Foco, dedica��o e determina��o s�o elementos essenciais para exercer o of�cio de policial. Respons�veis pela seguran�a da popula��o, esses profissionais s�o os primeiros a se expor � viol�ncia para defender os que amam e, tamb�m, pessoas completamente desconhecidas.
Em meio � trajet�ria de luta, servidores como Ademilsa, Jucilene, Marcos Antonio e Robson precisaram bater de frente, tamb�m, contra o preconceito racial.
Ainda crian�a, a tenente-coronel Jucilene deixou a comunidade quilombola do povoado de Mesquita, na Cidade Ocidental (GO), para dar in�cio � batalha por uma carreira de estabilidade.
Marcos Antonio, natural de An�polis (GO), cresceu em meio � viol�ncia do P Sul, em Ceil�ndia, antes de se tornar tenente na PMDF. A sargento Ademilson chegou ao DF no in�cio da adolesc�ncia e trabalhou como empregada dom�stica antes de entrar para a corpora��o.
J� o militar Robson vendeu churros em feiras livres e paradas de �nibus do Gama, durante a longa trajet�ria profissional at� chegar � fun��o de sargento.
PERFIS
Os perfis s�o diversos, mas todos se tornaram policiais militares de destaque na carreira. Eles est�o entre os 723 negros da corpora��o do Distrito Federal, formada por mais de 10 mil PMs ativos.
As hist�rias que o Correio nesta reportagem fazem parte do especial Hist�rias de Consci�ncia, que narram caminhos de supera��o e vit�ria de negros e negras que alcan�aram postos com os quais sempre sonharam, inclusive em corpora��es da Seguran�a P�blica do DF.
Tenente-coronel Jucilene Garc�s Pires, 52 anos
Natural do povoado quilombola de Mesquita, na Cidade Ocidental (GO)
Oficial combatente e comandante do Batalh�o de Policiamento Escolar, Jucilene Garc�s Pires, 52 anos, nasceu no povoado quilombola de Mesquita, na Cidade Ocidental (GO).
Os pais dela, Pedro Garc�s, 75, e Ana Teixeira Magalh�es, 80, tiveram quatro filhos na comunidade, mas deixaram a regi�o, em 1973, para que as crian�as fossem para a escola.
''Moramos em dois endere�os no Gama, de aluguel, para que meus irm�os e eu pud�ssemos estudar. Ganhamos uma casa em Ceil�ndia Norte, na QNM 20, na Guariroba. Ali era uma �rea muito violenta, era preciso sempre andar atento. Agrade�o muito a meus pais, porque, mesmo morando em um local prop�cio ao crime, nunca nos envolvemos com algo errado'', conta a goiana.
A policial militar teve uma inf�ncia dif�cil, ao ser menosprezada nas escolas pela cor da pele. Aos 8 anos, uma situa��o espec�fica marcou profundamente a hist�ria dela. “Estava na sala (de aula) quando uma mulher desconhecida abriu a porta e apontou o dedo para mim, dizendo: ‘Foi voc�’. N�o entendi o que estava acontecendo e fui retirada da turma”, relata.
''Na sala da dire��o (do col�gio), essa mulher me acusou de ter furtado roupas do varal dela. Eu neguei, mas continuei sendo culpabilizada. Minha m�e precisou sair do servi�o para me defender. Lembro que ela queria fazer um boletim de ocorr�ncia pelo ocorrido, mas n�o havia uma lei que nos defendesse dessas situa��es de racismo'', acrescenta Jucilene.
Palavras ditas por colegas de sala tamb�m provocaram tristeza: “Sofri muito bullying na escola, ent�o, era uma crian�a retra�da. At� quis desistir dos estudos. S� que meu pai sempre me incentivava, dizendo que poder�amos ser negros e pobres, mas que a honestidade e os estudos eram a maior heran�a que poder�amos deixar para o mundo. Ele s� tinha (estudado at�) a quarta s�rie, mas era muito s�bio. Sempre me inspirou a vencer e a buscar meu lugar na sociedade”, recorda-se.
Jucilene viu no esporte uma alternativa para crescer na vida. Ao assistir propagandas com esportistas, passou a nutrir a vontade de se tornar atleta.
A oportunidade apareceu quando, mais uma vez pela televis�o, a goiana descobriu que uma empresa de refrigerantes buscava talentos para o Pentatlo Brasileiro de Atletismo — competi��o composta por cinco provas: salto a dist�ncia, em altura, lan�amento de disco e de dardo, al�m de corrida e luta.
''Descobri que meu col�gio, o Centro Educacional 4 de Ceil�ndia, participaria com a equipe de atletas no campeonato. Como n�o integrava o time, decidi ir para a competi��o escondida no �nibus. Quando cheguei ao local das provas, na Universidade de Bras�lia, fiz a inscri��o'', conta Jucilene.
A empreitada rendeu a Jucilene o primeiro lugar no campeonato local. Antes de ingressar na carreira militar, tornou-se velocista profissional. Por duas vezes, em uma competi��o em Medell�n, na Colombia, quebrou o recorde dos 400 metros, em 1983. A primeira marca foi de 54 segundos e seis mil�simos.
Na segunda, fez o percurso em 36 mil�simos a menos. O recorde perdurou por 25 anos.
''Aos 17, tive estafa, o que me tirou das pistas. Foi um momento muito dif�cil em minha vida. Passei por um deserto. Consegui enfrentar a situa��o ao ter apoio de minha fam�lia e dos amigos. Decidi que precisaria de uma profiss�o mais est�vel e decidi me tornar uma policial militar'', diz Jucilene.
Em 1990, ela tornou-se soldado da Pol�cia Militar do Distrito Federal (PMDF). Dois anos depois, conseguiu nova aprova��o, mas para oficial — � �poca, era poss�vel ascender por meio de concursos p�blicos.
Mesmo com uma carreira consolidada, seguiu os estudos e formou-se em educa��o f�sica pela Faculdade Alvorada, em 2002. Depois, fez p�s-gradua��o em fisiologia do exerc�cio pela Universidade Gama Filho.
''Em nossas vidas, encontramos desafios. Sempre haver� obst�culos, mas n�o podemos parar. Devemos vislumbrar algo melhor. Quando sa� do quilombo, quem poderia imaginar que eu teria essa trajet�ria de sucesso? Quem poderia dizer que eu seria atleta e chegaria ao posto que exer�o hoje, na PM? Precisamos tornar nossos sonhos realidade'', destaca Jucilene.
Segundo sargento Ademilsa Ara�jo Martins, 49 anos
Integrante do 3º Comando Regional de Policiamento em �guas ClarasAdemilsa Ara�jo Martins, 49 anos, nasceu na Asa Norte, mas, no in�cio da inf�ncia, retornou com a fam�lia para Tocantins.
� �poca, o estado ainda pertencia a Goi�s. O pai dela, o motorista Manoel Francisco da Silva, 78, � natural de Ponte Alta do Bom Jesus (TO). A m�e, a lavadeira Adelaide Ara�jo da Silva, 71, � de Taguatinga (TO). Os dois se conheceram em Bras�lia.
O motorista chegou � capital federal em 1960; a lavadeira, em 1967.
A policial militar � a segunda dos seis filhos do casal, que morava na invas�o do IAPI, onde os dois se conheceram, apaixonaram-se e decidiram se casar, em 1969.
Manoel trabalhava para o Itamaraty. Adelaide era empregada dom�stica e faxineira. “Eles conseguiram uma casa na QNN 6, na Guariroba, em Ceil�ndia Sul, onde vivi os primeiros anos da minha vida com meus irm�os”, conta Ademilsa.
''Quando eu tinha 7 anos, minha fam�lia voltou para Tocantins, porque meu pai havia deixado o servi�o. Fomos viver na ro�a do meu av� materno e tivemos de auxiliar nos servi�os. Desde nova, desempenhei trabalho bra�al, plantando e colhendo arroz e feij�o, por exemplo. S� que, como havia passado parte da inf�ncia em Bras�lia, vendo a cidade e o crescimento dela, nutri o sentimento de n�o aceitar uma vida de dificuldades. Ainda muito nova, eu tinha o sonho de me tornar policial militar, mas na capital do pa�s. Durante toda a vida, persegui esse objetivo'', completa Ademilsa
A vontade de retornar a Bras�lia tornou-se mais forte quando Ademilsa visitou a cidade, em 1984, com o pai.
''Eu tinha 13 anos e pedi a ele para morar de novo na capital federal, para trabalhar como empregada dom�stica e estudar. Ele deixou, eu voltei e nunca mais fui para o Tocantins'', detalha Ademilsa
Ao longo da adolesc�ncia e em boa parte da vida adulta, a policial militar trabalhou em cinco casas, sempre mantendo em mente o objetivo de ingressar na corpora��o.
''Nesse per�odo, cheguei a passar por momentos de dificuldade. Em algumas resid�ncias, comia o que sobrava do jantar. Se sobrasse. Tamb�m cheguei a dormir no ch�o. Nas tentativas de conseguir novos empregos, n�o conseguia nada se n�o fosse como empregada dom�stica. E sempre escolhiam as brancas, apesar de meu constante esfor�o'', relata
“Eu sabia que, para conseguir me tornar policial, precisava me esfor�ar o dobro. O momento que tinha para estudar era � noite, ap�s o servi�o. Quando falava do meu sonho (para outras pessoas), diziam que eu nunca conseguiria torn�-lo realidade. Colocavam-me como a negra que s� poderia ser empregada dom�stica, mas nunca me deixei encaixar nessa situa��o. Era destratada pela minha cor, chamada nas casas de forma pejorativa — como ‘neguinha’ e ‘pretinha’ — mas jamais permiti que isso abalasse meu objetivo”, recorda-se.
Ademilsa conciliava o servi�o dom�stico com os estudos para o concurso da Pol�cia Militar. Nessa fase, formou-se em um curso de cabeleireira e manicure.
''Foram momentos de muito sacrif�cio e tristeza. Mas todo o esfor�o valeu a pena quando vi minha aprova��o no concurso de 1995, entre as 50 primeiras colocadas. Chorei de alegria, porque consegui realizar um sonho que vislumbrei ainda menina. Vi que tudo o que criamos em nossa imagina��o pode, sim, ser conquistado'', comenta a sargento, emocionada
Com 25 anos de carreira, a militar trabalha com estudos de intelig�ncia emocional, focados no desenvolvimento pessoal de integrantes da corpora��o.
“Com minha trajet�ria, o que tento deixar de li��o � que as hist�rias que criamos em nossas cabe�as e cora��es podem ser realidade. Tudo o que passei at� chegar onde estou n�o foi f�cil, mas, independentemente das dificuldades, n�o podemos desistir do que almejamos”, refor�a Ademilsa.
Segundo sargento Robson Fernandes dos Santos, 42 anos
Natural do Gama.Integrante do Batalh�o de Policiamento Escolar
A hist�ria de Robson Fernandes, 42 anos, come�a quando dois piauienses decidem morar juntos em Bras�lia, ap�s a inaugura��o da capital do pa�s.
Em 1962, o pai dele, Mariano Fernandes dos Santos, saiu da Fazenda Prata Ribeira do Uru�u�, no munic�pio de Bom Jesus (PI), para tentar a vida como carpinteiro no Centro-Oeste.
O piauiense chegou sozinho � capital federal e passou a morar na antiga invas�o do IAPI, enquanto trabalhava em constru��es de Bras�lia.
Depois de visitar a fam�lia no Piau�, voltou para o DF com a irm� e a ent�o amiga Maria Bel�m Vieira Soares, 68, com quem, posteriormente, teve quatro filhos. Robson foi o segundo a nascer.
A inf�ncia do policial militar teve como pano de fundo a Quadra 5 do Setor Sul do Gama.
''Comecei a trabalhar muito cedo, aos 12 anos, para ajudar minha m�e a complementar a renda de casa. Ela costurava durante a semana e, nos s�bados e domingos, �amos para feiras livres vender churros%u201D, conta. %u201CMeu pai tamb�m trabalhava com telhado colonial, e os servi�os que prestava eram apenas na �poca de seca. Quando come�ava o per�odo das chuvas, n�o tinha como atuar. Era quando minha m�e mais se esfor�ava para que n�o faltasse nada em casa. Eu a ajudava nos fins de semana. Al�m das feiras, vend�amos churros em outros pontos da cidade, como paradas de �nibus, no cemit�rio e em eventos locais. �ramos at� conhecidos pela regi�o'', relembra Robson.
Apesar de auxiliar a m�e no trabalho, o PM carregava um livro para se distrair enquanto n�o atendia clientes.
“Sempre gostei muito de ler e, quando conseguia, juntava dinheiro para comprar gibis. Terminava um e comprava outro. Tamb�m era ass�duo na biblioteca da escola. Desde novo, tinha em mente que, se eu quisesse crescer, precisava ser pelos estudos”, detalha.
Aos 13 anos, Robson passou por uma situa��o de racismo enquanto trabalhava.
''Minha m�e e eu est�vamos em uma parada de �nibus do Gama. Sentado em um banco, eu estava imerso em um livro que havia pegado na biblioteca da escola. Lembro que um �nibus para Luzi�nia (GO) passou e escutei (algu�m gritar de dentro do coletivo): 'Nunca vi macaco ler', e jogaram um ovo em mim'', relata
“Aquela situa��o me entristeceu muito, e minha m�e ficou abalada ao saber o que havia acontecido. Mas nunca me deixei abater por essas coisas. Levantei, bati a poeira e segui me dedicando aos estudos. Tinha consci�ncia de que a supera��o e a ascens�o social viriam por meio disso. A leitura abre portas inimagin�veis.”
Na adolesc�ncia, enquanto estudava no Centro de Ensino M�dio 3 do Gama, Robson continuou a vender churros pela regi�o.
.''Um dia, vi uma senhora com dificuldade para carregar as compras e decidi ajud�-la. Enquanto convers�vamos, ela me disse que eu poderia tentar um est�gio para ajudar minha fam�lia. Consegui entrar como motoboy no atual Cnpq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico) e, ao ter contato com tantas pessoas, surgiu o sonho de me tornar policial'', revela o segundo sargento.
Sem dinheiro para pagar um cursinho, Robson recorreu, mais uma vez, aos livros a que tinha acesso. Com o dinheiro que sobrava do trabalho, comprava novos materiais para se dedicar ao objetivo de entrar na Pol�cia Militar.
“Tinha um conhecido que tamb�m queria entrar na corpora��o, e ele me disse que eu n�o conseguiria passar na prova. Esse colega fazia curso (preparat�rio), mas, em 1998, eu passei na prova, e ele, n�o”, recorda-se. “
Minha aprova��o foi um dos momentos mais felizes de minha vida. Mal sabia eu que enfrentaria uma saga para conseguir permanecer na PMDF”, acrescenta Robson.
� �poca da entrega de exames admissionais, um m�dico disse que policial — � �poca, rec�m-aprovado — estava inapto a assumir a fun��o, devido a uma calcifica��o na testa.
Robson questionou o laudo e afirmou que, na avalia��o m�dica anterior, o resultado n�o havia indicado qualquer complica��o. No entanto, o argumento n�o adiantou.
''Fiquei desolado. Mas contei com a ajuda de uma prima, que pagou para eu fazer um novo exame no hospital particular em que ela trabalhava. Nesse raio-x, n�o havia nenhuma mancha. Um m�dico dessa unidade de sa�de me explicou que a suposta calcifica��o (diagnosticada anteriormente) deveria ser sujeira na chapa'', diz o policial.
Com o novo resultado em m�os, Robson passou novamente pela junta m�dica da PMDF.
“Mesmo assim, o m�dico n�o aceitou. Busquei a Defensoria P�blica e consegui ingressar na corpora��o por meio de uma liminar e ganhando menos. Dois anos depois, em 2000, decidi prestar outro concurso, para garantir que ficaria na institui��o caso algo desse errado com o recurso que apresentei � Justi�a.”
Aprovado mais uma vez, passou por avalia��o de sa�de, mas n�o recebeu aval. “Era a mesma junta m�dica, mas n�o me reconheceram. Faltando 15 dias para finalizar o curso de forma��o, ganhei a causa do primeiro concurso em segunda inst�ncia. Mas decidi me formar pela nova turma”, afirma Robson.
Depois de ingressar na PMDF, o segundo sargento chegou a passar em mais dois concursos p�blicos: do Minist�rio P�blico da Uni�o (MPU) e da C�mara dos Deputados.
“Mas segui como integrante da Pol�cia Militar. Hoje, mais velho, vejo que n�o podemos aceitar o ‘n�o’ que a vida ou as pessoas nos imp�em. N�o � porque ca�mos que devemos permanecer no ch�o. Precisamos levantar. Temos de ser como a �gua, que, mesmo ao se deparar com obst�culos, segue o fluxo. Se uma porta se fechar, tente a outra. Se n�o der, pule a janela. Pode-se dar passos para tr�s, mas que seja para pegar impulso”, finaliza o sargento.
Segundo Tenente Marcos Antonio Serra, 49 anos
Nascido em An�polis (GO). Mestre de cerim�nia e integrante do Batalh�o de Opera��es Especiais (Bope), Marcos Antonio Serra, 49 anos, nasceu em An�polis (GO), em 1971, fruto do casamento entre Ant�nio Ramos Serra e Maria Paulina Serra.
A m�e, natural do munic�pio goiano, e o pai, de Itabirito (MG), conheceram-se em Bras�lia. Eles chegaram � capital federal nos anos 1960, em busca de uma vida melhor. No DF, o mineiro trabalhou em obras, e a goiana, como empregada dom�stica para uma fam�lia da Asa Sul.
Depois de casados, Ant�nio e Maria Paulina mudaram-se para uma casa no P Sul, em Ceil�ndia.
''Foi ali que passei minha inf�ncia, adolesc�ncia e juventude. Era uma �rea violenta, tanto que foi apelidada pelo jornalista M�rio Eug�nio como Caldeir�o do Diabo. O crime no local era comandado por uma quadrilha de traficantes de drogas conhecida como Nasa'', detalha o segundo tenente.
Marcos Antonio estudou apenas em escolas p�blicas de Ceil�ndia.
“No fim da d�cada de 1980, perto de finalizar os estudos, formei uma banda de rock com amigos, chamada o Terno El�trico. Ela est� na ativa at� hoje. E, naquela �poca, n�o t�nhamos carro. And�vamos a p� por toda a cidade, fosse dia ou n�o. Tive contato com v�rios tipos de pessoas e vi de perto a viol�ncia, o tr�fico de drogas, a repress�o da pol�cia e os diversos conflitos de uma cidade marginalizada e � margem de Bras�lia. Mesmo exposto � criminalidade, nunca me deixei envolver”, conta o policial militar.
Tr�s anos depois de se formar no ensino m�dio, Marcos Antonio ficou desempregado e decidiu prestar o concurso da Pol�cia Militar.
“Fiz a prova mais por insist�ncia dos meus pais e acabei passando. No in�cio, o tratamento era ruim, porque est�vamos a poucos anos do fim do regime militar e da promulga��o da Constitui��o (de 1988). Com isso, termos pejorativos eram usados, sobretudo relativos ao tom de pele”, relata.
Mesmo v�tima de racismo, o segundo tenente conseguiu se manter na institui��o. Em 1994, Marcos Antonio prestou um segundo concurso para a corpora��o. � �poca, para a fun��o de cabo.
''Naquele per�odo, senti o peso de ser policial militar, pois, durante a noite, somos os �nicos representantes do Estado nas ruas para garantir a seguran�a da popula��o. Acabamos atendendo todos os tipos de ocorr�ncias, desde furto a assalto a resid�ncia e homic�dio'', continua Marcos Antonio.
Na Pol�cia Militar do DF, o tenente ficou conhecido pelo tom de voz grave e tornou-se mestre de cerim�nia em formaturas da corpora��o.
“Comecei a me interessar pelo tema e a me relacionar com outras pessoas nessa fun��o. Decidi me capacitar, fazer cursos de cerimonial, de protocolo, de preced�ncia e orat�ria. H� quase 20 anos, atuo nessa �rea, comandando diversos eventos na institui��o”, diz o policial.
Al�m dessa capacita��o, outro sonho de Marcos Antonio tornou-se realidade. Em 2007, come�ou o curso de administra��o. Um ano depois, a PMDF passou a cobrar ensino superior completo para ingresso na corpora��o e, assim, ofereceu o curso de t�cnico em seguran�a e ordem p�blica para os policiais concursados.
O segundo tenente tamb�m apostou nesse preparo, al�m da profissionaliza��o na �rea de negocia��o policial.
''Esse � o embaixador do caos. Quem tem como miss�o estar de frente com pessoas em estados alterados e que mant�m v�timas como ref�ns, por exemplo. Entrar nessa �rea me permitiu promover uma das principais opera��es de que participei: a desocupa��o do Hotel Torre Palace, em junho de 2016'', conta.