
Nos depoimentos, os trabalhadores tamb�m denunciam pr�ticas como vales, multas e descontos no sal�rio. A soma desses fatores levou o MTE (Minist�rio do Trabalho e Emprego) e o MPT (Minist�rio P�blico do Trabalho) a considerarem a situa��o como um regime de trabalho an�logo � escravid�o.
Os trabalhadores, de acordo com as autoridades, haviam sido recrutados na Bahia pelas empresas F�nix Presta��o de Servi�os e Oliveira & Santana, de mesmo dono, e prestavam servi�os �s vin�colas Aurora, Garibaldi e Salton. Eles ficavam alojados na Pousada do Trabalhador, no bairro Borgo.
Nesta quarta-feira (1º), o MPT se re�ne com representantes das tr�s vin�colas. Elas alegam desconhecer as m�s condi��es a que os trabalhadores terceirizados eram submetidos.
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As primeiras acusa��es, ap�s a fuga de seis trabalhadores na noite do dia 21, foram feitas ao MTE. A Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa tamb�m est� reunindo relatos dos trabalhadores, que no s�bado (24) embarcaram de volta � Bahia. A comiss�o apura ainda den�ncias de jornadas de trabalho irregulares em parreirais e vin�colas da regi�o.
Segundo um dos depoimentos, feito ao MTE, na v�spera da fuga tr�s trabalhadores foram espancados em repres�lia � publica��o em uma rede social de um v�deo mostrando as condi��es das roupas, que estavam molhadas, e da comida que eles haviam recebido naquele dia.
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Conforme o depoimento, eles foram abordados por capangas da empresa t�o logo chegaram na pousada do trabalho na colheita. O denunciante diz ter sido trancado em uma sala, onde teria sido contido com uma gravata e atacado com spray de pimenta, espancado com cabos de vassoura e mordido no ombro. Dois colegas teriam sofrido agress�es semelhantes.
A reportagem conversou com um dos seis trabalhadores que fugiram, que repetiu o que foi relatado nos depoimentos. Ele critica as m�s condi��es de estadia —com poucos banheiros e sempre entupidos— e afirma que a comida era fria e, �s vezes, azeda.
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O homem afirma que trabalhada das 6h �s 22h. Segundo ele, o combinado era receber R$ 4.000 ap�s 45 dias, mas o montante sofreria descontos que n�o foram previamente combinados. Ele diz que percebeu que estava sendo explorado.
O trabalhador diz ainda que alguns colegas eram obrigados a sair da cama com gritos, ouviam xingamentos, sofriam choques el�tricos ou eram amea�ados.
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O epis�dio da surra depois da publica��o do v�deo levou o grupo e outros tr�s trabalhadores a decidir fugir durante a noite, segundo a investiga��o. Por volta das 22h do dia 21, eles teriam pulado a janela da pousada para a cobertura do im�vel ao lado e, dali, saltaram pelos fundos da pens�o. O grupo, ent�o, teria ido para a rodovi�ria, onde metade comprou passagens para Porto Alegre e outra, para Caxias do Sul. As primeiras den�ncias foram feitas � Pol�cia Rodovi�ria Federal de Caxias do Sul.
A reportagem teve acesso ainda a depoimentos de outros trabalhadores, que tamb�m narram agress�es f�sicas e psicol�gicas.
Em um dos depoimentos, um trabalhador de 36 anos diz que havia sido contratado por R$ 4.000, mas que ao chegar soube que perderia a passagem de volta caso faltasse a um dia de trabalho e que o alojamento, que deveria ser incluso, seria descontado em folha ao final do contrato. A situa��o fazia com que os trabalhadores continuassem trabalhando mesmo que estivessem doentes, afirma ele.
Por isso, os trabalhadores fariam vales com o dono do alojamento, e teriam um saldo de R$ 400 para gastar em um mercadinho pr�ximo. Os valores seriam descontados do pagamento final, afirmam nos depoimentos. O trabalhador diz que teve que pegar dois vales de R$ 100, e que recebeu uma multa de R$ 300 por danificar um arm�rio ao se apoiar para descer de um beliche.
Os trabalhadores dizem ainda que era preciso esperar longas horas ap�s as jornadas de trabalho at� que uma van os trouxesse de volta ao alojamento, o que ocorreria por vezes �s 23h, para reiniciar a jornada acordando �s 5h do dia seguinte.
Na ter�a-feira (28), o MPT realizou uma audi�ncia com representantes legais da empresa F�nix Servi�os de Apoio Administrativo, que contratava os trabalhadores, e cujo propriet�rio Pedro Augusto de Oliveira Santana foi preso e liberado sob fian�a.
No encontro, o MPT prop�s que a empresa pague cerca de R$ 600 mil em danos morais para os trabalhadores resgatados. O valor n�o impede que eles busquem tamb�m repara��es individuais na Justi�a —a resposta ser� dada pela empresa em nova audi�ncia na quinta-feira (2). At� agora, o MPT vem fiscalizando o pagamento de cerca de R$ 1 milh�o em verbas rescis�rias dos contratos.