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Estado de Minas PRIMEIRA LEITURA

O enigma das ondas

Poeta e romancista paranaense � o autor de O enigma das ondas, da editora Iluminuras


02/10/2020 04:00 - atualizado 02/10/2020 08:11

Breve hist�ria da solid�o

No escuro de uma caverna,
nas paredes de Pompeia,

na superf�cie de um papiro,
na solid�o de uma tela,

num grafite imprevisto
ou na imensid�o sid�rea,

esses escritos, fr�geis rabiscos,
querem dizer apenas isto:
 
existo.

O futuro mandou lembran�as

O dia, velho cigano, se encerra,         
levando seu ouro para a China.
A noite est� fresca na retina.
Quem vai herdar nossa mis�ria?

A vida uma com�dia, s� que s�ria:              
Praias t�o vazias, p�ginas t�o p�lidas
de tanto mist�rio, de tanto serem lidas.
Quem vai herdar nossa mis�ria?

Amigos distantes, estas linhas a�reas,
Instantes que foram isso, nada, espuma,          
vislumbres, madrugada, alguma lua. 
Quem vai herdar nossa mis�ria?

Minha dor mora onde outros tiram f�rias.
O passado � um rio que n�o regressa
e o presente, essa falsa promessa:
Quem vai herdar nossa mis�ria?

Uma s�laba no ar ainda reverbera.
Dunas mudas, dorso negro de montanhas,
o c�u, l�pide ard�sia nessa quase manh�.
Quem vai herdar nossa mis�ria?
 
Saiam da frente, palavras

Saiam da frente, palavras:                                       
n�o preciso mais ver, atrav�s de voc�s,         
o que se passa em minha mente.

A fila anda, queridas, vamos
que atr�s tem gente.
“Janelas para o mundo”, vazem,
desembacem: a porta da rua
� serventia da casa.

Voc�s eram t�o gatas,
Mas agora est�o gastas.         
Eram t�o rosas,
Agora rancorosas.
Voc�s eram pedra.
Pois agora s�o vidra�a.

Voc�s n�o me dizem mais nada,
s� falam bem pelas costas,
est�o sujas de hist�ria
e ainda bloqueiam minha vis�o!

V�o ver se estou na esquina,
limpem a �rea e parem
de fazer cara de paisagem.

Entenderam? Ou
querem que eu desenhe?
Desapare�am, palavras,       
(putas transparentes!)       

Caiam fora, para que os sentidos
caiam dentro.

Deixem-me s� com essa parede branca,
limpa, linda,
chamada sil�ncio.

 
Insular

A vila dorme solit�ria sob a chuva,
imenso c�o cinza sobre os                     
sonhos de areia que o mar apaga.

A mente: esfarrapada
bandeira pirata.

Cego, o cora��o (comp�ndio
de velhos sil�ncios) caminha
no p�tio deserto da noite,
pelas explos�es da orla.

Em transe, o c�u afaga
o que o mar escuro afoga:                 
letras em c�mera lenta.

� a l�ngua que naufraga
Em busca de uma voz

fosse uma trilha
no luto
da luz

da minha fala
erigem uma ilha.
 
(foto: Elisabete Ghisleni)
(foto: Elisabete Ghisleni)
Sobre o autor
Nascido em Londrina (PR), em 1965, Rodrigo Garcia Lopes � poeta, romancista, tradutor e compositor. Publicou Solarium (1994), visibilia (1996), Polivox (2002), N�mada (2004), Est�dio realidade (2013) e Expe- ri�ncias extraordin�rias (2015). � autor do livro de entrevistas Vozes & vis�es: panorama da arte e cultura norte-americanas hoje (1996) e do ensaio Roteiro liter�rio – Paulo Leminski (2018). Os poemas desta p�gina foram selecionados do livro O enigma das ondas, lan�amento da editora Iluminuras.  


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