UTI superlotada em hospital de Florian�polis: milhares de pessoas est�o morrendo por falta de vacina e medidas de preven��o (foto: Eduardo Valente/Shoot/Estad�o Conte�do)
Num cen�rio cada vez mais tenebroso, com hospitais lotados, pacientes morrendo nas filas de interna��es e falta de medicamentos para intuba��es, o Brasil mais uma vez uma atinge marca negativa em propor��es aceleradas. Em pouco mais de um ano desde a primeira vida perdida, o pa�s contabiliza 300 mil mortes por coronav�rus e v� a doen�a se expandir por regi�es, cidades menores e faixas et�rias diferentes, colocando toda uma na��o em alerta m�xima. O problema ainda � agravado com o surgimento de novas variantes da COVID-19 vindas do Amazonas (B.1.128), do Reino Unido (B.1.1.7) e da �frica do Sul (B.1.351).
Com dados coletados at� o dia 17 deste m�s, um relat�rio feito pelo professor Thomas Conti, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em parceria com o Minist�rio da Sa�de, mostra que o coronav�rus j� � maior causa de �bitos entre os brasileiros. Em um ano de pandemia, o v�rus matou quase o dobro que as doen�as isqu�micas do cora��o (mais de 170 mil pessoas). A doen�a tamb�m fica � frente de �bitos por infarto (130 mil), diabetes (65 mil), Alzheimer (55 mil) e acidentes de tr�nsito (44,5 mil).
Seria como se a pandemia tivesse colocado fim �s popula��es inteiras de 5.475 dos 5.570 munic�pios do pa�s, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). A marca seria equivalente ao p�blico total do show da banda inglesa Queen no Rock in Rio de 1985, ou mesmo ao n�mero de pessoas que foram �s ruas nas manifesta��es populares em junho de 2013. O estrago feito pela COVID-19 no pa�s � tr�s vezes maior que a capacidade do Camp Nou, est�dio do Barcelona, ou quase quatro vezes mais do que comporta o atual Maracan�. Por fim, a doen�a dizimou no Brasil seis vezes mais que a Guerra do Paraguai, no s�culo 19.
"N�o aprendemos nada com a pandemia. Toda a pol�tica foi errada ao apresentar a possibilidade de expans�o de leitos. E expandir leitos n�o � conter v�rus. Conter a doen�a seria ampliar testes, fazer barreira sanit�ria, fazer lockdown nacional"
Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeir�o Preto
Em 8 de agosto do ano passado, os brasileiros atingiram a marca de 100 mil mortos. Em 7 de janeiro deste ano, antes de iniciar o processo de vacina��o em massa, o pa�s ultrapassou as 200 mil vidas perdidas. Por fim, chegou aos 250 mil �bitos em 24 de fevereiro, num espa�o de tempo cada vez menor. Muitos especialistas j� afirmavam que mar�o seria o auge da pandemia, com m�dia superior a 2 mil �bitos di�rios.
No m�s passado, o professor Domingos Alves, da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo, em Ribeir�o Preto (SP), j� havia apontado que o Brasil chegaria � marca de 300 mil mortes no fim deste m�s. “Essa quest�o passou a ser aritm�tica simples. N�o � necess�rio ter um modelo matem�tico exacerbado para fazer essas contas. Hoje, temos uma taxa de mortos por dia de mais de 2,2 mil em ascens�o. A situa��o em que nos encontramos � ruim, e � muito r�pido apontar quando chegaremos �s 400 mil mortes. Ser� em um m�s, at� o fim de abril, provavelmente", afirma o professor ao Estado de Minas.
A abund�ncia de mortes ocorreu num contexto de mudan�as no Minist�rio da Sa�de e inexist�ncia de medidas conjuntas de preven��o ao coronav�rus feitas pela Uni�o, estados e munic�pios. Quatro ministros passaram pela Sa�de desde a confirma��o do primeiro caso, em 25 de fevereiro – Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga –, enquanto o Pal�cio do Planalto e v�rios governadores renunciaram ao distanciamento social.
Nas �ltimas semanas, v�rios estados ultrapassaram o percentual de 90% em ocupa��o de leitos de UTI. Por determina��o do governo de Minas Gerais, todos os munic�pios foram obrigados a aderir � onda roxa do programa Minas Consciente e decretar toque de recolher, ainda que alguns prefeitos tenham resistido � medida. Araraquara, no interior de S�o Paulo, foi o �nico a adotar o lockdown, com fechamento at� mesmo do com�rcio n�o essencial e intensa fiscaliza��o nas ruas. E, mesmo assim, a incid�ncia de casos no pa�s cresce assustadoramente, com mais de 5,7 mil por 100 mil brasileiros.
Domingos Alves condena as a��es feitas pelo pa�s no enfrentamento � COVID-19 e pede maior atitude das autoridades: “A pandemia foi extremamente politizada no pa�s. Em novembro, quase todos os cientistas j� alertavam para a possibilidade do que observamos em mar�o. De l� pra c�, nenhuma medida de conter a transmiss�o foi feita de forma efetiva. � muito comum voc� hoje ouvir falar que o maior problema � a nova cepa da COVID-19, que vem do Amazonas. Na verdade, a preval�ncia da variante � resultado de uma falta de controle da doen�a. N�o houve barreiras sanit�rias do Amazonas para os outros estados”.
“N�o aprendemos nada com a pandemia. Toda a pol�tica foi errada ao apresentar a possibilidade de expans�o de leitos. E expandir leitos n�o � conter v�rus. Conter a doen�a seria ampliar testes, fazer barreira sanit�ria, fazer lockdown nacional”, complementa o professor da USP.
(foto: Arte Em)
Situa��o de terra arrasada
Em abril do ano passado, o governo federal iniciou o pagamento de parcelas de aux�lio emergencial para quase 70 milh�es de be- nefici�rios. Entretanto, a infla��o e o desemprego afetaram a crise econ�mica, ampliando o n�mero de brasileiros � margem da pobreza. “Vivemos uma situa��o de terra arrasada. Ela come�ou muito antes, com a nega��o do presidente da Rep�blica e dos ministros, que defendiam o discurso de que a pandemia passaria logo, que era apenas uma gripezinha. Al�m das mortes, a COVID-19 escancarou a disparidade, a vulnerabilidade e a pobreza extrema. � inacredit�vel que 35% da popula��o ainda v� o Brasil conduzindo bem a pandemia. Um pa�s contradit�rio como o nosso � um caldo p�ssimo”, afirmou o professor e infectologista Dirceu Greco, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Bio�tica.
Ele entende que as pessoas mais pobres s�o justamente as que est�o em maior risco na pandemia: “Muitos falam que o v�rus � democr�tico, porque atinge todas as pessoas. Mas isso n�o � verdade. Ele pode infectar igualmente todos, mas o risco e a gravidade est�o relacionados � vulnerabilidade, que s�o as dificuldades inerentes � sa�de, dificuldade de receber cuidados m�dicos e disse- mina��o. Tudo isso j� estava ocorrendo e foi acentuado com a pandemia, chegando em seu descalabro agora, com um n�mero alto de mortes”.
Mesmo com a aprova��o das vacinas CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), o Plano Nacional de Imuniza��o (PNI) caminha a passos lentos no pa�s. Menos de 6% da popula��o brasileira recebeu a primeira dose, o que faz o v�rus ser transmitido facilmente. O plano do governo federal � imunizar 100% dos brasileiros somente no segundo trimestre de 2022. At� l�, muitos tendem a sofrer com interna��es e mortes, num verdadeiro caos no pa�s.
“O Brasil vive uma barb�rie mundial. N�o podemos sair daqui t�o cedo, nem mesmo para a Am�rica Latina. A vis�o que h� � de que aqui est� tudo descontrolado. Temos de falar de solidariedade aos profissionais de sa�de e �s fam�lias que perderam essas 300 mil pessoas. Hoje, pelo menos 1,5 milh�o de brasileiros est�o sofrendo com a morte, ang�stia e o processo em torno da doen�a. N�s atingimos um n�mero intoler�vel e vergonhoso”, ressalta Greco.
Minist�rio divulga dados incompletos
O Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortes em decorr�ncia da COVID, ap�s registrar 2.009 novos �bitos pela doen�a nas �ltimas 24 horas. Ao todo, o pa�s contabiliza 300.685 vidas perdidas. Os dados, divulgados pelo Minist�rio da Sa�de, n�o t�m as informa��es do Cear�, que por problemas t�cnicos na base de dados do sistema de informa��o n�o atualizou os n�meros nessa quarta (24/3). A Regi�o Sudeste foi a que registrou maior n�mero de mortes nas �ltimas 24 horas, 761, sendo que s� Minas Gerais teve 374 �bitos nesse intervalo, e S�o Paulo, 281. Em seguida, o Sul do pa�s contabilizou 510 mortes; o Nordeste, 364; o Norte, 202; e o Centro-Oeste, 172. No mesmo intervalo, o pa�s teve 89.992 novos registros da COVID-19, elevando o total de casos para 12.220.011.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
Febre
Tosse
Falta de ar e dificuldade para respirar
Problemas g�stricos
Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
Pneumonia
S�ndrome respirat�ria aguda severa
Insufici�ncia renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.