Alexandre Claro Mendes
Mestre em hist�ria da ci�ncia, com especializa��o em hist�ria, sociedade e cultura (e em sociologia e globaliza��o)
O notici�rio nacional e internacional tem dedicado grande parte do seu tempo a informar a popula��o sobre a pandemia do novo coronav�rus (Sars-CoV-2). Isso se deve ao grande n�mero de pessoas que contra�ram a doen�a. Desse modo, enquanto o mundo aguarda o desenvolvimento de uma vacina, n�s, enquanto seres humanos, voltamos o nosso olhar para a hist�ria. Afinal, somos sujeitos hist�ricos e sabemos que, ao longo da nossa trajet�ria no planeta, a humanidade tem sofrido com enfermidades, doen�as, pestes etc.
Para um maior entendimento, � necess�rio apontar algumas doen�as, pestes ou epidemias que assolaram a humanidade ao longo do tempo. Desse modo, o que veremos brevemente neste texto s�o algumas considera��es sobre a var�ola, peste negra e a gripe espanhola.
O nome var�ola � origin�rio do latim varius = mancha ou varus = p�stula; sua origem � ainda muito discutida entre os pesquisadores, por�m � poss�vel encontrar relatos mais efetivos dessa doen�a a partir do s�culo 4. Apesar disso, o ano de 1346 a.C. merece uma observa��o, j� que doen�a conhecida como praga dos hititas pode estar relacionada � var�ola, mas at� hoje n�o temos provas concretas sobre isso.
Esses primeiros relatos sobre a var�ola apresentam uma caracter�stica importante, pois o seu surgimento est� relacionado �s grandes cidades antigas desenvolvidas nas margens dos rios Nilo (Egito), Eufrates (Mesopot�mia), Ganges (�ndia), Amarelo e Vermelho (China). Uma quest�o importante a ser destacada � que a expans�o dessa doen�a aconteceu devido ao grande n�mero de pessoas aglomeradas nessas regi�es. Isso ser� visto, posteriormente, na Europa, entre os s�culos 11 e 15. Grande parte do continente europeu foi atingido pela var�ola e nas cidades maiores a doen�a adquiriu car�ter end�mico, mas nas regi�es com menor densidade demogr�fica ela se tornou epid�mica.
Uma curiosidade interessante em rela��o ao tratamento da var�ola e que durou at� o s�culo 16 foi o tratamento vermelho. Ele se baseava no uso de roupas vermelhas pelo paciente e de forma gradativa fazer com que o ambiente ocupado por ele ficasse tamb�m vermelho. � claro que essa medida adotada pelos governos n�o provocou resultados na erradica��o ou conten��o da doen�a.
� importante lembrar que houve grande press�o da popula��o em rela��o �s autoridades para que fosse encontrado um rem�dio ou tratamento eficaz contra a var�ola, pois estima-se que, no s�culo 18, cerca de 400 mil pessoas morriam por ano.
Foi somente em 1755 que o m�dico ingl�s Edward Jenner percebeu que muitas pessoas que ordenhavam vacas n�o contra�ram a doen�a, pois j� tinham adquirido a var�ola bovina e, portanto, estavam imunes � doen�a. A partir dessa observa��o, foi criada a vacina contra a var�ola e seu nome est� diretamente relacionada � palavra vaccinus, que em latim significa vaca.
Outra doen�a que pode ser vista realmente como uma pandemia foi a peste negra, tamb�m conhecida como peste bub�nica, que atingiu a Europa nos s�culos 14 e 15. Essa doen�a, origin�ria da �sia, chegou no continente europeu atrav�s das caravanas de com�rcio com o Oriente, e sua propaga��o se deu, especialmente, pelos ratos, pulgas e dos cad�veres que morriam nas embarca��es comerciais da �poca.
A peste negra encontrou terreno prop�cio para sua propaga��o, j� que existiam diversos problemas de higiene e saneamento nas cidades medievais. Al�m disso, o desenvolvimento da medicina n�o era satisfat�rio para o tratamento da doen�a. Outro problema que pode ser apontado � que a sociedade da �poca era fortemente influenciada pela religiosidade crist�, o que levou uma parcela significativa da popula��o a acreditar que a doen�a era um castigo divino.
O nome peste negra est� associado �s grandes manchas negras que apareciam na pele, seguidas de incha�os nas virilhas e nas axilas, conhecidas como bub�es. Da� tamb�m seu outro nome – peste bub�nica.
A morte pela peste negra era dolorosa e muito r�pida, geralmente de dois at� cinco dias ap�s a infec��o. Os locais mais afetados eram aqueles de maior aglomera��o de pessoas, portanto, as cidades. Acredita-se que a peste negra tenha matado entre 100 milh�es a 200 milh�es de pessoas na Europa e na �sia.
Entre as medidas de combate � peste negra podemos citar a ado��o da quarentena e mais intensidade de higiene nos espa�os p�blicos e privados, al�m da crema��o dos corpos, o que evitava contato com a bact�ria causadora da doen�a.
Outra pandemia que merece destaque foi a gripe espanhola, conhecida tamb�m como gripe de 1918, que nas primeiras d�cadas do s�culo 20 levou � morte aproximadamente 50 milh�es de pessoas.
Apesar de ter recebido o nome de gripe espanhola, os primeiros casos foram registrados nos Estados Unidos, por�m, ainda n�o se sabe sua origem certa. O que foi descoberto � que ela foi uma muta��o do v�rus influenza, que teria passado das aves aos seres humanos. O seu nome gripe espanhola est� relacionado ao fato de a imprensa espanhola ter sido a principal respons�vel em divulgar as not�cias dela ao mundo.
A ideia mais aceita para sua propaga��o est� vinculada �s tropas estadunidenses que teriam chegado na Europa para participar da Primeira Guerra Mundial. A sua expans�o pelo mundo foi causada pelo deslocamento das pessoas atrav�s da moderniza��o dos sistemas de transportes. Os sintomas dessa doen�a eram muitos parecidos com os do atual coronav�rus.
A forma de combater a gripe espanhola n�o era eficiente, j� que a medicina n�o tinha conhecimentos necess�rios e os rem�dios n�o eram eficazes. Uma das coisas que se sabiam era que essa doen�a era contagiosa. Sendo assim, uma das medidas tomadas foi o isolamento social; escolas, igrejas e reparti��es p�blicas foram fechadas com o objetivo de conter a doen�a. Em pa�ses como os Estados Unidos, houve a ado��o das m�scaras para evitar o cont�gio.
Ao olharmos para algumas das doen�as que afetaram as pessoas nas mais diversas �pocas da nossa hist�ria e comparar com a atual pandemia do coronav�rus, precisamos lembrar que a humanidade sempre tem conseguido, na maior parte dos casos, ultrapassar as barreiras impostas � sua condi��o, seja atrav�s da erradica��o ou tratamento das doen�as.
O grande aprendizado que ainda n�o ocorreu como deveria � que n�s, seres humanos, apesar de estar entre os animais mais fracos da natureza, conseguimos chegar at� aqui enfrentando sempre as adversidades da vida. Isso s� foi poss�vel devido aos cuidados que temos com a nossa esp�cie, ou seja, a solidariedade com nosso pr�ximo � que precisa ser o novo normal. � isso que devemos e precisamos esperar do mundo p�s-pandemia.
