
Minas do Norte, Sul, Leste e Centro-Oeste. Dos vales do Jequitinhonha, do Mucuri, do S�o Francisco, do Doce e do A�o. Gerais do Tri�ngulo, Noroeste, Alto Parana�ba, do Campo das Vertentes, das montanhas centrais e da Zona da Mata. Minas Gerais. A organiza��o pol�tica e administrativa deste territ�rio gigante completa hoje 300 anos, contados a partir do alvar� assinado pelo rei de Portugal, dom Jo�o V, meses ap�s a Sedi��o de Vila Rica. Esse movimento, cujo l�der, Filipe dos Santos, foi supliciado pela Coroa portuguesa, abriu caminho para fazer brotar o sentimento de pertencimento � terra. E floresceu, quase sete d�cadas depois, no sonho de liberdade de Joaquim Jos� da Silva Xavier, o Tiradentes, e dos demais inconfidentes.
Vale destacar que Minas Gerais como o territ�rio que se conhece hoje s� passou a existir no s�culo 19. No s�culo 18, as fronteiras eram imprecisas e foram sendo constru�das ao longo do tempo. “A Inconfid�ncia Mineira s� p�de ocorrer porque havia um aprendizado de revolta que foi sendo constru�do desde a Guerra dos Emboabas. Os mineiros aprenderam a exigir da Coroa os seus direitos. E a Revolta de Vila Rica ajudou o povo nesse processo”, diz a professora de hist�ria Adriana Romeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), autora de v�rios livros sobre a hist�ria do Brasil e de Minas Gerais.
Pelo alvar� r�gio datado de 2 de dezembro de 1720, a Capitania de S�o Paulo e Minas do Ouro foi desmembrada, garantindo a autonomia pol�tica e administrativa para a Capitania de Minas, terra do ouro procurado pelos bandeirantes, depois dos diamantes descobertos na regi�o do Rio Jequitinhonha e de conflitos nos grot�es coloniais. Eram tempos de cobi�a,de escravid�o e tamb�m da constru��o de um conjunto arquitet�nico que atrai sempre os olhos de admira��o do mundo inteiro.
“O ano de 1720 � quando o rei de Portugal diz assim: ‘Quem manda aqui sou eu’”, compara Adriana Romeiro. Do per�odo de descoberta das minas, no fim do s�culo 17, a 1720, “a situa��o na regi�o era de grande instabilidade pol�tica, de muita viol�ncia, sobretudo entre 1700 a 1709. N�o existia justi�a institu�da, e sim grandes conflitos entre paulistas e forasteiros. � o per�odo em que o poder pol�tico est� na m�o dos potentados (homens poderosos)”.
A �poca � chamada pela professora de “inf�ncia de Minas”. “Era um ambiente ca�tico, com grande presen�a de pessoas de v�rias regi�es do Brasil e de Portugal. A cria��o da Capitania de Minas marca o fim da era dos potentados”, destaca Adriana Romeiro, que faz palestra hoje, �s 10h, no canal virtual do Instituto Hist�rico e Geogr�fico de Minas Gerais (IHGMG), com o tema “Minas Gerais no imagin�rio setecentista: entre o sonho e o pesadelo”.
Pr�-hist�ria
Para contar a hist�ria destas terras, � preciso falar tamb�m das riquezas arqueol�gica e espeleol�gica representadas por Luzia, que vivia h� 11 mil anos na regi�o c�rstica de Lagoa Santa e se tornou conhecida, na atualidade, como o f�ssil humano mais antigo com data��o no Brasil. Mil�nios depois, no s�culo 17, brancos, negros e �ndios mexeram um caldeir�o que resultouemarte, religiosidade, sabores e cultura mineira.
Neste canal especial comemorativo do tricenten�rio, o Estado de Minas busca traduzir, em depoimentos de homens e mulheres com a sensibilidade � flor da pele, o significado da “alma mineira”, essa peregrina que atravessa os tempos coloniais, imperiais e republicanos.
Em texto exclusivo e emocionante, a premiada escritora belo-horizontina Concei��o Evaristo cita a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), mineira de Sacramento, Aleijadinho, os rios S�o Francisco e das Velhas, Milton Nascimento e a c�lebre Chica da Silva, que, por n�o conhecer o oceano, teria mandado fazer o seu pr�prio em um lago artificial no Arraial do Tejuco, hoje Diamantina. � ela quem sintetiza: “A alma mineira � escorregadia entre pedras, semar n�o temos, o Chico e suas �guas nos batizam, e as �guas das Velhas, o rio, n�o dormem em seu leito. Nem de mar a alma mineira precisa, Chica concebeu um”.