
Se fosse buscar cores para simbolizar Minas Gerais, a artista pl�stica Yara Tupynamb� escolheria o “verde amarronzado, �s vezes azulado, das montanhas”. Se esses tons colorem a alma do estado, a artista, nascida em Montes Claros, na Regi�o Norte do estado, v� a cultura popular, principalmente as festas do Divino, catop�s e congado, entre tantas outras manifesta��es, como s�mbolos mineiros.
300 anos s�o de mem�ria e tem os que cultu�-los.”
Moradora de BH, Yara destaca o “artesanato fin�ssimo” de cer�mica, a exemplo das esculturas encontradas na regi�o de S�o Jo�o del-Rei, no Campo das Vertentes, e tamb�m no Vale do Jequitinhonha, nascidas do barro.“Os mineiros, principalmente os mais velhos, est�o impregnados do seu passado, ainda guardam compoteiras, orat�rios, cristaleiras e santos que pertenceram aos pais. Esses A atriz In�s Peixoto, do celebrado Grupo Galp�o, vai fundo na hist�ria para entender melhor o significado da alma mineira. “O teatro faz parte da funda��o de Minas e da sua gente”, afirma. Com essa convic��o, ela tem como ponto de partida o poeta e ensa�sta do barroco Affonso �vila (1928-2012), de Belo Horizonte. Ela cita o livro O teatro em Minas Gerais nos s�culos 18 e 19, de autoria dele, que “exp�e a religiosidade e o teatro como duas poderosas ferramentas de express�o espiritual do ser humano”.
Em Minas, que est� comemorando seus 300 anos, “ temos experi�ncias marcantes que entraram para a hist�ria, como o Triunfo eucar�stico (1733), a constru��o da Casa da �pera de Vila Rica, que � nosso lindo Teatro de Ouro Preto, um teatro de bolso de Chica da Silva, que funcionou em Diamantina entre 1753 e 1771, o teatro de Sabar�...”. Essas experi�ncias est�o na raiz de uma atividade que se tornou um celeiro de grupos teatrais, de artistas que conseguem sobreviver fora do eixo Rio-S�o Paulo, acrescenta.
Novas receitas
Para a atriz do Galp�o, as conex�es do teatro, em Minas, v�o al�m do palco. “Fico pensando que Minas tem uma tradi��o muito forte com a cozinha. Os artistas mineiros s�o muito abertos a novas receitas, novas combina��es de ingredientes improv�veis para resultados inesperados, e temos muitos coletivos que se agrupam de um jeito mineiro muito gostoso de transformar sua sede em quase casas, com cozinha na qual voc� pode planejar, comer junto, beber, trocar ideias e receber tamb�m pequenos p�blicos.”
Tamb�m � no palco que a bailarina do Grupo Corpo Yasmin Almeida, de 27 anos, oito dos quais na companhia de dan�a com reconhecimento internacional, mostra seu talento e encontra a melhor defini��o para sua arte: conquista.
Belo-horizontina, a jovem acredita que a alma mineira � m�ltipla: “Somos feitos de culturas diversas, de formas, de uma hist�ria que tem delicadeza, recebe influ�ncias e � receptiva”. Nos palcos mineiros e do mundo, Yasmin participou dos espet�culos Triz, Dan�a sinf�nica, Su�te branca e Gira e Gil,e sabe que a companhia mineira,completando 45 anos, tem um p�blico fiel e representa bem o estado. “Sinto orgulho do que fazemos. Tem gente que acompanha o Corpo desde as primeiras montagens. � muito bonito isso.”
Alma inventiva, mesmo quando faltam peda�os
Concei��o Evaristo, mineira de Belo Horizonte, � escritora, ficcionista e ensa�sta, mestre em literatura brasileira e doutora em literatura comparada. Tem sete livros publicados, sendo Olhos d'�gua (2015) vencedor do Pr�mio Jabuti. Em 2019, ela foi homenageada pela premia��o como personalidade liter�ria.

“A alma mineira sabe ser t�o s�. E quem pensa que o nosso trem � lento, n�o, ele � calmo, se afunda no tempo para assuntar a vida, pois viver � perigoso. A alma mineira sabe escrever e quando a letra falta, busca-se na vida a grafia certa, por isso Carolina catava tanto e ainda deixou fartas sobras para quem quiser. A alma mineira � escorregadia entre pedras, se mar n�o temos, o Chico e suas �guas nos batizam, e as �guas das Velhas, o rio, n�o dormem em seu leito. Nem de mar a alma mineira precisa, Chica concebeu um. A alma mineira � inventiva, mesmo quando lhe faltam peda�os, amarra-se a arte na m�o machucada, e Aleijadinho surge inteiro, imenso nas est�tuas. A alma mineira pega ch�o, pega estrada, faz travessia e canta Nascimento. Ah, a alma mineira! Preta Velha, congadeira, a embalar Minas ao som das caixas! Eia, Senhora do Ros�rio! Guardi� de nosso corpo, guardi� de nossa alma.”