
As mem�rias de Carlos Denis Machado (1931-2013), um dos expoentes da gera��o que colocou Minas Gerais no mapa da cr�tica de cinema nas d�cadas de 1950 e 1960, s�o uma linha do tempo pormenorizada de mais de meio s�culo da s�tima arte em Belo Horizonte. As cr�ticas e um artigo in�dito, por�m inacabado, de Carlos Denis, interrompido pela morte, h� seis anos, fazem parte de Minhas mem�rias do cinema (Editora Ramalhete), organizado pela vi�va, L�cia Helena Monteiro Machado. O lan�amento � hoje, das 18h30 �s 21h, na Livraria Ouvidor, na Savassi.
Mineiro de Curvelo, Carlos Denis se mudou para Belo Ho- rizonte em 1954, aos 23 anos. Formou-se em direito e foi juiz do Trabalho, mas seu conhecimento e paix�es extrapolavam � rotina da profiss�o escolhida. Foi cronista esportivo e cr�tico de cinema, fundador e diretor do Teatro Experimental, diretor do bal� Klauss Viana e um dos fundadores do Centro de Estudos Cinematogr�ficos (CEC), que era o ponto de encontro da intelectualidade mineira da �poca.
“Foram anos efervescentes em Belo Horizonte. T�nhamos aqui o que havia de mais moderno no teatro, na cr�tica de cinema, o bal� Klauss Viana, o CEC. Os textos da Revista de Cinema iam al�m de Minas Gerais. Lembro-me de quando veio a BH um leitor da revista: um rapazola baiano, agitado, ainda muito jovem: era o Glauber Rocha”, conta L�cia Helena.
Fundado em 1951, o CEC fez hist�ria e formou gera��es. O primeiro presidente do cineclube foi o cr�tico e poeta Jacques do Prado Brand�o. Ali se reuniam Cyro Siqueira, Fritz Teixeira Sales, Guy de Almeida, Afonso Torres. Era ponto de encontro de intelectuais, frequentado por jornalistas, cr�ticos de cinema e teatro, escritores, atores e estudantes. “Gra�as a essa gera��o, aprendemos que o cinema n�o existe por si s�; para melhor entend�-lo e compreender seu alcance h� de se ter conhecimento m�nimo das outras artes, j� que o cinema utiliza todas elas”, escreve Paulo Augusto Gomes, em ‘'Meu amigo Carlos Denis”, em um dos artigos que comp�em a abertura do livro.
L�cia Helena entrou para o CEC em 1956, aos 17 anos, atra�da pela paix�o pela literatura e pelo cinema. “Assim como em Casablanca todo mundo ia ao Rick’s, em Belo Horizonte, todo mundo ia ao CEC”, escreve a organizadora no texto de abertura do livro. Foi no CEC que Duda conheceu Carlos Denis e come�aram uma vida de cinema. O livro re�ne cr�ticas publicadas no jornal �ltima hora, do in�cio dos anos 1960, e na Revista de Cinema, criada por Cyro Siqueira em abril de 1954 – que marcou �poca, com 25 n�meros de abril de 1954 a dezembro de 1957, al�m de publica��es espor�dicas na d�cada de 1960. “O mais importante marco da nossa cr�tica cinematogr�fica. Com ela, a cr�tica mineira ocupou espa�o”, escreveu Denis.
UMA VIDA PARA O CINEMA
Maria L�cia come�ou a organizar a edi��o no ano passado, mas o desejo deu partida ao encontrar um texto biogr�fico do marido que ficou inacabado. Em Minhas mem�rias do cinema, Carlos Denis lembra as primeiras rela��es com a s�tima arte, no cinema do seu Orestes, na Curvelo dos anos 1930 – nas pequenas cidades no interior, naquela �poca, o cinema, com suas luzes e cartazes, com atores e atrizes que mais pareciam semideuses, eram a principal divers�o. A primeira mem�ria, Buster Keaton: o ator que nunca ri, fez Denis sorrir e se apaixonar pela arte. Dali, partiu para Carlitos, o Gordo e o Magro e todas as fitas que chegavam �s matin�s.
Seu diretor favorito era John Ford; atriz, Katharine Hepburn. Mas a lista � longa, com Ingmar Bergman, Roberto Rosselini, Eisenstein, Orson Welles, Billy Wilder. Truffaut era seu favorito entre os franceses e, dos modernos, gostava de Clint Eastwood, Woody Allen, Carlos Saura e Pedro Almod�var. A rela��o de Denis com o cinema descrito no artigo � um retrato das mudan�as e de como o cinema foi consumido ao longo das d�cadas: as revistas (entre elas Cena Muda e Ci- nearte), os cartazes, as estrelas.
A rela��o dos cinemas extintos de BH � um dos sabores do texto: o Cine Theatro Brasil, o Roxy (Avenida Augusto de Lima), Cine Gl�ria (Afonso Pena), Cine Floresta. Cine S�o Lu�s (Rua Esp�rito Santo); Cine Le�o XIII (Rua Guarani); Cine S�o Sebasti�o (Barro Preto); Cine Am�rica (Tamoios) – que tinha a peculiaridade de ser dividido entre primeira e segunda classe); Cine Metr�pole (Rua da Bahia); Cine Candel�ria (Pra�a Raul Soares). No texto, Carlos conta suas experi�ncias nas dezenas de salas da capital, onde levou uma vida de cumplicidade com a s�tima arte.
MINHAS MEM�RIAS DO CINEMA

De Carlos Denis Machado
Organiza��o e sele��o:
L�cia Helena Monteiro Machado
Editora Ramalhete
R$ 45

(...) a ponto de poder tachar A noutro de Souffle de uma anarquia f�lmica, magnificamente bem desenvolvida e ordenada por uma c�mara que v� as ditas personagens e por um cora��o que sente as cenas a serem montadas”
Acossado (jornal �ltima Hora, 22/3/1962)

‘‘A ternura ‘� o instrumento de que o homem dotado de grande sensibilidade e chamado Vittorio de Sica empunha ao se utilizar do maravilhoso � formid�vel meio de express�o que constitui o cinema.’’
Milagre em Mil�o (Revista de Cinema)

“Talvez em Sabrina, o tom ir�nico n�o tenha sido cogitado, ainda que alguns vejam no mesmo uma volta ao tipo de com�dias antes do cinema americano, de antes da d�cada de 40. Em s�ntese, Sabrina n�o nos deu o melhor Wilder”