
A decis�o de assumir a homossexualidade ainda � um processo complicado para muita gente, independentemente da idade. No entanto, admitir depois dos 50 anos, ap�s um casamento convencional e filhos, tem um peso diferente. A preocupa��o passa a ser a exposi��o dos filhos e a manuten��o de um relacionamento familiar saud�vel. Apesar do preconceito, que ainda � forte, um n�mero crescente de pais e av�s tem sa�do do arm�rio provando que n�o h� idade para ser feliz e revelar sua verdadeira orienta��o sexual.
“Essas pessoas j� sabiam, de alguma forma, tinham esse desejo, essa orienta��o, mas por press�o social, para n�o decepcionar a fam�lia, elas desenvolvem uma atitude heterossexual, guardam o desejo. Quando os filhos crescem, j� cumpriu com aquilo que � esperado socialmente, se casou, ent�o, ela consegue viver sua pr�pria orienta��o. � mais dif�cil, mas � libertador da mesma forma”, explica o psic�logo Claudio Picazio.
Esse � o caso de Andr� (nome fict�cio), de 52 anos, pai de uma crian�a e dois adolescentes. Ele diz que sempre quis ter uma fam�lia e por muito tempo abdicou de um desejo por outro. “Desde cedo percebi a situa��o, mas me atra�a mais a ideia de construir uma fam�lia convencional. Depois que decidimos nos separar, resolvi explorar esse lado da sexualidade. Muita coisa havia mudado, pelo menos na esfera social em que vivo”.
H� tr�s anos em uma uni�o est�vel, ele ainda evita demonstra��es p�blicas de afeto e exposi��o por causa dos filhos. “Eles tomaram conhecimento aos poucos e foram se acostumando com a situa��o. Hoje, encaram tudo com certa naturalidade, mas como vivemos em uma sociedade preconceituosa, procuro evitar exposi��o. N�o me sinto � vontade para trocar carinho em locais p�blicos. Acho bonito ver tantos jovens lidarem com isso com naturalidade, apesar de vivermos em uma sociedade bem preconceituosa”, relata.
Com os filhos adultos, o processo de assumir a orienta��o sexual foi natural para a aposentada Thusnelda Frick, 63 anos. “Me apaixonei e conversei com eles. Eu disse: estou com 53 anos e n�o tenho tempo para esperar. O futuro � hoje e eu quero ser feliz hoje. Depois de um ano, resolvemos viver juntas. N�o foi nada surpreendente, para eles � perfeitamente natural”, conta.
Casada por oito anos com um homem por quem, segundo ela, foi profundamente apaixonada, o relacionamento n�o deu certo e ela reencontrou o amor na rela��o com Patr�cia Fernandes, 53 anos. “A oportunidade de me apaixonar pela Patr�cia aconteceu. Ela � amadurecida, temos uma identifica��o cultural muito forte, compartilhamos os mesmos interesses. Sou movida por paix�es, tenho que me envolver e com ela foi isso”. Elas est�o juntas h� 11 anos.
Rela��es familiares
A coragem de viver a verdadeira orienta��o sexual tem criado novas configura��es familiares, alterando o significado da palavra fam�lia. Laura (me fict�cio), de 57 anos, conta que assumir a transexualidade, h� oito anos, n�o impediu que ela se relacionasse com os parentes. “At� hoje n�o houve, literalmente, uma separa��o entre meus filhos, minha ex-esposa e eu porque ainda moramos juntos. At� um ano atr�s, dormia na mesma cama com minha ex, mas ela resolveu dormir em quarto separado por quest�es religiosas”.
Para Maria Berenice Dias, presidente da Comiss�o Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB, no caso de transexuais a aceita��o costuma ser mais dif�cil por causa da visibilidade. “A crian�a, no caso, passa a ter duas m�es, ou dois pais. A pessoa que se assumiu trans troca o nome e d� para trocar tamb�m o nome na certid�o de nascimento da crian�a”, explica.
O Brasil avan�a lentamente rumo a uma legisla��o mais inclusiva. A uni�o homoafetiva � uma realidade no pa�s desde 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a uni�o homossexual � heterossexual. H� quatro anos, foi aprovada a Resolu��o nº 175 do Conselho Nacional de Justi�a, que impede os cart�rios brasileiros de se recusarem a converter uni�es est�veis homoafetivas em casamento civil. A Dinamarca foi o primeiro pa�s a fazer isso, em 1989. Atualmente, 26 pa�ses possuem legisla��o que permite a uni�o civil entre pessoas do mesmo sexo.
Desde 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) registrou um aumento de 51,7% nos casamentos gays. Entre 2014 e 2015, cresceu mais do que a formaliza��o do compromisso entre casais heterossexuais. Enquanto as uni�es entre h�teros aumentaram 2,7%, as uni�es igualit�rias cresceram 15,7%.
*Estagi�rias sob supervis�o de Paulo Silva Pinto