(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SEGURAN�A P�BLICA

Rio e Bahia mostram fracasso de medidas contra o crime organizado dos �ltimos 20 anos

Independentemente da colora��o ideol�gica, governos de direita e de esquerda acabam repetindo as mesmas estrat�gias para combater o crime organizado, em que privilegiam as opera��es armadas sem mecanismos de controle


09/10/2023 06:38 - atualizado 09/10/2023 09:07
438

Polícia Civil da Bahia
Pol�cia Civil da Bahia (foto: (Reprodu��o/Ascom PCBA/Haeckel�Dias))

A chacina que provocou a morte de tr�s m�dicos e deixou um em estado grav�ssimo, na noite de quarta-feira, em uma avenida movimentada da orla do Rio de Janeiro, exp�s de forma crua e violenta os desafios do poder p�blico no enfrentamento do crime organizado. O ataque aconteceu um dia depois de o governo federal anunciar um plano de combate �s quadrilhas que atuam, principalmente, na regi�o metropolitana da capital fluminense e na Bahia, estado que ostenta os piores indicadores de viol�ncia extrema do pa�s, segundo o Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica-2022.

A crise na seguran�a p�blica brasileira faz do Rio de Janeiro e da Bahia estados que sintetizam o fracasso das medidas de conten��o do crime organizado nas �ltimas duas d�cadas, independentemente do vi�s ideol�gico do governo de plant�o. No Rio, governos de centro e de direita s�o eleitos h� anos com a promessa de confrontar pela for�a o poder paralelo do crime organizado, inicialmente dividido entre traficantes de drogas e mil�cias, mas, atualmente, sem uma linha definida entre esses dois grupos. A guerra, l�, avan�a pelo controle de territ�rios — comunidades de bairros de periferia e morros no cora��o da capital — em que, n�o raro, v�-se a alian�a entre fac��es do tr�fico com milicianos locais.

Na Bahia, governada desde 2006 por pol�ticos ligados ao PT, dezenas de gangues comandadas por fac��es do Rio de Janeiro e de S�o Paulo se digladiam com grupos locais tamb�m em disputas de territ�rios. As muitas rodovias que cortam o estado s�o rotas do crime. Regi�es portu�rias, como Salvador e Ilh�us, tamb�m s�o estrat�gicas para as fac��es. A a��o da pol�cia baiana, nesse enfrentamento, tem sido ainda mais violenta, com a clara op��o pelo confronto armado. S� em setembro, 77 pessoas morreram em trocas de tiros entre pol�cia e bandidos, quase o dobro do registrado no mesmo m�s do ano passado.

A Bahia registrou no ano passado 6,6 mil assassinatos, o que faz do estado o mais violento do pa�s em n�meros absolutos, seguido, justamente, do Rio de Janeiro, com 4,7 mil mortes violentas intencionais. Os dois estados tamb�m lideram, na mesma ordem, os n�meros de mortes decorrente de interven��o policial (em servi�o ou n�o), com 1.464 e 1.330 casos, respectivamente, em 2022.

“Objetivamente, independe de quem esteja no governo, tanto no Rio quanto na Bahia ou em S�o Paulo. O crime est� no comando. No Rio, por exemplo, qualquer prefeito que assuma (o cargo) tem que negociar com a Liga das Escolas de Samba (Liesb), que est� ligada ao jogo do bicho, ao narcotr�fico, �s mil�cias, isso independe de pol�ticas p�blicas”, avalia o cientista pol�tico e especialista e seguran�a p�blica Ant�nio Fl�vio Testa.

Para o diretor-presidente do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica, Renato S�rgio de Lima, independentemente de o governo ser de direita ou de esquerda, “a receita para enfrentar esse problema da seguran�a p�blica tem sido uma s� ao longo dos �ltimos quarenta anos”, em que se privilegiam as opera��es de rua e o enfrentamento armado, enquanto o crime organizado se modernizou e atua de forma transnacional com base em coordena��o e comunica��o digital.

“Governos de direita, de centro ou de esquerda ficam capturados por uma estrutura anal�gica, em que n�o h� a dimens�o das comunica��es simult�neas, da troca de mensagens em tempo real. As estruturas de seguran�a p�blica foram desenhadas numa �poca em que as telecomunica��es eram prec�rias, n�o havia internet para todos. Mas o crime se atualiza, se moderniza. O Estado segue de forma anacr�nica e anal�gica enquanto o crime est� em uma vers�o transnacional, digital e operando de forma superarticulada. O crime ainda n�o integra as a��es, mas sabe coordenar”, analisa Lima.

O presidente do f�rum faz quest�o de refor�ar a tese de que “seguran�a n�o � apenas ir ao enfrentamento, mas essa acaba sendo a �nica coisa que sobra para os governantes”. Para ele, o pa�s n�o consegue escapar dessa l�gica, que ele classifica como o “feij�o com arroz da pol�cia”.

Lima tamb�m critica a ret�rica governamental, em que “as palavras m�gicas” — como integra��o, intelig�ncia, tecnologia e combate ao tr�fico de armas — voltam a aparecer nos discursos no momento da crise. “Mas a gente percebe que muito pouco mudou em rela��o � forma da pol�cia atuar.”

Para ele, o caso dos m�dicos assassinados no Rio � emblem�tico. “Nas redes sociais h� muitos relatos de que � comum ver milicianos pela cidade e os traficantes frequentam os quiosques da praia. Cad� pol�cia de investiga��o, a Pol�cia Civil, para prender essas pessoas sem precisar entrar nas comunidades com o caveir�o (carro blindado) e enfrent�-las quando est�o todas juntas, armadas, com fuzil na m�o?”, questiona Lima.

“Hipocrisia”

O pacote de a��es anunciado pelo ministro Fl�vio Dino, na semana passada, mistura, para o professor Ant�nio Fl�vio Testa, medidas boas com outras ineficientes, como a promessa de envio de 300 policiais da For�a Nacional ao Rio de Janeiro. “O envio da For�a Nacional � de uma hipocrisia muito grande. O que esses 300 agentes podem fazer? O custo econ�mico � alt�ssimo e a efetividade, simb�lica. Como esses agentes da For�a Nacional v�o invadir o Complexo da Mar�, v�o subir o (Morro do) Alem�o? O Brasil n�o tem interesse em combater o crime organizado, que est� tomando conta de boa parcela do pr�prio Estado”, critica o professor.

O governador do Rio de Janeiro, Cl�udio Castro (PL), tem uma vis�o semelhante sobre o problema. Na semana passada, depois de receber o secret�rio executivo do Minist�rio da Justi�a e da Seguran�a P�blica, Ricardo Capelli, no Rio, ele reafirmou que essa “n�o � uma briga de traficantes e milicianos”.
“� uma verdadeira m�fia, que tem verdadeiramente entrado nas institui��es, nos poderes, no com�rcio, nos servi�os, inclusive no sistema financeiro nacional”, alertou o governador.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)