
Rio, 14 - A fam�lia da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada h� um m�s no Rio de Janeiro, deve se reunir com a pol�cia na segunda-feira, 16, para ter informa��es sobre as investiga��es. Neste s�bado, 14, durante as manifesta��es para marcar um m�s do crime, tanto a irm� da vereadora, Anielle Franco, quanto o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) disseram que n�o h� prazo mas que � importante fazer justi�a e informar a fam�lia sobre o que est� sendo feita.
O deputado lembrou que o assassinato da ju�za Patr�cia Acioly, que tinha muito mais ind�cios para pautar a linha de investiga��o, foi elucidado em dois meses. Ent�o, as investiga��es da morte da vereadora ainda est�o correndo dentro do previsto.
Neste s�bado pela manh�, Freixo e a fam�lia participaram da missa de um m�s da vereadora, na antiga S�, no Centro do Rio. Al�m da irm�, que j� havia participado do "Amanhecer com Marielle", no Largo do Machado, o pai Antonio Francisco da Silva, a m�e Marinete Franco e a filha Luyara Santos, al�m de parentes e vizinhos.
"Quem matou e quem mandou matar Marielle?"

Um m�s depois de Marielle Franco ser assassinada, com quatro tiros, aos 38 anos, em uma rua do Est�cio, perto do centro carioca, sua mem�ria � cultivada por sua fam�lia em um apartamento em Bonsucesso, na zona norte do Rio. Ali, � poss�vel ver os vest�gios da curta vida da parlamentar, das brincadeiras da afilhada, Mariah, de 2 anos, muito jovem para entender o que aconteceu � madrinha, aos porta-retratos com as fotos em que a ativista aparece sorridente, espalhados pelas estantes. Sua fam�lia continua sem a resposta que espera desde 14 de mar�o. Querem saber quem matou Marielle.
"A gente precisa saber quem foi. Faz um m�s, d� muita ang�stia e preocupa��o. A fam�lia quer essa resposta e a sociedade tamb�m", diz o pai, seu Ant�nio. Ele ainda est� voltando � rotina na vendinha na Baixa do Sapateiro, no Complexo de Favelas da Mar�, perto dali, onde vende doces, cerveja e refrigerantes para se manter ocupado.
O ataque tamb�m matou o motorista do carro em que Marielle estava, Anderson Gomes, de 39 anos. �nica sobrevivente, a assessora que acompanhava a vereadora deixou o Pa�s. Segundo integrantes do PSOL, ela tomou a decis�o com receio de sofrer retalia��es de criminosos.
Em depoimento, ela relatou n�o ter notado a aproxima��o dos atiradores. A sobrevivente se abaixou para tentar se proteger e Marielle, que usava cinto de seguran�a, tombou sobre ela. O ve�culo, que trafegava devagar, seguiu desgovernado at� que a pr�pria assessora conseguiu se esticar e acionar o freio de m�o.
"Quem fez isso n�o imaginou a repercuss�o que teria e planejou t�o bem que a pol�cia est� tendo muita dificuldade para resolver. Se foi mil�cia (principal linha de investiga��o atualmente), cria muita revolta. Se n�o tiver medida de conten��o, eles v�o dominar o Rio futuramente", acrescenta seu Ant�nio.
A quarta-feira (quando o jornal O Estado de S. Paulo esteve na resid�ncia) � o momento mais dolorido da semana, aponta a irm�, Anielle. Foi o dia em que, de ca�ula, ela passou a filha �nica. Professora, Anielle estaria com Marielle no evento na Casa das Pretas, depois do qual, no caminho para casa, ocorreu o assassinato. Luyara, a filha da vereadora, de 19 anos, tamb�m iria.
"S� n�o fomos porque est�vamos as duas com conjuntivite e n�o quer�amos passar para ela, que iria para (a universidade norte-americana de) Harvard para uma palestra em abril.
Poder�amos ter morrido tamb�m", lembra Anielle. "Eu e minha m�e fomos depor semana passada, e me pareceu que a pol�cia est� fazendo um trabalho s�rio. Ningu�m imaginava o que aconteceu. Uma bala que matasse o (deputado Marcelo) Freixo (PSOL) seria esperada. A luta tem sido o meu luto."
Freixo est� jurado de morte h� dez anos - desde que presidiu a CPI da Assembleia Legislativa do Rio sobre as mil�cias, que resultou em mais de 200 indiciados e na pris�o de algumas das principais lideran�as milicianas. Trabalhou com Marielle depois, em seu gabinete e na Comiss�o de Direitos Humanos da Alerj, que preside. Soci�loga, ela nunca fora amea�ada, nem antes nem depois de se eleger vereadora, em 2016. Foi a quinta mais votada (com 46 mil votos) da C�mara Municipal, que agora vai aprovar seus projetos pendentes, uma homenagem p�stuma.
"Foi uma a��o muito bem planejada. Um dos crimes contra a democracia mais graves da hist�ria do Rio, � imposs�vel n�o ser solucionado", acredita Freixo. Ele perdeu, al�m de um quadro importante para seu partido, que seria candidata a vice-governadora em outubro, uma amiga pr�xima, a quem tinha como filha. "Hoje (anteontem) � meu anivers�rio, e Marielle planejou todas as minhas �ltimas festas. O tempo da nossa ang�stia n�o � o da investiga��o, da raz�o. Talvez n�o seja esclarecido nem em dois meses."
O vereador Tarc�sio Motta (PSOL), cujo gabinete fica ao lado do que era ocupado por Marielle, diz que o clima entre os vereadores tamb�m � de muita ang�stia. "Quem matou Marielle? Quem mandou matar e por qu�? Essas perguntas n�o saem da nossa cabe�a e essa falta de respostas � de uma ang�stia dilacerante; essas indefini��es nos deixam todos com medo", diz.
A fam�lia n�o pensa em processar o Estado, at� por n�o saber de quem partiram os tiros. Ainda est� retomando a vida, paralisada h� um m�s. "� muito pouco tempo e, ao mesmo tempo, mudou tudo. Catorze de mar�o parece que vai ser sempre o dia anterior. N�o consigo pensar no pr�ximo passo, n�o sei dizer 'sim' ou 'n�o' para nada, tudo � 'n�o sei'", conta Anielle.
A irm� da vereadora vem se mantendo � frente da tomada de decis�es, com a vi�va, a arquiteta Monica Ben�cio, para poupar os pais e a sobrinha. O domingo de P�scoa foi um dia especialmente penoso. Era um h�bito da fam�lia toda ir - todos juntos - � missa na Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso, perto da casa dos pais, ou na Santa Afonso, mais pr�xima de onde Marielle morava com Monica e Luyara. "J� est�vamos pensando onde ir�amos almo�ar depois", rememora seu Ant�nio. "Fomos aqui perto mesmo e rezamos por ela." (Renata Batista, Roberta Pennafort e Roberta Jansen)