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Estado de Minas POEMAS

Vertigens da fazenda em livro da mineira Maria L�cia Alvim

A convite do Pensar, poeta Chico Alvim apresenta poemas de sua irm�, selecionados do primeiro livro dela ap�s 40 anos sem publica��o: Batendo pasto


18/09/2020 04:00 - atualizado 18/09/2020 07:48

IRM�O

Brigamos muito. Quantas vezes! Fizemos as pazes outras tantas.
Paz meio que armada. Afinal ela � escorpi�o e eu balan�a, dois signos que n�o se beijam, dizem. Verdade? O bom do amor � quando ele invade, n�o pede licen�a nem correspond�ncia e vem pra contrariar e confundir qualquer dos dois; e traz a boa sombra, aquela que o sol provoca.

Mas nesse compasso n�o � que ela ia quase escapando? Deixando pra tr�s, pros que continuassem vivos, uma obra extraordin�ria, envolvida num ato seu, a um tempo vingativo e amoroso. Ato, se consumado, perfeito em sua aparente ren�ncia e em seu desd�m por um reconhecimento qualquer, sem o selo de seu destino. Baudelaire, por despeito, dizia que escrevia para os mortos. Ela, in absentia por desd�m, escreveria para os vivos.

Bem ao jeito s� dela de ferir.

Teria sucesso, n�o fora a boa a��o dos tr�s confrades.

IRM�
Trevosa e p�trea cintil�ncia no bojo da montanha

O que eu n�o sou ela �
Salvou-se pelos
p�s
firmes no ch�o
em que pisou
N�o se abalou
com o estrondo e a avalanche
Deixou-se onde nasceu

*

Mineiro de Arax� e radicado em Bras�lia, o poeta Chico Alvim � autor de livros como Sol dos cegos (1968), Dia sim dia n�o (1978, com Eudoro Augusto), Passatempo e outros poemas (1981) e O elefante (2000).

Maria L�cia Alvim
Poemas selecionados

*

Manh� sem rusga 
pequeno dep�sito de agrura na po�a 
exorbitei de alegria 
a ab�boda celeste n�o d� vaz�o 
silos de sil�ncio 
� ser astral 
o capim � minha grande reserva interior 
a esperan�a 
desleixo

*

Curral
� onde o real
passa por cima

*

Aquele que um dia far� o meu caix�o 
de antem�o tem as medidas: 
menina-carapina 
surrupiando 
Viu crescer, prometer, viu sazonar. 
Quando o roxo dos ip�s configurou-se 
no horizonte 
aquele que far� o meu caix�o 
numa cestinha dep�s amor 
e morte 
Lasca por lasca

*

Tenho um sinal de nascen�a 
O cora��o n�o condiz 
Esquartelado em ouro 
Cinco flores de lis 

Xadrezado em vermelho 
Cala mas n�o consente 
Quatro em fora 
Quatro em pala 

O timbre em le�o 
O sexo em pantor 
Armas na m�o 

Sou corusc�vel

*

Eu era assim no dia dos meus anos 
E quando me casei, eu era assim 
Eu era assim na roda dos enganos 
E quando me apartei, eu era assim 

Eu era assim ca�ula dos arcanos 
E quando me sovei, eu era assim 
Eu era assim na voz dos minuanos 
E pela primavera, eu era assim 

Enquanto fui vi�va, eu era assim 
Enquanto fui vadia, eu era assim 
E pela cor furtiva, eu era assim 

No amor que tu me deste, eu era assim 
E tr�s da lua cheia, eu era assim 
E quando fui caveira, eu era assim

*

Meus olhos s�o como dois bacorinhos
feridos de morte

*

ANGELIM 

O carinho � um outro caminho do corpo

Sobre a autora

Nascida em Arax�, em 1932, Maria L�cia Alvim vive hoje em Juiz de Fora e completar� 88 anos em 4 de outubro. Escritos em uma fazenda em 1982, os poemas de batendo pasto foram entregues a Paulo Henriques Britto com a orienta��o de serem publicados apenas ap�s a morte da autora.

Com a interfer�ncia de Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Domeneck, contudo, e com o consentimento de Maria L�cia, os poemas s�o publicados em edi��o da Relic�rio. “O livro vem marcado por um vocabul�rio do campo, da vida espec�fica que l� se desenrola unindo os ritmos das refei��es ao das colheitas, dos seres humanos a outras esp�cies que com eles habitam tais espa�os: vacas, cavalos.

Mas o livro n�o celebra qualquer utilitarismo comercial: tudo � digno, tudo vive e compartilha espa�o e seu oxig�nio, os morcegos, as galinhas e os pav�es, os gatos e as moscas, ou, no reino vegetal, tanto o arroz como o capim”, destaca Domeneck. “N�o � nenhum exagero afirmar que batendo pasto re�ne e depura o que havia de melhor na poesia dos anos 1980 e que, mesmo in�dito por mais de 30 anos, sai agora com a for�a de um livro escrito na semana passada”, complementa Gontijo Flores.


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