(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Em vulnerabilidade, ciganos temem efeitos da pandemia em comunidades

Fam�lias sofrem despejo e veem contamina��o por COVID-19 aumentar


12/07/2020 12:09 - atualizado 12/07/2020 12:19

(foto: F�bio Rodrigues Pozzebom/Arquivo/Ag�ncia Brasil)


A hist�rica situa��o de vulnerabilidade das comunidades ciganas no Brasil tem cobrado seu pre�o durante a pandemia do novo coronav�rus. Al�m dos casos de expuls�es de fam�lias acampadas, ciganos t�m relatado falta de assist�ncia social e sanit�ria por parte do poder p�blico e aumento dos casos da covid-19, doen�a causada pelo novo coronav�rus. N�o h� um balan�o oficial, mas levantamento do Instituto Cigano no Brasil (ICB), entidade com sede em Caucaia (CE), aponta que, at� agora, um total 13 ciganos, em pelo menos oito estados, morreram ap�s contrair a infec��o. Esse n�mero, no entanto, pode estar subestimado.

"A gente tinha o temor de que o primeiro cigano adquirisse o v�rus. Os ciganos, mesmo aqueles que n�o moram em acampamentos, geralmente ficam todos juntos, moram sempre no mesmo bairro, em casas pr�ximas. Dificilmente voc� v� um cigano morando isoladamente e isso faz com que o v�rus, uma vez sendo contra�do por uma pessoa, rapidamente se dissemine", afirma Jucelho Dantas da Cruz, cigano da etnia Calon e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia. 

Em Cama�ari, regi�o metropolitana de Salvador, um surto da covid-19 em um bairro com grande concentra��o de ciganos mobilizou uma rea��o coletiva ap�s a suspeita de que cerca de 40 pessoas haviam sido contaminadas, no final de maio. "Depois que a gente denunciou publicamente e cobramos a��o da prefeitura, eles vieram ao bairro fazer os testes. S� da minha fam�lia, foram dez contaminados. Desses, tr�s t�m comorbidades. Foram duas semanas de muita tens�o. Tr�s de meus irm�os foram internados, al�m da esposa de um deles. Todos se recuperaram, voltaram para casa e ficaram reclusos. Os outros que tiveram teste positivo ficaram assintom�ticos", relata Jucelho.

Homenagem


Presidente do Instituto Cigano do Brasil, Rog�rio Ribeiro, tamb�m da etnia Calon, criou uma p�gina nas redes sociais para registrar as mortes de ciganos v�timas da covid-19. "O objetivo � tirar da invisibilidade cidad�os que t�m fam�lia, hist�ria e deixaram um legado ap�s a morte", explica. 



Entre as v�timas da covid-19 est� o m�sico Antonio Ferreira dos Santos, conhecido como Cigano Barroso, de 62 anos, que morreu na cidade Sobral (CE), no dia 2 de junho, ap�s passar uma semana internado na Santa Casa da cidade. 

Na Bahia, o comerciante Lomanto Marques, de 57 anos, morreu no dia 12 de junho, depois de ficar 21 dias no hospital Portugu�s, na capital Salvador. Ele era da comunidade cigana de Cama�ari.

Ciganos jovens, fora do grupo de risco et�rio para a covid-19, tamb�m est�o entre os mortos pela doen�a, segundo levantamento do ICB. � o caso de Velodia Joce Blado, de 36 anos, cigano da etnia Rom, que faleceu no in�cio do m�s passado, em Guarulhos (SP). No Esp�rito Santo, a estudante cigana Dayana Soares Galv�o, de 24 anos, tamb�m morreu em decorr�ncia de infec��o pelo novo coronav�rus. 



Al�m da distribui��o de cestas b�sicas, os ciganos t�m cobrado apoio para aquisi��o de material de higiene. "Temos pedido a distribui��o de produtos para fazer a desinfec��o. Existem muitas fam�lias ciganas pobres, sem condi��es de comprar produtos de higiene", afirma Ribeiro. 

A��es


Na Bahia, onde tr�s ciganos j� morreram e estimativas indicam que centenas j� foram contaminadas, o governo estadual prometeu a distribui��o de m�scaras para comunidades tradicionais. "Atualmente, a Secretaria de Promo��o da Igualdade Racial (Sepromi) tem trabalhado na distribui��o de 150 mil m�scaras de tecido, por meio de entidades representativas dos segmentos, a��o que alcan�ar� mais de 600 comunidades tradicionais e das periferias", informou a pasta, em nota enviada � reportagem.

Mortes por covid-19 entre os povos ciganos
Mortes por covid-19 entre os povos ciganos (foto: Divulga��o/ICB)


Em �mbito nacional, as pol�ticas de inclus�o social de povos e comunidades tradicionais s�o articuladas pela Secretaria Nacional de Pol�ticas de Promo��o da Igualdade Racial (SNPIR) do Minist�rio da Mulher, da Fam�lia e dos Direitos Humanos (MMFDH). Procurada pela Ag�ncia Brasil, a pasta informou que, no caso espec�fico dos ciganos, "tem buscado promover a��es de apoio � popula��o vulner�vel diante do enfrentamento ao novo coronav�rus, por meio do fortalecimento de institui��es sem fins lucrativos que atuem com trabalho volunt�rio na sociedade". Sobre a distribui��o de cestas b�sicas, a pasta disse que a prioridade tem sido dada para �reas ind�genas e territ�rios quilombolas, mas que parcerias com governos estaduais t�m sidos realizadas para atender aos ciganos. "As cestas b�sicas distribu�das foram destinadas aos povos ind�genas e comunidades quilombolas. Entretanto, iniciativas do programa P�tria Volunt�ria, dos entes estaduais e dos entes municipais, focaram, tamb�m, no atendimento aos ciganos", acrescentou.

Ciganofobia: preconceito e expuls�es


Epis�dios de racismo e preconceito fazem parte do cotidiano das comunidades ciganas h� v�rias d�cadas, mas o contexto da pandemia agravou esse cen�rio, principalmente para as fam�lias que ainda mant�m as caracter�sticas de itiner�ncia, transitando entre diferentes acampamentos de tempos em tempos. 

Ao menos tr�s casos de expuls�o de fam�lias de acampamentos foram registrados em munic�pios do interior do pa�s. Em abril, cerca de 100 fam�lias de ciganos foram proibidas de permanecer na cidade de Dois Vizinhos (PR), ap�s interven��o de agentes da prefeitura e da Pol�cia Militar. Eles estavam prestes a acampar em uma �rea tradicional de rancho cigano, quando foram interceptados e obrigados a deixar os limites do munic�pio.

"� o que a gente chama de ciganofobia. Algumas pessoas come�aram a associar os ciganos como vetor do novo coronav�rus", afirma Igor Shimura, diretor da Associa��o Social de Apoio Integral aos Ciganos (Asaic). 

Ap�s ser expulso de Dois Vizinhos, o grupo de ciganos, que inclu�a grande quantidade de idosos e crian�as, se deslocou para Guarapuava (PR), outra cidade do interior paranaense, onde tamb�m foram impedidos de permanecer, em um primeiro momento. Foi preciso uma negocia��o com o advogado das fam�lias para que eles conseguissem se instalar nas imedia��es da cidade, por meio de um acordo com a pol�cia militar.  

"Antes da pandemia, j� era dif�cil para os ciganos, principalmente os itinerantes, quando chegam numa cidade. S�o mal vistos, tem aquelas lendas preconceituosas que se criam sobre o nosso povo", afirma Antonio Alves Pereira, da etnia Calon, integrante do Conselho Estadual de Povos Ind�genas e Comunidades Tradicionais do Paran�.

Procurada pela Ag�ncia Brasil, a prefeitura de Dois Vizinhos informou, por meio de nota, que a chegada dos ciganos na cidade promoveu aglomera��o, contrariando as normas de distanciamento social em locais p�blicos. “Esclarecemos que a fiscaliza��o do munic�pio recebeu den�ncia de moradores das imedia��es do Est�dio Municipal dando conta que ciganos estavam se instalando no estacionamento do mesmo. No local havia in�meras pessoas em aglomera��o. Diante da den�ncia os fiscais se deslocaram at� o referido endere�o e solicitaram que os integrantes do grupo providenciassem a retirada do acampamento do local, uma vez que o grupo havia se deslocado de Cascavel (PR) para Dois Vizinhos (PR). Em Cascavel, as informa��es eram que o munic�pio j� estava enfrentando a transmiss�o comunit�ria da covid-19”, diz a nota.

Meu rancho, minha casa


Outro caso de expuls�o de ciganos em meio � pandemia ocorreu em Paim Filho, interior do Rio Grande do Sul. Ap�s eles acamparem em uma �rea de ocupa��o tradicional do grupo, no final de maio, a prefeitura da cidade entrou com uma a��o de reintegra��o de posse na Justi�a, para que eles fossem obrigados a se retirarem do local. O principal argumento utilizado pela administra��o municipal foi justamente a ideia de evitar aglomera��es. %u2028%u2028"Quando os ciganos estabelecem acampamentos, eles permanecem mais reclusos no local, ainda mais no contexto da pandemia. Al�m disso, os locais onde eles acampam representa a casa deles, o seu territ�rio tradicional de ocupa��o. Eles t�m esse sentimento, muitos nasceram nesses acampamentos", afirma Marcelo Almeida, advogado que defende comunidades ciganas na Regi�o Sul do pa�s. 

No caso de Paim Filho, a Justi�a n�o concedeu a liminar de reintegra��o de posse e garantiu a perman�ncia dos ciganos no local, mas eles acabaram, dias depois, decidindo deixar a cidade.

Para Maria Jane Soares, integrante do Conselho Nacional de Promo��o da Igualdade Racial, falta preparo das prefeituras para lidar com as especificidades culturais dos povos ciganos. "Em nossos caminhos rotativos, a gente tem que ter um canto de parar, repousar, que s�o os ranchos, mas temos essa dificuldade porque as prefeituras n�o querem trabalhar com a inclus�o dos ciganos, garantindo reconhecimento e assist�ncia nesses locais. Quando a prefeitura trabalha com os povos tradicionais, o racismo � reduzido. Quando as prefeituras viram as costas, o racismo fica mais forte", aponta.

Segundo Antonio Alves Pereira, cigano do Paran�, os grupos itinerantes no estado t�m adotado outras estrat�gias, durante a pandemia, para evitarem a persegui��o em munic�pios do estado. "Muitos est�o separando grupos de 15 a 20 fam�lias em grupos menores, por medo de serem expulsos. Nossa orienta��o tem sido para que eles evitem as cidades maiores e permane�am isolados nos acampamentos."

O governo federal informou que monitora as tentativas de expuls�o de ciganos instalados em acampamentos e que tem tentado dialogar com as prefeituras, por meio do Minist�rio da Sa�de. "Recebemos as informa��es de tentativas de expuls�es em Cama�ari (Bahia), Piripiri (Piau�) e Paim Filho (Rio Grande do Sul). Nas tr�s cidades, a Secretaria Nacional de Promo��o de Pol�ticas de Igualdade Racial entrou em contato com os representantes dos grupos ou associa��es representativas para compreender as demandas e realizar os encaminhamentos. Todas eram relacionadas a quest�es da covid-19. Desta maneira, a secretaria encaminhou as demandas para o Minist�rio da Sa�de realizar um acompanhamento direto com o munic�pio, com exce��o da cidade de Paim Filho, pois o grupo j� havia deixado a cidade por conta pr�pria, mesmo havendo uma decis�o judicial a favor da continua��o deles na cidade", informou a SNPIR em nota enviada � reportagem.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)