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Estado de Minas CORONAV�RUS

'Quantos ianom�mis v�o morrer?' O isolamento deste l�der ind�gena na floresta

Filho de Davi Kopenawa, o autor do livro 'A queda do c�u', revela o medo de o xawara, coronav�rus no idioma yanomami, chegar �s aldeias por meio dos garimpeiros


postado em 17/04/2020 04:00 / atualizado em 23/04/2020 18:23

Davi Kopenawa, está afastado com o seu povo na floresta(foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Davi Kopenawa, est� afastado com o seu povo na floresta (foto: Fernando Fraz�o/Ag�ncia Brasil)

"Os garimpeiros est�o na nossa casa e n�o temos a barreira contra a transmiss�o da pandemia. Pode espalhar dentro da terra ind�gena, temos nossos velhinhos. E se chegar, se entrar l�, quantos ianom�mis v�o morrer? N�o sabemos. � problema muito s�rio e corremos esse risco trazido por garimpeiros em nossa comunidade. N�s, yanomami, estamos com muito medo. Quem vai nos proteger, quem vai barrar essa doen�a?"

O desabafo � de D�rio Vit�rio Kopenawa Yanomami, de 36 anos, vice-presidente da Hutukara Associa��o Yanomami, com sede em Boa Vista (RR), que representa a Terra Ind�gena Yanomami – 96.650 quil�metros quadrados de floresta tropical, demarcada por decreto presidencial em 25 de maio de 1992, de incalcul�vel biodiversidade, localizada entre os estados de Roraima e do Amazonas. Vivem nesse territ�rio 26.780 yanomamis em 380 aldeias, ou casas coletivas (malocas), onde fam�lias estendidas partilham o labor, o sabor e os sonhos de uma exist�ncia, em que as atividades preferidas est�o na floresta, de onde soam os cantos dos esp�ritos que habitam rios, �rvores, animais e plantas.

(foto: Arte: Lélis)
(foto: Arte: L�lis)
D�rio � filho do xam�, ativista e porta-voz yanomami Davi Kopenawa, autor do livro A queda do c�u – Palavras de um xam� yanomami, que escreveu com o etn�logo franc�s Bruce Albert.  D�rio foi pego pelo isolamento social com a filha e esposa, em Boa Vista, onde passa nove meses do ano – os outros tr�s s�o na aldeia Watoriki. O pai, Davi Kopenawa, est� afastado com o seu povo na floresta.

E � por meio de r�dio, pois n�o h� sinal de celular no territ�rio yanomami, que D�rio acompanha a situa��o. Ele est� muito preocupado com o fantasma da pandemia, que chama de xawara, consequ�ncia do desequil�brio provocado pela destrui��o da terra-floresta.

"Todas as aldeias est�o em isolamento social. E assim vai continuar at� que essa pandemia volte para a sua origem. E eu aqui, em Boa Vista, com a minha mulher e filha, vamos ficar 14 dias em quarentena e fazer o exame, antes de poder voltar pra Watoriki", explica D�rio.

"Cansamos de pedir: n�o destruam as florestas, n�o poluam os rios, vai dar problema, v�o surgir doen�as. Mas o homem branco n�o entende. N�s sabemos. Mas agora, voc�s jornalistas, m�dicos, ju�zes, promotores, presidente, deputados, voc�s t�m de aprender hoje: esse � o resultado. O mundo global est� morrendo. E n�o foi falta de os povos ind�genas avisarem", assinala D�rio.
De Boa Vista, Dário Kopenawa monitora pelo rádio a situação da aldeia onde está seu pai:
De Boa Vista, D�rio Kopenawa monitora pelo r�dio a situa��o da aldeia onde est� seu pai: "Estamos com muito medo" (foto: Arquivo pessoal)
 
Como est� o enfrentamento da pandemia pela comunidade yanomami?
Essa pandemia est� muito pr�xima da terra yanomami e querendo entrar. Essa pandemia � imaterial, � como vento, n�o tem planejamento, n�o tem semana para entrar. Muitos ind�genas j� pegaram a Covid-19 no Amazonas e est�o morrendo. S�o nossos parentes. Estamos muito tristes, porque somos povos da floresta. E aqui em Boa Vista, a pandemia chegou em v�rios munic�pios; Alto Alegre, Caja�, Pacaraima, Cant� e outros. Ela est� muito pr�xima das nossas comunidades, da terra ind�gena yanomami. Estamos monitorando por radiofonia, conversando com as lideran�as para que n�o saiam do nosso territ�rio, para que cada comunidade fique em sua aldeia. Todas as 350 aldeias de nosso territ�rio est�o em quarentena. Mas a doen�a pode chegar pelos garimpeiros, que entram ilegais no nosso territ�rio, sem pedir permiss�o, sem fazer teste. A pandemia � um problema mundial: n�o vai escapar nem formiga.

Que tipo de prote��o voc�s est�o tendo para o isolamento do territ�ri yanomamie o enfrentamento do coronav�rus?
N�o temos prote��o. Essa doen�a � muito forte, muito perigosa. Na terra yanomami os garimpeiros entram por v�rios lugares, como os rios Mucaja� e Uraricoera. Por esses rios, os invasores v�o trazer a pandemia do coronav�rus para os yanomamis. Entram e andam em qualquer canto, pelos rios, pelas matas, na proximidade das aldeias, ficam ao redor das comunidades.  Os garimpeiros est�o na nossa casa e n�o temos a barreira contra a transmiss�o da pandemia. Pode espalhar dentro da terra ind�gena, temos nossos velhinhos. E se chegar l�, se entrar l�, quantos yanomamis v�o morrer? N�o sabemos. � problema muito s�rio e corremos esse risco trazido por garimpeiros para nossa comunidade. N�s estamos com muito medo. Quem vai nos proteger, quem vai barrar essa doen�a? Aqui em Boa Vista, o governo n�o d� conta. Imagina na terra yanomami isolada, com tantos invasores.

Atualmente, h� diversos n�cleos ilegais de garimpagem encravados no territ�rio demarcado. Esses garimpeiros chegam �s aldeias, onde est�o as casas coletivas?
As maiores invas�es de garimpeiros ilegais na terra yanomami come�aram na d�cada de 80.  Nessa �poca havia 40 mil garimpeiros. Muitas pistas clandestinas foram abertas na regi�o de Rio Branco. Eles trouxeram doen�as. Morreram muitos ianom�mis nessa �poca, assassinados, massacrados, por viol�ncia, prostitui��o, arma de fogo, mal�rias e muitas epidemias trazidas pelos garimpeiros. Desde 2015, esses garimpeiros voltaram a aumentar. Est� tendo um aumento grande, e a maior preocupa��o com esse garimpo ilegal � que entram sem autoriza��o, sem permiss�o e sem ser examinados. Esses garimpeiros v�o transmitir o coronav�rus na Terra Ind�gena Yanomami. Os garimpeiros entram, n�o pedem autoriza��o. Mas sabem onde v�o entrar, pois tem outros garimpeiros que mant�m contato com eles, que est�o dentro do nosso territ�rio. Eles fazem contato pelo r�dio, via sat�lite, usam internet na Terra Ind�gena Yanomami. Por isso eles t�m contato, se organizam e mandam mensagens a outros estados. � um grupo de garimpo organizado.  Eles levam equipamentos de tecnologia, j� h� muitos anos. Eles chegam ao estado de Roraima, depois pegam avi�o, helic�ptero e pousam nas pistas ilegais. Ent�o s�o grupos organizados.  N�s temos apoiadores e parceiros que nos ajudam a localizar onde pousam, como se organizam, sabemos tudo isso. J� foi encaminhado ao Ex�rcito, � Pol�cia Federal, ao Minist�rio P�blico todo o mapeamento das pistas clandestinas. J� fizemos v�rias den�ncias, encaminhamos aos �rg�os p�blicos, ao Minist�rio P�blico Federal, � Pol�cia Federal, ao Ex�rcito Brasileiro. J� fomos em Bras�lia, entregamos den�ncia para o Minist�rio da Justi�a, ao Minist�rio da Defesa, � Secretaria de Governo. E a outros �rg�os p�blicos. Entregamos den�ncia h� muitos anos para tomarem provid�ncias e retirar os garimpeiros da nossa terra.

Com a pandemia, que tipo de assist�ncia a comunidade yanomami est� recebendo do governo? 
O Distrito Sanit�rio Especial Yanomami trabalha na sa�de ind�gena. Esses profissionais est�o trabalhando nas nossas comunidades. Mas n�o podem fazer nada contra os invasores, que est�o ao redor e podem levar a doen�a.

Como ocorreu a morte de um jovem yanomami de 15 anos?
O nosso jovem era natural da aldeia Rehebe, localizada na terra ind�gena yanomami �s margens do Rio Uraricoera. Ele morava em Alto Alegre (a 87 quil�metros de Boa Vista), n�o estava em nossa comunidade quando adoeceu. Depois ele entrou no seu territ�rio, a gente n�o sabe se vai transmitir a doen�a em sua comunidade. Quando ele voltou para Boa Vista, no dia 3 de abril, ficou na UTI, no Hospital Geral de Roraima. Depois de uma semana, saiu o primeiro resultado para a Covid-19. Os m�dicos falaram que deu negativo. Ele continuou no hospital, fizeram outro exame e saiu o resultado positivo. Foi a primeira morte de um yanomami de coronav�rus em Boa Vista. Em meio � pandemia de coronav�rus, h� novos alertas de devasta��o da floresta feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), realizados pelo sistema Deter (Detec��o de Desmatamento em Tempo Real). Foi registrado recorde no primeiro trimestre de 2020, com aumento de 51,4% da �rea amea�ada por atividades ilegais em rela��o ao mesmo per�odo de 2019.

Al�m do garimpo ilegal, voc�s t�m tido tamb�m desmatamento em seu territ�rio?
O desmatamento est� se aproximando do nosso territ�rio. Est� acontecendo na regi�o do Alto Alegre, no Caja�, onde os munic�pios s�o integrados no limite do territ�rio yanomami. Estamos monitorando. � desmatamento, � garimpo, � ambi��o do homem branco. Est� a� o desequil�brio que afeta todo o planeta.

No livro A queda do c�u, seu pai, Davi Kopenawa, descreve o desastre ambiental do planeta, discorrendo sobre o envenenamento e o aquecimento do c�u, decorrentes, no limite, do fetichismo "da mercadoria" (a busca da riqueza, o consumo desenfreado), cultivado pelo homem branco. Ao descrever esse processo, Davi Kopenawa considera que apenas os xapiri (esp�ritos da floresta) podem conter esses seres mal�ficos, combater as epidemias (xawara) e "manter o c�u em seu lugar". O que esta obra tem a nos dizer sobre o momento que vivemos hoje?
Na nossa l�ngua, o coronav�rus se chama xawara. A xawara � da cosmologia yanomami. Antes de acontecer essa pandemia, meu pai j� alertava. Nossa cosmologia ianom�mi e Y'ekwana avisou. Quando a vida est� em harmonia, n�o morrem as crian�as nem os adultos nem os animais nem a floresta adoece. A floresta � harmonia para todos. Mas os pr�prios homens brancos, procurando riqueza atrav�s de ouro, petr�leo, mineradores, desmatamento, espalharam esse desequil�brio, essa epidemia, que se espalha como uma fuma�a no mundo global.  � a ambi��o dos brancos pelos min�rios debaixo da terra que empurra as invas�es de garimpeiros e provocam a degrada��o da floresta. Esse � o desequil�brio. Por isso as pessoas est�o adoecendo. Isso os xam�s sabem. Por isso meu pai xam� escreveu A queda do c�u, para que jovens, antrop�logos, mestrandos, doutorandos, possam aprender nesse livro, antes que seja tarde. A cat�strofe dessa pandemia � consequ�ncia do desastre ecol�gico, do massacre e do assassinato dos povos da floresta, que preservam as matas, que vivem em harmonia com a natureza. Cansamos de pedir: n�o destruam as florestas, n�o poluam os rios, vai dar problema, v�o surgir doen�as. Mas o homem branco n�o entende. N�s sabemos. Mas agora, voc�s jornalistas, m�dicos, ju�zes, promotores, presidente, deputados, voc�s t�m de aprender hoje: esse � resultado. O mundo global est� morrendo. E n�o foi falta de os povos ind�genas avisarem. Na nossa cosmologia, meu pai Davi nos fala que s� os xam�s sabem ainda chamar os xapiri (esp�ritos da floresta). Mas se a floresta for destru�da, os rios secar�o, as �rvores morrer�o e as montanhas v�o rachar com o calor. Os xapiri que brincam na floresta v�o fugir e n�o v�o mais nos proteger. Sem eles, os xam�s n�o poder�o mais evitar as fuma�as-epidemias, nem v�o conseguir deixar "o c�u em seu lugar". O mundo vai viver o caos. Vai ser o tempo da queda do c�u. Todos adoecer�o. Todos morrer�o.


''Quando a vida est� em harmonia, n�o morrem as crian�as nem os adultos nem os animais nem a floresta adoece. A floresta � harmonia para todos. Mas os pr�prios homens brancos, procurando riqueza atrav�s de ouro, petr�leo, mineradores, desmatamento, espalharam esse desequil�brio, essa epidemia, que se espalha como uma fuma�a no mundo global''

D�rio Kopenawa




Livro ajuda a entender 
a origem de um povo


A terra-floresta � um ente vivo, parte integrante de uma complexa intera��o cosmol�gica entre humanos e n�o humanos. Nas palavras de Davi Kopenawa: "A terra-floresta s� pode morrer se for destru�da pelos brancos. Ent�o, os riachos sumir�o, a terra ficar� fri�vel, as �rvores secar�o e as pedras das montanhas rachar�o com o calor. Os esp�ritos xapirip�, que moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabar�o fugindo. Seus pais, os xam�s, n�o poder�o mais cham�-los para nos proteger. A terra-floresta se tornar� seca e vazia. Os xam�s n�o poder�o mais deter as fuma�as-epidemias e os seres mal�ficos que nos adoecem. Assim, todos morrer�o". Na cosmologia yanomami, a Terra � chamada de o "velho c�u", pois, no princ�pio de tudo, o mundo fora esmagado pelo colapso do c�u, lan�ando os seus habitantes ao submundo. Com a "queda do c�u", o seu avesso (o outro lado do c�u) foi exposto, tornando-se a terra-floresta onde os ianom�mis emergiram e permanecem desde tempos memoriais. Um "novo c�u" ergueu-se, mantido por funda��es de metal, guardadas nos subsolos pelo deus (princ�pio organizador do universo) Omama. Contudo, esse "novo c�u" e a terra-floresta est�o sob constante ataque das for�as do caos, representadas pelos agentes da devasta��o ambiental. Nessa leitura cosmol�gica, os xam�s yanomamis t�m a fun��o de trabalhar incansavelmente com seus aliados espirituais, os xapiri (esp�ritos da floresta), para evitar um novo apocalipse. Um "terceiro c�u" bem acima, estaria a postos para substituir o colapso do "novo c�u", o que levaria, mais uma vez, � extin��o do mundo.

A narrativa etnogr�fica, que parte da oralidade aut�ntica e vibrante do xam� Davi Kopenawa, foi apresentada, a partir dos anos 80 e ao longo de quase tr�s d�cadas, ao antrop�logo franc�s Bruce Albert. Transportada para o idioma franc�s e deste traduzido ao portugu�s, a cultura ancestral xam� foi transcrita para a obra A queda do c�u: palavras de um xam� yanomami (Companhia das Letras, 2015). Discorre sobre a hist�ria recente desse povo – sociedade de ca�adores-agricultores, assentada na floresta tropical do Norte da Amaz�nia. Os yanomamis vivem em extenso territ�rio de 192 mil quil�metros quadrados em dois lados da fronteira Brasil-Venezuela, nas duas vertentes da Serra Parima, entre os vales dos rios Orinoco, no Sul da Venezuela, e na margem esquerda do Rio Negro, ao Norte do Brasil. A popula��o soma, nos dois pa�ses, aproximadamente 36 mil pessoas em 640 aldeias, das quais 380 em solo brasileiro, reunindo 26.780 ind�genas entre os estados de Roraima e do Amazonas, na demarcada terra ind�gena yanomami.

Mas, para al�m dos fatos recentes da hist�ria desse povo, ao eleger o interlocutor branco Bruce Albert, Davi Kopenawa pretendeu deixar o legado escrito de sua cultura ancestral � sociedade de "brancos" e aos pr�prios descendentes. Advertiu: "Se quiser pegar minhas palavras, n�o as destrua. S�o as palavras de Omama (deus ou for�a primordial) e dos xapiri. Desenhe-as primeiro em peles de imagens, depois olhe sempre para elas. Voc� vai pensar: 'Haixop�! � essa mesmo a hist�ria dos esp�ritos!'. E, mais tarde, dir� a seus filhos: 'Estas palavras escritas s�o as de um ianom�mi, que h� muito tempo me contou como ele virou esp�rito e de que modo aprendeu a falar para defender a sua floresta'. Depois, quando essas fitas em que a sombra das minhas palavras est� presa ficarem imprest�veis, n�o as jogue fora. Voc� s� vai poder queim�-las quando forem muito velhas e minhas falas tiverem j� h� muito tempo sido tornadas desenhos que os brancos podem olhar. Inaha th a? Est� bem?"

A partir de sua perspectiva cosmol�gica, Kopenawa pontua e interpreta a ambi��o e o fetichismo pela "mercadoria" na sociedade branca, que leva � busca predadora por riqueza, ao ataque � Terra e promove as mudan�as clim�ticas no planeta. 

Aqui as profecias emanadas do cora��o da floresta s�o dirigidas n�o apenas ao Brasil do extrativismo brutal, do garimpo ilegal que leva � linha de frente homens miser�veis e igualmente violentos, que, rinc�es afora, sujam as m�os em assassinatos de ativistas ind�genas e ambientalistas. 

O recado � sobretudo dirigido �queles empres�rios, pol�ticos e representantes eleitos, que proporcionam a retaguarda para a corrida extrativista ilegal em terras ind�genas. A cr�tica se dirige tamb�m ao resto do mundo que repousa sob o mesmo fetiche. 

A densa abordagem narra, sobretudo, a cultura ancestral, a origem m�tica e a din�mica invis�vel do mundo, confrontada pela civiliza��o ocidental em atos que o levam a predizer um futuro tr�gico para o planeta. (BM)


A queda do c�u: palavras de um xam� yanomami
•  De Davi Kopenawa e Bruce Albert
•  Companhia das Letras
•  768 p�ginas
•  R$ 84,90 e-book: R$ 44,90


Trecho de A queda do c�u

"Os brancos n�o pensam muito adiante no futuro. Sempre est�o preocupados demais com as coisas do momento. � por isso que eu gostaria que eles ouvissem minhas palavras atrav�s dos desenhos que voc� fez delas; para que penetrem em suas mentes. Gostaria que, ap�s t�-las compreendido, dissessem a si mesmos: 'Os yanomami s�o gente diferente de n�s, e, no entanto, suas palavras s�o retas e claras. Agora entendemos o que eles pensam. S�o palavras verdadeiras! A floresta deles � bela e silenciosa. Eles ali foram criados e vivem sem preocupa��o desde o primeiro tempo. O pensamento deles segue caminhos outros que o da mercadoria. Eles querem viver como lhes apraz. Seu costume � diferente. N�o t�m peles de imagens, mas conhecem os esp�ritos xapiri e seus cantos. Querem defender sua terra porque desejam continuar vivendo nela como antigamente. Assim seja! Se eles n�o a protegerem, seus filhos n�o ter�o lugar para viver felizes. V�o pensar que a seus pais de fato faltava intelig�ncia, j� que s� ter�o deixado para eles uma terra nua e queimada, impregnada de fuma�as de epidemia e cortada por rios de �guas sujas!" Gostaria que os brancos parassem de pensar que nossa floresta � morta e que ela foi posta l� � toa. Quero faz�-los escutar a voz dos xapiri, que ali brincam sem parar, dan�ando sobre seus espelhos resplandecentes. Quem sabe assim eles queiram defend�-la conosco? Quero tamb�m que os filhos e filhas deles entendam nossas palavras e fiquem amigos dos nossos, para que n�o cres�am na ignor�ncia. Porque se a floresta for completamente devastada, nunca mais vai nascer outra.


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