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Estado de Minas POESIA

Leia poemas da terceira edi��o da revista liter�ria 'Olympio'

Criada em 2018, a revista prioriza a publica��o de textos e trabalhos in�ditos, com destaque para a produ��o ficcional


25/03/2022 04:00 - atualizado 24/03/2022 23:19


Falc�o no galho


Ted Hughes
(Tradu��o: S�rgio Alcides)


No alto da copa estou pousado, olhos cerrados.
Ina��o. Sem nenhum sonho enganoso
Entre o meu gancho da cabe�a e o das garras:
Ou ensaio no sono a janta perfeita que agarro.

Que c�modas s�o as �rvores altas!
O ar flutu�vel e o raio de sol
Me d�o maior vantagem;
E a terra volta a face � minha inspe��o de cima.

Tranco as garras em torno do galho �spero.
A Cria��o inteira decorreu at�
Produzir-se a minha garra e cada pena minha:
Agora tenho a Cria��o presa no p�

Ou sobre ela pairo, rodeando-a devagar –
Mato onde quiser, que ela toda me pertence.
N�o existe falcatrua no meu corpo;
Meu proceder � decepar cabe�as –

A distribui��o da morte.
A trajet�ria do meu voo � s� aquela
Que passa atrav�s do osso dos viventes.
Nenhum argumento me ampara o direito:

O sol est� por tr�s de mim.
N�o mudou nada desde o meu come�o.
Meu olhar n�o permitiu nenhuma mudan�a.
Pretendo manter tudo desse jeito.
 
 
 
 
 
 

press�gio


Stephanie Borges


�s vezes ainda sonho com voc�
n�o faz sentido, � como 
os sonhos em que preciso 
voltar � escola, para ter aulas 
de matem�tica, � estranho
mas vou e me atraso e nunca lembro
como resolver a equa��o, acho injusto 
dedicar meu tempo a problemas 
que n�o me servem hoje, fico aflita
e percebo: � um sonho. 

� voc� embora eu n�o queira 
te encontrar e h� um estranhamento, 
n�o nos falamos nem em sonho
pois o corpo guarda 
a mem�ria do cansa�o 
das �ltimas conversas, 
a repeti��o intermin�vel, 
n�o sobrou o que dizer. 
acordo me perguntando
como sonhar o sil�ncio?

quero crer que esses sonhos 
esquisitos signifiquem  
que � poss�vel 
viver sem dominar 
�lgebra e abandonar
ilus�es do que n�o era
amor, esquecer o medo
de n�o saber as f�rmulas: 
uma hora a gente acorda
 
 
 
 
 

Para um domingo com rom�s


pensando em wislawa szymborska 

Piero Eyben


n�o quero morrer num m�s frio no norte
fevereiro ainda neva sobre mim
como sobre as bombas deixadas por m�os
indefesas antes do fim do mundo
e n�o quero que morrendo ainda caia
uma chuva fina sobre bras�lia como 
aquelas que terminam o ver�o talvez
depois do carnaval tudo t�o distante
ainda como se minha mem�ria pudesse
sustentar no bojo da garrafa uma outra
m�o que n�o a minha que nunca foi feita
para tocar o vidro gelado � espera 
de um prazer mundano como respirar
o rosto dos amigos enquanto sonho 
distopias selvagens datas imprecisas
91 aboli��o da pena de morte foi 81 
n�o o seu ano mas o meu que por quatro
anos n�o pegou o funcionamento 
da guilhotina deixando corpos sem cabe�as
era como se n�o fosse sen�o esse domingo
em que a vida retorna mais cedo um besouro
sobre o sof� uma lesma dentro do br�colis
as 165 bact�rias na boca do c�o
agora pouco ele me mordeu brincando
n�o � assim que dizemos sempre? estava
brincando voc� n�o percebeu? torna-se
a partir de hoje proibido o porte de s�mbolos
religiosos em menores de 18 anos sigam
apoiando a rep�blica eu seguirei tentando
ver meu corpo envelhecendo a cada tr�s
dias quero pensar numa f�bula para contar
ao meu filho quando ele me perguntar
sobre o sistema pol�tico do brasil 
ele ainda sonha com lobos eu diria 
que eles se apagam enquanto o sorriso
mais antigo permanece �s vezes como dano
�s vezes como faca s� n�o sei ainda por que
ao pensar nessa estranha alegria me veio
uma imagem de queda que j� n�o tenho 
como suportar



Cemit�rio da colina


Altino Caixeta de Castro
 (Le�o de Formosa) 

As parcas antecipam as flores e os responsos.
A morte resta limpa. Na colina pascem as papoulas
dos poetas p�stumos. Em torno da montanha
e do alto da montanha a turba dos vates
circulando os convales de Minas. Ali�s, aqui
conv�m um Concili�bulo para Poetas. Os mortos
confabulam as bulas dos vivos deslumbrados.
Ep�stolas e flores se estiolam nas hastes
de acr�lico e os mortos participam do banquete
ao sop� dos sapos da montanha. Montanha
dessagrada e dessangrada de mitos, desfabulados
de antanhos. As parcas roem os l�rios e as rosas.
As pombas coroam-se de p�mpanos. Os
l�bios das labiatas, em cima dos t�mulos em 
tumulto. Um corvo cantarola uma can��o de
poecroscitada em “never more” para lenir Lenora,
a louca senhora do desamor. A fita magn�tica
registra os �ltimos grunhidos de um poeta
morto de amar o desamado. No Cemit�rio da Colina
o vel�rio prossegue. Agora, no bar, montado
ali no “campus”, ouve-se uma fuga de Jo�o
Sebasti�o Bar. A m�sica antecipa as flores e
os responsos. � beira do t�mulo aberto sete
poetas de Minas comem broinhas de fub�.



Canto


Chico Alvim

�ria branca – ader�ncia
em muro branco
neste dia t�o solar – 
dia dos mortos 
dia do antes 

� como se o olhar tornado
inumano
por for�a do branco
soasse
livre do longe e do perto
de si mesmo referto
na desmesura do ar 

Longe ficaram as montanhas
Perto o lago n�o est�

 
 
 

(sem t�tulo)


Carolina Spyer

est� notando esse sentimento de na��o �ntimo 
e estranho?

as pessoas est�o em c�rculo
o pa�s est� em destro�os

 
 
 
Sobre a revista

Os poemas acima integram o n�mero 3 da revista liter�ria mineira Olympio, da Editora Miguilim, com distribui��o no Brasil e em Portugal. Criada em 2018, a Olympio � uma iniciativa dos escritores Maria Esther Maciel, Jos� Eduardo Gon�alves, Julio Abreu e Maur�cio Meirelles. A revista prioriza a publica��o de textos e trabalhos in�ditos, com destaque para a produ��o ficcional, po�tica e ensa�stica contempor�nea. Al�m dos autores acima, o novo n�mero traz poemas de Age de Carvalho, Prisca Agustoni, Carola Saavedra e uma homenagem a Augusto de Campos. 
 
 
Capa da Olympio
 

» “Olympio – Literatura e Arte  n.3”
»  Editora Miguilim, em parceria com a Tl�n Edi��es
»  400 p�ginas
»  R$ 89
»  Lan�amento neste s�bado, 26 de mar�o, das 12h �s 16h
Livraria da Rua, Rua Ant�nio de Albuquerque, 913, 
Savassi, Belo Horizonte



 


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