
A escritora, pesquisadora e ensa�sta mineira Maria Esther Maciel, h� tempos, entende as plantas e os animais como seres que t�m muito a dizer sobre o mundo. Durante a pandemia, essa proximidade ficou maior gra�as ao jardim que ela cuida no terra�o do apartamento, em Belo Horizonte. Passou a temporada recolhida e prestando aten��o nas plantas, insetos, p�ssaros.
Nesse per�odo, ela escreveu a maior parte dos verbetes do livro “Pequena enciclop�dia de seres comuns” (Todavia), lan�ado em uma live no �ltimo dia 25, com a participa��o da ilustradora do livro, Julia Panad�s. A paix�o da ficcionista por seres do mundo animal e vegetal vem de longe. Ela brinca que � um pouco bi�loga; levou a curiosidade acerca da natureza para o trabalho acad�mico e para a literatura. Come�ou a escrever os verbetes de forma despretensiosa. Mas, quando publicou alguns deles nas revistas Serrote e piau�, a recep��o foi muito positiva. Surgiu, ent�o, a ideia de organizar os verbetes em uma enciclop�dia idiossincr�tica que faz uma par�dia aos antigos manuais naturalistas e incluir at� um certo peixe-banana, alus�o � cria��o que aparece em um dos contos mais celebrados de J. D. Salinger: “Segundo um escritor americano de renome, ele tamb�m tem um apetite invej�vel, que o leva a mergulhar num buraco cheio de bananas, com as quais se refestela para al�m dos limites de sua fome. E ent�o, tomado por uma febre terr�vel, ele morre”, descreve Esther no verbete.
Os seres do livro foram batizados inicialmente com nomes pr�prios. Primeiro vieram as Marias: Maria-boba, Maria-farinha, Maria-mole, Maria-vai-com-as-outras. Depois, chegaram as vi�vas e as viuvinhas: Vi�va-negra, Vi�va-rabilonga, Viuvinha-regateira... A pr�pria escritora, que perdeu o companheiro em 2013, virou verbete: Viuvinha-humana. Depois, chegaram os seres h�bridos: Cavalo-marinho, Cobra-papagaio, Tartaruga-jacar�. Os �ltimos foram os Jo�es, Jo�o-de-leite, Jo�o-grilo e Jo�o-baiano. Ao todo, escreveu 76 verbetes. Mas poderiam ser muito mais, como ela mesmo relata.
Os bichos fascinam a mineira h� um bom tempo. Ela tamb�m � autora de “Literatura e animalidade” (Record), em que apresenta essa rela��o a partir de fil�sofos (Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben) e escritores (Franz Kafka, Jorge Luis Borges, J. M. Coetzee); de “Pensar/escrever o animal: Ensaios de zoopo�tica e biopol�tica” (2010); “O animal escrito – Um olhar sobre a zooliteratura contempor�nea” (Lumme, 2008) e “Pensar/escrever o animal: Ensaios de zoopo�tica e biopol�tica” (Editora da UFSC, 2011).
Nesta entrevista ao Pensar, Esther Maciel conta como nasceu a sua “pequena enciclop�dia”, que se inicia com uma advert�ncia da autora: “Este livro talvez n�o exista. Ou melhor: sua inexist�ncia � o que, provavelmente, o justifica enquanto livro”. O aviso � seguido por uma explica��o: “Os seres vivos inclu�dos t�m uma realidade irrefut�vel: seja pela ci�ncia, pela lite- ratura ou por nenhuma das duas.”
O livro � uma leitura deliciosa, sens�vel, linda. Como foi o processo de cria��o?
J� tinha um projeto de anos atr�s, quando comecei a minha pesquisa sobre animais, de fazer algo nessa linha, uma esp�cie de animal�rio, com verbetes e tal. Mas fiquei um temp�o sem poder es0crever em decorr�ncia de algumas adversidades. Ent�o, suspendi esse projeto e continuei s� com o meu trabalho acad�mico. E foi no in�cio da pandemia que, vasculhando as minhas coisas, encontrei algumas anota��es que j� tinha feito para este trabalho. Mas n�o eram esses bichos, n�o; eram outros. Resolvi, ent�o, fazer, seguindo at� a l�gica de “O livro dos nomes” (Companhia das Letras), tenho muito apre�o pela quest�o onom�stica. Pensei que faria uma s�rie a partir de nomes. S�o tantos animais com nomes pr�prios de humanos que resolvi fazer essa pesquisa pegando os mais comuns, que s�o Maria e Jo�o. Ali�s, Jo�o veio depois. Comecei com as Marias, depois com as viuvinhas. At� por uma quest�o pessoal, que eu passei por essa experi�ncia da viuvez, queria lidar com isso de uma forma mais l�dica, mais leve, at� para tirar esse peso da palavra vi�va da minha vida.
Voc� brinca com a viuvinha humana…
A Julia Panad�s ainda pegou uma foto minha [para ilustrar o verbete]. Ent�o, � claro, h� esse elemento de ordem pessoal que impulsionou a pesquisa sobre vi�vas e viuvinhas, mas exatamente para dar uma leveza. Alguns verbetes t�m muito humor. E os Jo�es vieram por �ltimo; eu tinha feito os verbetes das Marias, das vi�vas e j� tinha come�ado dos h�bridos, sempre fui muito fascinada pelos h�bridos. Os animais h�bridos, geralmente, aparecem na literatura como seres fant�sticos. E n�o queria, neste livro, animais fant�sticos. Queria animais existentes, animais poss�veis. Eu resolvi, ent�o, pegar tamb�m pelo nome, assim, as misturas, porque tem muitos. Tantos que, se houver uma segunda edi��o, eu amplio; a cada dia descubro uma viuvinha, uma Maria, um Jo�o... Sigo um site e uma p�gina no Facebook de zoologia e de curiosidades zool�gicas (uma s� sobre insetos). Ent�o, recebo fotos de alguns. Penso: ‘Gente, esse poderia ter entrado.’
Os h�bridos s�o legais demais. Tartaruga-jacar�, Rato-toupeira-pelado... N�o parecem seres de verdade. Parecem imagin�rios.
A natureza tem os seus seres fant�sticos. N�o precisa de tanto esfor�o assim para ficar imaginando seres completamente fora da realidade. Muitos est�o por a�, t�m essas caracter�sticas. E eles existem, o que � o mais interessante.
Uma bi�loga que n�o � bi�loga. Fiquei curiosa. As descri��es trazem as caracter�sticas desses bichos, desses animais. A pesquisa come�a pelo nome ou pelos bichos? Ou as duas coisas?
As duas coisas. Comecei a procurar viuvinhas, sabia que existia um passarinho chamado viuvinha. Eu vou falar os nomes cient�ficos tamb�m. Eu tenho v�rios livros, porque eu sempre gostei de zoologia. Sou uma esp�cie de bi�loga frustrada. Eu queria ter, de alguma forma, uma forma��o como bi�loga. N�o tive, mas sempre fui curiosa em rela��o �s ci�ncias da vida. Ent�o, eu tenho livros de zoologia, inclusive uma cole��o de um brasileiro, um zo�logo brasileiro muito interessante, que publicou, at� pela Itatiaia, aqui de Belo Horizonte, uma s�rie. Ele se chama Eurico Santos. Tenho praticamente todos os livros dele de zoologia. Com descri��o de animais de todas as esp�cies. S� que esses livros t�m uma linguagem muito diferente, uma linguagem cient�fica. As enciclop�dias antigas da natureza me inspiraram em termos de estilo. Essa coisa sem muito cientificismo.
Como voc� realizou a pesquisa das caracter�sticas dos seres?
Eu tive tamb�m uma coisa meio de par�dia desses verbetes. Na internet, tem um site muito interessante, o Wikiaves, que tem um monte de informa��o, at� grava��es dos sons das aves. Ent�o, eu ouvia os sons das aves nesse site, e isso me ajudava a pensar tamb�m nos verbetes. Ali�s, tem muitos sites com vozes animais. A gente pode ouvir, exatamente, para saber como � o som e apresentar esse pr�prio som na pr�pria composi��o do verbete para dar mais sonoridade para os verbetes.
E h� muito do som e da imagem na maneira como voc� descreve.
Tem um outro livro que li, muito importante para mim, “A grande orquestra da natureza”, de Bernie Krause, sobre a m�sica do mundo selvagem. � um livro que me inspirou tamb�m. At� no meu livro anterior fiz uma homenagem a ele com uma lista de sons da natureza. Ent�o � isto: essa � a minha paix�o pelos bichos e pelas plantas.
Como voc� olha para esses seres da natureza, a partir de uma compreens�o do que eles t�m a nos ensinar? O quanto podemos aprender com eles...
Sim, porque eu vejo esse seres como sujeitos, como indiv�duos que t�m uma experi�ncia de vida deles, bem particular. Eles t�m um olhar sobre o mundo. Todos esses seres t�m saberes sobre o mundo. E a�, a gente fica imaginando o que falariam, como eles se sentem em determinados lugares, em determinadas situa��es. Ent�o, � um exerc�cio de imagina��o tamb�m. Ficar imaginando o que se passa com esses seres.
Como foi o processo de produ��o com a ilustradora Julia Panad�s?
Fazia muito tempo que t�nhamos o desejo de fazer um trabalho conjunto. Para dar uma ideia de enciclop�dia, os textos precisam ser ilustrados, devem ser acompanhados de imagem. A� liguei pra Julia e perguntei se ela topava. Mandei alguns textos e ela topou imediatamente. Fui enviando aos poucos, at� completar o conjunto. E os Jo�es foram os �ltimos.
� um olhar t�o generoso, t�o bonito, que nos aproxima tanto desses seres da natureza. Acho que os zo�logos devem gostar.
Mas n�o sei se, cientificamente, eles v�o encontrar uma s�rie de equ�vocos ou n�o.
Mas a literatura permite essa liberdade, n�o � mesmo?
Exatamente. Ent�o, deixa pra l�, porque � pesquisa e inven��o ao mesmo tempo. Inclusive, alguns seres foram inventados. Mas poderiam existir, porque s�o plaus�veis. Tem um, inclusive, que vem de uma obra liter�ria (o conto “Um dia perfeito para os peixes-banana, de J. D. Salinger, autor de “O apanhador no campo de centeio”).
N�o d� nem para saber quais s�o os reais e quais s�o os imagin�rios…
O peixe-banana foi inspirado no conto de Salinger. E tem um l� que foi sugest�o do meu filho, que ele escreve literatura de fantasia. Ele sugeriu que eu fizesse um ser plaus�vel, mas com caracter�sticas dos seres que aparecem nos livros dele. Ent�o, escrevi uma lagarta que � uma dama: a lagarta-dama-do-mato (“Sua boca tem grandes l�bios, que escondem dentes afiados e longos. Quando est� no cio, fica t�o excitada que todo o seu rabo abre em flor. Isso assanha as abelhas e os colibris, que dela se aproximam com o desejo aceso. Entretanto, avessa a tais ass�dios, ela se enfurece e captura, com a l�ngua pegajosa, todos os bichos inoportunos que merecem.”).

“Pequena enciclop�dia de seres comuns”
.De Maria Esther Maciel
.Ilustra��es de Julia Panad�s
.Editora Todavia
.112 p�ginas
.R$ 56,90
.R$ 34,90
Alguns verbetes
MARIA-ROSA
(Syagrus macrocarpa)
� uma palmeira solit�ria, de beleza rara. Ainda sobrevive em terras de Minas, do Esp�rito Santo e do Rio de Janeiro, mas sua exist�ncia corre perigo por causa dos desmatamentos indiscriminados. Esguia, se imp�e aos nossos olhos mesmo de longe. � tamb�m chamada de “jurur�” e “baba-de-boi-grande”, e adora solos bem drenados, ricos em mat�ria org�nica. D� um fruto de polpa doce e carnuda (de sabor meio coco, meio manga), com uma am�ndoa saborosa. Fica alegre sob o sol pleno ou nas sombras porosas, e n�o perde o prumo em dias de tempestade. N�o sei por qu�, mas h� quem pense que ela possui uma alma acanhada.
MARIA-VAI-COM-AS-OUTRAS
(Maria mariensis)
� uma humana solid�ria. Se ela vai com as outras marias, � sobretudo para ajud�-las. E n�o importa que as outras sejam aves, insetos, plantas ou crust�ceos, pois todas as criaturas lhe s�o caras. Por outro lado, se ela ensina a todas o que pode, com cada uma aprende o que n�o sabe. Juntas, enfrentam qualquer situa��o complicada. E mesmo quando est� s�, o que ela aprendeu com as outras deixa sua vida mais calma.
JO�O-GRANDE (ilustra��o acima)
(Ardea cocoi)
� uma gar�a morena e solit�ria, com altura de um metro e oitenta cent�metros, que vive nas margens de lagos, rios e pequenos riachos. Tamb�m aprecia �reas pantanosas. De corpo branco e listras pretas verticais no pesco�o, tem olhos amarelos envoltos em azul e bico de cor p�lida com base negra. Come peixes, r�s, caramujos, pererecas e outros bichos. Emite sons espessos e duros. Discreta, adora subir de mansinho sobre as pedras � beira d’�gua; quando excitada, al�a voos retos, ritmando as asas. N�o se sabe por que tem nome de homem. Mas h� quem prefira cham�-la de “gar�a-moura” ou “gar�a-parda”. De sua parte, qualquer um de seus nomes vale. A nenhum deles faz ressalvas.
VIUVINHA-HUMANA
(Homo sapiens viuvensis)
Ela est� triste, mas n�o � triste. O desamparo que lhe � atribu�do por outros humanos n�o existe sen�o como uma saudade do�da do que foi irreversivelmente perdido. De resto, persiste e se mant�m altiva. “Contra a solid�o, ouvir Bach � um ant�doto”, uma j� me disse ao sair do luto. Outra, menos afeita �s coisas l�ricas, me contou que o trabalho foi sua forma de recusa ao t�dio inapel�vel dos dias. Sei, ainda, daquela que (para conter a melancolia) se rendeu �s vertigens da escrita. Cada uma com seu recato. Ou sua mal�cia.
BESOURO-RINOCERONTE
(Oryctes nasicornis)
Famoso pela for�a, � um inseto com chifre curvo no meio da testa que vive na Europa, sobretudo entre os carvalhos portugueses. Mas s� o macho � cornudo. Por gostar de carne podre, ele tem tamb�m um qu� de abutre. Alimenta-se, ainda, de troncos e ra�zes sem vida. A despeito da aparente ferocidade, � calmo e inofensivo. Seu peso e tamanho s� se comparam ao de outro besouro, a vaca-loura (Lucanus cervus) — que tem algo de cabra e tamb�m atende pelo nome de escaravelho-veado. De antenas laminadas, ele s� faz barulho quando bate as asas.
TREPADEIRA-ELEFANTE
(Argyreia nervosa)
� uma planta vigorosa. De ramagem longa e ra�zes profundas, sobe pelos caramanch�es, muros e cercas. Uma fina penugem aveludada cobre os ramos e a parte inferior de sua folhagem. Por isso o seu verde adquire um tom prateado. D� flores em forma de orelhas de elefante, o que legitima sua liga��o com o paquiderme. Mas o que nela mais atrai os humanos s�o os efeitos alucin�genos de suas sementes, consideradas sagradas gra�as a seus poderes xam�nicos. Entretanto, como nem tudo � perfeito, ela est� sempre com os nervos � flor da pele. Lenhosa e manhosa, odeia geadas e se aconchega ao calor �mido dos solos f�rteis.
Invent�rio de vidas
A pedido do Pensar, Maria Esther Maciel indica – e comenta – livros de escritores latino-americanos que re�nem descri��es de seres reais e fant�sticos
Toda uma tradi��o liter�ria “zoo”
composta de seres reais e fant�sticos, pode ser tra�ada nas artes e na literatura do Ocidente desde os tempos mais remotos. Sobretudo a partir das f�bulas de Esopo e dos comp�ndios zool�gicos do mundo antigo, como “A hist�ria dos animais”, de Arist�teles, a presen�a dos animais sempre se manteve viva no nosso imagin�rio cultural. “O asno de ouro”, de Apuleio, e “As metamorfoses”, de Ov�dio, se somam a esse repert�rio, al�m de outras obras mais enciclop�dicas, a exemplo da “Hist�ria natural”, de Plinio, o Velho, do in�cio da era crist�. Logo depois, na Idade M�dia, surgiram os besti�rios – manuscritos ilustrados, cheio de descri��es de animais reais e fabulosos, com uma expl�cita carga simb�lica (religiosa e moral). Para n�o mencionar os relatos zool�gicos dos viajantes europeus do s�culo 16, que se deslumbraram com a fauna e a flora do chamado Novo Mundo. No s�culo 20, essa tradi��o foi retomada, com novos matizes fant�sticos, pelo escritor argentino Jorge Luis Borges no livro “Manual de zoologia fant�stica”, de 1957, que abriu espa�o para o surgimento de in�meras “zoocole��es”, que, por vias inventivas e ir�nicas, passaram a povoar, com seus verbetes po�tico-descritivos, a literatura em diferentes pa�ses, em especial na Am�rica Latina.
• “Manual de zoologia fant�stica”, de Jorge Luis Borges (com a colabora��o de Margarita Guerrero, 1957)
Trata-se de um invent�rio descritivo de seres incomuns, que reinventa a tradi��o “zooliter�ria” dos s�culos passados. O mais curioso � que, no pr�logo do livro, o escritor se refere � “desatinada variedade do reino animal” para falar da exist�ncia de dois tipos de zool�gicos: o da realidade e o das mitologias (ou dos sonhos). Mesmo considerando o segundo mais pobre que o primeiro, ele opta por levar �s p�ginas de seu manual os seres h�bridos, fabulosos e monstruosos, valendo-se do legado mitol�gico, erudito e liter�rio de diversas tradi��es do Ocidente e do Oriente. Esse repert�rio foi ampliado, posteriormente em “O livro dos seres imagin�rios”, de 1969, com a inclus�o de v�rios outros seres fabulosos n�o circunscritos � esfera animal.
• “�lbum de zoologia”, de Jos� Emilio Pacheco (edi��o bil�ngue espanhol/ingl�s, 1993)
� luz da ep�grafe “os animais sabem”, de Samuel Beckett, o mexicano Jos� Emilio Pacheco levou os saberes dos bichos da �gua, do ar, da terra e do fogo para esse luminoso �lbum po�tico-descritivo, cheio de animais existentes e alguns imagin�rios, com 28 ilustra��es do grande artista Francisco Toledo, tamb�m do M�xico. Os textos que atravessam o livro n�o prescindem do olhar �tico e ecol�gico sobre a fauna que os povoa. Do caranguejo �s baleias, do falc�o ao colibri, do tigre ao porco, al�m da salamandra e da ave f�nix, o repert�rio � vasto e variado. Uma ho- menagem � vida, aos viventes e � natureza. Infelizmente, n�o existe uma tradu��o desse livro no Brasil. Fica a dica para as editoras.
• “Jardim zool�gico”, de Wilson Bueno (Iluminuras, 1999)
O paranaense Wilson Bueno (1949-2010) sempre transitou em diferentes culturas e linguagens, com erudi��o e inventividade. Entre seus livros sobre animais est� o instigante cat�logo ficcional “Jardim zool�gico”, que re�ne 34 seres imagin�rios, de car�ter h�brido, muitas vezes marcados pelos cruzamentos transnacionais advindos do contato entre os pa�ses do continente sul-americano e com as culturas amer�ndias. Dotados de uma esp�cie de saber po�tico sobre a vida humana e o territ�rio que habitam, esses animais dialogam tanto com os monstros do imagin�rio zool�gico dos cronistas europeus do s�culo 16 quanto com os seres fant�sticos de Borges e as lendas ind�genas brasileiras. Uma belezura de livro.