e inc�ndios a �nibus. Na segunda-feira, 28 de outubro, assustaram a popula��o e autoridades quando criminosos comuns usaram a t�tica para parar a Rodovia Fern�o Dias e praticar assaltos.
O primeiro registro ocorreu no s�bado, 26, perto das 15 horas, quando o cabeleireiro Severino Paulo de Oliveira, de 49 anos, foi atingido por um disparo enquanto colocava comida na gaiola do can�rio. Ele notou um corre-corre na viela em que morava, no Parque Regina, na zona sul da capital. Dois policiais perseguiam tr�s meninos suspeitos de roubo. Na vers�o das testemunhas, os PMs dispararam duas vezes. Uma das balas atingiu o cabeleireiro, que chegou a ser levado ao hospital, mas morreu no caminho.
No dia seguinte, no extremo norte de S�o Paulo, no Parque Edu Chaves, o estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, morreu ao ser atingido por um disparo. O policial alegou que o tiro foi acidental. Nos dois casos, familiares se indignaram e foram para as ruas depois do enterro. Na ocorr�ncia da zona sul, cerca de 40 pessoas pararam a Avenida Giovanni Gronchi e caminharam at� a Avenida Jo�o Dias, com cartazes e fotografias do cabeleireiro.
Na zona norte, a manifesta��o come�ou pac�fica, mas acabou fugindo ao controle dos parentes. Pessoas se aproveitaram dos protestos para colocar fogo em �nibus e roubar motoristas e acabaram criando imagens espetaculares na televis�o e nos jornais. A pol�cia agiu r�pido e prendeu o policial, que confessou e foi indiciado por homic�dio culposo.
O caso repercutiu nas redes sociais e a presidente Dilma Rousseff se solidarizou com os familiares da v�tima. “Nessa hora de dor, presto minha solidariedade � fam�lia e aos amigos. Assim como Douglas, milhares de outros jovens negros da periferia s�o v�timas cotidianas da viol�ncia. A viol�ncia contra a periferia � a manifesta��o mais forte da desigualdade no Brasil”, escreveu a presidente.
Na zona sul, depois do protesto pac�fico, os manifestantes voltaram para suas casas e passaram a temer os policiais envolvidos no caso. Apesar dos diversos testemunhos de moradores de que n�o houve tiroteio, os PMs alegaram que revidaram os tiros dos jovens e continuam soltos. Foi aberto um inqu�rito policial-militar, que aguarda o resultado das per�cias para tomar uma decis�o.
“Defendemos uma manifesta��o pac�fica porque quebrar tudo n�o iria trazer o Paulo de volta. Mas fica a d�vida. Ser� que se a gente partisse para o quebra-quebra as respostas seriam diferentes?”, indaga um parente do cabeleireiro, que pediu para n�o ser identificado, com medo de repres�lias.
“Muitos black blocs j� me disseram que, para eles, a viol�ncia � a �nica forma de express�o pela qual, de fato, s�o ouvidos. � dif�cil contestar esse racioc�nio. Se a imprensa s� d� voz �s formas de protesto violentas, se o governo reage com mais for�a diante do fator viol�ncia, como impedir que a viol�ncia se torne uma forma de protesto generalizada? A viol�ncia como forma de protesto n�o estaria sendo legitimada e refor�ada por toda a sociedade que joga o jogo da espetaculariza��o?”, pergunta a professora Esther Solano, que pesquisa os black blocs, professora de Rela��es Internacionais da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp).
Pena
O promotor Marcelo Barone, que participa das investiga��es sobre os protestos ao lado das Pol�cias Militar e Civil, concorda que as for�as de seguran�a est�o tendo dificuldades para lidar com os protestos violentos. Aponta dificuldades para investigar pessoas mascaradas e para conseguir juntar provas que mostrem a associa��o entre os integrantes dos grupos envolvidos, o que permitiria enquadr�-los por associa��o criminosa.
Foi essa a linha seguida pelo secret�rio de Seguran�a, Fernando Grella Vieira, no encontro com o ministro da Justi�a, Jos� Eduardo Cardozo. Ele prop�s aumento de pena para crimes de danos e para quem agredir policiais.
