
� falso que uma menina tenha morrido ap�s ser vacinada contra a covid-19 no Brasil. Em nota enviada ao Comprova no dia 27, o Minist�rio da Sa�de disse que ningu�m com menos de 18 anos morreu ap�s receber o imunizante no pa�s.
Os v�deos que circulam na internet mostram crian�as passando mal em dois momentos: vomitando em um balde e se queixando de dores em um leito hospitalar. As caracter�sticas f�sicas s�o aparentemente distintas. Esses v�deos foram compartilhados separadamente, com a atribui��o de nomes diferentes �s crian�as.
Por�m, h� uma vers�o editada, que circula por WhatsApp, que une os dois trechos, dando a entender que seriam imagens de uma mesma menina e que ela teria morrido como consequ�ncia da aplica��o da vacina contra a COVID-19.
Nos diferentes conte�dos que circulam, as meninas s�o chamadas por v�rios nomes e h� informa��es desencontradas sobre as cidades de origem. Mas em um dos v�deos � poss�vel ver, ao lado de uma delas, um menino que usa o uniforme escolar da rede municipal de Salvador, na Bahia.
A Secretaria Estadual de Sa�de da Bahia informou ao Comprova que o estado n�o registrou nenhuma morte decorrente de evento adverso p�s-vacina��o. O Estado tamb�m disse que n�o h� nenhum caso em investiga��o que se enquadre no perfil de uma pessoa do sexo feminino com menos de 18 anos.
O painel da Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), que registra os eventos suspeitos de farmacovigil�ncia, diz que o �nico caso suspeito registrado na Bahia para a vacina da Pfizer foi de um homem adulto.
Outras mensagens sugeriam que uma das meninas teria sido atendida em Manaus. A Secretaria de Sa�de do munic�pio foi procurada, e informou ao Comprova que n�o h� registro de evento adverso grave p�s-vacina��o em menores de 18 anos na cidade. O painel da Anvisa aponta que, at� o momento, n�o h� nenhum caso de rea��o adversa suspeito para o imunizante da Pfizer em todo o estado do Amazonas.
O Comprova ouviu a mulher cujo n�mero de WhatsApp aparece em algumas postagens compartilhando o �udio que seria da m�e da crian�a. Ela disse desconhecer a fam�lia e afirmou que recebeu o conte�do de outros grupos e apenas o compartilhou porque estava em busca de informa��es sobre o epis�dio.
Falso, para o Comprova, � o conte�do inventado.
Como verificamos?
Primeiro, procuramos por informa��es nos conte�dos suspeitos que pudessem nos indicar de onde eram as meninas que aparecem no v�deo e nas fotos e seus nomes. Al�m do uniforme da rede municipal de Salvador, algumas mensagens indicavam que ela poderia ter sido atendida no Hospital Estadual Costa do Cacau, que fica na cidade de Ilh�us, na Bahia, ou no Hospital Santa Izabel, uma Santa Casa em Salvador. Dois coment�rios no Instagram sugeriam que as imagens de ao menos uma das meninas seriam de Manaus, no Amazonas.
O Comprova procurou o Minist�rio da Sa�de, a Anvisa, o Conselho Estadual de Sa�de baiano e as secretarias de sa�de da Bahia, de Salvador e de Manaus, em busca de informa��es sobre eventos adversos graves associados � vacina��o em pessoas do sexo feminino que tivessem menos de 18 anos.
Tamb�m procuramos por e-mail o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Administra��o Hospitalar (IBDAH), que administra o Hospital Estadual Costa do Cacau, e o Hospital Santa Izabel pelo n�mero de WhatsApp dispon�vel no site.
O Comprova ainda procurou o Minist�rio P�blico do Estado da Bahia a respeito do compartilhamento dos v�deos.
Entramos em contato por WhatsApp com o n�mero da mulher que, segundo alguns dos conte�dos, teria compartilhado o �udio associado � m�e de uma das crian�as.
Por fim, buscamos os perfis que compartilharam as imagens das crian�as e um outro que postou um v�deo que, supostamente, seria o relato da tia de uma das meninas negando a rela��o da morte com a vacina contra a COVID-19.
O Comprova fez esta verifica��o baseado em informa��es cient�ficas e dados oficiais sobre o novo coronav�rus e a COVID-19 dispon�veis no dia 31 de janeiro de 2021.
Verifica��o
Nenhuma crian�a morreu ap�s a vacina��o
Embora os conte�dos investigados afirmem que a menina teria morrido ap�s a vacina��o, o Minist�rio da Sa�de enviou uma nota ao Comprova afirmando que "n�o h� registros de �bitos por causalidade com as vacinas covid-19 em menores de 18 anos" no Brasil.
A Secretaria Estadual de Sa�de disse, tamb�m por meio de nota, que a Bahia n�o teve nenhum �bito decorrente de eventos adversos p�s-vacina��o at� 27 de janeiro de 2022. Afirmou, ainda, que nenhuma menor de 18 anos do sexo feminino foi atendida no Hospital Regional Costa do Cacau, que pertence � rede estadual, com caso grave de rea��o adversa p�s-vacina��o.
Em um segundo contato, o Comprova insistiu para saber se havia algum caso de menor de 18 anos do sexo feminino em investiga��o. A pasta disse que n�o h� nenhum caso com essas caracter�sticas em an�lise.
O Conselho Estadual de Sa�de da Bahia afirmou n�o ter recebido informa��es sobre um caso suspeito de uma menina que tenha morrido ap�s evento adverso relacionado � vacina��o.
J� a assessoria de imprensa da Secretaria de Sa�de de Salvador disse n�o haver registro de atendimento na rede municipal do caso mostrado no v�deo em que aparece, ao lado da crian�a, um menino com uniforme escolar da cidade.
Em resposta ao Comprova por e-mail, o Minist�rio P�blico da Bahia disse n�o ter tomado conhecimento sobre o compartilhamento dos v�deos. O �rg�o pediu que o material fosse encaminhado para o Centro de Apoio de Defesa da Crian�a e do Adolescente (Caoca), "para que o Minist�rio P�blico da Bahia possa apurar os fatos e tomar as devidas provid�ncias".
A Anvisa e o instituto que administra o Hospital Costa do Cacau n�o responderam. Ao site Ilh�us 24 horas, a unidade de sa�de disse que a morte da menina era falsa. O WhatsApp do Hospital Santa Izabel afirmou que o contato da assessoria de imprensa s� poderia ser passado ligando para o n�mero fixo da institui��o, que n�o atendeu.
Como os conte�dos suspeitos j� circulavam na Internet no dia 20 de janeiro, as meninas em quest�o s� poderiam ter recebido a vacina Comirnaty, da farmac�utica Pfizer, uma vez que a autoriza��o para aplica��o da CoronaVac em menores de 18 anos s� foi concedida pela Anvisa no dia 20.
Um painel no site da Anvisa registra as notifica��es de casos suspeitos por farmacovigil�ncia em todo o pa�s para vacinas e medicamentos. Na Bahia, a �nica rea��o adversa ap�s aplica��o da Comirnaty foi de um homem adulto, na faixa et�ria entre 18 e 44 anos, cuja notifica��o ocorreu em novembro de 2021.
No Amazonas, nenhum caso suspeito de eventos adversos relacionados � Comirnaty foi reportado � Anvisa.
As meninas
Nenhum dos conte�dos suspeitos diz qual o sobrenome das meninas. E cada um cita um nome diferente para a crian�a. No v�deo que foi compartilhado por uma p�gina como sendo da tia de uma delas, a suposta parente tamb�m n�o cita o nome da menina. Sem essas informa��es, n�o foi poss�vel identificar as crian�as e confirmar com exatid�o se as imagens mostram indiv�duos distintos ou a mesma crian�a.
Procurado, o perfil que compartilhou o v�deo da suposta tia disse que retirou o conte�do de um grupo do Telegram, mas n�o soube informar qual. E acrescentou n�o ter informa��es sobre a fam�lia e o local em que a postagem original do v�deo foi feita pela suposta tia, que, no v�deo, nega rela��o da morte com a vacina e pede para que parem de compartilhar a imagem que seria de sua sobrinha num leito hospitalar.
O Comprova tentou buscas reversas pelo conte�do a partir dos prints retirados do v�deo, mas n�o encontrou outras postagens do material.
Por WhatsApp, o Comprova conversou com a mulher que compartilhou um �udio que seria da m�e da menina. Mas ela disse n�o conhecer a fam�lia, apenas compartilhou conte�dos que recebeu em outro grupo porque estaria em busca de mais informa��es sobre o caso.
Informa��es semelhantes tamb�m foram ditas em postagens de outros perfis que compartilharam o material nas redes sociais.
Tamb�m n�o foi poss�vel localizar a crian�a por meio dos coment�rios deixados nas postagens, j� que cada um trazia informa��es diferentes em rela��o aos nomes e locais em que as imagens teriam sido gravadas.
Por que investigamos?
O Comprova investiga conte�dos suspeitos sobre a pandemia, pol�ticas p�blicas e elei��es que tenham viralizado nas redes sociais. Juntos, os conte�dos investigados aqui tiveram mais de 3 mil intera��es s� no Facebook.
Quando o conte�do trata da pandemia, a verifica��o � ainda mais necess�ria, porque a desinforma��o pode levar as pessoas a deixarem de se proteger e se exporem a riscos de infec��o. Isso fica ainda mais evidente pelo fato de os v�deos, imagens e �udio circularem no momento em a vacina��o chega a crian�as de 5 a 11 anos.
O site Boatos.org publicou uma checagem sobre os v�deos, negando a veracidade. Recentemente, o Comprova mostrou que o Minist�rio da Sa�de descartou a rela��o entre a vacina e a morte de um adolescente em Jo�o Pessoa; que o v�deo de um pai desesperado � antigo, foi filmado no Amazonas e n�o tem rela��o com a vacina; e que uma publica��o enganosa distorce dado de estudo alem�o para criticar a vacina��o infantil.
Falso, para o Comprova, � o conte�do inventado ou que tenha sofrido edi��es para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.