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Estado de Minas LITERATURA

Sob o signo da inquietude: livro nasce em noites de ins�nia, a partir de experi�ncias reais

Tendo a obra de Gustav Jung como refer�ncia, o engenheiro eletricista George Borten estreia na literatura aos 73 anos com reuni�o de contos


postado em 19/06/2020 04:00 / atualizado em 19/06/2020 07:58

(foto: Adobe photos)
(foto: Adobe photos)
O primeiro livro nasceu aos 73 anos, pouco depois que o engenheiro eletricista George Borten, natural do Rio de Janeiro e radicado em Belo Horizonte, j� aposentado, passou a sentir-se atormentado pela vontade de escrever.

Dominado por um desejo profundo de registrar as suas hist�rias, obcecado em noites de ins�nia por personagens que exigiam vir � vida, assim foi gestado O canal de Dotonbori, lan�ado pela Quixote+DO Editoras Associadas, j� dispon�vel aos leitores no site da editora (www.quixote-do.com.br) e na Livraria Quixote, em Belo Horizonte.

S�o 22 contos que se apropriam de viv�ncias reais para fundi-las com o imagin�rio ficcional. Nasceram de viv�ncias ao longo de uma vida profissional que lhe abriu as janelas ao mundo. Fosse auditando a capacidade t�cnica industrial de fornecedores nos sub�rbios cariocas ou em outros cantos do Brasil; fosse na inspe��o de equipamentos que seriam comprados em Osaka, Kyoto – ambas no Jap�o – ou Trbovlje – antiga Iugosl�via, atual Eslov�nia –, o fato � que as personagens deixaram marcas.

Outras hist�rias nasceram de experi�ncias surgidas da dimens�o  estritamente pessoal de George Borten ou em intera��o e conversas com amigos e familiares: como os relatos do pai, tenente Borton, aviador na Segunda Guerra Mundial, que sobrevoava o Canal da Mancha quando a Alemanha nazista se rendeu, ou o caso do pistoleiro Dion�sio, executado pelo delegado em sua �ltima miss�o, na qual o acompanhava a �ltima mulher que amou.

Em que pese o fato de os contos reunirem uma miscel�nea de situa��es – do cotidiano, de viagens e de experi�ncias marcantes reveladas por diferentes pessoas do relacionamento do autor – o fio que amarra o livro � a busca. “Se a vida nos parece sem sentido, ser� talvez porque, como proposto pelo existencialismo, cabe a n�s cri�-lo, no dia a dia da nossa exist�ncia.

Essa procura, essa constru��o incessante, � o que nos distingue como humanos. Porque ser humano � descobrir que � a busca em si que � o nosso prop�sito. Neste caminho n�o h� um destino, mas sim uma permanente viagem. N�o haver� porto de chegada”, considera Ge- orge Borten ao apresentar o pr�prio livro.

Essa � a busca que o autor faz tamb�m tomando por refer�ncia o legado de Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra e psicoterapeuta su��o que desenvolveu os conceitos de arqu�tipo e inconsciente coletivo, extremamente influentes em diversas �reas do conhecimento, como a psiquiatria, a psicologia, a ci�ncia da religi�o, as artes e a literatura.

No conto Jung e a arte, o autor associa essa procura do existir � express�o da arte e ao percurso do artista, cuja obra se apresenta como mensagem do inconsciente coletivo para toda a humanidade. “A arte aqui n�o � sublima��o, fuga, mas, sim, encontro, descoberta. Nesse caminho para dentro, a primeira camada encontrada � semelhante ao inconsciente proposto por Freud, ou seja, um dep�sito de sentimentos negativos recalcados.

� quando se consegue passar para al�m desse ponto e continuar a viagem que se chega ao reino da arte, do sublime, da espiritualidade e da transcend�ncia, da unidade com o cosmos”, escreve o autor.

J� em A casa do lago, George Borten retoma a tem�tica que abre e encerra o livro. “O maior legado de Jung � a constata��o de que a psique humana evolui sem cessar, mesmo na velhice. � como se a nossa vida estivesse sendo configurada por um mito pessoal, uma lenda que desse sentido a tantos fragmentos. Na realidade, essa descoberta da lenda pessoal se confunde, em parte, com a tradicional busca do sentido da vida, que sempre assusta as pessoas como sendo um caminho complicado e dif�cil”, diz ele.

Borten considera que, por mais desafiador e doloroso que seja, � imposs�vel ao ser humano negar-se ao amadurecimento emocional, permanecendo como eterna crian�a. Diz o autor: “Aqui fica bastante clara a diferen�a entre procurar a felicidade e entender o seu destino, o seu chamado pessoal. N�o � poss�vel evitar as sombras, nem mesmo deixar de ver a luz que as provoca. Podemos at� ficar parados, mas o caminho � nossa frente estar� sempre nos aguardando”. 

Borten, nascido no Rio de Janeiro e radicado em BH, sobre a origem das 22 histórias do livro:
Borten, nascido no Rio de Janeiro e radicado em BH, sobre a origem das 22 hist�rias do livro: "N�o � poss�vel evitar as sombras, nem mesmo deixar de ver a luz que as provoca" (foto: Divulga��o)

 
Depois de uma longa carreira como engenheiro eletricista, como foi a decis�o de se tornar um escritor?

A minha atividade profissional me levou, durante a vida, a muitas viagens. Esse contato com outras culturas, com o outro, o diferente, sempre me fascinou. Ent�o h� uma paix�o pelas descobertas. E aconteceram coisas sensacionais, muitos encontros e desencontros. H� um ano e meio, essas hist�rias come�aram a voltar � minha cabe�a.

As hist�rias, os personagens se formaram como se me pedissem para ser escritos, como se os personagens estivessem dizendo: vamos morrer e desaparecer, algu�m tem de narrar para n�o deixarmos de existir simplesmente. Tudo isso foi rodando a minha cabe�a e eu senti a necessidade de escrever. S�o todos contos que partem de um ponto real, de fatos, por�m, s�o adaptados literariamente, sem mutilar-se mutuamente.

Ao finalizar este livro, livrei-me de um profunda ang�stia, dei vida �s viv�ncias e me senti mais em paz. Fui o que queria ser. Escrevi o que queria, me senti liberto.
 
Todos n�s olhamos o mundo por meio de valores que nos emprestam um enquadramento, um referencial pol�tico e ideol�gico. Quais s�o os valores e refer�ncias que fundamentam o seu olhar para o mundo? 

Sou um m�stico agn�stico – ou seja, uma pessoa que n�o est� ligada a uma religi�o, mas tem espiritualidade. O meu olhar, a minha forma de ver o mundo, � humanista, prega que se aceite com ternura a condi��o humana e as circunst�ncias de cada um. A mensagem que quis passar foi:  este � o mundo, voc� tem de lidar com ele. Procure compreender as motiva��es dos personagens como seres humanos que s�o, sem o julgamento r�pido na primeira a��o.  Essa � a mensagem.

Politicamente, me considero uma pessoa de “centro”, ou seja, aquela minoria hoje, no Brasil, devastada e ironizada, porque � uma posi��o dif�cil at� quando se faz cr�ticas � esquerda e � direita para n�o incorrer em falsas simetrias. Agora, considero fundamental ser honesto comigo mesmo, expor o que penso, sem enganar a mim e aos outros.

No fundo, sou um pouco anarquista, um pouco existencialista e um pouco conservador – n�o no sentido que se d� � palavra hoje – mas � antiga, ao estilo do meu av�.  E a gente tenta manter o equil�brio.  Nessa idade,  se n�o sou o que sou, n�o sou nada!

Entre os 22 contos, qual o que considera mais representativo?

O Dion�sio, o pistoleiro. Her�i ou vil�o? Tudo � relativo. Todos os valores est�o ali numa gangorra. Acho que consegui mostrar nesse conto como as coisas s�o fluidas. Em termos metaf�sicos � a discuss�o entre o bem e o mal. O velho pistoleiro, em sua �ltima miss�o, executado pelo policial em frente da igreja, que executou tamb�m a mo�a que acompanhava o pistoleiro. Um contexto que nos leva a questionar os conceitos.

O Canal de Dotonbori
De George Borten
Quixote DO Editoras Associadas
133 p�ginas
R$ 45


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